Meses após ficar afastado das redes sociais e permanecer em absoluto silêncio tão logo teve vazados vídeos íntimos seus e conversas trocadas com uma garota de 19 anos da Finlândia, em setembro David Ellefson voltou a se comunicar, ainda que de modo discreto, para anunciar os singles e o lançamento do homônimo álbum de estreia de sua nova banda, The Lucid. No último dia 19 de outubro, no entanto, o baixista quebrou o silêncio e em entrevista ao lendário Eddie Trunk falou sobre as consequências do ocorrido, ou seja, sua demissão do Megadeth e a relação com sua esposa e filhos desde então.
Sobre o afastamento público, Ellefson explicou que esperou tudo se acalmar nos âmbitos profissional e pessoal: “Olha, certamente o tempo cura feridas nessas coisas, o que é bom”, desabafou. “E esse era o problema – eu estava, tipo, ‘olha, não fiz nada de errado; não havia nada ilegal aqui’; e você deixa passar. E apenas para eu tirar um tempo e ficar no escuro. Saí de todas as redes sociais. Tenho uma conta no Facebook que nem mesmo administro, apenas para fins profissionais e tal, mas estou fora disso. E acho que isso ajuda”.
Ellefson concordou com Trunk sobre o fato de que, segundo o apresentador, a única “ilegalidade” aparente neste caso foi a pessoa que se apresentava como “amigo” da garota ter vazado os vídeos publicamente sem o consentimento dos envolvidos. “Cem por cento. É por isso que não contratei um advogado civil para processar as pessoas por um milhão de dólares. Contratei um advogado criminal, e o que eles fazem é processar para colocar pessoas na prisão. Porque esses foram os crimes. Você não pode simplesmente fazer essas merdas – expor coisas, conteúdo, sem receber uma penalidade. Esse é o crime. E acho que as pessoas simplesmente pensam que podem – não todo mundo. Não estou dizendo que todas as pessoas, mas há uma facção que pensa que isso poderia ser feito apenas como uma piada e por diversão, e não pode. Claro, é a Internet, então as pessoas vivem em países estrangeiros; tem tudo isso. É por isso que a melhor coisa, acho, é, antes de tudo, apenas se afastar dessas plataformas, porque isso é um terreno fértil para que a sociedade faça isso”.
Dois dias após ter sido dispensado do Megadeth, Ellefson informou que iria abrir “processo por difamação” contra a pessoa que “postou ilegalmente um vídeo estritamente privado” seu, além de ter feito “falsas acusações” contra ele. O baixista ressaltou que estava trabalhando com a polícia de Scottsdale, Arizona, “na investigação das acusações de pornografia de vingança contra a pessoa que postou o vídeo”. Ellefson terminou afirmando que a pessoa seria “processada em toda a esfera da lei”. “Não havia nada. E foi por isso que contratei imediatamente um advogado criminal. Fui direto para o departamento de polícia. E, só para constar, o bandido não vai para o departamento de polícia, ok? Então, só para deixar claro, o cara que não fez nada de errado vai à delegacia. Por isso fui à delegacia e fiz o boletim de ocorrência e deixei que tratassem disso”.
Perguntado por Trunk em que pé está a questão do processo, Ellefson respondeu: “Está resolvido. Demos os passos necessários, percorremos o processo, que era (algo) necessário a fazer, e está tudo acertado e, a partir de agora, tudo bem”.
Casado há quase 30 anos e pai de um casal de filhos, ambos com pouco mais de 20 anos de idade, Ellefson garantiu que recebeu o apoio e compreensão dos três. “Olha, (eles foram) apoiadores, compreensivos… Não tão apoiadores, não tão compreensivos. Quer dizer, o pai está em uma banda de rock, e não uma banda qualquer – Megadeth. Vamos encarar os fatos, temos sido uma banda com uma história e isso não é para descolorir ou pintar nada no atual Megadeth, porque, obviamente, 2021 não é o que era em 1986, porém há uma razão para termos um Behind the Music (especial da VH1). Tentei ser muito transparente, e acho que meio que fizemos isso ao longo dos anos na banda. Éramos muito transparentes nas coisas – quando as coisas aconteciam em nossas vidas pessoais e aconteciam no grupo, sempre fomos muito abertos sobre isso. Anos atrás falei abertamente sobre como ficar limpo das drogas e da bebida e todas essas coisas”, declarou.
“Na vida doméstica, de novo, olhe, para começar eu estava no Megadeth e aí então as famílias vêm depois. Novamente, acho que há uma reconciliação dos estilos de vida que é tipo, ‘Ok, papai está fora com o circo sendo um cara do rock and roll e tudo o que vem com isso’, incluindo uma vida muito confortável que oferece oportunidades que você não teria em nenhuma outra vida. Ao mesmo tempo, isso não te dá licença para sair e se comportar mal. Acho que é isso. E, de novo, provavelmente, você e eu conversando como maridos e pais e tudo o que temos no estilo de vida do show business… De novo, essa é a realidade disso. E vimos que muitos amigos nossos têm sucesso com isso, lutam com isso, et cetera, et cetera. Lembro-me de Ace Frehley (guitarrista original do KISS) anos atrás, e isso não é para diminuir (o problema), mas lembro que havia uma citação de Ace, em que ele disse, ‘Drogas e garotas são um risco ocupacional’. Lembro de ter lido aquilo quando eu era criança, e não entendi na época. Mais tarde na vida eu iria entender, isso é, tipo, periculosidade, se você preferir. E em todas as vidas existe isso, e acontece em nosso estilo de vida aqui no mundo criativo, especialmente em turnês de rock and roll”.
