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THE SISTERS OF MERCY: alternativos e inclusivos

Por Gustavo Maiato

Os britânicos do The Sisters of Mercy retornam ao Brasil para show neste domingo, 18 de junho, no Tokio Marine Hall, em São Paulo. A ROADIE CREW conversou com o guitarrista Ben Christo, que contou sobre o caráter inclusivo das músicas do grupo. Ele também explicou a particularidade dos fãs brasileiros e disse como é conviver com o lendário vocalista Andrew Eldritch. Boa leitura!

O The Sisters of Mercy está vindo para o Brasil em junho. Como é a sensação de fazer uma turnê na América do Sul? Por exemplo, você acha que os fãs aqui preferem algumas músicas específicas em comparação aos fãs na Europa ou nos Estados Unidos?

Ben Christo: É sempre ótimo fazer shows na América do Sul. Há uma positividade aqui que torna este lugar um dos melhores do mundo para se apresentar. O entusiasmo sempre é enorme. É o único lugar em que já me apresentei onde me sinto verdadeiramente uma estrela do pop, como os Beatles. Saímos do carro e os fãs estão gritando lá fora. Eles nos veem no hotel e no aeroporto. Existe muita paixão e isso nos faz sentir muito especiais. As pessoas são lindas e bondosas. É sempre uma experiência mágica. Em relação à música, sempre acho que os fãs da América do Sul são mais abertos a ouvir nosso material novo e os hits menos óbvios. Em outras partes do mundo, isso não acontece. Nesta turnê, vamos equilibrar clássicos com músicas recentes. Desde que continuemos entregando os hits, as pessoas ficam mais abertas para ouvir coisas novas.

Ben Christo, na última passagem do The Sisters of Mercy pelo Brasil, em 2017

Você é membro do The Sisters of Mercy desde 2006. Qual era a sua relação com a banda antes disso? Quais elementos da música do Sisters chamaram sua atenção desde o início?

Ben Christo: Cresci ouvindo The Sisters of Mercy. Foi uma das primeiras bandas que ouvi. Eu tinha 14 anos na época! As músicas capturaram minha atenção imediatamente por causa dos elementos de rock clássico. Era a base do tipo de som que eu curto. Mas era mais sofisticado. Não tinha aqueles vocais agudos e gritados como outras bandas. As letras também não eram simplesmente baseadas em beber e usar drogas. Havia algo intrigante com um vocal mais narrativo. Era persuasivo e, nessa época da minha vida, comecei a desenvolver um grande amor pela literatura. Estava indo para esse lado mais alternativo e me sentia isolado. Então, a música deles foi importante para me conectar com algo. Havia um mistério envolvido e eu me sentia como uma entidade mágica. Uma das coisas legais da música é que ela faz você se conectar com outras pessoas e perceber se elas também gostam. Depois, não ouvi muito The Sisters of Mercy. Só depois voltei a ouvir e eles capturaram minha atenção novamente. A produção era realmente ótima e as letras dos álbuns mais recentes continuaram ótimas. Lembro de fazer uma camiseta personalizada da banda para mim! Não encontrava uma do meu tamanho! Essa banda sempre foi vista como algo inteligente.

 

Andrew Eldritch é o membro veterano da banda. Como é estar em uma banda com ele? Quero dizer, se você tivesse que explicar para alguém quem é Andrew, o que diria?

Ben Christo: Estar em uma banda com Andrew Eldritch é uma experiência única e incrível. Ele é uma pessoa talentosa e distinta. Andrew é conhecido por suas contribuições significativas na cena alternativa. Suas letras têm inspirado e impactado muitas pessoas ao longo dos anos. O que mais admiro nessa banda é o compromisso de incluir aqueles que se sentem marginalizados e deslocados. É um lugar seguro para aqueles que não se sentem conectados a nenhum outro lugar. Essa abordagem inclusiva se reflete em nossos shows, especialmente nesta era pós-pandemia, onde as pessoas estão mais confiantes e vejo muitos indivíduos incríveis participando de nossos shows. A diversidade e a liberdade de expressão na forma como se vestem, sem restrições de gênero ou estilo, são maravilhosas de se ver. Nossa música e mensagem atraem pessoas de diversas faixas etárias, de 16 a 60 anos. Andrew conquistou isso ao promover a união entre as pessoas por meio de sua música. Ele é um colega de trabalho leal e inspirador, constantemente expandindo os horizontes musicais da banda. Todos nós podemos aprender muito com ele. Para aqueles que fazem parte do círculo da banda, percebemos que ele é uma pessoa muito gentil. No entanto, para aqueles que estão do lado de fora, ele pode evitar uma interação mais próxima, e isso é bom, pois garante a segurança e o conforto dele. Muitas pessoas que estão do lado de fora podem sentir uma conexão com ele através de sua música, pois ela tem ajudado essas pessoas em momentos significativos de suas vidas. No entanto, é importante entender que essa conexão é com seu trabalho e não necessariamente com ele como indivíduo. Essa distinção é crucial, e acho que é importante para celebridades manterem uma certa distância para preservar sua saúde mental. É essencial ser gentil e aparecer quando apropriado, mas também estabelecer limites. Por exemplo, ocasionalmente podem ocorrer encontros em lojas de discos para autógrafos, onde as pessoas têm a oportunidade de expressar como a música de Andrew os ajudou. No entanto, não é viável ou saudável estar constantemente em contato com um grande número de pessoas.

