Por Gustavo Franchini
Fotos: Daniel Croce
O Symphony X é considerado por muitos a nata do prog metal mundial. O grupo apresenta trabalhos impecáveis, de muita personalidade, e atrai uma legião de fãs, inclusive muitos brasileiros. Não à toa, voltaram ao Brasil para a turnê comemorativa de 28 anos de carreira, adiada em 2020 por conta da pandemia. E, claro, o Rio de Janeiro foi a primeira (no dia 27 de julho) dentre as cidades que a banda percorreu ao longo dos últimos dias, apresentando músicas do trabalho mais recente, Underworld, além de sucessos de toda a sua discografia.
A noite começou com o show da Rec/All, banda na qual o vocalista carioca Rodrigo Rossi (Thorn), junto com músicos do mais alto calibre, como o guitarrista Marcelo Barbosa e o baixista Felipe Andreoli, ambos do Angra, além de Pedro Tinello (Almah) nas baquetas e Bruno Sá (Allegro) nos teclados, apresenta músicas autorais que variam do hard rock ao progressivo, o que encaixou bem com a plateia da casa.
O destaque vai para o cover do Dream Theater, a ótima Under a Glass Moon, e uma inusitada homenagem ao anime Cavaleiros do Zodíaco com o tema Pegasus Fantasy, na qual Rossi tem bastante familiaridade, visto que participou de diversas versões brasileiras de temas desta e de outras séries.
O público, já estasiado aguardando pela apresentação dos mestres do progressivo neoclássico, fez sua parte e lotou a casa, o que, com certeza, contribuiu para a animação do quinteto norte-americano Symphony X. Logo após a ‘intro’, as luzes se acendem e a cadenciada Nevermore, de Underworld, ecoa pelos PAs com muito peso, nos dando uma noção do que estava por vir. E é justamente neste ponto que devo comentar sobre o setlist já previsível e burocrático; como fã da banda há tantos anos, esperava bem mais. O objetivo era celebrar a carreira toda do Symphony, contudo, a impressão que ficou é de que parecia se tratar do lançamento do álbum Underworld, e, considerando que ele é de 2015, em minha humilde opinião já estava na hora de acrescentar músicas de outros trabalhos importantes, como o brilhante Twilight in Olympus (1998) e até mesmo dos dois primeiros, Symphony X (1994) e The Damnation Game (1995), afinal, são parte essencial na história deles.
Como sempre, o vocalista Russell Allen é um show à parte, seja em sua performance impecável, seja em seu carisma e carinho com os fãs. Do início ao fim do espetáculo ele agitava em todos os momentos possíveis, puxava coros, dançava, fazia piadas e dialogava com a plateia, o que trouxe um tom muito agradável à noite. E todos respondiam com agitação, cantavam todas as letras e não deixavam a peteca cair por um minuto sequer. Uma sintonia de cair o queixo!
Definitivamente, uma das que representam melhor a originalidade do Symphony X é a espetacular Evolution (The Grand Design), que de modo instantâneo faz tremer o chão e é responsável por representar o álbum V: The New Mythology Suite (2000), o qual considero a obra-prima do quinteto (The Divine Wings of Tragedy fica bem coladinho também). O maestro Michael Romeo, líder, guitarrista e principal compositor da banda, mostra o motivo de ser tão respeitado na cena, dando aula nas seis cordas com uma pegada estupenda, conseguindo nos fazer esquecer até de alguns problemas técnicos no som da casa, que deixaram o timbre do instrumento um pouco saturado e os teclados do criativo Michael Pinnella em segundo plano durante muitas músicas, o que só foi resolvido após o intervalo para o bis.
Já o baterista Jason Rullo brilhou de maneira majestosa. Na música Serpent’s Kiss, do álbum Paradise Lost (2007), isso era bem visível, sendo ele bastante técnico, visceral e, ao mesmo tempo, nos brindando com viradas que dariam inveja a qualquer baterista de progressivo que se preze. Que cara bom! O mesmo pode ser dito do simpático baixista Michael LePond, que mesmo com uma postura tímida no palco, sua presença se engrandece com linhas de graves que deixaram o público atônito, recheando de brincadeiras em sua maneira de tocar as notas, tornando tudo um grande show relaxante, como deve ser. E falando em LePond, a próxima música, a clássica Sea of Lies (de The Divine Wings of Tragedy), já começa com o ‘baixão’ na cara, gerando rodinhas e uma empolgação visível de todos. Está mais do que explicado por que o Symphony X é tão bom ao vivo quanto em estúdio!
Na sequência, tivemos a bela Without You, que é uma das melhores de Underworld, e este momento nos remete ao que foi comentado anteriormente, pois, exceto pela balada When All is Lost (ironicamente do mais pesado álbum da banda, Iconoclast), as outras duas músicas, Kiss of Fire e Run with the Devil, também são do álbum mais recente. Todas excelentes canções, mas realmente senti falta de maior representatividade do restante da discografia da banda. Para fechar a primeira parte do show, a poderosa Set the World on Fire (The Lie of Lies), outra representante do álbum Paradise Lost, deixou a plateia ansiosa para o que todos já sabiam que ia rolar no bis: a complexa e maravilhosa The Odyssey (do álbum homônimo), com seus vinte e quatro minutos de duração, que passam muito rápido pelo fato de ter arranjos orquestrados (simplificados no show, claro) que levam o ouvinte a uma viagem sonora inesquecível, o que me lembra muito o estilo de composição da lenda viva do cinema, John Williams, uma das inspirações de Michael Romeo. Esta música é um marco na história do prog metal mundial.
Depois dessa apresentação memorável, agora nos resta aguardar pela próxima visita do Symphony X à nossa Cidade Maravilhosa. Que venham com mais frequência e sejam sempre muito bem-vindos!
Setlist:
1 – Overture/Nevermore
2 – Evolution (The Grand Design)
3 – Serpent’s Kiss
4 – Sea of Lies
5 – Without You
6 – When All is Lost
7 – Kiss of Fire
8 – Run With the Devil
9 – Set the World on Fire (The Lie of Lies)
BIS
10 – The Odyssey
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