Além de sua família, Ellefson disse que vários músicos também manifestaram apoio: “Eu estava voando muito alto e rápido em uma altitude elevada e tive alguma turbulência, sem dúvida. E as pessoas me lembravam, ‘Ouça, somos todos humanos. Todos cometemos erros, cara’. E ainda mais no rock and roll”.
Ellefson completou: “Muitos outros músicos, pessoas da indústria, estrelas do rock – do menor ao maior – me procuraram. Todo mundo dizia, ‘Ei, irmão, você está bem? Qualquer coisa que você precisar, me avise’. E foi muito favorável da parte de todos. O que foi ótimo, porque todos estão do seu lado quando você está pegando seu Grammy, está no tapete vermelho e tudo caminha muito bem, mas o maior juiz de caráter é quem você é, quem sou eu quando estamos no fundo do poço, quando mostramos alguma humanidade real. E este foi um momento em que, estou feliz em dizer, as pessoas realmente se juntaram ao meu redor. Passei por algumas temporadas sombrias na minha vida ao longo dos anos, como todos nós – drogas e álcool, dentro e fora do Megadeth há 20 anos. As coisas acontecem, as coisas pioram. Não vou mentir”.
Após a exposição da vida íntima de David Ellefson, uma questão que foi bastante explorada entre internautas e veículos de comunicação, foi o fato de ele ser pastor luterano. No entanto, ele que há quase uma década de fato estudou por um ano na Concordia Lutheran Seminary, em St. Louis, afirma que há um “equívoco” sobre isso. “Não sou pastor. Fiz um ano de seminário, e eles deixaram bem claro: ‘Se você vai continuar no seminário, precisa sair do Megadeth’, então saí do seminário para estar no Megadeth”, revelou. “E me lembro de dizer à minha mãe quando ela estava viva – que Deus a tenha -, ‘Ei, saí do seminário numa boa para continuar no Megadeth’. E ela estava realmente muito desapontada. Ela disse, ‘Quer saber? O Megadeth está prendendo você. Isso é muito ruim. Você deveria ter ficado no seminário’. Acontece que, talvez, eu devesse ter ouvido minha mãe, não sei (risos). Claro, a mãe quer o melhor pra nós. Quem sabe? Tanto faz. Sou um cara do rock and roll. Sou um membro fundador do Megadeth. É quem eu sou. É o que eu faço. É parte da minha vida. É parte da minha existência. Portanto, não me arrependo de nada disso. Mas acho que foi um equívoco. As pessoas começaram a espalhar isso, e eu nunca fui um pastor ordenado. Sim, explorei esse mundo por um tempo”.
Ellefson continuou o assunto falando do fato de as pessoas esperarem de quem demonstra alguma fé um comportamento completamente diferente das outras. “É quase como se você fosse uma entidade que está flutuando em direção aos céus: ‘Oh, ele é um homem maravilhoso. Ele é um homem de fé. Ele tem sua família. E aí acontece isso…’. Tipo, ‘Que diabos é isso?’. Quer dizer, olhe, admito que treinei o público para pensar que sou um dos rock stars mais bem comportados por aí, e na maior parte do tempo eu tenho sido”, admitiu. “Mas, ao mesmo tempo, e isso não é reivindicar, simplesmente ‘Ops… Merdas acontecem’. É isso”.
O músico de 56 anos disse ainda: “Na (primeira) temporada em que estive longe do Megadeth, nos anos 2000, me envolvi em outras coisas na igreja, criei minha família e blá blá blá, essas coisas… E, por isso, por natureza, meio que me tornei um dono de casa suburbano – o pai garoto. Então, voltei ao Megadeth em 2010. E a questão é tentar reconciliar que você não é um cara em casa e outro na estrada, que você é o mesmo cara. E acho que para quem passou por qualquer momento na estrada – seja você um astro do rock, um caixeiro viajante ou quem quer que seja -, esse é o desafio, e é um verdadeiro desafio, manter sua vida em ordem quando a cada dia sua escova de dentes está em um novo endereço”.
De acordo com informações do site Consequence of Sound, Ellefson se sente frustrado com a forma com que seu antigo parceiro e líder do Megadeth, Dave Mustaine, lidou com a situação, descumprindo o que, segundo o baixista, havia sido combinado assim que o escândalo veio à tona. Ellefson conta que ficou combinado entre ele e o Megadeth que ambos emitiriam uma declaração conjunta a respeito de sua saída da banda. No entanto, Mustaine se antecipou e soltou a decisão antes do baixista.
“Claro que não foi isso o que aconteceu (sobre o acordo). Então, fiquei desapontado com a maneira como as coisas aconteceram”. Apesar disso, Ellefson não rompeu amizade com Mustaine. “Foi assim, ‘Ei, não queremos você aqui. Aí está a porta, não venha trabalhar na segunda-feira’. Então, falei, ‘Ok. Certo’. Esse é o modo como vejo hoje. Não guardo uvas azedas por causa disso, e não estou amargurado”.
Edições avulsas, assinatura física e digital.
Conheça a nossa Roadie Crew Shop – acesse www.roadiecrew.com/roadie-shop
Apoie nosso jornalismo com uma contribuição de qualquer tamanho.
Seu apoio ajuda a continuarmos melhorando o conteúdo do site com entrevistas exclusivas, resenhas de shows, notícias e artigos. Toda contribuição, por maior ou menor que seja, é muito valiosa para nós. Clique em Doações