 

Muitos fãs pedem por um novo álbum do The Sisters of Mercy. Quando você acha que as estrelas se alinharão? Como você acredita que seria esse novo álbum?

Ben Christo: Um novo álbum do The Sisters of Mercy precisaria capturar todos os elementos que tornaram os discos anteriores tão especiais, mas também teria uma abordagem diferente. Seria necessário incorporar o som da guitarra presente no primeiro álbum, a qualidade épica do segundo e a essência emocional do terceiro. Se gravássemos novas músicas, tenho certeza de que seriam fantásticas. No entanto, seria fundamental ter um produtor excepcional para garantir que capturássemos a essência e a energia corretas. Talvez pudéssemos selecionar cerca de dez músicas para o álbum, e tenho certeza de que o resultado seria empolgante e inspirador para os fãs. Aguardamos ansiosamente o momento em que todas as circunstâncias se alinharão para que possamos trazer um novo álbum aos nossos fiéis seguidores.

 

Aqui no Brasil, uma das nossas bandas de metal mais famosas, chamada Shaman, fez uma versão de “More”. Você teve a chance de conferir?

Ben Christo: Essa versão é incrível. Acho que a banda conseguiu manter alguns aspectos da interpretação original, mas também adicionou e modificou algumas melodias. As mudanças de tom que eles fizeram são interessantes. O resultado é algo muito imaginativo e progressivo. A música se desenvolveu de uma maneira peculiar. Parabéns a eles! O cantor conseguiu cantar todos os versos.

 

Você ajudou a escrever o álbum “Death of Darkness” do The 69 Eyes, certo? Como foi a experiência?

Ben Christo: Foi uma experiência espontânea e fantástica. Tivemos muito tempo devido à pandemia e começamos a trocar mensagens com a ideia de compor algo juntos. Foi emocionante poder trabalhar desde o início em um projeto com uma banda que admiro muito. Eu tinha essa ideia em mente e começamos a compartilhar material pela internet, mergulhando nas ideias um do outro. Não houve discordâncias, foi um processo orgânico e fluiu facilmente. Acredito que isso aconteceu porque nos conhecemos bem e temos respeito pelo trabalho um do outro. Depois, trabalhamos na música ‘Something Real’, que também está no álbum. O momento mais incrível foi quando eles tocaram ‘Death of Darkness’ em Las Vegas e eu estava lá assistindo! Era a música que fizemos juntos! Fiquei pensando em como tudo isso aconteceu! Sempre fui fã deles e tive o privilégio de estar ali, pertinho, assistindo. Isso me mostrou que, se realmente nos esforçarmos, coisas boas podem acontecer. Outro aspecto interessante é que a música foi escrita em um momento em que eu não estava bebendo álcool. Foi no final da minha fase de consumo de álcool. Estar sóbrio e animado com a vida é muito importante. O álcool traz ansiedade e ingenuidade. No entanto, também sou inclusivo com aqueles que acreditam que o álcool pode trazer algo positivo, desde que tenham um relacionamento saudável com a bebida.

 

Você conhece alguma banda brasileira? Você tem alguma relação com o nosso país?

