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VILLE VALO – São Paulo (SP)

01 de novembro de 2023 - Carioca Club

Por Leandro Nogueira Coppi

Fotos: Leonardo Benaci

Confesso que após a dissolução do HIM (ou H.I.M., se preferir) em 2017, havia em mim um pressentimento de que dificilmente o vocalista Ville Valo viria ao Brasil como artista solo. Ledo e feliz engano. A verdade é que mesmo sem nunca ter contado com muito apoio da mídia daqui, a banda finlandesa impactou a vida de tantos brasileiros, que até hoje dispõe de uma base fidelíssima de fãs. E mesmo já tendo passado oito anos da última passagem do grupo por aqui com sua “Tour of the Middle Aged 2015”, os fãs seguem nutrindo verdadeira adoração pelo Love Metal da banda. Prova disso foi que em plena quarta-feira de 1° de novembro eles abarrotaram o Carioca Club para receber a indubitável estrela-mor do (até o momento) extinto HIM. O Carioca estava tão lotado, que suspeito até de que havia mais gente do que realmente cabe no local, visto que era nítida a falta de espaço para várias pessoas que se espremiam tentando “assistir” o show em um ponto cego da casa, especificamente na lateral de entrada, no setor de acesso à pista que fica localizado logo após o ponto onde os seguranças fazem as revistas, em uma linha atrás do palco, em que as caixas de som tiram completamente a visão de quem fica por ali. 

Atualmente, Ville Valo, que na próxima quarta-feira (22) completa 47 anos, divulga seu primeiro álbum solo, Neon Noir, lançado em janeiro deste ano. O disco foi inteiramente composto e gravado pelo próprio Valo, que o coproduziu junto de Tim Palmer, requisitado profissional que já trabalhou com ele no HIM e assinou trabalhos de outros artistas, tais como Tarja Turunen, Ozzy Osbourne, Tears For Fears, Pearl Jam, Goo Goo Dolls, Live, The Mission, a cantora brasileira Pitty e muitos mais. Quando deixou o HIM e decidiu seguir sozinho a sua caminhada musical, Valo disse à mídia inglesa: “É assim que experimento a vida, através da música. Pego o violão, começo a compor e tenho certeza de que algumas das emoções que surgem dessa loucura acontecerão. Minha vida ainda não acabou. A parte HIM está concluída, o capítulo está fechado, mas o livro ainda está inacabado”. Agora vamos ao show…

Com uma pontualidade britânica, quando bateu as nove badaladas da noite o som mecânico da casa pulverizou como introdução a cósmica faixa instrumental Zener Solitaire, música de Neon Noir. A histeria foi ensurdecedora, porém não mais do que quando Ville Valo e seus escudeiros – Mikko Virta e Sampo Sundström (guitarras), Juho Vehmanen (baixo) e Risto Rikala (bateria) – surgiram no palco ornamentado por um belo backdrop estampado pelo famoso Heartagram e uma bonita e toda especial iluminação. O ataque inicial veio com uma das mais legais de Neon Noir, a viciantEcholocate Your Love, música que abre o disco também. Trajado com seu habitual visual composto de terninho e boina, como se fosse um misto de crooner e de Chico Xavier, me impressionou o quão magro Valo está, bem mais do que em seus dias de HIM, dando até a impressão de certa fragilidade física. Já a sua identificável voz de barítono, essa sim permanece como sempre foi: bonita, profunda e carregada de sentimento.

Prosseguindo com a noite de gala – sim, porque se tem um adjetivo para qualificar esse show de São Paulo, certamente ‘elegante’ é o mais adequado -, a casa quase veio abaixo quando Valo e Cia. mandaram a primeira do HIM, a deliciosa Poison Girl, do segundo álbum de estúdio do grupo escandinavo, a obra-prima Razorblade Romance, de 2000, ano em que a banda começou a se tornar conhecida por aqui. E foi nessa base que Ville Valo montou seu repertório para a “VV/Neon Noir Tour 2023”, alternando as músicas de seu debut solo e pérolas do catálogo do HIM. Deu super certo, porque todas estão na ponta dos cascos do quinteto e na ponta da língua dos fãs! Aliás, durante toda a apresentação, o público foi um espetáculo à parte. Completamente participativa, a multidão cantava em uníssono e com tremendo fervor, paixão e emoção cada canção executada. Inclusive, era perceptível aos ouvidos que a plateia era formada predominantemente por mulheres – o que é muito salutar para o cenário, vê-las fortalecendo-o e comparecendo aos shows e eventos cada vez mais em maior número.

