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SETEMBRO NEGRO FESTIVAL – São Paulo (SP)

Carioca Club - 7 a 10 de setembro de 2023

Por Samuel Souza

Fotos: André Santos

Pontualidade, qualidade e diversidade no universo da música extrema, com bandas tanto consagradas quanto emergentes, receberam apoio crucial de um público intenso e fervoroso, demonstrando que tamanho não importa quando se trata de valorizar quem está na correria. A décima quinta edição do Setembro Negro Festival foi um sucesso esclarecedor, atraindo amantes fiéis de toda parte do Brasil, além de headbangers vindos de países vizinhos e até de continentes distantes. O Carioca Club, palco desse encontro histórico, vibrou com a energia ardente da legião de fãs que o inundou, tornando cada dia e cada noite ainda mais quente e memorável.

Durante o festival, não faltaram momentos emocionantes, como testemunhar até mesmo os mais experientes e veteranos maníacos derramando lágrimas durante o incrível desempenho do Triumph of Death. Por outro lado, também houve muitos sorrisos estampados nos rostos dos participantes, todos unidos pela paixão pela música extrema. Essa notável iniciativa, liderada pela Tumba Productions, mais uma vez, deixou claro que o underground pode e deve ser abordado com profissionalismo, respeito e excelência. O Setembro Negro Festival não só cumpriu suas promessas, como também reforçou sua posição como um evento indispensável no calendário dos amantes da música pesada.

7 de setembro

Este ano marcou a pré-festa, um termo meio apático e requintado demais para um feriado de sete de setembro que reuniu um bom número de fãs e bandas que realmente mereciam atenção. Logo, estamos realmente falando que aqui começou de fato o festival.

De Feira de Santana/BA, o Erasy subiu ao palco às 15h55 em ponto (esqueça, todas entram no horário, então não vamos mais falar sobre isso daqui pra frente…), com suas fortes influências da escola setentista e, claro, sabbatical. Chamou atenção o chapéu enorme de bruxo do guitarrista Léo Carvalho, além das músicas “Under the Moonlight” e “Change Your Medication”, mostrando que esses caras sabem fazer sludge doom com precisão.

Com a presença da máquina de metralhar, o sobrenatural baterista Sandro Moreira, os porto-alegrenses do Burn the Mankind fizeram jus à escola que o estado possui em executar metal extremo. Tecnicamente precisos, o death metal com ares de grindcore desconcertante, esporrou uma avalanche sonora sem meios termos. “The Gun”, “The Red Rise” e “Everyone is Blind”, com seus pesos e contratempos, ganharam o público, que boa parte, aparentemente não os conhecia. Entregaram uma versão violentíssima para “Morrer” do R.D.P.

Do interior de São Paulo, da vizinha Sorocaba, o Warshipper possui quatro álbuns lançados, e do mais recente, deste ano, mandaram ver na sequência “Religious Metastasis” and “Migrating Through Personality Spectra”, além de revisitar coisas mais antigas como a música que leva o próprio nome da banda. Boa parte dos presentes os conhecia e as saudações ecoaram bem pela casa, ainda mais quando essa mescla de death e thrash metal é feita e executada de forma bem encorpada.

Formado em 1983, os também porto-alegrenses do Leviaethan vêm realizando shows para celebrar seus 40 anos em atividade. Integram a primeira geração do thrash metal brazuca e discos como “Smile!” (1990), que abre a primeira sequência do set, é um clássico underground. Tocaram duas músicas novas, entre elas, “Hell is Here”, dando uma revigorada a sua extensa carreira. Não faltaram músicas do também clássico “Disturbed Mind” (1992). Prestes a completar 60 anos, o baixista e vocalista Flávio Soares ainda tem muita lenha pra queimar.

Veteranos da cena norueguesa, mas sempre apostando em algo fora da curva, o In The Woods… foi uma grata surpresa em aparecer neste cast, substituindo o trio norte-americano Primitive Man. Da formação original, apenas o baterista Anders Kobro, que já iniciou os trabalhos com “Heart of the Ages”, faixa-título do álbum de estreia de 1995, seguido pela bela “Empty Streets” do penúltimo disco. Com sonoridade ímpar, não perderam tempo e resgataram também “Yearning the Seeds of a New Dimension” e encerraram com a canção que batiza a banda, lá da demo-tape de 1993, que até hoje roda por aqui.

