Tem razão quem diz que alguns dos grandes ícones do Metal nacional já não oferecem tanta relevância como antes. Mas, cansamos de dizer e recomendar aqui na ROADIE CREW alguns dos novos nomes, o que vem despontando como destaque e merece ouvidos e olhos apurados. Já na categoria veteranos, o Claustrofobia tem chamado atenção desde quando anunciou o lançamento de um disco, inédito, com a costumeira brutalidade, mas com músicas em português e até mesmo misturando Metal com Samba. Com a divulgação da organização de um festival próprio a banda, que é atualmente uma das mais adoradas e inventivas do estilo, causou muita expectativa. Afinal, anos de dedicação, e o ‘DIY’ (‘do it yourself’ – ‘faça você mesmo’) sem maquiagem nem papas na língua só poderiam resultar num grande evento. E foi o que aconteceu no último sábado, 27 de outubro, no Cine Jóia. O público compareceu em peso, contrariando aquela de que shows só com casting brazuca não lota lugar nenhum. “Peste” dá nome ao disco e ao festival que contou também com duas outras (boas) bandas: Project46 e Oitão.
Tocando sons do disco “Doa a quem doer”, lançado este ano, o Project 46 abriu os trabalhos já agradecendo muito pela oportunidade de, segundo o vocalista Caio MacBeserra, “tocar em um lugar descente pela primeira vez e dividir o palco com o Claustrofobia”. A banda que integra o line up da edição 2013 do “Maquinaria Festival” no Chile, agitou o público com sons em português como “No rastro do medo” e “Dor”, que fechou o show.
Na sequência, como de costume, o Oitão fez um show pegado, pesado e para não manter ninguém parado no bate cabeça. O vocal Henrique Fogaça entrou mascarado, descalço e com o discurso apurado. Além dos sons do elogiado e único disco “4º mundo”, como “Imagem da besta” e “Trevas”, o novo som “Não me entrego não”, divulgado no início de setembro, também integrou o set dos paulistanos. Henrique ainda lembrou que o dia seguinte era de votação do segundo turno em SP e “iríamos conhecer o próximo a nos roubar”. A camiseta que ele vestia já estava a indignação no peito e “recomendava” o que fazer com a frase clássica “Vote Nulo, Não Sustente Parasitas”.
Paralelo aos shows, o evento ainda tinha o sorteio de guitarras. Mas, em comum acordo e numa inesperada iniciativa, todas as bandas fizeram a doação do prêmio para Tony Iron, fundador e presidente do fã-clube oficial do Sepultura, “por sua dedicação e divulgação do Metal nacional”. Além dos prêmios, do evento inédito e de um line up diferenciado, o headliner do festival ainda faria nesta noite a gravação do seu primeiro DVD. Por isso, o set extenso mesclou todas as fases da carreira iniciada em 1996.
Já no início da madrugada de domingo, o Claustrofobia subiu ao palco muito aplaudido. A ‘intro’ rolava e o vocalista/guitarrista Marcus D’Angelo, antes de qualquer coisa, já mandou um “Acabou a paciência. Descarregar o ódio nessa porra, Claustrofobia.” Emendou a faixa título do atual disco para delírio da abarrotada pista. Visivelmente emocionados, Marcus enfatizou que era a realização de um sonho e uma emoção ver a casa cheia e “que o prestígio da galera prova que eles não precisam de mais ninguém.”
A banda tocou novos e antigos clássicos como “Metal Maloka”, “Bastardos do Brasil” e “Eu quero é que se foda”, além de sons em inglês como “Condemned” e uma versão bem mais ‘down’ e pesada de “Don’t kill the future”, de “I See Red” (2009). Um grande destaque foi na música “Nota 6,66”, que contou com a participação de integrantes da bateria da escola de samba Império da Casa Verde.
Infelizmente, alguns problemas técnicos aconteceram, mas foram contornados. O fato não passou em branco dos comentários do vocalista que disse “Com a gente é assim, sempre mais difícil, nunca foi fácil”. Verdade é que, a noite foi deles deixando registrado a realização de um evento histórico. No pós-show, com humildade de sempre, Marcus confidenciou que fez o melhor que pode e que tocou com o coração. Evidente, notório e por isso tão verdadeiro. Agora é aguardar o DVD.
