Por Alessandro Bonassoli
Mais conhecido no Brasil por suas passagens no Crimson Glory e no Seven Witches, Wade Black era, até 2023, vocalista de cinco bandas: Chalice Of Sin, Clockwork Revolution, Disaster/Peace, Lucian Blaque e War Of Thrones. Para 2024, inclua nesta lista o novo trabalho: Wade Black´s Astronomica, cujo álbum de estréia, The Awakening, está saindo pela ROAR! Rock Of Angel Records.
Posso estar errado, mas me parece que, bem mais do que um projeto do qual Black é integrante, este novo desafio é a banda dele. Ao seu lado está o baixista Rich Marks (Vivaldi Metal Project, Holmes and Slice), parceiro de composições, gravações e turnês há mais de uma década no War Of Thrones. No Astronomica, além das quatro cordas, ele compôs e gravou também as linhas de guitarra, solos e teclados.
A line-up do álbum contou ainda com James Fox, que gravou as bases de guitarra e parte dos arranjos de teclado. Ele é outro velho conhecido de Black e Marks dos tempos de War Of Thrones, pois mixou e gravou o bom Conflict In Creation (2018). A bateria foi registrada por Patrick Johansson, que esteve com Black no Clockwork Revolution e faz parte do NorthTale, Impelliteri e Final Strike, além de ter participado de alguns trabalhos de Yngwie Malmsteen e ter tocado ao vivo em turnês de W.A.S.P. e Sabaton, entre várias outras bandas. Nos palcos, o Astronomica tem o baixista Kyle Sokol (Nocturnus AD, Apeiron Bound), o guitarrista Ryan Bales (Avenging Benji) e na bateria Luca Caracciolo (Halcyon Way, Materdea, Kee Marcelo).
Sobre o nome da banda, caso você nunca tenha ouvido Crimson Glory, saiba que tem tudo a ver com o álbum homônico, de 1999. E o som, é claro, é puro metal norte-americano. Mas não pense em glam metal da Sunset Strip ou do thrash da Bay Area. A pegada se enquadra muito mais para os lados de Savatage, Vicious Rumors, Metal Church e Iced Earth com a sonoridade típica de outros grupos dos Estados Unidos, incluindo os surgidos na década de 1990.
Um dos destaques do álbum, Deceiver indica este padrão. Canção que, além dos bons solos de guitarra, logo traz a marca registrada de Black, que é daqueles vocalistas com um timbre de voz que se distingue da média geral e é facilmente reconhecível, como são os de Udo Dirkschneider, King Diamond e Rob Halford e dos saudosos Ronnie James Dio e David Wayne, citando apenas alguns exemplos. Sim, é vocal sem rodeios e direto, com muitas influências de vocalistas clássicos do heavy metal, exatamente como ele fez no espetacular Xiled To Infinity And One (2002), do Seven Witches.
Com a experiência de tantos anos de estrada e bandas, Black agora não investe tanto no padrão “halfordiano”. Algo que fez no Crimson Glory e desagradou parte dos fãs, que esperavam um cantor cuja performance seguisse o estilo do também saudoso Midnight, eterna voz da cultuada banda.
Dois outros destaques são Protectors Of The Realm, que me fez pensar em Accept, e a mais pesada e ritmada Monster, com uma ótima performance de Johansson e Marks. Nesta, duvido você não começar a balançar o pescoço.
Mais rápida, Fate of Faith tem nas mudanças de andamento seu ponto alto, além de um rápido solo de baixo. Outra que chama a atenção é Hellwalker, que conta com a participação especial de Tobias Kersting, guitarrista do Chris Boltendahl’s Steelhammer. E por falar no líder do Grave Digger, ele acabou contribuindo com o Astronomica, mas na parte técnica, como produtor-executivo e fazendo a masterização do álbum.
Para fechar essa conversa, recomendo que você preste atenção em ao menos outras duas faixas. A primeira é Darkness Falls, mais lenta, mas que não soa como uma típica balada heavy metal. A canção é sobre depressão, tema que boa parte da população enfrenta, mas não trata. Para compensar a diminuição do ritmo, ouça Letter From Hell, pesadona e com características do metal mais atual.