Por Thiago Rahal Mauro
Fotos: Belmilson dos Santos
A banda polaca de rock progressivo, Riverside, apresentou na noite desta quarta-feira, 3 de abril, em São Paulo, no Carioca Club, a turnê de seu último álbum de estúdio “ID.Entity”, lançado mundialmente via InsideOut Music em 2023. Com uma técnica impressionante e uma energia introspectiva que te faz pensar nas letras e temas das músicas, mais ou menos, na vibe da banda Marillion, e uma performance impecável, o quarteto conquistou o público paulistano com um setlist repleto de sucessos.
Pontualmente às 20h30, a banda abriu o show com “Addicted”, do álbum “Love, Fear and the Time Machine” (2015). Cativando imediatamente a plateia com sua sonoridade única, enigmática e correndo o risco de ser repetitivo, introspectivo, a formação atual do Riverside conta com Mariusz Duda (vocais, baixo), Piotr Kozieradzki (bateria), Michał Łapaj (teclados) e Maciej Meller (guitarra). A atmosfera sombria e melancólica permeou o início do show, com uma calmaria inesperada ao fim da primeira música, alcançando o ápice na sequência com a interpretação de “02 Panic Room”, de “Rapid Eye Movement” (2007), que tem um começo bem sólido, com o vocal de Mariusz Duda sendo um show à parte.
Antes de apresentar a próxima música, Mariusz Duda conversou com o público: “Foram dois anos. Então sentimos a falta de vocês. Muito obrigado por virem esta noite. Não sei bem quantas pessoas. Estou feliz que algo mudou porque, da última vez, me lembro dos rostos aqui olhando para mim bem para cima. Agora temos um progresso! Então já é um show melhor. Muito obrigado por virem esta noite, por estarem conosco. Esta é a ID.Entity tour, promovendo nosso álbum mais recente e que lançamos um ano atrás. Este é o momento que a banda está vivendo agora: lançamos o álbum e vamos excursionar por uns quinze anos (risos). De toda forma, esperamos que curtam esta noite, estamos de bom humor, São Paulo é uma cidade linda, esta casa é legal e vocês são tão fantásticos! Eu não tenho meus óculos, mas me lembro de vocês. É ótimo estar de volta!”. “Esta próxima música se chama Landmine Blast”.
A habilidade técnica dos músicos foi evidente em cada nota, especialmente durante faixas como “Landmine Blast” e “Big Tech Brother”, onde as linhas de baixo e teclado ficaram bem evidentes, aliado à guitarra de Piotr Grudziński que nos transportaram para locais únicos. Mesmo diante de músicas mais calmas como “Lost (Why Should I Be Frightened By a Hat?)”, a banda conseguiu manter a intensidade e a conexão com o público.
Um dos pontos altos do show foi quando antes de anunciar sua próxima música, Left Out, o vocalista Mariusz Duda fez questão de ressaltar o que ele acha de sua própria banda. “Então, lançamos um álbum com o título de ID.Entity e isso nos dá a oportunidade de conversarmos sobre nossa própria identidade. Porque o álbum, é claro, é sobre a identidade da sociedade moderna, mas também sobre a identidade da banda Riverside. Como vocês provavelmente notaram, meio que rejeitamos a melancolia neste álbum novo porque sofremos por tantos anos que decidimos, vocês sabem, não fingirmos que somos a banda de vinte anos atrás. Queríamos lançar um álbum do ‘Riverside 2023/2024’ e, no palco, vocês podem ver o ‘Riverside 2024’, a propósito. Então, meio que somos pessoas diferentes agora, envelhecemos e não foi só isso: fiquei mais esperto. De todo modo, decidimos fazer exatamente o que queríamos, então, falando de identidade, acredito que o Riverside, para muitas pessoas, ainda pertença à suposta ‘comunidade prog’. E tudo bem, somos uma banda de rock progressivo. Porém, não somos uma banda de metal progressivo. Sei que alguns de vocês nos vêem o tempo todo como uma banda meio similar ao Dream Theater… Por favor, não façam isso! Sem ofensas, não estamos julgando, sabem? Mas é o seguinte: como provavelmente repararam, o Riverside não é uma dessas bandas que fritam, saem solando na guitarra e fazendo coisas assim. Estamos fazendo estas coisas? Então, não. O que fazemos é conversar com as pessoas, com a platéia, essas coisas que são muito, muito melhores. Então acredito que quando cantam as músicas conosco, a reação é muito melhor do que ‘cantar’ com o guitarrista, que faz um monte de coisas com a cara parada. Então gostaríamos de cantar a próxima música com vocês, ok? Voltaremos ao álbum Love, Fear And The Time Machine agora”.
Aliás, “Left Out” é uma das melhores músicas da banda, com sua linha melódica crescente ao longo de toda faixa, ela te prende somente pelo fato de você esperar o que vai acontecer com o próximo acorde. Simplesmente magnífica. A execução de “Egoist Hedonist” demonstrou toda a complexidade e profundidade do som do Riverside. A sincronia entre os membros da banda, aliada à voz de Mariusz Duda, elevou a experiência a outro nível. Finalizando a primeira parte do show, a banda apresentou “Friend or Foe?”, do último álbum, um grande tema para deixar o público com a sensação de quero mais.
O encore não poderia ser menos impactante, com a dobradinha “Self-Aware / Driven to Destruction” e “Conceiving You” encerrando a noite de forma magistral. Pouco antes de encerrar a última faixa, Mariusz Duda brinca com o público de uma maneira que nunca vi em shows internacionais no Brasil. Sussurrando, ele pediu ao público para gritar também sussurrando. Pela primeira vez na história se viu uma plateia gritando ‘yeah!’, baixo, literalmente sussurrando. Não contente somente com essa brincadeira, ele pediu para o público bater palmas silenciosas. Um momento ímpar e que ficará na história.
Em resumo, o show do Riverside em São Paulo foi uma experiência inesquecível para os fãs de rock progressivo. Com sua musicalidade impecável e letras introspectivas, a banda polonesa conquistou não apenas os ouvidos, mas também os corações dos presentes. Que venham mais noites como essa, repletas de boa música e emoção.
Setlist:
- #Addicted
- 02 Panic Room
- Landmine Blast
- Big Tech Brother
- Lost (Why Should I Be Frightened By a Hat?)
- Left Out
- Post-Truth
- The Place Where I Belong
- Egoist Hedonist
- Friend or Foe?
Bis:
- Self-Aware / Driven to Destruction
- Conceiving You
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