A Suécia é, sem dúvida, uma verdadeira “fábrica” de boas bandas de música pesada. Não importa o estilo, mas sempre há muitos exemplos de qualidade. Criado por Per-Olov Jonsson (bateria) e Emil Holmqvist (guitarra) no ano de 2013 em Umeå, na região Norte do país escandinavo, o Stygian Fair é mais um desses exemplos. É o que mostra Aradia, quarto álbum do grupo, que conta com Andreas Stoltz (voz, guitarra) e Anders Hedman (baixo e criador da arte da capa).
Stoltz, por sinal, fazia parte da primeira formação do Stygian Fair, mas deixou o time no outono europeu de 2016, pouco antes do lançamento do EP Into The Coven, cujas vozes foram registradas por Pontus Åkerlund. Este permaneceria como frontman nos full lenghts Panta Rei (2018), Nadir (2019) e Equilibrium, lançado em abril de 2021. Cinco meses depois, o vocalista deixou a banda. Mas poucas semanas foram necessárias para a volta de Stoltz, que passara alguns anos como integrante de Binary Creed e Hollow. A vantagem é que ele retornou para ser o segundo guitarrista do Stygian Fair.
Aradia é o nome de uma filha de Diana, que na mitologia romana é a deusa da caça e da lua. Primeiro single do novo trabalho, a faixa revela a base sonora do grupo. É uma mistura da tradicional NWOBHM com o metal épico de nomes como Manilla Road, mas há ali também um tanto de Tad Morose e Memento Mori e uma dose discreta e excelente de Rush. O ponto alto, porém, não são as influências. O grande destaque do Stygian Fair são as melodias e a sessão rítmica de cada canção.
E nas 10 faixas o que se houve é um forte entrosamento, sem nenhum integrante tendo mais destaque do que os demais. Isso certamente ocorre pelo fato de as composições, de acordo com o material de divulgação, serem criadas conjuntamente. E, asseguram os músicos, mesmo quando um deles chega com uma canção “pronta” acontece uma transformação do trabalho em um esforço coletivo tanto para a parte sonora quanto para a lírica.
E sobre as faixas, Ancient Lies é dos tempos iniciais, antes da saída de Stoltz. Com sua volta, chegou a hora da canção finalmente ganhar vida oficialmente. E provavelmente não por acaso é a que abre o trabalho. Nela, os riffs e o refrão são um primor.
Segundo single divulgado antes do lançamento de Aradia, Masters of the Sea fala sobre os vikings cruzando os mares em busca de fortuna:
“Through uncharted waters
Fierce dragon carved at
The prow
Our sails are set to reveal
The unknown
Maybe to settle or bring the riches home
A call from the village
Longboats have been seen
A cry from the village
Longboats are coming here
We´re masters of the sea”
Apesar da temática, não pense em Amon Amarth. Imagine Ten e Cirith Ungol. A receita vale também para a faixa-título. Nelas e em todas as demais não há exageros virtuosísticos. É heavy metal, puro, simples e de bom gosto.
Lembra do que escrevi sobre a sessão rítmica do Stygian Fair? Let It Go sintetiza isso: um ótimo riff que parece não terminar, a cozinha marcando presença com precisão e um solo cheio de melodia agradabilíssima. Na sequência, Panoptikon é a oportunidade para o vocalista brilhar, enquanto Unto Oblivion traz variações de andamento que mostram como é possível aliar o metal tradicional com o prog sem soar piegas.
Escutar a introdução de Grief Collector é pensar em Remember Tomorrow, do Iron Maiden. E lá pelos três minutos, no refrão e nos solos, a reverência ao ícone do metal britânico fica ainda mais evidente. Finalizo destacando Tainted Dream, que a banda cita como uma referência à guerra na Ucrânia. Os sonhos pacifistas de um mundo em paz acabam sendo jogados por terra quando a Rússia invade uma outra nação. “Talvez este sonho seja infantil e ingênuo. Mas ele continua maravilhoso”, atesta o grupo. Stoltz, Holmqvist, Hedman e Jonsson estão cobertos de razão.