Os canadenses do Voivod sempre foram um ponto de intervenção no metal. Tantos anos de estrada e discos seminais deram a eles uma espécie de aura cult pós-apocalíptica, seja pela modernidade envelhecida, digamos assim, que entregam em suas canções. E esse desconcerto que mescla prog com punk, deu o tom com “Killing Technology”, já ovacionada pela maioria e logo a roda se fez presente! Os remanescentes Snake e Away, vocalista e baterista, respectivamente, são o extrato de carisma e apreço para com o público, mas em certo momento, deu a impressão de certo “cansaço”. Com uma vasta discografia, foram assertivos em revisitar “Macrosolutions to Megaproblems”, “Rebel Robot” e “Voivod”. Não passaram batidos e homenagearam o falecido membro-fundador Denis D’Amour, que faleceu em 2005. Era a grande expectativa da noite e os fãs da banda saíram satisfeitos. Na parte externa do Carioca e lá na rua, havia muita gente se confraternizando. Eram 22 horas e um pouquinho, um ótimo horário para voltar pra casa e preparar o corpo e o espírito para aguentar a maratona de mais três dias pela frente.

Sexta, 8 de setembro

Sexta-feira, dia 08, sol fervendo na moleira e a turma do esquenta já cercava o Carioca Club. Foi bacana presenciar que, no horário marcado para às 14 horas, a grade e a pista estavam com um público atento ao Podridão, quebrando tudo com seu death metal tradicional. O trio lançou há pouco seu terceiro álbum “Cadaveric Impregnation”, um petardo do estilo. Os timbres lindos da guitarra, com peso e nitidez, além dos vocais cavernosos, deram um toque acima da média na apresentação deles. Metal da Morte de gente grande, sem dúvida!

Sem muito respiro, o Parasital Existence, hermanos do Uruguai, também fez bonito. Brutal e cirúrgico, levou o público na mão, pois era evidente a felicidade do trio em tocar ali e apresentar uma avalanche primitiva do seu death metal que bebe forte na escola noventista à la Cannibal Corpse.

Profundo e pesado, os cearenses do Pantáculo Místico trouxeram o momento fúnebre em meio à tormenta. Iniciaram com duas músicas do recente álbum auto-intitulado, uma espécie de grimório oculto traduzido no velho doom metal, evidenciado pelas linhas de teclado taciturnas que permeiam o estilo. Urrado em português, as reverências ao quinteto foram seguidas de aplausos quando deixaram o palco. Mais um ponto para a Tumba, diga-se!

Mais death metal tradicional com a entrada dos franceses do Mercyless. Os mais desavisados, lá quando foram anunciados, pensaram se tratar do homônimo sueco, mas eles são tão veteranos quanto. Abriram com a recente “Rival of the Nazarene”, reafirmando a proposta anticristã que possuem desde o álbum de estreia “Abject Offerings”, apresentando aqui “Without Christ” e “Burned at the Stake”. Eles estouraram um pouquinho seu tempo, mas nada atrapalhou o que vinha pela frente. Mas, sabe-se lá o que se passou por trás das cortinas!

Metade do evento, era a vez dos paulistanos do Torture Squad subirem ao palco, em contraponto curioso que boa parte do público deixou a pista para se hidratar e/ou descansar. Mesmo assim, o quarteto possui seu público cativo e bombardeou com as precisas “The Unholy Spell” e “Horror and Torture”. A qualidade sonora do show é um dos pontos altos deles. Nitidez exata!

Pela segunda vez no fest, o Purgatory da Alemanha ostenta um ciclone sem precedentes em fazer death metal. Conhecido por muitos dos presentes, o guitarrista René Kögel é rigoroso na execução de riffs que entrelaçam peso e violência. Com sorrisos de orelha a orelha, o vocalista Mirko Dreier agradeceu muito o público, que aos poucos voltava para preencher a pista do Carioca.

A série de veteranos segue com o trio sueco Defleshed, trazendo àquela característica típica do país, mas eles possuem um quê mais subversivo no thrash metal mesclado com um death que avança em algo mais contemporâneo. Tiveram problemas com o som no início, com microfonias que também afetaram o Mercyless. Mesmo assim, o baixista/vocalista Gustaf Jorde, compreensível, se conectou facilmente com a audiência e lidou bem com a situação.

