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TOY DOLLS – São Paulo (SP)

Carioca Club - 16 de setembro de 2023

Por Leandro Nogueira Coppi

Fotos: Roberto Sant’Anna

Cinco anos e uma pandemia depois e o trio Toy Dolls retornou ao Brasil. E tanto para a tresloucada e divertida banda inglesa de punk rock quanto para os fãs a ocasião era especial. Atualmente, o grupo formado em 1979 está comemorando 40 anos do lançamento de seu aclamado álbum de estreia, Dig That Groove Baby. Outro fator especial foi que além de revisitar as cidades de Porto Alegre (RS), Curitiba (PR) e São Paulo (SP), respectivamente, pela primeira vez o Toy Dolls tinha o Rio de Janeiro (RJ) no itinerário. E tudo isso faltando menos de uma semana para seu mentor, o figuraça Michael “Olga” Algar (vocal e guitarra), completar 64 anos. A equipe da ROADIE CREW esteve presente no show de São Paulo e constatou que novamente a base fiel de fãs do Toy Dolls voltou a entupir o Carioca Club, mesmo local em que a banda havia feito sua apresentação anterior em 2018, também com casa lotada. E se naquela ocasião o show do Toy Dolls aconteceu em uma das noites mais frias daquele ano, dessa vez foi o oposto, aconteceu sob um calor desértico. De todo modo, quem presencia um show do grupo, que é completado por Tommy Goober (baixo e vocal) e The Amazing Mr. Duncan (bateria e vocal), se diverte tanto que sai pingando de suor, seja no calor ou mesmo no frio. 

Em 2018, o Toy Dolls contou em São Paulo com as bandas Faca Preta Os Excluídos para a abertura. Dessa vez, assim como em Curitiba, a missão coube aos veteranos do Skamoondongos, banda formada em meados de 1994. Como o nome do grupo paulistano entrega, o Skamoondongos faz aquela mistura divertida de ska e punk que levanta defunto ao vivo tamanha a carga de energia descarregada no palco, incrementada por um competente naipe de metais. O som dos “moondongos” é forjado sob influência da segunda geração do ska – conhecida como Ska 2Tone (ou simplesmente 2Tone), alcunha essa baseada na gravadora inglesa 2 Tone Records, formada no final dos 70 pelo tecladista do The Specials, Jerry Dammers -, e também na terceira onda. Aliás, quem viveu os anos 90, época do surgimento do Skamoondongos, lembra de outras bandas brazucas da época, como o Anjo dos Becos, por exemplo, que ainda surfa nessa onda – inclusive, o vocalista Pirata, figura respeitada no underground, também estava prestigiando o evento proporcionado pela produtora Powerline.

No repertório, Axl Rude Krenek (vocal) e Cia. trouxeram músicas de destaque na carreira do Skamoondongos, como Bella CiaoOcupar e Resistir e a antiquíssima Pobre Plebeu, música que integrou a conhecida Coletânea Ska Brasil, sendo destaque nas paradas no verão de 1996/1997 e que mais tarde integraria o debut intitulado Segundo, que saiu pela gravadora Paradox Music. Além de seu contagiante repertório autoral e de críticas à política do Brasil, o Skamoondongos prestou algumas homenagens. A primeira delas veio com a música 2 Tons, cover do Subtones, que foi dedicada a Mingau, baixista do Ultraje a Rigor e ex-Ratos de Porão, que segue internado lutando para sobreviver ao tiro levado na cabeça recentemente. A segunda foi para o Cólera, do finado Redson, com um cover da banda para Medo. Assim como em 2018, mais uma vez a escolha da Powerline para a abertura do Toy Dolls foi assertiva optando agora pelo Skamoondongos

Sobre a organização em si, um ponto bastante positivo foi o fato de os shows terem começado cedo, com os horários sendo cumpridos à risca. Em uma cidade violenta como São Paulo e sabendo que muita gente depende de transporte público, esses fatores precisam sempre ser levados em conta na hora de definir os horários de um evento, principalmente sendo em final de semana. Pontualmente, às 19h30, um rufar de tambores no som mecânico revelou um hilário “happy birthday to you” em homenagem aos 40 anos do disco Dig That Groove Baby, porém logo a cantiga de aniversário foi atropelada pelo tradicional trecho da romântica Hello, grande hit da carreira do cantor americano Lionel Richie – à essa altura, o Carioca Club estava abarrotado de gente, muitos rindo com a intro; já o calor era imensurável. Ao som de outra introdução, Theme Tune, os ‘nerds’ OlgaGoober Mr. Duncan surgiram pelas escadas ao fundo do palco trajando seus tradicionais terninhos e óculos coloridos. Não demorou e eles deram início ao baile com a dançante Fiery Jack, do comemorado álbum Dig That Groove Baby. A casa veio abaixo: todos cantando em uníssono e se divertindo, principalmente com as coreografias da banda, que ao longo do show incluía passinhos, corridinhas, chutes no alto, giro de instrumentos… Assim que a música acabou, o trio foi ovacionado pelo público e logo mandou Cloughy is A Bootboy!, única do quinto álbum, Wackey Wackey, de 1989.

