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BLACK CROWES – São Paulo/SP

Por Antonio Carlos Monteiro

Fotos: Roberto Sant’Anna

Foram décadas intensas. O Black Crowes surgiu, criou merecidíssima fama mundial e aí se meteu em desavenças, rompimentos e reconciliações até, finalmente, os irmãos Chris (vocal) e Rich Robinson (guitarra) resolveram se entender e recolocar a banda na ativa, o que nos permitiu, após uma ausência de quase 30 anos, revê-los em ação. Valeu a espera!

A noite de 14 de março, plena terça-feira, viu uma multidão que não chegou a entupir o Espaço Unimed, em São Paulo/SP, mas que deixou o local bem cheio e repleto de uma energia pra lá de positiva.

Quem abriu os trabalhos foi o Hurricanes, banda criada em Santa Maria/RS e hoje radicada em São Paulo. Abrir show de um nome há muito esperado como era o caso do Black Crowes pode ser uma empreitada perigosa, mas Rodrigo Cezimbra (vocal), Leo Mayer (guitarra), Henrique Cezatino (baixo) e Guilherme Moraes (bateria) tiraram de letra com uma performance eletrizante e um show totalmente calcado nos anos 70. Misture Led Zeppelin, Rolling Stones, Lynyrd Skynyrd, um pouco do próprio Black Crowes dos primórdios, coloque uma pitada de The Who e aí temos o som do quarteto. Incrementado pelo teclado de Jimmy Pappon e pelas backing vocals Julia Danesi e Lucille Berce, o grupo apresentou em meia hora sete músicas de seu repertório, todas elas devidamente empolgantes. Pra deixar tudo com mais ares setentista, a própria indumentária dos músicos remetia àqueles tempos, com direto a muita calça boca-de-sino, além de instrumentos vintage. Dava quase pra sentir o cheiro de patchouli…

De acordo com o guitarrista Leo Mayer, foi “um grande feito” para o Hurricanes ter sido convidado para a abertura. Ele diz que muita gente pediu para a banda abrir para os americanos e “por sorte isso caiu nas mãos certas e o convite aconteceu. Inclusive, os Crowes escutaram nosso som e aprovaram a abertura. Isso foi incrível!” E completa: “O feedback foi e está sendo maravilhoso!” O disco de estreia do Hurricanes está prometido para junho próximo.

Pontualmente às 21h30 (felizmente isso é algo que está mudando por aqui; chega de atrasos abusivos e intermináveis!), Chris e Rich Robinson entraram em cena, acompanhados por Nico Bereciartua (guitarra), Sven Pipien (baixo), Brian Griffin (bateria), Erik Deutsch (teclado) e Mackenzie Adams e Leslie Grant (backing vocals) – dessa turma, apenas Pipen teve passagens mais longas na banda, nos anos 90 e início dos 2000. Porém, nada que comprometesse a performance esfuziante do grupo.

Chris surgiu em cena com movimentação incessante, apesar dos 56 anos de idade. Melhor que isso, esteve o tempo todo sorridente, parecendo estar sinceramente feliz por estar ali – e isso faz toda a diferença em se tratando de um show de rock. Seu irmão Rich mantinha a postura discreta que adotou ao longo de toda a carreira – quem toca como ele toca não tem que fazer nada, apenas deixar a guitarra falar. E como ela falou! Sabe aquele timbre que todo guitarrista com influências setentistas busca e pouquíssimos conseguem? Rich tem isso na ponta dos dedos. Riffs sempre certeiros e solos repletos de técnica e feeling (outra meta que poucos alcançam) foram a tônica da apresentação.

Já Chris provou porque é um dos melhores cantores da história do rock. Segurou o show de uma hora e meia com os mesmos alcance e potência do início de carreira, além de em cena ser um misto de Mick Jagger com Rod Stewart.

A turnê atual do grupo celebra seu trabalho de estreia, Shake Your Money Maker, lançado em 1990 e até hoje seu maior sucesso (foi nada menos que disco quíntuplo de platina nos EUA). Assim, a primeira parte do show teve o álbum apresentado na íntegra. E o fato de um disco segurar (e muito bem!) mais da metade de um show mostra como de fato é um registro para ser lembrado. Tudo ali funciona à perfeição no palco, desde o início com Twice as Hard e seu riff irresistível, emendando com a stoneana Jealous Again, passando pela versão de Hard to Handle, de Otis Redding, pelo rock básico Thick n’Thin, pela lindíssima balada She Talks to Angels (que transformou o Espaço Unimed num grande coral) e desfechando com mais dois petardos com cara de Rolling Stones, Struttin’ Blues e Stare it Cold.

A segunda parte da apresentação teve mais seis temas, quatro deles do segundo álbum da banda, The Southern Harmony and Musical Companion (1992), com destaque para a que encerrou o show (antes do famoso “bis”), a genial e conhecidíssima Remedy. Aquela saidinha fake e na volta Virtue and Vice não empolgou tanto e botou ponto final na noitada.

Pra quem não tinha visto a banda em sua primeira passagem por aqui em 1996, como este que vos fala, e já tinha perdido a esperança de ver Black Crowes ao vivo, foi uma noite inesquecível. É sempre bom ver essa turma veterana ainda com sangue nos olhos e mostrando que foi feita para estar em cima de um palco. Sorte de quem viu.

Setlist Black Crowes

Parte 1 – Shake Your Money Maker

Twice as Hard

Jealous Again

Sister Luck

Could I’ve Been so Blind

Seeing Things

Hard to Handle (Otis Redding)

Thick n’Thin

She Talks to Angels

Struttin’ Blues

Stare it Cold

Parte 2

Sometimes Salvation

Wiser Time

Thorn in My Pride

Sting Me

Remedy

Bis

Virtue and Vice

Setlist Hurricanes

Through the Lights

The Bird’s Gone

How Do You Love?

Waiting

Devil’s Deal

Flowers

Purple Clouds

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