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AD INFINITUM: SOB O CÉU EM CHAMAS

Por Valtemir Amler

Se você é daqueles que não gosta de perder nenhuma novidade no seu gênero musical favorito, e se o som que curte ouvir é aquela tradicionalíssima mistura de heavy metal e elementos sinfônicos, então é certo que já ouviu falar do Ad Infinitum. Embora já tenham experiência de veteranos, a banda ainda é nova, foi formada em 2018 pela vocalista Melissa Bonny, mesmo ano em que apareceu para o mundo com seu primeiro single, I Am The Storm. O primeiro álbum oficial só veio em 2020, bem no momento mais crítico da pandemia, o que certamente tirou um pouco do brilho que Chapter I – Monarchy poderia ter alcançado caso a banda tivesse contado com a possibilidade de uma turnê em suporte ao álbum de estreia. Mesmo com as circunstâncias jogando contra os suíços lançaram uma nova versão do debut no mesmo ano (intitulado simplesmente Chapter I Revisited, e contando com versões acústicas das canções originais), e o segundo registro, Chapter II – Legacy chegou em 2021. De lá para cá a banda provou o bom gosto dos palcos, tomou gosto pela estrada, mas nem pensou em ficar longe dos estúdios, e foi assim que nasceu o mais novo capítulo dessa saga de reis e guerras que eles vêm perpetrando: Chapter III – Downfall (2023) mostra um Ad Infinitum mais seguro e experiente, ao passo que também disposto a arriscar, adicionando toques inequívocos do rock alternativo dos anos 90 em suas composições. Conversamos com Melissa, que nos ofereceu mais detalhes sobre aquilo que o quarteto vem fazendo ao longo desses seus muito atribulados primeiros anos de carreira.

Baseado na informação que temos, os primeiros passos do Ad Infinitum remontam a sua intenção de lançar um projeto solo. Isso está correto?

Melissa Bonny: Sim, é verdade sim. Acho que o começo é sempre algo mais modesto, menor do que acabamos fazendo, pois você só precisa começar, e nem sempre sabe muito bem como fazer isso. Então, de início, eu só queria criar algumas músicas, talvez apenas o suficiente para um EP, gravá-lo e lançá-lo para ver o que poderia acontecer, eu apenas queria trabalhar em algumas músicas que eu gostasse e nada mais. À medida que o projeto evoluiu e quanto mais eu investia energia e tempo nele, mais eu sentia que não era bem assim, eu realmente queria fazer algo sólido no mundo da música. Eu não queria apenas colocar algumas músicas juntas em um disco qualquer e então jogar isso de qualquer jeito na internet, mas criar algo que fosse realmente sólido, e que realmente fosse lançado de maneira apropriada, algo completo. No começo eu pensei, ‘certo, acho que vou simplesmente contratar alguns bons músicos para gravar o álbum, isso deve bastar’. Pouco depois eu já estava totalmente convencida de que aquilo não era certo (risos), pois realmente gosto da atmosfera de uma banda, acho muito legal quando todo mundo tem uma opinião, quando todos ajudam a chegar em um resultado melhor, quando todos tem sua própria força e direito de mostrá-la. Comecei uma campanha de ‘crowdfunding’ em 2018 para viabilizar esse projeto, e logo em seguida comecei a contatar as pessoas que achava ideiais para estarem ao meu lado em algo tão importante. Falei primeiro com o Nick Müller (bateria, Devilizer), que apresentou Adrian Thessenvitz (guitarra, Quincy Calling e Schwarzlicht), e então eu conheci Jonas Asplind (baixo, ex-Hostile e Follow The Cipher) na turnê. Simplesmente não houve audições ou processos complicados para preencher os postos, desde o início me parecia muito óbvio que essas eram pessoas fariam parte da banda, e simplesmente convidei elas.

Antes do Ad Infinitum você não era nenhuma novata no mundo do metal, tendo participado de bandas como a austríaca Serenity, e tinha até álbuns lançados ao lado de Evenmore e Rage Of Light. Por que arriscar tudo começando uma nova banda do zero?

