Por Marcelo Gomes
Fotos: André Santos
Após oito anos sem se apresentarem em São Paulo, Gojira e Mastodon desembarcaram no Espaço Unimed em 14 de novembro para uma apresentação exclusiva no Brasil, como parte da Mega Monsters Tour 2023. O quarteto francês veio promover seu mais recente trabalho, “Fortitude” (2021), enquanto os americanos vieram apresentar “Hushed and Grim”, também lançado em 2021.
Parecia que seria fácil a tarefa de chegar ao local, mas a enxurrada de eventos na capital paulista complicou um pouco a chegada ao evento. Definitivamente, eventos no Unimed, Villa Country, Memorial da América e Allianz Parque no mesmo dia deixam praticamente inviáveis os acessos da região. Isso sem falar na faculdade em frente ao Unimed que tinha aula. Para se ter noção, faltando apenas 45 minutos para a primeira atração, o estacionamento do Espaço Unimed estava praticamente vazio.
Passado o sufoco, chegou a hora do Mastodon subir ao palco do Unimed já com um bom público. Troy Sanders (baixo/vocal), Brann Dailor (bateria/vocais), Brent Hinds (guitarra/vocais) e Bill Kelliher (guitarra) acompanhados por João Nogueira nos teclados deram início com “Pain With An Anchor”. A intensidade da apresentação criou bases para o que se tornaria uma montanha-russa de emoções que viriam a seguir.
Praticamente sem interação com o público, vieram “Crystal Skull”, “Megalodon”, “Divinations” e “Sultan’s Curse”. Esta última, mais metal que prog, arrancou um “hey, hey, hey” logo no início. O trabalho vocal foi bem distribuído entre Brann, Troy e Brent, permitindo que cada músico mostrasse seu estilo distinto. As imagens nos telões proporcionaram uma viagem psicodélica durante as músicas.
A instrumental “Bladecatcher” foi seguida pela épica “Black Tongue”, com seu riff imponente, recebendo uma ótima resposta dos fãs. O lado melancólico e progressivo retornou em “The Czar”, uma jornada alucinante de mais de 10 minutos, mostrando a diversidade musical da banda. O Mastodon explorou seu catálogo de maneira acertada, entregando uma versão poderosa de “Halloween” e uma performance incrível em “High Road”. Encerraram com “More Than I Cloud Chew”, deixando o público extasiado.
A intensidade da apresentação não pareceu ter cansado os fãs que ansiavam por mais. Para delírio dos presentes, voltaram ao primeiro álbum com “Mother Puncher”, seguida pela clássica “Steambreather”. Antes de terminar, Troy Sanders fez questão de apresentar o brasileiro João “Rasta” Nogueira nos teclados que foi ao microfone agradecer. A despedida foi com “Blood And Thunder”, encerrando uma apresentação antológica. Brent Hinds correndo com a bandeira do Brasil pelo palco, enquanto Brann Dailor agradecia, enfatizando que era inaceitável terem levado tanto tempo para voltar. “Vocês são um dos melhores públicos do mundo, e nós temos que voltar em breve”, declarou o baterista.
Após uma pausa de 45 minutos, uma contagem regressiva para aguardar o Gojira se iniciou no telão, sendo os últimos 10 segundos contados por todos. Joe Duplantier (vocal e guitarra), Christian Andreu (guitarra), Jean-Michel Labadie (baixo) e Mario Duplantier (bateria) iniciaram com “Born For One Thing”, faixa do mais recente álbum, “Fortitude” (2021). Os riffs pesados e os vocais agressivos do Joe deram o tom da noite, imediatamente chamando a atenção do público. “Backbone” e “Stranded” seguiram o exemplo, criando uma parede sonora pesadíssima fazendo os baterem cabeça desde o início.
Um momento de destaque veio com “Flying Wales”. A introdução atmosférica e os poderosos riffs de guitarra criaram uma paisagem hipnotizante que transportou o público para outra dimensão. A qualidade da música foi intensificada pelos impressionantes efeitos visuais exibidos nos telões, criando uma experiência verdadeiramente imersiva. O ponto negativo ficou por conta da utilização excessiva de fumaça, tiveram momentos que mal conseguia enxergar alguém no palco. Totalmente desnecessário.
Em “The Cell” e “The Art of Dying”, as habilidades técnicas e musicalidade da banda ficaram evidentes. Mario Duplantier iniciou seu solo de bateria, interagindo com o público. Durante as interações os fãs respondiam, mas Mario surgiu com um cartaz escrito em português que dizia: “Mais alto, porra”. Os fãs logo caíram na gargalhada. Com o pedido atendido, Mario surgiu com outro cartaz dizendo: “Aí sim, porra”. Pode parecer uma besteira, mas é nessas horas que a banda ganha as pessoas.
A banda voltou com “Grind” e “Another World” aumentando a intensidade do show. Os implacáveis riffs de guitarra e a bateria estrondosa deixaram o público em estado de êxtase, uma prova da habilidade do Gojira em criar atmosferas envolventes. À medida que set avançava, a banda parecia não querer aliviar e então vieram mais duas porradas: “Oroburus” e “Silvera”. Os fãs, por outro lado, pareciam incansáveis numa demonstração inabalável de devoção.
Antes de anunciar “The Chant”, Joe avisou que o refrão não tinha letra, mas gostaria de ver se todos estavam afinados. Com a resposta positiva, executaram a faixa, que continuou a ser cantada mesmo após o seu final. A satisfação do Gojira era visível. Encerraram com “L’enfant Sauvage”, sendo muito aplaudidos.
Os fãs pediram “Territory” do Sepultura, infelizmente em vão. Seria muito legal se tivesse rolado, até porque Andreas Kisser e Paulo Xisto estavam lá. Para quem não sabe, o Gojira tocava vários covers do Sepultura no começo da carreira. Afora isso, Joe Duplantier gravou os baixos no disco de estreia do Cavalera Conspiracy, “Inflikted” (2008). Aliás, só a título de curiosidade, Troy Sanders do Mastodon gravou dois álbuns ao lado de Max Cavalera no projeto Killer Be Killed, o homônimo de 2014 e “Reluctant Hero” (2020).
Voltando ao show, o bis contou com “The Heaviest Matter of the Universe”, “Amazonia” dedicada a todos os indígenas do mundo, e “The Gift of Guit”, atingindo o ápice da noite. A combinação de elementos melódicos e peso intenso criou um momento único. A despedida incluiu Mario passeando sobre os fãs em um bote inflável, provocando delírio na plateia.
Ambas as bandas estão em plena ascensão e conseguiram mostrar por quê. O Mastodon fez um show sensacional e completo, superando as limitações da última apresentação. Se no ano passado o Gojira obteve destaque no Rock in Rio, em São Paulo passou de uma apresentação no Carioca Club para ser o headliner no Espaço Unimed, consolidando seu excelente momento. O público paulista, por sua vez, consagrou essa fase com uma recepção calorosa.
Mastodon – Setlist:
01) Pain with an Anchor
02) Crystal Skull
03) Megalodon
04) Divinations
05) Sultan’s Curse
06) Bladecatcher
07) Black Tongue
08) The Czar
09) Halloween
10) High Road
11) More Than I Cloud Chew
12) Mother Puncher
13) Steambreather
14) Blood and Thunder
Gojira – Setlist:
01) Born For One Thing
02) Backbone
03) Stranded
04) Flying Wales
05) The Cell
06) The Art of Dying
07) Grind
08) Another World
09) Oroborus
10) Silvera
11) The Chant
12) L’enfant Sauvage
13) The Heaviest Matter of the Universe
14) Amazonia
15) The Gift of Guilt