Por Guilherme Spiazzi
O bicentenário da independência foi comemorado num belíssimo fim de tarde no sul de Santa Catarina, onde diferentes gerações se reuniram para curtir heavy metal com as apresentações de As the Palaces Burn e Aquiles Priester. Se até pouco tempo atrás isso era encarado como algo normal, depois do que passamos com a pandemia, resgatar o prazer de ver uma apresentação ao vivo trouxe uma sensação especial.
Confesso que havia certa apreensão com relação ao local escolhido, afinal, estacionamentos de shoppings não costumam sediar shows de metal com frequência. Mas, foi uma grata surpresa ver uma estrutura muito bem montada e um som de altíssima qualidade. Além disso, toda a infraestrutura do local proporcionou muito mais conveniência para os expectadores, além de atrair gente que normalmente não frequenta shows de metal.
Com tudo alinhado, por volta das 16h30 a As the Palaces Burn finalmente pode voltar aos palcos. Com um repertório composto de sons do seu disco de estreia (End´evour, 2019), além do EP All the Evil (2020) e o single For the Weak (2021)) o grupo mostrou porque vem crescendo a cada ano. O som pesado atraiu curiosos e arrancou olhares impressionados de um público que seguia aumentando a cada música.
Um aspecto interessante do som da ATPB é que as músicas ao vivo ganham novos contornos. Arcanum e I Tried, por exemplo, imprimiram uma energia ainda mais intensa, enquanto Nothing Lats Forever ficou mais envolvente. Agora, cabe destacar For The Weak, já que esse é o som mais recente e possivelmente a melhor música da banda até o momento. Além de materializar a evolução do grupo, o som dá pistas de como será o seu próximo álbum. Trabalho esse que está apenas aguardando os ajustes finais para ser lançado mundialmente.
Fechando a apresentação, depois de oito sons autorais o grupo emendou uma excelente versão de Bark at the Moon (Ozzy Osbourne) – sinceramente, esse som teria se encaixado muito bem no EP de covers do grupo, Offer to the Gods (2022). Do outro lado, o público recebeu muito bem a banda. Numa conversa com um expectador, ele confessou estar impressionado com a performance do grupo e o fato deles serem da região.
Na sequência tivemos Aquiles Priester, que dispensa apresentações. O músico segue o seu projeto de levar a bateria para os quatro cantos do Brasil, tocando as suas linhas em cima de trilhas de músicas do Hangar, Angra e Edu Falaschi.
Da apresentação do músico, chamou a atenção a forma como ele se entrega em cada música. Priester segue fazendo com a mesma intensidade linhas gravadas há mais de vinte anos. Inclusive, imprimindo uma pegada ainda mais forte hoje em dia, conforme observou um amigo baterista que acompanhou atentamente todo o drum show.
O “polvo”, como também é conhecido, trouxe para o repertório coisas complexas como Nova Era e Acid Rain (Angra); Crosses e The Ancestry (Edu Falaschi); When the Darkness Takes You e Your Skin and Bones (Hangar), além de outras. A abordagem do músico em relação a apresentação é bastante interessante, uma vez que os fãs jamais ouvirão uma sequência dessas, com Priester na bateria, em apresentações das respectivas bandas do repertório. Além disso, a sonorização obviamente privilegiou o som do instrumento, então foi possível escutar bem cada peça da bateria. Inclusive, cabe aqui destacar o som de bumbo que estava estupendo. Tão bom que me senti no dever de parabenizar o técnico de som, Daniel Fernandes, pelo seu trabalho.
O resultado da apresentação não podia ser diferente, senão uma grande quantidade de pessoas olhando fixamente para a bateria. Numa era em que é comum termos bandas fazendo todas as gambiarras possíveis em cima do palco, como o uso de playbacks, trilhas e um milhão de outras coisas, para mascarar as suas ineficiências técnicas, o que Priester se propõe a fazer não dá espaço para enrolação. Ali a entrega tem que ser integral.
Esse foi um feriado diferente. Além da boa música, foi bonito ver amigos de longa data se reencontrando e crianças empolgadas ao lado de seus pais. Músicos amadores e profissionais puderam ver uma apresentação de alta performance, e curiosos e amantes da música de todo o tipo puderam conhecer um pouco mais do nosso mundo do metal. Parabéns para a organização do evento e para os comunicadores Mano Dal Ponte e Dino Cardoso da Rádio 92FM, por investirem e apoiarem incondicionalmente o rock em Criciúma e região.
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