Texto: Daniel Croce e Gustavo Maiato
Foto: Daniel Croce
A dobradinha Alexisonfire e A Day to Remember prometia embalar a ressaca da fase final da pandemia na noite carioca. Em uma noite quente do recém-acabado verão, as duas bandas mostraram a força de seus hits para os fãs que compareceram ao Vivo Rio, notadamente felizes pelo retorno aos poucos dos shows internacionais de rock e metal. Confira abaixo o que rolou!
Alexisonfire
Em sua primeira incursão em terras cariocas, o quinteto canadense não fez nada feio, apesar de colocado no posto de banda de abertura. Na verdade, parecia ter mais gente à espera de George Pettit (vocais), Dallas Green (guitarra e vocais limpos), Wade MacNeil (guitarra e vocais limpos), Chris Steele (baixo) e Jordan Hastings (bateria) do que do headliner A Day to Remember.
Misturando post-hardcore com aquele tiquinho de ‘new prog’, o grupo passeou pelos seus até agora cinco álbuns de estúdio – e um hiato de 13 anos do penúltimo, “Old Crows / Young Cardinals” (2009), ao último, “Otherness” (2022). Sim, a banda acabou por volta de 2012 e voltou recentemente.
O Alexisonfire se vale de um ‘valuable asset’, que são três vocalistas que se revezam: Pettit comandando os guturais, e os guitarristas Wade Macneil e Dallas Green com intervenções limpas, sendo este último muito conhecido pela sua carreira solo com o City and Colour, que possui uma pegada folk e acústica.
Trazendo na bagagem o ainda ser lançado novo álbum, “Otherness”, capitaneado pelo novo single/videoclipe, “Sweet Dreams of Otherness”, no fundo a banda (ao vivo, aumentada em mais um integrante, o tecladista Matt Kelly) investiu no certo: um bom apanhado da carreira oriunda dos quatro primeiros discos. Porém, há de se notar que a nova música um passo à frente, bem diferente da proposta anterior. Talvez a tão falada maturidade musical? Veremos o resultado em definitivo quando o disco for lançado.
Sobre o setlist, destaques para “Dog’s Blood” – que fez a alegria dos ‘mosheiros’ de plantão – e “Young Cardinals”, essa com a acertada decisão de brincar com a iluminação e jogar luzes fortes para cima do público, que interagia de volta e entrava na onda. Por fim, mais do que uma mera abertura, o Alexisonfire mostrou que não estava de brincadeira e pretende subir mais degraus no escalão do metal. Ou do post-hardcore. Ou do new prog. Não importa.
A Day to Remember
Existem bandas que fazem questão de trazer o público para dentro do show – e não apenas deixá-lo numa postura meramente contemplativa. No caso do grupo americano A Day to Remember, esse vínculo com a plateia foi construído utilizando uma generosa gama de ferramentas (sonoras ou não).
No que diz respeito às músicas, os breakdowns empolgantes de petardos como “Paranoia” e “Mr. Highway’s Thinking About the End” trataram de trazer os fãs para perto, convidando-os a realizar desde os tradicionais circle pits até dancinhas para lá de engraçadas e para nenhum tiktoker colocar defeito.
A cereja do bolo, entretanto, ficou com a criatividade dos já veteranos do post-hardcore na hora de adicionar desde balões gigantes coloridos no meio do povão até o lançamento de divertidos rolos de papel higiênico, responsáveis por um efeito visual que só engrandeceu o espetáculo.
Voltando ao repertório, se o lado peso-pesado esteve presente, a faceta mais voltada ao emo bateu cartão, como no abre-alas “The Downfall of Us All”, extraída do (já clássico) álbum “Homesick” (2009). Vale menção à pluralidade vocal do cantor Jeremy McKinnon, que é sábio ao dar a dinâmica certa em cada ocasião – não pesando nem o lado meloso, nem o rasgado.
Por fim, o retorno do A Day to Remember – completado por Kevin Skaff e Neil Westfall (guitarras), e Alex Shelnutt (bateria) e um baixista convidado – a terras brasileiras, após oito longos anos, trouxe uma banda que sabe construir um show de maneira inteligente, com espaços para conversas com os fãs e uma performance intensa que transparece a vontade de fazer bonito.
Na parte final do espetáculo, destaque para “Reassemble”, com a levada irresistível que sincroniza bumbo, baixo e guitarra de maneira rápida e pausada; além de “The Plot to Bomb the Panhandle”, que encerrou os trabalhos de forma digna no Vivo Rio, deixando uma ótima impressão e o gostinho de ansiedade para os fãs paulistas, que terão oportunidade de conferir esse mesmo show no Lollapalooza, nesse final de semana.
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