O suíço Gianni Pontillo forjou sua carreira como um dos melhores vocalistas da geração atual a partir das bandas Pure Yeast – com a qual abriu shows de Gotthard, Company Of Snakes e Bonfire -antes de mudar o nome para Pure Inc. e lançar seu primeiro álbum em 2004. E então vieram outras tours dividindo palcos com Doro, Michael Schenker Group, Masterplan e Jorn Lande. Dois anos depois, já no The Order, ele deu continuidade à carreira com Sons Of Armageddon, primeiro de seis álbuns, além do trabalho mais recente, o EP Out Of Order (2021). Em 2019, o cantor expandiu seu espaço na cena, ao assumir os vocais do Victory, banda capitaneada pelo guitarrista Herman Frank (Iron Allies, ex-Accept, ex-Sinner e vários outros), com a qual gravou o bom Gods Of Tomorrow (2021). Você talvez nunca tenha ouvido nenhum destes grupos, mas se acompanha a indústria do heavy metal, sabe que é de hard rock que estou falando. Agora, conhecendo ou não, tenha certeza de que Pontillo And The Vintage Crew, nova empreitada do personagem principal desta resenha, é uma das boas surpresas de 2023.
For The Love Of Blues, primeiro trabalho solo do vocalista, até tem momentos que lembra o hard rock citado acima, mas, na verdade, é um ótimo exemplar de blues rock. Várias das faixas foram compostas por ele no piano, durante dois anos. Para gravar as 10 canções ele chamou o guitarrista Mark Elliot (The Force, Elliot Marks Group), Reto Wild (baterista do Adrenaline 101) e o baixista Alain Schwalker (Frozenroom). Na lista de convidados especiais, entre outros, estão Sandro Pellegrini, guitarrista do Pure Inc. e Souls Revival. Mas o nome de maior destaque é Derek Sherinian (tecladista, ex-Dream Theather, Black Country Communion, Sons Of Apollo, Whitesnake e Alice Cooper, entre outros).
A faixa título tem uma levada que certamente agradaria Glenn Hughes, com uma levada que lembra muito o álbum Building The Machine, que o lendário mestre gravou em 2001. E quando começa City Of Gold, Pontillo indica que o nível será alto até o fim. Long Time Gone e a belíssima balada Between The Lines, consolidam isso. Ambas poderiam facilmente cair nas graças do grande público, caso as rádios brasileiras abrissem espaço para artistas que não são os “de sempre”.
A versatilidade de Gianni se mostra também em Io Senza Te. Em italiano, o homem também manda muito bem em outra faixa mais acessível. A faceta blues rock é retomada em Falling In Love e na ótima Sing The Blues, cuja pegada é replicada em The Keeper. A intimista Cc Song, tocada apenas no piano, é outro ponto alto. Eu teria deixado de fora somente Sound Of Hope, que me pareceu deslocada.
No geral, a impressão que fica é muito boa. Tenho certeza de que Pontillo continuará fazendo do hard rock o pilar central da carreira. Mas é sempre válido acompanhar um artista mostrando qualidades fora da sua zona de conforto, ainda mais com uma naturalidade notável.