STEVEN WILSON – SÃO PAULO/SP – 27/05/2018

Sim, o mês de maio foi um dos mais empolgantes em muitos anos para os fãs de música pesada da Capital Paulista e arredores. Para começar, a quantidade de shows foi espantosa, com várias noites exigindo que o fã escolhesse qual dos grandes eventos queria assistir. Além disso, houve também o fator ‘variedade’, já que realmente rolou de tudo um pouco. Na verdade, desta vez a variedade foi tão grande e em um tão curto espaço de tempo que talvez tenhamos desenvolvido os primeiros casos conhecidos de ‘transtorno bipolar musical’. E não é exagero, veja: em um espaço de mais ou menos uma semana, tivemos a interpretação literal da tempestade antes da calmaria, primeiro com o Brujeria e o Carl Palmer alternando noites, e depois com Triptykon e Steven Wilson fazendo o mesmo. E isso só para limitar aos nomes mais óbvios.

Embora a expectativa fosse das melhores (quem aí esteve no show surpreendente e incrível que Steven Wilson fez em São Paulo em março de 2016 sabe do que estou falando), havia também certa preocupação, já que o cenário no nosso país estava ainda um pouco mais caótico do que o costumeiro: com a greve dos caminhoneiros, a crise do abastecimento e boa parte da frota paulistana parada nas garagens, chegar ao Carioca Club se tornou um enorme ponto de interrogação na cabeça de muitos dos fãs, já que vivemos numa megalópole que não é servida por estações de metrô em todos os bairros, e que ainda convivia com a agravante diminuição da frota de ônibus. Sim, eram muitas dúvidas, e uma única certeza: aquele fenomenal artista inglês faria um show sensacional, e, pelo menos por umas poucas horas, nos subtrairia de todos os problemas que nos cercam. Uma pena que tenha que ser assim, mas que bom que existe a música para – no momento certo – fazer isso por nós.

A certeza se concretizou logo na chegada ao Carioca Club. A despeito de todos os problemas, um excelente público compareceu, e era visível que todos tinham deixado seus problemas longe dali. E a coisa se tornou ainda mais perfeita quando o show de fato começou, com a belíssima Nowhere Now, talvez a mais bela composição dentre todas as que formam o assombroso novo álbum de Steven Wilson, o indefectível To The Bone (2017). Quem nunca teve a chance de ouvir essa música, por favor, ouça-a agora, nós esperamos aqui. Você precisa ouvir aquele refrão, precisa sentir a harmonia de cada instrumento para tentar imaginar como foi para nós a sensação de estar lá, e sentir a música curando cada ferida da nossa alma, levando embora todos os problemas enquanto Wilson cantava os versos ‘here above the clouds, I am free of all the crowds’. E esta ainda a primeira música da noite. Pariah, outra de To The Bone veio na sequência, e então vieram a tradicional sequência Home Invasion/Regret #9, do insuperável Hand.Cannot.Erase, de 2015, que garantiram os primeiros tons mais puramente progressivos da noite.

Claro que os fãs do Porcupine Tree, banda onde Steven Wilson começou a construir seu legado, não sairiam do Carioca Club decepcionados, afinal, existe muito material fantástico ali. Como que para provar a veracidade desta constatação, The Creator Has a Mastertape (In Absentia, 2002) começou a rolar, tirando boa parte do público do chão com sua pegada mais veloz e ‘esquisita’. Ao longo da noite, várias outras composições do Porcupine Tree seriam apresentadas: Arriving Somewhere but not Here foi uma das mais bem recebidas, Lazarus, Heartattack in Layby e Sleep Together também apareceram. Mas, é muito provável que a pegada pop e dançante da nova Permanating tenha causado o maior alvoroço a noite. Harmony Korine foi encaixada no set por conta de um pedido de um casal que estava trocando alianças naquele mesmo dia. Enquanto a belíssima Song of Unborn chegou para fechar uma noite quase perfeita, com Steven Wilson sentado ao violão, enquanto seus parceiros de banda emocionaram com uma performance arrasadora.

Ao sair da casa de shows e voltar a pensar nos problemas do mundo real, não houve como não encarar o mundo com um sorriso nos lábios. Ao menos por duas horas, o mundo havia sido um lugar perfeito.

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