Acompanhe agora a cobertura do segundo dia de shows do Summer Breeze Brasil 2024, com as apresentações na ordem em que aconteceram ao longo do sábado, 27 de abril, nos palcos Hot, Ice, Sun e Waves. As coberturas de sexta-feira (26) e domingo (28) você já pode acessar no link abaixo.
Sexta-feira (26) | Sábado (27) | Domingo (28)
NERVOSA (Ice Stage)
Por Daniel Dutra
Deu para matar um pouco da saudade, só que deixou um gostinho de quero mais. Em uma rápida passagem pela América do Sul, a Nervosa foi ainda mais breve no Brasil, chegando ao Summer Breeze depois de se apresentar em Goiânia, e no infernal fim de semana paulistano – pode continuar reclamando do calor extremo e fora de época, né? – que Prika Amaral (vocal e guitarra), Helena Kotina (guitarra), Hel Pyre (baixo) e Gabriela Abud (bateria) fizeram um show arrasador.
Não à toa, o local já tinha um excelente público às 11h daquele sábado, e nem mesmo um pequeno contratempo foi capaz de atrapalhar… Porém, vamos por partes. Ao testemunhar um show da Nervosa hoje em dia, impressiona como as muitas mudanças de formação desde 2020 não diminuíram a força da banda. Qualquer impacto negativo já havia sido colocado para escanteio com dois excelentes discos, “Perpetual Chaos” (2021) e “Jailbreak” (2023), e a opção por privilegiar material desta ‘nova era’ da banda se mostrou acertada.
Das 12 músicas do set, nove foram tiradas dos álbuns mais recentes, sendo cinco de “Jailbreak”, que marca a estreia de Prika nos vocais e mostra uma Nervosa sem medo de mexer no thrash/death metal que pratica desde sempre. Mais interessante ainda foi a opção de inserir as três canções mais ‘velhinhas’ – “Death!”, “Masked Betrayer” e “Kill the Silence” – no meio do set, abrindo e fechando o show com os pés no presente e olhando para o futuro.
Um dos grandes exemplos disso foi a participação de Mayara Puertas em “Elements of Sin”, uma vez que foi a voz do Torture Squad quem guiou Prika para ser a voz da Nervosa. E temos aqui talvez o único exemplo mundial de ‘coach’ que valeu a pena, porque Prika se mostrou muito confortável na nova função – bom, não chega a ser uma surpresa para quem a ouviu cantar na faixa “Hecatombe Genocida”, do Revolta, superprojeto também com João Gordo (Ratos de Porão), Moyses Kolesne (Krisiun), Guilherme Miranda (Dieth, ex-Entombed A.D.), Castor (Torture Squad) e Iggor Cavalera (Cavalera Conspiracy), criado na pandemia para colocar o dedo na ferida contra… Bom, o nome da faixa é autoexplicativo.
E lembra-se do pequeno contratempo? Sem guitarra, depois que uma das cordas arrebentou e porque não havia uma reserva, Prika assumiu o papel de frontwoman nas quatro músicas finais e, vencida a sensação inicial de ‘o que fazer com as mãos sem uma guitarra a tiracolo’, mandou muito bem. Claro, isso sendo possível também por um respaldo de primeira, uma vez que a excelente Helena emprestou aquilo que sempre faltou à Nervosa: solos mais técnicos (virtuosos, mesmo) para acompanhar os grandes riffs. E sem esquecer a segurança de Hel Pyre e a máquina das baquetas que se chama Gabriela Abud, por quem ‘a banda esperou por um ano’.
Curiosa ou ironicamente, foi como um quarteto à moda antiga que a Nervosa apresentou quatro das suas melhores músicas, as sensacionais “Under Ruins”, “Jailbreak”, “Guided By Evil” e “Endless Ambition”, que soaram tão poderosas quanto “Behind the Wall”, “Perpetual Chaos” e “Venomous”, outras das pérolas mais recentes da banda. E o gostinho de quero mais só será aplacado mesmo com uma turnê de verdade em solo brasileiro, porque, depois do apetitoso aperitivo no Summer Breeze Brasil, a Nervosa precisa dar isso aos fãs.
Setlist: Seed of Death, Behind the Wall, Death!, Elements of Sin, Kill the Silence, Perpetual Chaos, Venomous, Masked Betrayer, Under Ruins, Jailbreak, Guided By Evil e Endless Ambition.
SINISTRA (Sun Stage)
Por Antonio Carlos Monteiro
Tocar às onze da matina num palco chamado Sun em meio a uma das maiores ondas de calor que este país já viu pode até soar como uma fina ironia. Mas foi assim que Nando Fernandes (vocal), Edu Ardanuy (guitarra), Luis Mariutti (baixo) e Rafael Rosa (bateria) entraram em cena diante de uma numerosa galera disposta a enfrentar o sol na cabeça. A formação da Sinistra dispensa comentários óbvios, como dizer que se trata de uma superbanda.
Mas é exatamente isso que o quarteto mostra em cena. Se no ano passado o grupo se apresentou em condições adversas, já que Nando se recuperava de um problema de saúde, desta vez todos estavam em plena forma, encararam o que lhes foi proposto no Summer Breeze e o fizeram com a competência de sempre: um show de hard/heavy com letras em português da mais alta qualidade.