Da velha escola grega, o Nightfall carrega toda uma essência particular em fazer metal extremo recheado de extremos. Da formação original, o vocalista Efthimis Karadimas ofertou uma performance teatral, com uma máscara à la Fantasma da Ópera e um suporte de microfone que emula uma adaga. Eles abriram com “Killing Moon”, do mais recente álbum “At Night We Prey”, que dominou praticamente todo o set. Mas foi com “As Your God is Failing Once Again”, que os fãs mais ortodoxos se identificaram, uma canção presente em “Macabre Sunsets”, um álbum que circulou bem por aqui. Fecharam com a também clássica “Ishtar (Celebrate Your Beauty)”. Destaque para as pesadas linhas de baixo de Vasiliki Biza e a versatilidade de trazer à tona aquele jeitão despojado do rock gótico.

Não há dúvidas de que o Immolation era também o grande destaque daquela noite. Esses norte-americanos se tornaram, ao longo da bem-sucedida carreira, um torpedo dizimador quando o assunto é tocar death metal com maestria. Isso se traduz às claras pela desenvoltura assustadora que o guitarrista Robert Vigna aplica, chegando até mesmo a exteriorizar uma certa alegria no rosto a cada nota. Priorizaram o último álbum “Acts of God”, descendo a marreta logo com “An Act of God” e “The Age of No Light”. Estamos falando de um quarteto tecnicamente coeso e mesmo que em algum ou outro momento “o som parecia mais baixo”, toda aquela porrada era bem audível. Ross Dolan, vocalista/baixista, também sabe demonstrar simpatia e agradeceu imensamente o envolvimento dos fãs ali no mosh e nas grades. Para encerrar, “Father, You’re Not A Father” é um daqueles hinos estabelecidos do estilo. Que sonzeira da porra ao vivo!!!

Com um pouquinho de atraso, os holandeses do Picture subiram ao palco para celebrar um encontro de gerações e estilos dentro do festival. É certo dizer que a pista deu uma esvaziada, mas também foi preenchida por outra turma que parecia estar ali para cantar em uníssono músicas como “Message From Hell”, “Night Hunter”, “Diamond Dreamer” e “Heavy Metal Ears”. Impossível não citar o figurino “tiozão” do baterista Laurens Bakker, com uma espalhafatosa camiseta com a bandeira do Brasil. Rinus Vreugdenhill, baixista e também da formação original, se empolgou e tocou literalmente no meio dos fãs. O “novo” vocalista Peter Strykes segurou bem os momentos em que seu microfone apresentou falhas, restabelecendo a ordem na também clássica “Eternal Dark”.

Pouco depois da meia-noite, os amantes do Metal com suas camisas pretas ainda estavam nas imediações do Carioca Club, aproveitando ao máximo. A segunda noite do Setembro Negro encerrou com saldo positivo… E ainda havia mais dois dias para extrair as últimas energias da turma, que não se intimidou e chegou cedo no sábado, dia 9, atraindo ainda mais público ao evento.

Sábado, 9 de setembro

Figura conhecida na cena underground, Cláudio “Slayer” trouxe seu projeto Open the Coffin para o Carioca já com um número considerável de presentes. Com sua tradicional pá de coveiro e total referência às vozes da morte, ouvimos um verdadeiro tributo ao pedal HM-2, uma ferramenta intrínseca ao Old Skull Death Metal, como podemos ver e ouvir nas faixas “The World Is a Casket” e “Cold as a Corpse”. Foi um grande show!

Creio que a maioria da turma não conhecia os dinamarqueses do Thorium, e talvez por isso, a pista do local ficou um pouco mais vazia. Apresentam um Death Metal forte, com instrumental acima da média. O vocalista Michael H. Andersen me lembrou de certa forma o estilo bonachão de Kam Lee. Achei as guitarras um pouco saturadas e estridentes em certos momentos e, curiosamente, dois rapazes que estavam ali na frente da grade simplesmente receberam as guitarras de presente. Isso mesmo, os caras terminaram o show e deram os dois instrumentos para dois sortudos! Os rapazes saíram correndo tremendo para o guarda-volumes. Eles ganharam a noite.

Da Itália, o Violentor trouxe aquele ar subversivo ao ambiente com seu Thrash Metal, sem negar as claras influências punk, evidenciadas principalmente nas músicas extraídas do mais recente álbum “Manifesto di Odio”, cantadas na língua pátria, o que deixou seu som ainda mais peculiar. Eles também revisaram suas músicas em inglês, e a presença constante do vocalista e guitarrista Alessio Medici, antes e depois dos shows, no meio da turma, os aproximou de um público que parecia estar guardando energia para mais tarde.

