Por Marcelo Gomes
Fotos: Roberto Sant’Anna
Após as polêmicas dos primeiros shows da turnê de Paul Di’Anno, a cidade de São Paulo recebeu, no domingo (04), o ex-vocalista do Iron Maiden na turnê “The Beast Resurrection Tour 2023”. O show aconteceu no Carioca Club e, como parte do combo, tivemos ainda as bandas Noturnall e Electric Gypsy. Como divulgado recentemente pelo Spotify, São Paulo é cidade que mais ouve Iron Maiden no mundo e claro que a casa estava cheia para receber Di’anno.
Quem começou a noite foi a banda mineira Electric Gypsy, que pouca gente conhecia mas que segue surpreendendo em sua “Gypsy Road Tour”. O grupo formado por Guzz Collins (vocais), Nolas (guitarra), Pete (baixo) e Robert Zimmerman (bateria) subiu ao palco às 20h, despejando um hard rock de primeira linha e que acabou surpreendendo muita gente. Começaram com a faixa More Than Meets The Eye, do recém-lançado EP Stars (2023) e seguiram com Nine Lives (Until I Die), Heads Or Tails e incluíram dois covers, Hot For Teacher (Van Halen) e Bad Boys (Whitesnake). O som estava excelente e a performance de palco foi incrível. Em muitos momentos, o vocalista Guzz se comunicou em inglês com a plateia e alguns menos atentos até acharam que eram gringos. Com pouco mais de 30 minutos de apresentação, a banda novata chegou mostrando a que veio e que, além de grandes músicos, tem personalidade e carisma.
O Noturnall, banda liderada pelo vocalista Thiago Bianchi, foi a segunda a se apresentar. Acompanhado pelo Leo Mancini (guitarra), Saulo Xakol (baixo) e Henrique Pucci (bateria) sobem ao palco às 21h ao som de Try Harder, faixa do Cosmic Redemption (2023). Logo de inicio, não se ouvia o vocal nem a guitarra, então a banda interrompe a apresentação por cinco minutos para resolver os problemas técnicos. Com tudo restabelecido, começa o show novamente mandando três sons na sequência, Try Harder, No Turn At All e Fight The System, que tem trechos da letra da musica Diário De Um Detento, do grupo de rap, Racionais. Nessa faixa, começou a rolar a primeira roda da noite e ao final, Bianchi mandou os políticos para “aquele lugar”. Um diferencial do show do Noturnall foi utilizar os três telões do palco com imagens sincronizadas com as musicas durante toda a apresentação.
Bianchi comentou sobre as dificuldades do início do show e da turnê, mas que eles são brasileiros e vão para cima. Iniciam Wake Up, faixa do CD 9 (2017), que já começa com o Leo Mancini mostrando toda sua destreza na guitarra. O vocalista fala “estou sentindo vocês um pouco acanhados ainda”. Então, veio o cover da clássica Thunderstruck do AC/DC, tendo uma reação imediata do público fazendo o coro junto com a bateria gritando “Thunder!” e pulando durante a execução da música. Sem muito tempo, apresentaram mais uma nova, Reset The Game, que é um pedrada mais power metal. Música bem rápida, virtuosa e com ótima melodia de voz que teve boa recepção.
Chegou a hora de apresentar a banda antes de executarem Scream For Me, que foi gravada com Mike Portnoy na bateria. Depois dos aplausos, Thiago falou que esse som só fazia sentido se o público cantasse – claro que foi atendido, com a galera gritando alto seu refrão. O destaque foi para Henrique Pucci, que não teve dó da sua bateria. Mais um cover, agora com O Tempo Não Pára, de Cazuza, que teve sua letra cantada pelos presentes. Se despedem com Nocturnall Human Side, que ganhou um peso extra ao vivo. Com quase 1 hora de show, passeando pelos quatro discos da carreira, a banda não deixa dúvidas quanto a sua qualidade e profissionalismo.
No intervalo entre os shows que levou quase uma hora, Thiago Bianchi chamou ao palco Stjepan Juras, escritor croata conhecido por escrever os livros do Iron Maiden. Thiago ressaltou que Stjepan é um dos responsáveis por ajudar Paul Di’Anno em seu tratamento e reaproximá-lo do Iron Maiden. O croata disse que esses shows são uma missão para ajudar Paul a terminar o tratamento. Diz que estão gravando um documentário e que é muito importante que as pessoas demonstrem amor a Di’Anno e que, se pudesse comprassem o merchandising para ajudá-lo. Ele ainda comentou que as duas bandas (Electric Gypsy e Noturnall) são muito boas e que vai tentar levá-las para a Europa.