Mariutti já definiu a Sinistra como ‘Black Sabbath com Dio nos vocais e Eddie Van Halen na guitarra’, o que não está longe da realidade. E com um som impecável, a banda desfilou praticamente o repertório completo de seu primeiro e até aqui único disco, “Sinistra” (2022) – apenas a faixa “Nada é Mais Igual” ficou de fora.
Isso não quer dizer que a banda ficou imune a alguns percalços. Nando teve alguns problemas para manter a calça fechada e, do nada, o clique (metrônomo que orienta o ritmo a ser seguido pelo baterista e que apenas ele ouve) surgiu no PA. ‘Às vezes, tem gente que não vemos conosco no palco’, explicou Nando.
Porém, seja em quarteto ou quinteto com esse elemento invisível, o fato é que a Sinistra foi impecável em cena e colocou a plateia pra cantar em vários momentos. Foi mais um show que valeu muito a pena acompanhar no festival.
Setlist: Mente Vazia, Viver, Livre Pra Seguir, Santa Inquisição, Quem é Você, Umbral, O Amanhã e Rock and Roll na Veia.
FORBIDDEN (Hot Stage)
Por Daniel Agapito
Com um sol de 30 graus já cozinhando a massa de gente de camiseta preta, só deixando um metro quadrado de sombra sequer, a lendária banda de thrash Forbidden preparava para abrir o Hot Stage, que não só definia muito bem o clima do dia, mas também receberia Angra, Hammerfall e Within Temptation ao decorrer daquele sábado. Pouco depois do meio-dia, uma série de imagens retratando a história da banda, desde seus dias como Forbidden Evil a seus diversos retornos aos palcos nos últimos 20 anos passaram pelo telão, ao som da introdução de “Follow Me”.
Como se já não estivesse ridiculamente quente, os californianos não esperaram para esquentar o público, mandando “Twisted Into Form” logo depois da primeira, incentivando uma roda. Pela reação do público, não aparentava de maneira alguma ser a primeira vez do grupo em terras tupiniquins, dadas as vertiginosas rodas e alta cantoria proporcionadas pelos fãs. Norman Skinner, novo vocalista do Forbidden, também não aparentava só ter entrado na banda ano passado, conseguindo executar todas as músicas de Russ Anderson com maestria, tendo também uma presença de palco sólida.
O setlist da banda cobriu grande parte do seu primeiro LP, “Forbidden Evil”, passando também por algumas do “Twisted into Form”. Tocaram também a própria faixa-título do primeiro, recebendo uma reação calorosa dos fãs. Antes de iniciarem a “Step By Step”, Skinner pediu para que os fãs do meio, que estavam fazendo uma grande roda punk mostrassem para o resto como era pra fazer, incentivando mais rodas, passo a passo, emendando a faixa aí.
“Step By Step” foi seguida de uma trinca de hits, “Off the Edge”, “As Good as Dead” e “Infinite”, todas apenas jogando lenha na fogueira que era a grande roda central que acontecia no meio da galera. “Through Eyes of Glass” e “Chalice of Blood” foram as responsáveis por concluir a performance. Antes de fecharem, agradeceram bastante o público paulistano, levantando uma bandeira do Brasil com eles à imagem dos personagens de South Park (arte de Elias Júnior) e fecharam com a supracitada “Chalice of Blood”, favorita dos fãs.
Antes de terminarem a música, pediram para que todos se separassem para fazer um pequeno wall of death, momento de catarse nesse show tão animado. Com a música já finalizada, agradeceram novamente a presença de todos, falaram que amam o país e que certamente não esperarão mais tanto para voltar.
Setlist: Forbidden, Follow Me, Twisted Into Form, March Into Fire, Forbidden Evil, Step By Step, Off the Edge, As Good as Dead, Infinite, Through Eyes of Glass e Chalice of Blood.
RAGE IN MY EYES (Waves Stage)
Infelizmente, não foi possível fazer a cobertura do show.
KORZUS (Sun Stage)
Por Marcelo Gomes
Os veteranos do Korzus mostraram por que ainda são uma das grandes referências do estilo do nosso país. A segunda atração do dia do Sun Stage fez com que não sobrasse pedra sobre pedra. A galera que lotou o show dos caras teve uma surpresa logo de início. E não foi qualquer surpresa: contaram com a presença ilustre do guitarrista original e um dos fundadores da banda, Silvio Golfetti.
A sequência matadora com “Guilty Silence”, “What Are You Looking For” e “Internally” fez a pista pegar fogo. Aliás, o calor que fazia nessa hora dava a sensação de que as portas do inferno estavam abertas. O massacre continuou com “Pay for Your Lies”, “Mass Illusion” e a destruidora “Agony”. Com o público nas mãos, chegou a vez do guitarrista Antônio Araújo entrar em ação. Com essa formação, mandaram “Discipline of Hate”, “Raise Your Soul” e “Never Die”, que fizeram com que os fãs pudessem sentir a fúria da banda em suas diversas fases.
A parte final teve “Correria”, na qual seus versos em português foram cantados a plenos pulmões, e para celebrar esse momento, “Guerreiros Do Metal”, faixa que coroou a grande apresentação da banda. Pouca conversa e muito som marcaram o show do Korzus, que no auge dos seus 40 anos de estrada se mostra mais forte do que nunca.