Melissa: Acho que nunca entendi exatamente como algo que eu estivesse arriscando, embora fosse exatamente isso que estava fazendo (risos). A verdade é que eu tinha muitas ideias, e queria tirá-las da minha cabeça, colocar em prática aquelas ideias que estava simplesmente acumulando na mente e que provavelmente um dia acabaria esquecendo. O processo de composição que conheci nas outras bandas em que participei era muito diferente, porque ou simplesmente nos reuníamos na sala de ensaio e depois íamos tocando as ideias que surgissem até conseguirmos uma música depois de um tempo, ou havia um compositor principal e eu só podia escrever os versos dos vocais e as letras. Ambas as formas não eram realmente o que eu mais gostava, e isso é realmente o que me motivou a escrever minha própria música. Eu queria estar livre para usar todas as minhas ideias, sabe? O Ad Infinitum começou comigo escrevendo as músicas, porque como você disse, eu estava sozinha, a ideia inicial era um projeto solo. Depois trabalhei com Oliver Phillips (N.R: produtor e músico, dentre outros atua na banda Phantasma ao lado da vocalista holandesa Charlotte Wessels e o vocalista austríaco Georg Neuhauser), que me ajudou porque não sou instrumentista, então obviamente precisava de ajuda para fazer soar como algo realmente escrito por um baterista, guitarrista e baixista, e não uma peça composta por uma vocalista que está apenas programando qualquer coisa no seu computador pessoal enquanto rega os vasos de flores (risos). Claro que assim que os outros caras se juntaram à banda, eles começaram a participar do processo de composição, e aí as coisas realmente começaram a fluir como eu gostaria. No primeiro álbum foi assim, mas desde então eles estão envolvidos desde o início, obviamente.

Não tão obviamente assim, um monte de vocalistas preferiria que o álbum soasse como ‘algo programado em seu computador enquanto rega as flores’ do que aceitar ideias que viessem de outras pessoas.

Melissa: Ah, entendo o que quer dizer, mas definitivamente não sou do tipo de pessoa que tem um ego tão inflado assim (risos gerais). Veja, se fosse para ser uma cabeça-dura, simplesmente teria mantido a proposta de um projeto solo, mas o que eu queria era uma banda. Queria ter a possibilidade de trabalhar com todas as minhas ideias, mas não sob o custo de recusar todas as ideias dos outros.

O que é bom, pois o resultado dos esforços do grupo é sempre maior do que a soma dos esforços individuais, para o bem e para o mal.

Melissa: É verdade, é nisso que acredito também. Acho que a única parte ruim é que com muitas ideias fluindo, poderia ficar algo meio desconexo e disperso, mas é por isso que antes sempre devemos conversar e definir o básico que queremos alcançar. Desde que todos estejam olhando para o mesmo lugar e trilhando o mesmo caminho, conseguimos um lugar comum, e aí só temos o lado bom.

Liricamente, você buscou um caminho conceitual desde o início?

Melissa: Acho que podemos dizer que sim, ao menos de certa maneira. Quer dizer, eu estava muito mais concentrada na atmosfera que aquelas músicas trariam do que no conceito propriamente dito, então não sei se ‘álbum conceitual’ seria uma classificação precisa. Porém, o primeiro álbum é sobre um dos mais famosos reis da França, Luís XIV, e sua corte, as pessoas que o cercavam. E isso é ser conceitual, certo? Então, é conceitual, é e não é, ao mesmo tempo (risos), especialmente porque tentei deixar as letras meio abertas e não tão narrativas, pois queria que as pessoas conseguissem se conectar com elas e entender de maneiras diferentes, além daquela que originalmente planejei. Gosto que a música adquira significados diferentes para as pessoas, pois como fã acho que sempre me conectei de um jeito com as letras das minhas bandas favoritas de uma forma que não era exatamente a planejada por eles (risos). Temos sim uma conexão entre as letras e de álbum para álbum, então talvez tenha sim algo de conceitual. Desde que consiga alcançar a atmosfera que buscamos, acho que está tudo bem, e as pessoas parecem estar gostando.

Bem, não posso deixar de mencionar que vocês apareceram para o mundo com seu primeiro álbum no louco ano de 2020, e chamava a atenção a capa de Chapter I – Monarchy, onde você aparecia à frente, e a banda atrás, usando aquelas máscaras da época da Peste Negra.

Melissa: Oh meu Deus, nem me fale (risos gerais). Eu lembro que na época pensei ‘estamos acabados, antes mesmo de começarmos’ (risos). Nós tínhamos todas aquelas fotos de divulgação, e na época pareceu uma ótima ideia, a imagem era ótima, era muito chamativa, dava uma aura de mistério legal para a banda. Claro que nenhum de nós imaginava o que aconteceria em 2020, mas é assim que as coisas são! Estava tudo pronto, o disco ia ser lançado e o mundo estava em ‘lockdown’, as pessoas precisando usar máscaras para tentar evitar contrair um vírus, pessoas morrendo no mundo inteiro. Tive receio de que as pessoas entendessem aquilo como uma piada de péssimo gosto, o que absolutamente não era a nossa intenção. Chegamos a conversar entre nós e com o selo se levaríamos aquilo adiante, e acabamos fazendo conforme o planejado. Felizmente, as pessoas reagiram como você, perceberam que foi uma coincidência bizarra, e levaram tudo na brincadeira (risos).

O que virá em seguida no universo da banda? Talvez uma visita ao Brasil?

Melissa: Seria ótimo! Sempre ouvimos falar histórias incríveis do Brasil, além de todos aqueles discos e vídeos gravados ao vivo por aí, quero sentir isso com o Ad Infinitum. Em seguida, esperem por mais e mais música, é o que amamos fazer!

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