Os álbuns Fat Bob’s Feet (1991) e Bare Faced Cheek (1987) também foram relembrados, através de Bitten By A Bed Buggy Fisticuffs in Frederick Street, respectivamenteessa última fica engraçada ao vivo quando banda e público cantam Who’s Down There; parece muito que todos estão cantando “buscapé / buscapé”. Bem, a alegria era geral: punks e headbangers, novos e veteranos, confraternizando em clima total de paz. Infelizmente, isso não foi sempre assim no Brasil, nem mesmo para o próprio Toy Dolls. Na primeira vinda do grupo ao país, há exatos 35 anos, um de seus quatro shows realizados no extinto Projeto SP acabou bem mais cedo do que o previsto por conta de um skinhead que inexplicavelmente acertou um direto no rosto de Olga. Estava na minha, tocando, quando fui atingido. Só depois é que fui saber que tinha sido um deles”, recordou o artista em entrevista concedida à Folha de São Paulo, em 1995, quando do retorno do grupo ao Brasil pela segunda vez. Passados todos esses anos, o Toy Dolls seguiu gravando seus álbuns meio que na surdina, visto que nunca foi midiático, nem se rendeu à nenhuma moda e muito menos integrou o mainstream. E mesmo não tendo o devido reconhecimento como o de outros grupos de sua geração, entre os mais lembrados Ramones, Sex Pistols, e Dead Kennedys, por exemplo, o Toy Dolls é uma banda cult altamente respeitada mundo afora e com uma base fiel e festeira de fãs, principalmente na América do Sul, Espanha e Portugal.

Dentre as próximas músicas que vieram na sequência, estava Benny the Boxer, do mais recente álbum do Toy DollsEpisode XIII, que foi lançado em 2019. Aliás, desse, OlgaGoober Mr. Duncan apresentaram também a instrumental El CumbancheroOutros dois clássicos do primeiro disco deixaram os fãs histéricos, Up the Garden Path e, principalmente, Dougy Giro. Essa precisou ser recomeçada, pois Goobert teve problemas com a correia de seu baixo. Foi muito engraçado quando o roadie entrou para dar uma ajeitada na peça e foi vaiado pela demora. Claro que as vaias eram em tom humorado, só para ‘sacanear’ o indivíduo, que no decorrer da música ainda ainda meteu um silver tape na correia para dar mais segurança ao baixista. Aqueles que estavam na plateia e também assistiram ao show de 2018, possivelmente se lembram de quando o público já havia zoado a banda ao vaiá-la logo na primeira música, Fiery Jack, que também precisou ser recomeçada assim que um problema na guitarra de Olga foi sanado.

Depois de em I’ve Got Asthma Olga lembrar o público que ele tem asma e mal consegue respirar, de falar de sua treta com aranhas no camarim em Spiders in the Dressing Room e de o trio mandar a mencionada El Cumbanchero, o frontman chamou seu garçom particular ao palco e recebeu do mesmo uma minúscula garrafa. Olga fez cara feia e ganhou do sujeito desajeitado outra bem maior, porém pequena demais para o cantor de cabelos esmeraldinos. Chegou então o esperado momento em que o atrapalhado garçom ressurge com uma garrafa gigante, quase do tamanho do agora satisfeito cantor. Como em todo show, Olga sentou no objeto inflável que aguçou os sentidos etílicos dos borrachos de plantão e disparou contra os gaiteiros uma chuva, não de “mé” (como diria o digníssimo Mussum), mas sim de papel picado. Claro, era hora de uma das mais esperadas do repertório, The Lambrusco Kid – música que serviu de inspiração para a banda brasileira Lambrusco Kids.

Inegavelmente, o momento mais esperado pela maioria viria a seguir. E não há quem não tenha fica ensandecido quando o Toy Dolls tocou a sua Enter Sandman, a sua Blitzkrieg Bop, a sua Rock and Roll All Nite: falo da inigualável Nellie The Elephant, grande hit de Dig That Groove Baby. Nessa, os tradicionais “ôooooooooo” foram ensurdecedores – e de arrepiar! Depois de She Goes to Finos, do segundo álbum, A Far Out Disc (1985), Olga perguntou: “vocês acham que estou ficando velho demais para isso? Se acham velhos para isso?”. E aí a banda mandou sua versão do compositor do Sacro Império Romano-Germânico Johann Sebastian Bach para Toccata and Fugue in D Minor, BMW 565. Nessa, o destaque foi Mr. Duncan, que detonou na batera e fritou o chimbal. E por falar na questão técnica do trio, convenhamos, embora teoricamente o som incomparável do Toy Dolls, um punk rock que ora parece trilha sonora de desenho animado, ora um folk nórdico festivo, ou um hillbilly americano (daria até para imaginar um banjo em algumas músicas do grupo), pareça ser simples e fácil, estamos falando de três grandes músicos, que tocam de modo preciso do começo ao fim. Ouso a dizer até que Olga é um dos guitarristas mais criativos do rock e valorizado no máximo pelos fãs de punk rock. Jão, guitarrista do Ratos de Porão, por exemplo, sempre o cita como sua grande referência na guitarra.