GAMMA RAY (Ice Stage)
Por Daniel Agapito
Começando a avalanche de metal melódico que dominaria os dois palcos principais pelo resto do dia, subiu ao palco o Gamma Ray, banda do veterano guitarrista e vocalista Kai Hansen (Helloween). Voltando à nação verde e amarela após quase dez anos, foi criada certa expectativa para ver um pouco do melhor que o power metal alemão tem a oferecer. A banda já se encontrava na América Latina desde o começo do mês, passando pelo México, El Salvador, Costa Rica, Colômbia, Equador, Chile e Argentina, com a turnê sendo encerrada naquele sábado, em São Paulo.
Pouco depois das 13h, no auge do sol, a épica “Welcome”, introdução do primeiro disco da banda, “Heading for Tomorrow”, dominava o sistema de PA enquanto a banda subiu ao palco. Iniciaram o show logo com “Land of the Free”, recebida calorosamente pelos fãs, que cantavam junto com a banda. A dinâmica entre os dois guitarristas do grupo, Hansen e Henjo Richter era invejável, com ambos possuindo uma química incrível, com o estilo de um complementando perfeitamente o outro.
Assim que Dirk Schlächter começou a icônica linha de baixo da “Land Before the Storm”, um grito do público podia ser ouvido. A sequência de hits continuou com “Rebellion in Dreamland”, “Master of Confusion” e “One With the World”; uma verdadeira enxurrada do tradicional power metal alemão. Esta última por sua vez, foi uma grande surpresa, pois só voltou ao setlist desta turnê latina após quatro anos sem ser tocada ao vivo. A balada “The Silence”, também de “Heading for Tomorrow” (1990), fechou o primeiro ‘ato’ do show, dando um ‘descanso’ aos fãs depois de tanto metal.
O segundo ‘ato’ foi aberto com a sequência inicial de “No World Order”, álbum do começo do milênio. O coro de “Induction” assumiu os alto-falantes do Ice Stage brevemente, com “Dethrone Tyranny” retomando a energia das clássicas do início da performance. A força do repertório mais novo dos alemães seguiu em evidência com a pesada “Empathy”, de “To the Metal!” (2010), penúltimo trabalho de estúdio do grupo.
Uma dupla de dois dos maiores clássicos da banda fecharam o show, sendo elas a sempre muito animada “Heaven Can Wait”, do primeiro disco, e a faixa homônima do álbum de 1997, o brilhante “Somewhere Out in Space”. Como já esperado, quem estava lá gritou com todos seus pulmões os icônicos refrões ‘heaven can wait, ‘til another day’ e ‘all that I see is the Years, somewhere out in space, and it’s time for deliverance’. Foi com estas duas grandiosas músicas que a banda se retirou do palco.
Mesmo com o paraíso aparentemente podendo esperar, a banda não conseguiu, rapidamente voltando ao palco para tocar mais uma favorita dos fãs, “Send Me a Sign”. Mesmo com todos dando sinais de que não queriam que a farra acabasse, tudo que é bom tem que ter um fim. Os mestres alemães do power metal fizeram um show animado, que com certeza foi um ótimo aquecimento para a dose de metal melódico que viria, com Angra, Hammerfall e Within Temptation, no Hot Stage, e Lacuna Coil e Epica, no Ice Stage ainda por vir.
Setlist: Welcome/Land of the Free, Last Before the Storm, Rebellion in Dreamland, Master of Confusion, One With the World, The Silence, Induction/Dethrone Tyranny, Empathy, Heaven Can Wait, Somewhere Out in Space e Send Me a Sign.
ABOUT2CRASH (Waves Stage)
Por Luiz Tosi
Debaixo de um sol escaldante, um público pequeno, mas animado, dirigiu-se ao Waves Stage para conferir a apresentação do About2Crash. O A2C já nasceu grande. Criado por Theo Vieira (Hard Rocket, Sunseth Midnight) e pelo vocalista/DJ Vinicius Neves, a banda se apresentou no Rock In Rio de 2015, antes mesmo de lançar seu primeiro álbum, época em que contava com o baterista Aquiles Priester e o baixista Luis Mariutti na formação. O lineup atual apresenta outro dream team da cena nacional: Airton Araujo (Age of Artemis) nos vocais, os guitarristas Anderson Carlos (Holy Sagga e Hard Rocket) e Cristiano Wortmann (Hangar), o baixista Gus D. (Holy Sagga e Hard Rocket) e o baterista Marcus Dotta (Warrel Dane e Hatematter), além de Theo.
Com seu som moderno e pesado, mas ainda melódico, a banda entregou um set extremamente sólido e cativante, com destaque para os singles “Supertaster”, “Buried Alive” e “I Am God”, além da já tradicional versão da banda para o hino pop “Like a Prayer” de Madonna. Em um dos momentos mais emocionantes de todo o festival, a banda dedicou uma versão de arrepiar para “Through Glass” (Stone Sour) ao membro-fundador Vinicius Neves, que em março perdeu a luta contra um câncer, aos 45 anos.
Vini, como era conhecido, era um empreendedor inovador com uma paixão profunda pelo heavy metal. Junto com sua esposa Cintia Diniz, foi a força por trás do renomado programa Stay Heavy, onde deixou sua marca. Numa triste coincidência, a faixa também foi dedicada a Fernando Wortmann, bicampeão brasileiro de Kart Endurance e irmão do guitarrista Cristiano Wortmann, que faleceu no mesmo mês, pela mesma causa. Nossos sentimentos e apoio às famílias.