O intervalo foi de longos 50 minutos, já era quase 23h, mas quando a introdução de The Ides Of March se iniciou, o que se viu não foram fãs mas devotos que começaram a cantar até a faixa instrumental. Não era para menos, afinal lá se vão oito anos desde a última vez que o lendário ex-vocalista do Iron Maiden pisou no Brasil. Sim, a expectativa dos fãs que lotaram o Carioca Club era enorme. A banda de apoio era o Noturnall com Nolas (Electric Gypsy) na guitarra e Chico Brown (filho de Carlinhos Brown) fazendo a terceira guitarra. As cortinas se abrem ao som de Wrathchild e o público estava cantando tão alto que, em muitas partes, encobria a voz de Paul Di’Anno. Vale dizer que sua voz melhorou consideravelmente comparada aos primeiros shows dessa turnê.
Ao final, os presentes já gritavam Paul sem parar e o vocalista aproveita para dizer que estava muito feliz de estar de volta em sua casa, dizendo que sentiu a falta dos fãs paulistanos. Se confunde e anuncia Wrathchild, mas era a vez de Sanctuary. Emocionado, Paul pede desculpas por sua voz e disse que preferia tentar cantar a cancelar o show. “Estou em São Paulo com a minha família”, disse o vocalista. Seguem com Purgatory, Drifter e Murders In A Rue Morgue.
Di’Anno dedicou Remember Tomorrow ao ex-guitarrista Paulo Turin (da banda Dianno), que faleceu de Covid em 2021 e a Clive Burr, ex-baterista do Iron Maiden, que faleceu devido à complicações relacionadas a esclerose múltipla. Na faixa instrumental Ghengis Khan, Paul aproveitou para fumar e voltou falando que na Inglaterra torce para o West Ham mas no Brasil, ele é timão. Então, anunciou Killers e o guitarrista Leo Mancini saiu do palco. O público, que estava cantando tudo até então, abriu uma roda no meio da pista. Ao final, Paul foi ovacionado mais uma vez. Já em Charlotte The Harlot, quando chegou na parte mais lenta da música, Paul bateu no peito e disse em português: “São Paulo, te amo!”
Para executar Transylvania, Leo Mancini volta ao palco. Nela, foi impressionante ver todos cantando até os riffs de guitarra. Mas a casa veio abaixo mesmo na épica Phantom Of The Opera, com fãs fazendo rodas, cantando, pulando… Foi de arrepiar. O show foi chegando ao fim com Running Free e aquele clássica introdução de bateria acompanhada pelas palmas do público. Paul se confundiu e começou a cantar antes da hora e foi acompanhado de imediato pelos presentes. Muito aplaudido, Di’Anno agradeceu mais uma vez e disse que os fãs foram fantásticos, que o Brasil está em seu coração e alma, especialmente São Paulo. Prometendo voltar ainda esse ano, tocam Prowler e encerram com Iron Maiden.
Paul Di’Anno declarou seu amor a São Paulo com show nostálgico e de superação. Foram 8 anos desde a última vez que o lendário ex-vocalista do Iron Maiden visitou o Brasil pela última vez e São Paulo mais uma vez representou, encheu o Carioca Club e recebeu a “Besta” de braços abertos. Parabéns aos presentes que tiveram empatia e apoiaram seu ídolo num momento tão delicado. Mesmo debilitado, Paul foi um guerreiro, assumiu que não estava bem, pediu desculpas e preferiu fazer o show. Vamos torcer para que sua recuperação seja rápida e que ele volte em breve.
Setlist Electric Gypsy
01) More Than Meets The Eye
02) Nine Lives
03) Heads Or Tails
04) Hot For Teacher (Van Halen)
05) The Devil Made We Do It
06) Bad Boys (Whitesnake)
07) Shoot Em Down
Noturnall setlist
01) Try Harder
02) No Turn At All
03) Fight The System
04) Wake Up
05) Thunderstruck (AC/DC)
06) Reset The Game
07) Scream For Me
08) Nocturnall Human Side
Paul Di’Anno setlist
01) The Ides Of March
02) Wrathchild
03) Sanctuary
04) Purgatory
05) Drifter
06) Murders In The Rue Morgue
07) Remember Tomorrow
08) Genghis Khan
09) Killers
10) Charlotte The Harlot
11) Transylvania
12) Phantom Of The Opera
13) Running Free
14) Prowler
15) Iron Maiden
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