Depois de Alec’s Gone, única do sétimo álbum, Absurd Ditties (1993), Olga se retirou do palco e Goober Mr. Duncan fizeram uma seção baixo/batera para não deixar o clima esfriar. Não demorou muito, Olga retornou ao palco com chapeuzinho e bandeja de demonstrador de shopping center, mas ao invés de mini-pretzels, distribuiu óculos iguais ao seu para alguns sortudos da pista que estavam colados no palco. Depois disso, ele e Goober pegaram outra guitarra e outro baixo, respectivamente, e após Olga contar de um a quatro em bom português, o trio mandou Harry Cross (A Tribute to Edna), de Iddle Gossip, 3° álbum do Toy Dolls, lançado em 1986. Na sequência, fecharam a primeira parte do show com um cover da instrumental Wipe Out, do The Surfaris, um surf music ao melhor estilo Dick Dale. E claro que nessa teve a tradicional coreografia de Olga Goober girando seus instrumentos simultaneamente. 

Com a cozinha do Toy Dolls de volta ao palco, Goober apresentou Mr. Duncan ao público e perguntou a todos aonde estava Olga. Atendendo ao chamado dos fãs, o dito cujo ressurgiu no palco ao melhor estilo Rick Nielsen, do Cheap Trick, portando uma guitarra Fender em formato ‘triple neck’. Com ela e acompanhado de seus asseclas, Olga comandou a música que dá nome ao aniversariante álbum quarentão, a dançante Dig that Groove Baby. Assim como na maior parte do show, a pista ficou ensandecida, com muita gente agitando e fazendo rodas. Depois dessa, a banda novamente deixou o palco.

Após um intervalo um pouco maior do que o anterior, OlgaGoober The Amazing Mr. Duncan se despediram de São Paulo, porém antes de embarcarem para o Rio de Janeiro fecharam com uma trinca formada por When the Saints Go MarchingGlenda and the Test Tube Baby e, sob uma chuva de balões negros estampados com o rosto da mascote da banda, a derradeira Iddle Gossip

Agradecido e satisfeito com uma hora e vinte de pura diversão e cantorias, o público emanou sua alegria à banda em forma de aplausos de agradecimento. Para muitos ali, o Toy Dolls fez parte da infância e da adolescência. Badauí, vocalista do CPM 22, por exemplo, já declarou que deu seu primeiro beijo ao som dos Dolls. Ou seja, como dito aqui anteriormente, embora o Toy Dolls sempre tenha se mantido no underground – ainda que tenha tido sua música bem explorada em filmes, jogos de PlayStation e como faixa incidental para TV no mundo todo -, é o tipo de banda que agrada a gregos e troianos. Aliás, muito mais gente do que possamos imaginar têm histórias especiais para contar sobre como e/ou em que situação conheceu o grupo inglês. Sobre o disco aniversariante, o clássico Dig That Groove Baby, passados 40 anos vemos o quanto ele envelheceu bem. Também, pudera, o Toy Dolls também segue sendo relevante para a velha guarda e para as novas gerações que vão surgindo e curtindo a música divertida e descompromissada de Olga e sua trupe.

Toy Dolls – set list

  • Theme Tune  
  1. Fiery Jack
  2. Cloughy Is A Bootboy! 
  3. Bitten By A Bed Bug
  4. Fisticuffs in Frederick Street 
  5. The Death of Barry the Roofer with Vertigo 
  6. Benny the Boxer
  7. Up the Garden Path
  8. Dougy Giro 
  9. I’ve Got Asthma
  10. Spiders in the Dressing Room 
  11. El Cumbanchero 
  12. The Lambrusco Kid
  13. Nellie the Elephant
  14. She Goes to Finos
  15. Toccata and Fugue in D Minor, BMW 565 (Johann Sebastian Bach) 
  16. Alec’s Gone
  17. BAIXO/BATERA, 
  18. Harry Cross (A Tribute to Edna) 
  19. Wipe Out (cover do The Surfaris)                                                                                                                                                           (BIS)
  20. Dig That Groove Baby                                                                                                                                                                                          (BIS)
  21. When the Saints Go Marching 
  22. Glenda and the Test Tube Baby
  23. Iddle Gossip
  • Theme Tune

 

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