Mas a tarde era de celebração, e no fim o clima ferveu de vez com uma inesperada e coesa versão de “Roots Bloody Roots”, do Sepultura, que levantou o público. Excelente show, vida longa e palcos maiores ao A2C!
Setlist: Intro/Supertaster, Buried Alive, Monster, Like a Prayer, Massive, Revolution, Break Inside Me, Through Glass, Until the End, I am God, Ligar e Roots Bloody Roots.
ANGRA (Hot Stage)
Por Antonio Carlos Monteiro
O Angra vem atravessando uma das melhores fases de sua carreira, de acordo com seus próprios integrantes. Com uma formação estável há nove anos e em meio à tour de lançamento de seu mais novo e aclamado disco, “Cycles of Pain”, o quinteto entrou em cena no Hot Stage com o jogo ganho. Fabio Lione (vocal), Rafael Bittencourt (guitarra), Marcelo Barbosa (guitarra), Felipe Andreoli (baixo) e Bruno Valverde (bateria) fizeram uma versão reduzida do show que vêm apresentando na tour de divulgação do novo álbum, em função da limitação de tempo.
Comprovação total do momento que vive o Angra, “Nothing to Say”, que abriu o show, mostrou que o quinteto entrou em cena como jogo ganho. A despeito do calor quase insuportável (tônica de todo o festival, diga-se), a galera reagiu com ainda mais euforia na sequência com “Angels Cry”, outro clássico do quinteto.
A exemplo do que ficou patente em outras apresentações da atual tour, nota-se que Rafael está com uma postura de clara liderança na banda (afinal, é o único remanescente da formação que gravou o primeiro disco, “Angels Cry”, de 1993) e que Felipe Andreoli vem conquistando um merecido protagonismo em cena, seja pela movimentação incessante, seja por sua participação como o excepcional instrumentista que é. Já Fabio Lione, talvez o músico que mais estivesse sofrendo com o calor, não deixou que isso interferisse em sua performance sempre certeira. Com boa comunicação com o público em português, vocal impecável e ótima presença em cena, o italiano se mostra completamente à vontade em cena.
No repertório, a banda poderia ter ido pelo caminho mais simples e enfileirado os vários clássicos que forjou em sua carreira. Em vez disso, privilegiou as músicas do novo trabalho, interpretando “Ride Into the Storm”, “Dead Man on Display”, “Vida Seca” e as duas partes de “Tide of Changes”, com direito a show de Andreoli na primeira delas. A opção se mostrou acertada, já que o álbum caiu nas graças do público e as músicas não só foram ovacionadas como tiveram intensa participação do público.
Claro que um tema com a força de “Rebirth” não poderia ficar de fora, e não deixou de ser curioso ouvir a mesma música sendo tocada pela segunda vez em praticamente 24 horas, já que ela fez parte do repertório de Edu Falaschi na véspera. O final com a já citada “Ride Into the Storm” e a seguida ovação da plateia só veio a confirmar a merecida consagração que a banda ostenta no momento.
Setlist: Crossing/Nothing to Say, Angels Cry, Tide of Changes – Part I, Tide of Changes – Part II, Newborn Me, Vida Seca, Rebirth, Dead Man on Display, Time e Cycle Doloris/Ride into the Storm.
JELUSICK (Sun Stage)
Por Daniel Dutra
Curiosidade, muita curiosidade. Esta era a tônica deste que vos escreve quanto ao show de Dino Jelusick, que lançou o ótimo “Follow the Blind Man”, em 2023, e tem um currículo impressionante com apenas 31 anos. Mais do que excursionar/gravar/fazer parte de nomes como Trans-Siberian Orchestra, Whitesnake, o supergrupo Whom Gods Destroy (basicamente, o sucessor do Sons of Apollo), Michael Romeo, Dirty Shirley, Animal Drive e mais um monte de bandas, artistas e projetos.
Mais do que isso, carregar o status de melhor vocalista de heavy metal da atualidade é uma responsabilidade e tanto, e o croata mostrou que não, ainda não, porque ao vivo ele ainda peca pelo que apresenta em estúdio: tem uma técnica absurda, mas ainda falta personalidade. Dino é um apanhado de algumas das melhores vozes do hard e do metal em todos os tempos, como Ronnie James Dio, David Coverdale e Ray Gillen, e ainda tem um caminho a trilhar até moldar sua própria identidade.
Dito isso, sim, ele canta uma barbaridade, é pródigo como tecladista e tem, considerando que aqui é o líder, boa presença de palco, ingredientes que, somados a uma banda de altíssimo nível – Ivan Keller (guitarra), Luka Brodaric (baixo) e Mario Lepoglavec (bateria) –, resultaram num show agradável. Ao privilegiar seu novo álbum solo, com nove de suas 11 faixas, o croata obviamente não agradou tanto aos que esperavam por algo mais hard rock, uma vez que “Follow the Blind Man” tem uma roupagem muito mais pesada e moderna.
No entanto, é exatamente isso que torna o trabalho interessante, e músicas como “Reign of Vultures”, “The Healer”, “Died”, “Animal Inside” e “Fly High Again” funcionaram muito bem ao vivo. No entanto, e talvez pelo fator tempo, as duas canções do Animal Drive no set, “Fade Away” e “I Walk Alone”, foram mais bem recebidas, especialmente a última, enquanto, inconscientemente ou não, Jelusick deu sinais de uma possível mudança à vista ao tocar uma música que, segundo ele, estará no próximo CD.