Ben Christo: Já ouvi algumas bandas de rock do Brasil. Eu entendo que é difícil construir uma banda no seu país devido à estrutura. Se você canta em uma língua estrangeira, isso se torna mais complicado. Por outro lado, se você compõe na língua nativa, pode ser difícil encontrar sucesso fora do país. Isso acontece em muitos países. Existem muitos talentos que enfrentam esse desafio. Eu tenho sorte por vir de um país que fala inglês. Tenho muito respeito por bandas que não têm o inglês como primeira língua. Eles precisam aprender ou encontrar formas alternativas de alcançar o sucesso. Sempre tive experiências maravilhosas no Brasil. A América do Sul é um continente vasto, com muitas pessoas e países. Há uma rica história e cultura em toda a região. Já visitei algumas vezes, mas infelizmente nunca tive a oportunidade de conhecer profundamente. Uma vez fui a um restaurante típico, mas na época eu costumava beber muito e acabava de ressaca, o que me impedia de aproveitar as cidades. Eu não tinha vontade de fazer nada, só queria ficar na cama. Agora que estou sóbrio, estou ansioso para explorar e conhecer mais coisas.

Andrew Eldritch, o “chefão” do The Sisters of Mercy, em São Paulo | Foto: Ricardo Ferreira

 

Olhando para trás, você já realizou muitas coisas em sua vida como músico. Mas qual foi o momento mais difícil de sua carreira?

Ben Christo: Não consigo pensar em um único momento específico que tenha sido o mais difícil. Uma das primeiras coisas que me lembro foi aprender a tocar o acorde de Fá! Eu tinha apenas dez anos e chorava porque achava que nunca conseguiria tocá-lo. Na carreira de músico, há muitos desafios. Precisamos lidar com outras pessoas criativas, que têm seus próprios sonhos e ambições. É necessário ser gentil e corajoso ao mesmo tempo. Você precisa fazer com que os outros se sintam bem, mas isso não pode significar comprometer sua própria visão artística. Esse é o desafio. Há uma frase que diz que a felicidade não está relacionada ao prazer, mas sim às conquistas. Acredito que os momentos mais importantes da minha carreira foram quando conseguimos alcançar nossos objetivos. Por exemplo, recentemente fiz um dos melhores shows da minha vida no Texas. Ao refletir sobre tudo o que precisou acontecer para chegar a esse ponto, percebo que foi algo que aconteceu muito longe de casa! Reconheço que sou privilegiado, mas foram anos e anos de trabalho árduo, decepções e falhas até chegar a esse nível. Essa indústria me tornou mais forte. Posso antecipar desafios futuros, mas sei que as coisas ficarão bem. É importante lembrar que, na maior parte do tempo, estamos bem. Precisamos aprender a lidar com as adversidades e continuar perseverando.

 

Se você tivesse que escolher 5 álbuns que mais te influenciaram, quais seriam eles e por quê?

Ben Christo: Essa pergunta é difícil! Precisaria de uma semana pensando! Acho que “For Those About To Rock” do AC/DC, “Defenders of the Faith” do Judas Priest, “High ‘n’ Dry” do Def Leppard, “Disintegration” do The Cure e “Love” do The Cult. Todos eles apresentam melodias sombrias e letras profundas. Esses álbuns me ajudaram a desenvolver meu lado de compositor e guitarrista, assim como meu papel como cantor e artista que busca entreter o público. Também aprecio a produção desses álbuns. Eles respeitam a história da banda. Não gosto de todo o catálogo de uma banda, porque as músicas mudam muito ao longo do tempo. Há algumas músicas famosas que não me agradam. No caso do The Cure, por exemplo, eles me inspiram muito, mas nem todas as músicas deles me cativam. Não é necessário gostar de tudo que uma banda faz.

 

Quais são suas influências como guitarrista? E como você acha que essa influência pode ser ouvida em seu trabalho?

Ben Christo: Minhas maiores influências são Angus Young, do AC/DC, Glenn Tipton, do Judas Priest, Steve Clark, que infelizmente faleceu, do Def Leppard, Richie Sambora, do Bon Jovi. Eles têm uma abordagem rítmica e percussiva. Também admiro Billy Duffy, do The Cult. Acho que Duffy, Tipton e Clark constroem melodias com simplicidade. Os solos deles seguem essa mesma linha. São riffs com três ou quatro notas. Tipton pode ser virtuoso, mas ele usa as notas de maneira adequada, não é apenas uma questão de tocar rápido. Clark é o meu favorito. Ele cria melodias criativas que não são difíceis de tocar. No entanto, interpretá-las corretamente é desafiador. Tocar rápido é impressionante, mas não é algo que eu consiga fazer. Para mim, é importante criar uma conexão com as pessoas, e a melodia é essencial nesse aspecto. As melodias precisam ser simples. É o tipo de solo de guitarra que eu gosto de criar. Às vezes, meus solos têm apenas três notas! Mas elas estão lá não como algo supérfluo, e sim como uma extensão da música.

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