A presença do duo Test ali no Setembro Negro dividia opiniões, o que era fácil de perceber pela diferença de público, com um número relevante de pessoas do lado de fora da casa. Mesmo assim, eles apresentaram seu grindcore experimental para uma plateia atenta. A configuração do palco, com a bateria na lateral, de frente para o vocal/guitarra, reforçou o conceito minimalista que eles mantêm há tempos.

Já passava das 17h30 e agora, realmente, o clima começava a esquentar. Os portugueses do Holocausto Canibal passaram como um trator desgovernado, atropelando tudo e todos. É Grindcore com Brutal Death Metal, com uma nítida influência de bandas como Suffocation, mas com o detalhe de que as músicas deles são bem mais curtas… Eles tocaram mais de 20 faixas! Apresentaram uma sequência inumana com “Êxodo Mortuoso”, “Epicédio Madrigaz” e “Sinaxe do Sepúlcro Tafófobo”, do disco mais recente. O quarteto causou um grande impacto e saiu dali ovacionado!

Clássico absoluto do Metal em todo o mundo, “Bloody Vengeance” do Vulcano, estava na lista das grandes expectativas do festival, afinal, o fato de ser tocado na íntegra com o vocalista original, Angel, trazia um sabor mais do que especial aos fãs da banda. De início, os shows com Luiz Louzada nos vocais foram certeiros, com “Witches’ Sabbath”, “Total Destruição” e “Guerreiros de Satã”. O público já se matava entre cabeçadas e cotoveladas! Então, Louzada chamou o emblemático Angel para juntos dividirem “Dominios of Death”. Visivelmente emocionado e anunciando que estaria prestes a comemorar 60 anos de idade, com seus vocais característicos e despojados, ele arrebatou a audiência com “Spirits of Evil”, “Ready to Explode”, “Holocaust” e “Incubus”. Que sequência meus amigos! Para encerrar, Angel e Louzada mandaram ver em “Death Metal” e “Bloody Vengeance”. Zhema e seus guerreiros realmente destruíram tudo!

De Los Angeles, o Sadistic Intent é um caso curioso de uma banda que não lançou sequer um álbum completo, mas suas demos e EPs lhes conferem, há mais de 36 anos, uma aura absurda de intimidade com todo o Death Metal subterrâneo. Os irmãos Rick (guitarra) e Bay Cortez (baixo e vocal) integraram os shows ao vivo do Possessed e reafirmam aqui que toda a carga maligna e violenta de seu som não é coisa de menino. Foi uma apresentação digna, bruta e genuína. “Lurking Terror” e “Existence” arrancaram cabeças dos headbangers ali presentes!

Os suecos do Sacramentum paralisaram suas atividades há mais de 20 anos e emergiram das trevas frias em turnês tocando o primeiro álbum “Far Away from the Sun” de 1996 na íntegra. Aqui no Setembro Negro, tiveram que fazer alguns cortes, mas músicas como “Blood Shall Be Spilled” e “When Night Surrounds Me” estavam presentes. Eles possuem aquele toque de Dissection, e o público respondeu à altura aos remanescentes guitarrista Anders Brolycke e ao vocalista Nisse Karlén, trazendo ainda a presença da baixista Julia von Krusenstjerna, da banda de Heavy Metal feminina Mystik.

Houve uma breve pausa para recarregar as energias, e não demorou muito para ouvirmos a clássica introdução de exorcismo do disco “The Day of Wrath” da também lendária Bulldozer. A essa altura, a casa já estava tomada e muito quente! E foi com “Cut-Throat” que o trio italiano conquistou todos imediatamente! Foi impossível ficar indiferente a essa sonoridade que marcou toda uma geração, além, claro, do expressivo AC Wild, uma espécie de pastor satânico. Da formação original, o guitarrista Andy Panigada tirou timbres perfeitos, criando um som que mesclava a velha escola com o peso atual. “The Great Deceiver”, “The Final Separation” e “Welcome Death” celebraram os porões infernais e toda a mística dos anos oitenta em grande estilo. Foi realmente emocionante!