‘Uma mistura de Audioslave com Extreme’, disse o croata ao anunciar “Groove Central” e perguntar se o público estava preparado para algo nessa praia. A resposta foi positiva, e a banda não decepcionou. A canção difere brutalmente do material em “Follow the Blind Man”, apresentando até mesmo uma forte influência de “Cupid’s Dead”, do Extreme, e “Tears in the Sky”, do Talisman, no instrumental. No mínimo, serviu para acender o alerta da curiosidade sobre o próximo trabalho.
Setlist: Reign of Vultures, Acid Rain, Fade Away, The Healer, Died, Chaos Master, The Great Divide, Groove Central, I Walk Alone, What I Want, Animal Inside e Fly High Again.
NOTURNALL (Waves Stage)
Por Antonio Carlos Monteiro
O Noturnall entrou no cast do Summer Breeze quase no apagar das luzes, substituindo o Spektra, que não pôde se apresentar. Assim, coube a Thiago Bianchi (vocal), Mike Orlando (guitarra), Saulo Xakol (baixo) e Henrique Pucci (bateria) se apresentarem no menor dos palcos, o Waves, localizado a distância razoável dos demais.
E talvez essa tenha sido uma vantagem para a banda, já que foi possível à plateia apreciar de perto a performance única de Thiago, além da exuberância de Orlando com a guitarra nas mãos – a destreza do sujeito é um negócio impressionante! Mais que isso, essas questões não impediram que um número considerável de espectadores acompanhassem o curto show da banda – apenas sete músicas.
E também não impediu o quarteto de mostrar o pacote completo. Xacol e Pucci mostravam um bem-vindo misto de segurança e virtuosismo, Thiago entregava seu vocal poderoso e corretíssimo e Orlando, bem, esse é realmente um prodígio – às vezes, ficava difícil acompanhar visualmente o que ele fazia no braço da guitarra tal a velocidade de seus solos.
Thiago se valeu do fato de o palco ser baixo e foi várias vezes até a divisão que separava palco e plateia – ‘Falei que hoje ia ficar no palco, mas não consigo’, confessou. Privilegiando temas de seu último disco, “Cosmic Redemption” (2023), a banda deixou para o final uma versão que vem eventualmente apresentando em seus shows: “Thunderstuck”, do AC/DC, que ficou muito interessante na interpretação do Noturnall.
Setlist: Try Harder, No Turn at All, Fight the System, Cosmic Redemption, Wake Up, Thunderstruck e Scream! For!! Me!!!
LACUNA COIL (Ice Stage)
Por Daniel Agapito
Com o Memorial da América Latina já praticamente intransitável e com o sol não dando trégua alguma, os italianos do Lacuna Coil assumiram o Ice Stage por volta das 15j50. Já com o público na mão desde que Richard Meiz, baterista da banda chegou ao palco, começaram com o clima lá em cima (tanto em termos de temperatura quanto em termos de animação) desde o começo com “Blood, Tears, Dust”.
Mantendo a energia alta, “Reckless” foi a próxima faixa a dominar o ar do festival, sendo recebida por muita cantoria dos fãs, especialmente em seus refrões – ‘you make me, make me reckless’. Com a mesma chegando ao fim, a banda foi recebida por gritos de ‘Lacuna, Lacuna’, com Cristina Scabbia devolvendo gritos de ‘Brasil, Brasil’, dizendo que fazia muito tempo que não vinham para cá e que sentiam falta desse público.
Mostrando que também são gente como a gente, a vocalista perguntou se estavam prontos para a grande festa que estava por vir, falando que apesar do calor, estavam preparados para “Trip the Darkness”. Dizer que a química entre os dois vocalistas é absurda seria chover no molhado, a parte de cada um cabe perfeitamente nas músicas, o estilo de um complementa o outro. É absurdo.
Outro aspecto impressionante do show foi a presença de palco e controle do público dos italianos. Não só interagiam constantemente com os fãs, que os respondiam calorosamente, como também estavam com um domínio total do público do começo ao fim, conseguindo arrancar palmas de grande maioria do Summer Breeze.
“Trip the Darkness” foi seguida por “Layers of Time”, do último álbum de inéditas, “Black Anima” (2019), que recebeu grande destaque naquele sábado, com o repertório praticamente alternado entre uma música de outro disco e uma do “Black Anima”. “Heaven’s a Lie”, recentemente regravada para o “Comalies XX”, em celebração aos 20 anos do clássico “Comalies”, foi recebida com delírio dos fãs, que cantavam com todas suas forças.
Entre “Apocalypse” e “Sword of Anger” – ambas do mais novo –, foi tocada “Our Truth”, outra favorita dos fãs, que chegou até a ser incluída no Guitar Hero World Tour, dois anos após seu lançamento. No primeiro segundo da introdução com sintetizadores e a caixa crescente, já era possível ouvir gritos entre o público, que novamente cantou tudo.
