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ATTRACTHA [9,5/10]

Independente - Nac.

Por Leandro Nogueira Coppi

Um dos discos mais inspirados de 2023, o conceitual Lex Talionis chegou ao mundo esbanjando atrativos. A começar que o experiente Attractha, seu criador, inovou: o grupo paulistano formado pelos competentes Cleber Krichinak (vocal), Ricardo Oliveira (guitarra), Guilherme Momesso (baixo) e Humberto Zambrin (bateria) atreveu-se a lançar seu segundo álbum de estúdio, sucessor do bem recebido por público e crítica No Fear to Face What’s Buried Inside You (2016), de um modo diferente dos formatos físicos tradicionais. Enquanto você curte o novo álbum do Attractha ouvindo-o em sua plataforma de streaming favorita, ao invés de simplesmente acompanhá-lo tendo em mãos um encarte igualmente tradicional, pode emergir no ambiente dessa obra conceitual desfrutando da audição em companhia da revista em quadrinhos que a acompanha, na qual cada música e letra soam como a trilha sonora da história escrita por Zambrin, proporcionando assim o clima perfeito para cada capítulo. Além das letras e das demais informações usuais de um encarte (ao final), a história transcrita na HQ de Lex Talionis foi colorizada por Gui Martino e é ilustrada por Mozart Couto, que já desenhou Mulher Maravilha para a DC Comics e X-Men para a Marvel. Outro atrativo é que a HQ vem embalada em uma bela capa que emula a de um vinil 10″.

O conceito do álbum Lex Talionis 

Baseado nas mazelas de uma sociedade violenta e injusta, o personagem central dessa trama fictícia de violência urbana, terror e vingança chamada Lex Talionis (do latim ‘Lei de talião’ – título melhor compreendido pela expresão popular ‘olho por olho, dente por dente’), quebra a suposta barreira da obrigatoriedade de escolha entre o caminho da luz ou das trevas quando seu ciclo neste plano é interrompido de forma trágica, abrupta e inaceitável. Encarando sua nova realidade, vendo ser disputado pelas forças do bem e do mau, o personagem renuncia ter de escolher passar a eternidade sob o domínio de algum dos dois reinos, e, movido pela sede de vingança, se dá ao direito exclusivo de uma terceira via. Posto isso, ele decide ir em busca de atormentar seu algoz, sem saber e nem se importar com as consequências de tal decisão.

A música de Lex Talionis

Um álbum com a qualidade do mencionado debut No Fear to Face What’s Buried Inside You carecia que seu sucessor mantivesse o nível. Para isso, o Atractha trabalhou com calma em Lex Talionis ao longo de dois anos e meio, porém sem hibernar, já que em paralelo ao que seria seu novo disco, lançou singles e participou de tributos a bandas consagradas, como AC/DC e Black Sabbath. Sob produção de Adriano Daga (produtor vencedor do Grammy Latino e baterista do Malta), a banda nitidimente tratou de cada composição e gravação de maneira meticulosa, o que surtiu como resultado um disco vigoroso, com ‘punch’ e muito bem gravado. Sonoramente, o Attractha segue entregando um heavy metal homogeneizado pelo tradicional e o moderno, disprendido de uma fórmula única, o que lhe permite, com naturalidade e técnica (sem soar maçante), usufruir de peso, alternância entre velocidade e cadência, melodia e sutileza.

Após a exageradamente longa introdução Another Day, Lex Talionis começa com a adrenalina nos píncaros na mão da ótima The Past Is Gone, primeiro single do disco, além de uma das melhores músicas do Attractha e também do metal nacional nos últimos anos. Estonteante e à base de riffs e solo absurdos de Ricardo Oliveira, The Past is Gone é soco direto, ideal para abertura de shows. Assim como várias outras do disco, essa tem pré-refrão/refrão que grudam na mente. Aliás, criar linhas que viciam é uma das especialidades de Krichinak, que vem se destacando como um dos grandes vocalistas do país, aliando drives rasgados e ‘clean vocals’. E por falar em pré-refrão, o trecho da letra cantado nesse, basicamente resume a missão do personagem principal no conceito do disco: “Alone he tries to win this fight (Sozinho ele tenta ganhar essa luta)“.

Outros viciantes destaques vão surgindo ao longo da audição… Um deles é Today, música que transborda climas e atmosferas, onde o mote é o peso cadenciado, intercalado rapidamente por uma breve e amena passagem, até ganhar força novamente. Nessa, de novo temos uma boa combinação de pré-refrão contagiante e refrão forte e imponente. Isso sem contar o trabalho impecável de Zambrin, que nessa se destaca preenchendo muito bem os bem sacados ‘breakdowns’, assim como ele também faz na impactante Dead End, faixa que é um misto de peso e mistério, características essas elucidadas sobretudo pela sinergia entre os riffs de Oliveira e as linhas criadas por Krichinak. 

E o leque de variedades do Attractha não pára por aí. No!, outra das músicas mais instigantes do disco, inicia com um riff arrebatador de Oliveira, que ainda preenche algumas ‘paradinhas’ com um ‘riffizinho’ que remete ao do Overkill no espaço final de E.vil N.ever D.ies. (faixa do álbum The Years of Decay, de 1989). Nessa, há algumas partes que trazem à memória algo também de Queensrÿche. Como ingredientes, surgem ainda bumbos duplos bem compostos e encaixados, uma linha de baixo destacável de Momesso e um encerramento que ficou muito legal sendo feito em  ‘fade out’.

Dando um refresco após tanta porradaria, temos um nocaute lacrimal com a belíssima e tocante Tomorrow is Too Late, power ballad que alia partes fortes e arranjos orquestrados de muito bom gosto. Essa é uma música idealizada por Zambrin em tributo à memória de sua mãe, e conta com harmonia de Ricardo Oliveira inspirada em seu irmão – homenageados esses, falecidos, respectivamente, em 2017 e em 2020. A melodia de voz de Tomorrow is Too Late, que deixa as emoções à flor da pele, teve, assim como em Today, a participação do vocalista Alirio Netto (ex-Shaman, Age of Artemis, Khallice). E por falar em participação, o peso ressurge com o cantor sueco Björn Strid (Soilwork/The Night Flight Orchestra) chegando com os dois pés no peito logo no início de I See You, em um duo impecável com Krichinak.

Drag Him to Hell, sétimo capítulo do álbum, começa com um dedilhado sombrio ao melhor estilo Annihilator/Metallica/King Diamond e logo se desenvolve com um riff pesado incrementado por harmônicos à la Zakk Wylde, além de um instrumental bastante intrincado e uma linha vocal que novamente transita entre peso e mistério. Esse lado ‘terror’ observado na letra e no enredo da HQ, ressaltado também na faixa seguinte, My Curse, já vinha sendo valorizado desde o single anterior ao álbum Lex TalionisThe Chase, que fora lançado apropriadamente no Halloween de 2022. 

A escolha do Attracha para o fechar das cortinas com a cortante The Time Has Come, música que realmente tem vies de faixa de encerramento, foi tão acertiva quanto abrir o disco com The Past Is Gone, inclusive por manter o vigor e a excitação inicial do disco. 

Como você, leitor, pôde observar, nenhuma faixa de Lex Talionis passou ilesa de análise, visto que temos nesse novo trabalho do Attractha não apenas um dos grandes lançamentos de 2023, como o surgimento de uma nova obra-prima do heavy metal, que se obtiver o devido reconhecimento, certamente garantirá tal status ad eternum para essa banda que está no momento certo de despontar no cenário.

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