Desde o início da apresentação, foi legal ver que dessa vez Valo estava bem mais simpático com a plateia do que em 2015. Naquela ocasião, ele se comunicou pouco com o público e quando falava, falava virado de frente para seus parceiros de HIM, dando a impressão de um ensaio aberto. Com semblante fechado durante toda aquela apresentação, a atitude de Valo parecia transparecer que o clima já não estava legal internamente. Aliás, entre o lançamento do álbum Ville Valo & Agents (parceria com a veterana banda finlandesa do final da década de 1970), de 2019, e de seu EP solo, Gothica Fennica Vol. 1, de 2020, o cantor disse à revista inglesa Kerrang!, que a coisa, de fato, já não estava legal entre eles: “Estávamos cansados da mesma merda. Quando você faz isso há muito tempo, em algum momento (o trabalho) não fica mais saboroso. Começamos a trabalhar em algumas coisas que não estavam soando boas o bastante, não sentíamos o comichão adolescente que costumávamos sentir”. Já no show desse ano, a pouca comunicação de Ville era fruto de sua natural timidez, tanto que, ao menos de onde eu assisti, estava extremamente difícil compreender alguma palavra dita pelo cantor, já que quando ele resolvia falar algo no intervalo entre as músicas, falava muito baixo. No entanto, foi legal vê-lo sorrindo, feliz a cada ovação dos fãs, reação essa que ele praticamente não demonstrou em sua visita anterior a São Paulo.

Prosseguindo com o show, Ville e banda seguiram alternando as músicas de Neon Noir – algumas delas originalmente apresentadas previamente no mencionado EP Gothica Fennica Vol. 1, casos de Salute the Sanguine, Run Away from the Sun Saturnine Saturnalia – e clássicos e mais clássicos do HIM. De Neon Noir, todas as faixas tocadas funcionaram ao vivo e foram bem aceitas pelos fãs, mas, particularmente falando, destaco as já mencionadas Echolocate Your LoveSaturnine Saturnalia, música que fechou a primeira parte do show com um instrumental final altamente lisérgico. Já a parte HIM sempre será jogo ganho, até porque são hits sofisticados os quais os fãs já estão bem mais acostumados. E foi de arrepiar ouvir, por exemplo, Funeral of Hearts, Buried Alive By LoveWhen Love and Death Embrace e, principalmente, a belíssima Join Me in Death, a eletrizante Rip Out the Wings of A Butterfly, a não menos energética Right Here in My Arms e a citada Poison Girl, clássicos do gothic metal que abalaram as estruturas do Carioca Club.

Querido pelos fãs, ao longo de sua apresentação Valo ganhou alguns presentes que iam sendo arremessados da pista ao palco. Na volta para o bis, o esguio cantor seguiu alternando o cardápio. Primeiro apresentou outra de seu debut solo, a dramática In Trenodia. Depois, foi a vez de voltar 20 anos no passado e revisitar o álbum Love Metal, do HIM, tocando Soul on Fire. Em seguida, Valo mostrou mais uma das suas novas, a emocionante Baby Lacrimarium. Por algum motivo não explicado, Vertigo Eyes, que deveria fechar o show formando assim a íntegra de Neon Noir, ficou de fora, mesmo estando programada no setlist da banda. Sendo assim, coube à When Love and Death Embrace, música do álbum de estreia do HIM, Greatest Lovesongs Vol. 666, que por sinal está completando 26 anos nesta segunda-feira (20), encerrar o, como dito, elegante show solo de Ville Valo em São Paulo.

Um lado bacana do show de Ville Valo é que mesmo ele não dando às costas ao catálogo da banda que o consagrou mundialmente, o cantor adequa ao repertório a íntegra de seu primeiro álbum solo, mostrando valorizar o disco que tem sido muito bem aceito pelo público, segundo mostram, por exemplo, os números de acessos ao mesmo nas plataformas digitais. Pena que em São Paulo essa íntegra tenha sido quebrada pela ausência de Vertigo Eyes. Agora, analisando pela vontade dos fãs, apesar do ótimo setlist, ficou um gostinho de “quero mais” causado pela ausência também de pérolas como a pesada Your Sweet 666I Love You (Prelude to Tragedy) e, principalmente, o single de maior sucesso e reconhecimento da carreira do HIM, o aclamado cover de Wicked Game, do cantor americano Chris Isaak. Cabe ainda um pitaco técnico, seria mais legal se Valo inserisse um tecladista à sua banda e se alguns dos músicos fizessem backing vocals, ao invés de reduzir esses detalhes aos samplers (embora o recurso seja necessário e caia bem para o som de Valo e do HIM quanto a alguns efeitos inseridos nas canções). Agora, tudo isso são meros detalhes e palpites, que de forma alguma apagam o brilho do que foi essa apresentação de Ville Valo, que matou a saudade de muitos fãs e satisfez uma nova geração que ainda não tinha visto um show do ainda jovem cantor finlandês.

Ville Valo – setlist:

– Zener Solitaire (intro)

  1. Echolocate Your Love
  2. Poison Girl (H.I.M.)
  3. The Foreverlost
  4. The Funeral of Hearts (H.I.M.)
  5. Neon Noir
  6. Join Me in Death (H.I.M.)
  7. Heartful of Ghosts
  8. Rip Out the Wings of A Butterfly (H.I.M.)
  9. Salute the Sanguine
  10. The Kiss of Dawn (H.I.M.)
  11. Run Away From the Sun
  12. Buried Alive By Love (H.I.M.)
  13. Loveletting
  14. Right Here in My Arms (H.I.M.)
  15. Saturnine Saturnalia
  16. In Trenodia
  17. Soul on Fire (H.I.M.)
  18. Baby Lacrimarium
  19. When Love and Death Embrace (H.I.M.)

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