Vale destacar “In the Meantime”, executada depois da sequência de “Sword of Anger”, “My Demons” e “Now Or Never”. A música nova da banda, lançada uma semana antes do show, mesmo sendo tocada pela primeira vez ao vivo, foi recebida muito bem pelos fãs, devotos e incansáveis. Originalmente, a faixa conta com participação especial de Ash Costello, vocalista da banda californiana de metal alternativo New Years Day. Já ao vivo, Scabbia executou suas partes.
“Veneficium” e uma versão caracteristicamente melódica e operística do clássico new wave “Enjoy the Silence”, do Depeche Mode e presente no “Karmacode”, seguiram recebidas com aqueles que assistiam indo à loucura. O show foi concluído com “New Dawn”, “Swamped” e “Nothing Stands in Our Way”.
Mesmo com o calor, incendiaram ainda mais o público com seu show, destacando bem seu material mais novo. Exatamente por isso, alguns fãs podem não ter gostado do set, por ter focado na era mais metalcore da banda, tendo ignorado por completo músicas como “Closer”, de “Karmacode” (2006) e clássico do Guitar Hero, e “Spellbound”, do “Shallow Life” (2009). Não obstante, entregaram uma performance que misturou perfeitamente melodia e peso, emulando perfeitamente sua sonoridade em estúdio.
Setlist: Blood, Tears, Dust; Reckless; Trip the Darkness; Layers of Time; Heaven’s a Lie; Apocalypse; Our Truth; Sword of Anger; My Demons; Now or Never; In the Mean Time; Veneficium; Enjoy the Silence; Never Dawn; Swamped; e Nothing Stands in Our Way.
THE NIGHT FLIGHT ORCHESTRA (Sun Stage)
Por Daniel Dutra
Sabe aquela história de segundo time? Tipo o carioca botafoguense, flamenguista, tricolor ou vascaíno que também simpatiza com o América? Ou o paulista corintiano, palmeirense, santista ou são-paulino que vibra também com a Portuguesa? Pois bem, não importa a banda que mais queria ver, porque se você assistiu ao show do The Night Flight Orchestra, o seu coração foi imediatamente preenchido com a melhor apresentação do Summer Breeze Brasil 2024.
Ok, você pode dizer que a banda X, Y ou Z foi a hors-concours – como o Mercyful Fate, provavelmente o grupo mais aguardado de todo o festival –, e tudo bem, afinal, foi absolutamente incrível e lindo o que fizeram no Sun Stage o time formado por Björn “Speed” Strid (vocal, Soilwork), Rasmus Ehrnborn (guitarra), Sebastian Forslund (guitarra e percussão), Mats Rydström (baixo, em substituição a Sharlee D’Angelo, que está em turnê com o Arch Enemy), John Lönnmyr (teclados), Jonas Källsbäck (bateria) e as backing vocals Anna Brygård e Åsa Lundman.
O Night Flight Orchestra transformou o local numa pista de dança, o que Strid havia antecipado ao contar que, lá fora, acontece até mesmo de pessoas com camisa do Behemoth embarcarem na festa – e nos trenzinhos que foram formados no fim do show. Para quem é fã desde o início, com o disco de estreia, “Internal Affairs” (2012), e vibrou com a, digamos, popularização do NFO a partir de “Amber Galactic” (2017), terceiro álbum, aquela horinha de música foi tanto uma bênção quanto uma alegria. Caso deste que vos escreve, que ainda não lembra da última vez que havia se divertido tanto num show.
O espetáculo proporcionado pela banda começou com “Midnight Flyer”, que serviu mesmo de aquecimento. Você via pessoas cantando e outras já não resistindo ao AOR recheado de groove do NFO. Sacolejar o corpo, então, virou regra com a dupla que veio a seguir, “Sometimes the World Ain’t Enough” e “Divinyls”, e dançar foi completamente natural ao som das maravilhosas “Burn for Me” e “Gemini”.
Um dos vocalistas mais versáteis do metal contemporâneo, Strid dava aula com um presença de palco que instigava a plateia a acompanhá-lo, e nem mesmo a ‘balada’ “Something Mysterious”, assim anunciada por ele, foi capaz de esfriar os ânimos. Deliciosa, a música ainda serviu de trilha sonora para os casais apaixonados ali presentes.
Se até aqui já estava tudo bom demais, o que veio a seguir conseguiu melhorar ainda mais o alto astral que tomou conta do local. “Satellite” voltou a mexer os pezinhos de todos, abrindo espaço para a obra-prima “Paralyzed”, uma daquelas músicas abençoadas por qualquer força superior ou inferior que venha a existir. Foi para soltar a garganta, cantar o refrão e dançar como se não houvesse amanhã.
E entrar no trenzinho, obviamente, que não saiu mais dos trilhos durante “White Jeans” (empolgante até a medula!) e “Living for the Nighttime”, e atingiu o ápice na espetacular “West Ruth Avenue”, que encerrou um show épico, magistral. E que enfiou fãs de hard rock, heavy metal, power metal, thrash metal e qualquer-coisa-metal num inesquecível embalo de sábado à tarde.
Setlist: Midnight Flyer, Sometimes the World Ain’t Enough, Divinyls, Burn for Me, Gemini, Something Mysterious, Satellite, Paralyzed, White Jeans, Living for the Nighttime e West Ruth Avenue.
NITE STINGER (Waves Stage)
Por Antonio Carlos Monteiro
O Nite Stinger é mais um projeto que conta com a participação do grande baterista Ivan Busic (Dr. Sin). De acordo com Ivan, há uma relação de amizade de mais de quarenta anos entre ele e o vocalista da banda, Jack Fahrer.
