Surgido em Valparaíso, no Chile, em 1998, o Cathalepsy lançou Fight The Sky, seu primeiro álbum, em 2005. Era mais uma boa promessa do power metal sul-americano que, apesar de algum destaque, não teve sequência e encerrou suas atividades em 2010. Nove anos depois, o baterista Luigi Ansaldi, líder da banda, decidiu que era hora de compor um novo capítulo para essa história, agora como um projeto. Convocou Fabián Valdés (integrante de outros grupos chilenos como Beelzebuth, Steel Rain, Suffering, além de ter feito parte de Dissident e Increaser) para gravar guitarra e baixo e, assim, a parte inicial do novo Cathalepsy estava pronta.
Com as demos prontas, Ansaldi foi atrás de uma coleção de convidados especiais. A lista inclui os vocalistas Tim “Ripper” Owens (KK Priest, ex-Judas Priest), Ralf Scheepers (Primal Fear), Harry “The Tyrant” Conklin (Jag Panzer, ex-Riot), Herbie Langhans (Avantasia, Firewind), Frank Beck (Gamma Ray), Giacomo Voli (Rhapsody of Fire), Ivan Giannini (Vision Divine), Thiago Bianchi (Shaman, Noturnall) e David Readman (Pink Cream 69, Voodoo Circle). Contribuíram com solos os guitarristas Joel Hoekstra (Whitesnake), Roland Grapow (Masterplan, ex-Helloween), Ross The Boss (ex-Manowar), Glen Drover (ex-Megadeth, King Diamond, Testament), Pontus Norgren (Hammerfall), Thobbe Englund (ex-Sabaton), Jens Ludwig (Edguy), Danilo Bar (WhiteSkull) e Sigurd Fylling (Legend Of Valley Doom). O time conta também com os tecladistas Scott Warren (Dio, Heaven and Hell, Keel, Warrant) e Oliver Palotai (Kamelot).
O ambicioso projeto acabou abraçado pela ROAR! Rock Of Angels Records, que disponibiliza agora Blood And Steel, para alegria dos fãs de power metal. Não faço segredo que essa linha da música pesada há anos não me atrai, culpa da proliferação descontrolada de grupos que tentaram, em vão, ser um novo Angra ou o próximo Blind Guardian. Entretanto, é possível sim reconhecer a qualidade – quando ela existe – em um produto que não esteja mais entre os seus favoritos. Além de cumprir muito bem as regras do power metal, Ansaldi fez ótimas escolhas para abrilhantar sua obra.
Escalar Ripper Owens para abrir o álbum, na ótima We Are The Warriors, foi outro grande acerto. Ao mesmo tempo que a faixa torna inevitável lembrar de Judas Priest, aumenta a curiosidade pelo que vem a seguir. Mais cadenciada e com um grande fator “Helloween”, Heavy Metal Faith é agradável. Destaque para os solos de Drover e Norgren.
Nunca fui fã de Ralf Scheepers, mas reconheço que sua performance em Hammer Heart merece aplauso. Nesta, novamente os solos chamam a atenção, com Grapow e Englund fazendo uma inesperada e excelente dupla. Uma versão orquestrada desta música encerra o álbum, mas com Ross The Boss na guitarra e o mestre Scott Warren detonando nos teclados.
Com uma cara mais NWOBHM, a boa faixa título não poderia deixar de contar com o subestimado Conklin nos vocais. Rock Star, por sua vez, ainda que não tenha o mesmo nível, chama a atenção pela presença de Readman, cujo estilo sempre esteve mais voltado ao hard rock do que ao estilo do Cathalepsy. Aqui, novamente, ponto para Ansaldi, que trouxe Hoekstra para elevar a adrenalina com um solo brilhante.
Eu não poderia deixar de comentar a sorte do brasileiro Bianchi, que recebeu a missão de impor sua voz em The Final Battle. A mais cativante das nove canções tem uma interessante transição da metade para o fim, quando ganha aceleração, levando a banda – infelizmente por pouco tempo – para um empolgante aumento no peso. Não sei se o Cathalepsy será mantido apenas como um projeto de estúdio, mas está nítido que uma versão ao vivo seria bem-vinda, mesmo que os convidados especiais que dão relevância ao álbum obviamente não possam participar nos palcos.
