PESO BRASIL 2

O Manifesto Bar foi palco, no último domingo (24), de mais uma edição do projeto “Peso Brasil”, que abre espaço para bandas nacionais de trabalho autorais, novatas ou históricas, mostrarem o seu trabalho. A ideia do projeto, por si só, já vale menção das mais honrosas. Não, não é porque um dos idealizadores dele também é redator-chefe desta conceituada publicação, mas por abrir uma porta que, salvo exceções feitas por outros abnegados, praticamente inexistiria – ou, se preferir, deixou de existir de uns anos pra cá. Afinal de contas, na famosa “boca pequena”, o que mais se ouve são pessoas reclamando que as bandas nacionais não têm vez, que os bares só abrem datas para bandas covers, que os espaços sempre são undergrounds e todo aquele falatório conhecido. Engraçado que quando penso nesta questão, me pergunto por que quando esta porta está aberta – e com ele todo o aparato profissional digno – esse mesmo pessoal que reclama não comparece aos shows. Pelo menos, foi o que eu entendi quando penso na imagem de um Manifesto quase vazio naquele domingo. A chuva torrencial que caiu na cidade horas próximas ao evento pode ter sido um obstáculo, diriam alguns. Mas muita gente que não tinha carro – inclusive, este que vos escreve – chegou lá. Muita gente reclama, reclama e reclama, mas na hora de dar o exemplo também pisa na bola. Um toque para você: pare de reclamar e choramingar pelas redes sociais e levante a bunda da cadeira para apoiar uma causa justa. Depois, não reclame se a porta fechar na sua cara.

Mas vamos falar dos shows, que é o que realmente interessa. Diferentemente da primeira edição, ocorrida em 20 de janeiro e que juntou monstros sagrados como Anthares, Necromancia e Attomica, esta segunda edição abriu espaço para bandas emergentes do cenário. Kamboja e o Sioux 66 ainda nem lançaram seu álbum de estreia, e o Goatlove praticamente acabou de lançar o seu debut, o ótimo “The Goats Are Not What They Seem”.

Kamboja foi a primeira banda a se apresentar logo após a discotecagem de Edu Rox (Lokaos Rock Show) – e fez sua estreia nos palcos justamente no “Peso Brasil”. O nome até pode ser novo, mas uma formação que conta com músicos experientes como Fabio “MK” Macarrão (vocal, ex-Proposital Noise), Paulão Thomaz (bateria, Baranga, ex-Centúrias, Harppia), André Curci (guitarra, Threat, Musica Diablo) e Frank Gasparotto (baixo, Goatlove, ex-Maniac e Anthares) não pode ser considerada estreante. Mesmo assim, visivelmente os músicos pareciam um pouco nervosos e bastante ansiosos para saber qual seria a relação do público quanto às músicas, que seriam tocadas pela primeira vez ao vivo. O vocalista Macarrão, inclusive, confessou que trocou algumas de suas próprias letras.

Mas nada disso importou para quem viu in loco um baita show de Rock’n’Roll. “Acelerando”, uma das músicas tocadas do EP de estreia, foi muita comentada pelo público após o show, assim como “A Dona da Madrugada”. Afinal, uma música que tem um refrão bem sacado como este – “A dona do puteiro / trabalha o ano inteiro / tem razão social / empreendimento sexual” – não poderia ser diferente. Letra verídica, segundo os autores.

A guitarra de André faiscava riffs banhados no bom e velho AC/DC – o próprio Angus aplaudiria, com certeza – e outras passagens de puro Metal e Hard Rock. Paulão sentava o braço sem piedade, acompanhado pelo baixo de Frank, que estralava e roncava como um V8, e Macarrão dava o toque final com um vocal irrepreensível e cheio de malandragem. O recado foi muito bem dado em apenas cinco músicas. Rock’n’Roll sujo e sem frescuras, como sempre deveria ser.

Estava curioso para ver a apresentação do Sioux 66. Gostei bastante do EP de estreia da banda, lançado no ano passado. São jovens, com integrantes na casa dos 20 anos, ou seja, sangue novo e um Hard Rock de primeira cantado em bom português. Músicas como “Diante do Inferno”, “Mentiras”, “Porcos”, “Jack N’ Me” provam que tudo é possível quando se tem competência. O palco era uma usina de energia e Igor Godoi (vocal), Fabio Bonnies (baixo), Fernando Mika (guitarra), Bento Mello (guitarra) e Gabriel Haddad (bateria) fizeram o possível para agradar tocando, inclusive, um cover de “C´mon and Love Me” (Kiss).

Os caras têm tudo na mão. Um visual legal, postura de palco e um puta som nas mãos – Hard Rock sujeira, de atitude e muito bem tocado. Pareciam o Guns em início de carreira, só que com um vocalista que sabe cantar. Bela sacada a versão de “Girl With Golden Eyes”, do projeto Sixx A.M. (do baixista Nikki Sixx, do Mötley Crüe) rebatizada em português como “Tudo o que o Tempo Esqueceu”. O single “O Outro Lado”, que tem clipe, fechou um set dignamente aplaudido. E com ele, a certeza de que a nova geração do Hard Rock brasileiro está em boas mãos.

Goatlove foi a última a subir no palco. Também estava ansioso para vê-los e sentir a energia das músicas de “The Goats Are Not What They Seem” ao vivo, um dos discos nacionais mais legais e viciantes dos últimos anos. Desde o momento que vi a banda em cima do palco, abrindo com “Brand New Horse”, soube que não iria me decepcionar. O visual meio mexicano/western de Roger Lombardi destacava dos demais integrantes – Marco Nunes e Fábio Gusmão (guitarras), Frank Gasparotto (baixo) e Alexandre Watt (bateria). Sua voz grave também é única e soturna, na linha do The 69 Eyes e The Sisters Of Mercy, só que com uma atitude quase Punk finlandês. Além de tudo, o cara é uma figura à parte. Aquele tipo de pessoa que cativa a sua atenção, mesmo sem conhecê-lo. Antes de tocar “Rebel Yell”, perguntou: “Alguém aí gosta de Bowie? Legal, porque vamos tocar um som do Billy Idol!”, arrancando risos do público. Ao final, antes de tocar “Capricorn”, do Motörhead, brincou novamente quando disse que a banda tocaria um cover de uma banda gótica que ele “curtia bastante”. Neste momento, o baixista Frank Gasparotto (que subia pela segunda vez no palco) foi obrigado a sentar no chão porque a talabarte do seu baixo havia estourado. Em “Here She Comes (Hot Stuff)”, chamou a vocalista Anita Cecília Pacheco para fazer o vocal feminino.

“Blade Of Love” ficou ainda mais animal com a pegada ao vivo, tônica também aplicada a “Ultramarine Dog” (que fechou o show) e “Beautiful Bomb”. Mas “Kill Somebody” foi insuperável, assim como a cativante “St. Pity”. Puro Goth ‘n’ Roll! Espero não demorar muito para revê-los ao vivo. E, desta vez, com um set maior. Saí feliz com o meu CD embaixo da jaqueta – que já tinha comprando antes do show. Foi a trilha sonora da minha volta para casa.

Esse foi o final de mais uma edição do “Peso Brasil”. E quem presenciou os shows sabe que não é exagero nenhum dizer que vimos três shows de bandas que se fossem norte-americanas/europeias já estariam figurando com destaque nas principais revistas especializadas e tocando em grandes festivais. Então, para a próxima edição, fica a dica: esqueça a porra do Faustão e Gugu (Silvio Santos é mestre), levante a bunda da cadeira e aplique na prática a sua contribuição ao Metal nacional.

 

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