Ou seja, além de uma relação musical, a relação pessoal talvez seja um dos trunfos do quinteto, que se mostra muito solto e à vontade em cena. Completa por Bruno Marx (guitarra), Marc DeLuca (guitarra) e Bento Mello (baixo), a banda se dedica a fazer, com muita eficiência, aquele hard rock tipicamente oitentista, movido por riffs grudentos e refrãos bem sacados.
A banda mostrou um repertório enxuto, muitíssimo bem executado e com ótima movimentação cênica. Foi mais uma daquelas apresentações muito agradáveis de se acompanhar e a se lamentar apenas o reduzido público que se dispôs a acompanhar o show.
Setlist: You Want it, Heading Out, Beat it, By Your Side, That Feeling, Let Me in, Gimme Some Good Lovin’, All Nite & Day e Danger Zone (Kenny Loggins cover).
HAMMERFALL (Hot Stage)
Por Daniel Agapito
Voltando ao power metal tradicional, os suecos do Hammerfall corriam ao palco. O hammer pode até ter fallen, mas a energia do público com certeza só aumentava, dado que a primeira música do quinteto foi “Brotherhood”, faixa introdutória de “Hammer of Dawn” (2022). O repertório dos suecos realmente passou por todas as eras da banda logo do começo, com a primeira sendo do álbum mais recente, a segunda – a estranhamente motivadora “Any Means Necessary” – sendo do final dos anos 2000 e a terceira – a clássica “Heeding the Call” – tendo origem no “Legacy of Kings”, segundo disco da banda, de 1998.
As marteladas continuaram com “Hammer of Dawn”, “Blood Bound” e “Renegade”, com a noite já caindo sob a cidade de São Paulo. A presença de palco da banda merece destaque, pois o público estava engajado do começo ao fim, sem parecer cansado, apesar do sol absurdo ter maltratado todos a tarde inteira. Joacim Cans, por sua vez, corria de um lado para o outro do palco loucamente, com os guitarristas Pontus Norgren e Oscar Dronjak sempre perfeitamente sincronizados, seja para andar para a frente do palco, para bater cabeça, ou para levantar a guitarra. Realmente são aparentes todos os 30 anos de experiência da banda.
O técnico de som responsável pela equalização do Hot Stage também aparentava ser bastante experiente, com o Hammerfall apresentando uma sonoridade demasiadamente semelhante aos álbuns de estúdio. Tanto o envolvimento dos fãs, quanto a impecável presença de palco dos integrantes quanto o som muito bom ficaram em evidência na clássica “Hammer High”, sétima faixa a ser tocada. David Wallin (baterista) não precisou nem terminar o icônico tribal do começo da música para um mar de punhos ir ao ar. Cans até tentou começar a cantar, mas a cantoria do público era ensurdecedora. Constatar que este foi um dos destaques da noite seria redundância.
“One Against the World” e “Hector’s Hymn” foram as próximas a serem trocadas. O que aconteceu depois foi uma real demonstração do bom e do melhor que a banda tem a oferecer. Um ‘greatest hits’ ao vivo. “Last Man Standing”, “Let the Hammer Fall” e “(We Make) Sweden Rock”. O sol já tinha dado trégua completamente, mas os devotos fãs da banda ainda não, continuavam animados, cantando tudo, batendo palma, batendo cabeça. Os outros integrantes da banda até tentavam fazer backing vocals para Cans, mas o público cantava mais alto.
O mesmo chegou a admitir que estava impressionado com a quantidade de mulheres no público, algo que não se vê na Europa. Adotando as palavras do vocalista, na Europa é um monte de homens com uma mulher ou outra no fundo da casa, já aqui no Brasil, parece ser mais ou menos uma divisão 50/50. Antes do “Let the Hammer Fall”, para interagir com os espectadores, perguntou o que deveria ser dito após ele falar hammer. Dada a resposta morna de quem estava lá, Cans perguntou qual banda estavam assistindo, virando ao telão para apontar o nome da banda.
Quando viu que o logotipo da banda não se encontrava no telão, riu e disse ‘bom, estão vendo o Hammerfall’, remetendo à situação Sebastian Bach/Black Stone Cherry. Os coros continuaram em “Let the Hammer” e “Sweden Rock”. Realçando a profundidade da discografia dos suecos, tocaram também “Hail to the King”, single lançado dois dias antes da apresentação, junto com o anúncio de seu novo álbum, e tocada ao vivo pela primeira vez no mesmo dia. Independente da recência, foi cantada igual, com o refrão ‘manowaresco’ ‘honor (hail to the king), glory (Valor we bring), honor (hail to the king), valor is everything’ sendo cantado com força.
A clássica “Hearts on Fire” foi escolhida para fechar a noite, incendiando não só corações, mas também o público, agora devidamente preparado para os shows da Epica e do Within Temptation. Desse jeito, o power metal tradicional, o metal espadinha (martelinho, nesse caso) se retirava do palco, dando espaço para o sinfônico das duas bandas já citadas. Já tendo anoitecido, o Hammerfall fechou de maneira animada a tarde que havia recebido nomes como Nervosa, Forbidden, Gamma Ray, Angra e Lacuna Coil apenas nos palcos principais.