Com cerca de 20 minutos de atraso, aumento da temperatura e cansaço, os headbangers esperavam os alemães do Sodom literalmente sentados no chão. Impaciência, lotação máxima e calor formaram um cenário explosivo que definiu o que aconteceu no Carioca. O quarteto abriu a destruição com “Among the Weirdcong” do bem conhecido álbum “M-16”, e imediatamente, o local veio abaixo. Os longos dez anos de espera foram recompensados com uma troca de energia surpreendente entre todos, especialmente com a volta do guitarrista Frank Blackfire às trincheiras. Ele, que morou no Brasil por anos, não escondeu a felicidade de voltar aqui e não parava de se comunicar em um português que arrancava risadas da plateia. Como um cataclisma nuclear, o Sodom despejou pancadas uma atrás da outra, com “Outbreak of Evil”, “Sodomy and Lust”, “Agent Orange”, “Blasphemer”, “Remember the Fallen”, além de uma homenagem a Lemmy com “Iron Fist”, tirando sangue de supercílios e deixando hematomas em muita gente. Para encerrar, ainda deixaram dois mísseis para devastar o local: “Ausgebombt” e “Bombenhagel”. Não sobrou nada, mas em um clima de vitória pós-guerra, em pedaços, os headbangers lotaram as ruas, dissipando as últimas energias em álcool, espetinhos e x-podrão!

Domingo, 10 de setembro

Quarto e último dia do Setembro Negro, iniciando mais cedo, ao meio-dia, era de se esperar um público bem menor nas primeiras horas. Curiosamente, ao chegar nas imediações do Carioca, pôde-se constatar alguns soldados abatidos no campo de batalha, que viraram a noite. Alguns, em covas rasas à própria sorte, outros em barricadas de latinhas e garrafas. Heróis da resistência metálica! Saudades dos meus 15 anos.

De Belém do Pará, o Inferno Nuclear teve uma baixa na formação às vésperas do festival, mas isso não os abalou e recrutaram reforços (o guitarrista Paulo Bigfoot e o baterista Marcos Luz, respectivamente, Uganga e Trioxine) para apresentar, ainda que para poucas pessoas, um set empolgante do seu Thrash oitentista cantado em português. Encerraram com “Unidos pelo Underground”, uma tônica do evento.

Considerado um patrimônio do underground paulista, o Siegrid Ingrid entregou um dos melhores sons e timbres durante todo o festival. Estava tudo bem audível e pesado! Da formação original, o guitarrista André Gubber e o carismático Mauro “Punk” são as provas vivas de que o tempo ensina muitas coisas. Deram uma revisada geral em “Pissed Off” e “The Corpse Falls”, discos que mostram bem esse groove entre o moderno e o tradicional que exploram há muitos anos. Não poderia ficar de fora a folclórica “Enéas”, uma crítica bem-humorada representada numa canção que será sempre lembrada por quem segue a banda.

Já com um público razoável, os candangos do Miasthenia trouxeram toda a mística e ancestralidade em seu Black Metal de longa data e vivências. Agora, praticamente composta por mulheres, a energia vital da banda reverberou bem no local, mesmo que, no primeiro momento, o guitarrista Thormianak tenha tido problemas com seu pedalboard, o que não o intimidou a bater cabeça até o problema ser resolvido. Destaque para a forte “Antípodas”, encerrando com a já clássica “Entronizados na Morte”. Com a forte presença da vocalista e tecladista Hécate, a banda foi aclamada de forma satisfatória.

Mais uma presença grega no fest, o Lucifer’s Child surpreendeu muita gente e alguns poucos já os conheciam devido ao split com os brasileiros do Mystifier. Há uma forte influência do Black Metal praticado por lá, é uma escola quase impossível de fugir quando este é o assunto. O guitarrista George Emmanuel já perambulou pelo Rotting Christ e Necromantia, por exemplo, mas é importante frisar que o quarteto lembra em muitos momentos o Watain. Um show pesado e intenso!

Mais suecos no palco, o Demonical pegou uma pista um pouco vazia. A turma ainda estava se hidratando enquanto a banda apresentava o típico Death Metal que é uma referência para muitos. Não sei dizer se a presença do novo vocalista deu a eles uma certa insegurança, com muitas reclamações sobre as luzes do palco. Isso criou um desânimo e os que estavam dentro da casa acabaram saindo também. A banda traz o experiente baixista Martin Schulman, da banda Centinex, que talvez tenha passado despercebido por muitos. “Aeons of Death” e “The Order” tiveram destaque em meio a uma apresentação morna.

