Por Guilherme Spiazzi
Fotos: Roberto Sant’Anna
Passadas vinte e quatro horas e nos ouvidos ainda havia resquícios dos zunidos que ficaram nos ouvidos após o Fear Factory literalmente passar por cima do Fabrique. O corpo ainda reclamava um pouco de toda a energia desprendida batendo cabeça, pulando e caindo nas rodas. As rodas… Aquele vórtex de sentido anti-horário que no seu pico se transformava no caldeirão do caos. Se há forma melhor de curtir um show de metal ao vivo em sua completude, eu desconheço.
Foram pouco mais de setenta minutos de música. Um set com uma porrada atrás da outra e pouco espaço para falas. Quando Dino Cazares (guitarra) falava, era para agradecer ou incitar o público. Não sei se podemos dizer que foi um show para promover Aggression Continuum (2021), visto que ele saiu já faz um bom tempo. Foi mais uma oportunidade de apresentar a nova formação, ou mais especificamente o novo vocalista Milo Silvestro.
Acostumar os fãs com Silvestro, antes de lançar o décimo primeiro disco de estúdio, foi uma ótima ideia. Afinal, a banda tem dez discos com a voz de Burton C. Bell. É inegável que ele marcou uma geração nos quase trinta anos sendo a voz do Fear Factory. O seu papel foi tão preponderante que influenciou o próprio Silvestro. Efetivado recentemente, o italiano claramente emula Bell na voz e no jeito de cantar na maior parte do tempo, mas traz o diferencial da empolgação de viver o momento. Quero ver se isso conseguirá ser capturado no próximo disco.
Durante o show, Silvestro estendeu o microfone para o público e buscou pelas mãos dos fãs, fazendo o possível para manter a energia em alto nível a todo momento. Nem parecia o mesmo cara perdido dos primeiros shows com a banda. Cazares sabia que o vocalista levaria um tempo para se adaptar, mas acho que ninguém imaginaria que seria tão rápido. Tony Campos (baixo) e Cazares cobriram o palco o tempo todo indo de um lado para o outro.
O longo e energético set foi muito bem planejado. Os caras abriram com a dobradinha Shock e Edgecrusher do celebrado Obsolete (1998). Sem perder tempo emendaram uma atrás da outra até que veio aquela que eu mais queria escutar – e já tocada mais de 39 milhões (sim, milhões) de vezes no Spotify – Linchpin (Digimortal, 2001). Músicas foram passando, até que Cazares anunciou um música que ele prometera nunca tocar ao vivo. E não é que veio Archetype (Archetype, 2004)! O cara colocou no set uma faixa da época em que ele estava fora do Fear Factory. Aliás, ninguém naquele palco gravou nada do disco. Sinceramente, tinha coisa melhor para colocar no lugar, mas com certeza alguém que curte essa fase ficou feliz. É o que importa.
Entre riffs pesados, empolgações e provocações – não somos mais barulhentos que os fãs mexicanos, Dino? Somos sim. Valeu a pena esperarmos tantos anos para rever eles ao vivo. Essa foi o terceiro e definitivamente o melhor show que já vi do Fear Factory. Os outros dois, vistos fora do país, nem chegaram aos pés da banda que passou por São Paulo.
Tudo bem que o Fear Factory pegou um público devidamente aquecido pelas bandas de abertura. Aliás, depois do show do Korzus é justo dizer que os caras não foram aberturar, foram co-healiners. Os caras abriram Guilty Silence (Ties of Blood, 2004) e ali mesmo eu já perdi a voz. Aqueles equipamentos espremidos no placo, com a bateria bem a frente obrigou a banda a ficar colada na margem do palco. Pode não ser cômodo para a banda, mas convenhamos… A troca de energia é outra.
Como não ferver o sangue com Rodrigo Oliveira, um monstro, esmurrando a bateria em You can´t Stop Me? Como não trincar os dentes com Heros Trench e Antonio Araújo rifando em Namesake? E aquela tensão que vai sendo construída no início de What are you Looking For, com Dick Siebert balançado a cabeça, pronto para descer a mão no baixo e fazer tremer o chão? À frente, Marcello Pompeu não apenas cantou, mas chamou a galera durante todo o set. Dominou o palco como qualquer veterano da sua envergadura domina. Foi um set relativamente curto, mas que cobriu bem carreira do Korzus, com direito a Correria e uma bela roda de saideira.
Quem chegou cedo teve a chance de pegar o Skin Culture abrindo os trabalhos da noite. Infelizmente, eu fui um dos que não pode chegar a tempo de curtir, o que me chateou, pois desde que eu entrevistei o vocalista Shucky Miranda lá em 2012 eu queria ver a banda. Por sorte, logo na entrada eu encontrei o Novato do canal Lado Direito do Palco e ele me garantiu que o Skin Culture mandou um show empolgante. Com sorte, na próxima eu vejo essa banda que beira duas décadas de estrada.
Foi uma noite de casa cheia, de som alto e de muita música pesada assim como todo bom show de metal costuma ser. Até o próximo!
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