Com uma pegada bem inusitada e também desconhecida para a maioria, o duo Mantar teve uma boa recepção do público. Há elementos distorcidos de um rock´n´roll vagabundo em meio à profundidade alucinógena do Sludge com Black Metal. Hanno (vocal e guitarra) e Erinc (bateria e vocal) sabem realmente onde estão navegando, provocando reações e sentimentos conturbados, não à toa que foram capturados pela Metal Blade.

O clima psicodisléptico foi elevado ao máximo com os californianos do Acid King. Stoner Doom lento e pesado, o quarteto chegou cedo e antes do show, estavam lá na porta do Carioca vendendo merchandising e sendo cortejados pelos fãs, ainda mais com a simpatia da guitarrista e vocalista Lori Steinberg, estendida no palco. É fato que boa parte da turma aproveitou a brisa sonora para recarregar as energias para o abate final que se aproximava. É redundante dizer que Black Sabbath é realmente um catalisador para esse estilo, algo que era fácil perceber na execução densa de “Mind’s Eye” e “90 Seconds”, presentes no novo disco deles. Foi um show chapado e, digamos, introspectivo!

Já estava anoitecendo e o calor aumentando quando os alemães do Assassin subiram ao palco para agitar boa parte dos presentes. As rodas de mosh se formaram facilmente, mesmo com a contragosto de alguns que reclamaram pelo fato do vocalista Ingo Bajonczak estar usando uma camisa do Pantera. O carisma veio do inquieto baixista Joachim Kremer, que gritou algumas palavras em português. Ele deve ter aprendido com os brasileiros do Nervochaos, já que chegou a tocar ao vivo com eles. Mesmo sendo uma banda da primeira leva, o som deles soa moderno há algum tempo, mas foi impossível não vibrar com “Fight (to Stop the Tyranny)” e “Assassin” do clássico de 87 “The Upcoming Terror”.

Os ingleses do Cancer possuem três discos seminais em termos de Death Metal, relançados, inclusive, recentemente no Brasil. John Walker, guitarrista e vocalista da formação original e principal compositor, sabe bem o contexto em que a banda está inserida e entregou uma aula precisa e cirúrgica em riffs pesados, densos e cavernosos. Colegas, que apresentação matadora! Mesmo trazendo músicas recentes, a carga envelhecida veio inflexível com “Blood Bath”, “Tasteless Incest” e “Death Shall Rise”. No meio de toda essa intensidade, “Enter the Gates”, uma canção nova, se encaixou perfeitamente. Encerraram com a impiedosa “Hung, Drawn and Quartered”.

Com máximo respeito ao Girlschool, a escalação do Triumph of Death coroava então de fato o Setembro Negro Festival. Desde a época que assinava como Satanic Slaughter, o sisudo Tom Warrior carrega a essência do Metal da Morte que determinou toda a forma de fazer Black e Death Metal, daqueles que o gosto é de enxofre e a carne é deliciosamente podre. Quando as primeiras notas da aniquilação iniciaram “The Third of the Storms”, uma vórtice imoderada elevou o Carioca Club aos altares da loucura e da ruína sonora. A massa, em colapso infernal, digladiavam-se entre os tradicionais “urghs” e epístolas como “Massacra”, “Crucifixion”, “Horus/Aggressor”, “Revelations of Doom” e “Messiah”. Sem misericórdia ou compaixão, Warrior acompanhado do guitarrista André Mathieu, da baixista Jamie Lee Cussigh e do baterista Tim Wey, insuflaram o pandemônio como um amigo confiável. “Visions of Mortality”, som do Hellhammer herdado pelo Celtic Frost e gravado em “Morbid Tales”, ainda teve tempo de somar ao set hostil. Para encaminhar de vez ao baixo inferno a legião de demônios presente, “Triumph of Death” arrancou mesmo lágrimas daqueles que velam o profano como ideologia de vida.

Aos muitos sobreviventes, essa edição do Setembro Negro foi uma prova de fogo e quebras de muitas barreiras. Quem não pecou pelo excesso, soube bem aproveitar estes quatro dias, revezando entre uma saída e outra, goles e outros, doses cavalares de Metal em sua melhor e significativa forma. Entre muitas sensações que ficam, o que será que a Tumba Productions vai preparar para o próximo ano?! Estaremos lá, novamente, para conferir.

 

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