Setlist: Brotherhood, Any Means Necessary, Heeding the Call, Hammer of Dawn, Blood Bound, Renegade, Hammer High, One Against the World, Hectors Hymn, Last Man Standing, Let the Hammer Fall, (We Make) Sweden Rock, Hail to the King e Hearts on Fire.
EMINENCE (Waves Stage)
Por Marcelo Gomes
Do underground de Belo Horizonte, os mineiros do Eminence vêm ganhando espaço na cena metal e desembarcaram no Wave Stage do Summer Breeze Brasil para fazer o que melhor sabem, ou seja, barulho de muita qualidade.
O quarteto iniciou com “Burn it Again”, “Written in Dust” e “The God of All Mistakes”. Logo se percebe o groove com muito peso e vocais extremos dando a sensação de estarmos diante de um apocalipse. Outros destaques foram “Numbers”, “Unfold” e “Day 7”, que fechou a apresentação fazendo o público sentir o peso da banda que faz um som moderno e muito bem tocado.
EPICA (Ice Stage)
Por Marcelo Gomes
A apresentação do Epica foi, sem dúvidas uma das mais concorridas do festival. Sair da apresentação do Hammerfall no Hot Stage e chegar no Ice Stage para o show do Epica não foi das tarefas mais simples. Paciência e persistência foram necessárias para se alcançar esse objetivo. Detalhe que era um palco do lado do outro, só para o leitor ter a dimensão de como foi difícil.
Para seus fãs, a vocalista Simone Simons atingiu status de diva, e esses não mediriam esforços para chegar perto de sua musa. A apresentação começou com “Abyss of Time-Countdown to Singularity”, e de cara chama a atenção o contraste entre a voz angelical de Simone e os guturais de Mark. Antes de anunciar “The Essence of Silence”, a vocalista fez questão de dizer que ama o Brasil e que estão ali para celebrar a vida através da música. Movimentos coreografados, um telão gigante e muita pirotecnia levaram os fãs à loucura, beiravam a histeria.
A presença cativante de Simone envolvia o público, que parecia hipnotizado enquanto a banda fazia um trabalho primoroso. O setlist foi passeando pela carreira, músicas como “Sensorium”, “Unleashed”, “Reverence” e “The Skeleton Key” fizeram a alegria dos fãs mais exigentes. Um dos destaques da apresentação foi a participação especial da vocalista do Lacuna Coil, Cristina Scabbia, em “Storm the Sorrow”. É o tipo coisa que somente um festival desses pode proporcionar, um verdadeiro presente para os fãs.
Com o jogo ganho, a banda ainda tocou “Unchain Utopia”, “Cry for the Moon”, “Beyond the Matrix” e fechou com “Consign to Oblivion”. Faixas que não poderiam faltar no repertório do Epica e que terminaram com a energia lá em cima. Com uma produção digna de banda grande, o Epica fez seu maior show no Brasil e provou sua excelência numa performance irretocável, com destaque para Simone Simons, que cativou todos com seu talento e carisma.
DARK TRANQUILLITY (Sun Stage)
Infelizmente, não foi possível fazer a cobertura deste show.
JEFF SCOTT SOTO (Waves Stage)
Por Luiz Tosi
A sobreposição de horários com o headliner da noite, Within Temptation, não impediu que uma multidão se dirigisse ao Waves Stage, o menor dos palcos do festival, para ver Jeff Scott Soto, uma verdadeira lenda entre os brasileiros. Ele prometeu e entregou um show histórico com um setlist emocionante. Apelidado de ‘Swedish Set’, o repertório, exclusivo para o Summer Breeze Brazil, reuniu clássicos das bandas suecas por onde passou: Yngwie Malmsteen, Talisman e W.E.T., prometendo ser uma experiência única.
Seus fiéis escudeiros do Spektra — BJ (guitarras, teclado e voz), Leo Mancini (guitarra), Henrique Canale (baixo) e Edu Cominato (bateria) — novamente entregaram uma performance impecável. A abertura com “Now Your Ships Are Burned” (Malmsteen) foi tão emocionante que, mesmo com problemas técnicos que exigiram um recomeço, não perdeu seu brilho, emendando-se perfeitamente com “Comin’ Home” (Talisman).
O show teve medleys repletos de faixas inéditas, raras e obscuras, alternando entre versões (quase) completas e editadas, marcando a noite com uma atmosfera especial. As surpresas incluíram Pontus Norgren (Hammerfall e ex-Talisman), numa versão acústica de “Just Between Us”, e Magnus Henriksson (Eclipse), que se juntou a Jeff para um medley de clássicos do W.E.T.
Jeff aproveitou a ocasião para destacar o significado especial do dia 27 de abril em sua relação com o Brasil, data de seu primeiro show no país em 2002, e o momento em que descobriu uma grande paixão: a caipiroska! O encerramento foi com um supercombo do Talisman, incluindo “Break Your Chains”, “Day By Day”, “Give Me a Sign”, uma versão elétrica de “Just Between Us” e os covers “Frozen” (Madonna) e “Crazy” (Seal), finalizando com “I’ll Be Waiting” e o retorno de Norgren.
Esse show já entrou para a história do Summer Breeze Brasil, marcando um daqueles momentos que muitos, daqui há anos, lembrarão com um sorriso, dizendo ‘eu estava lá!’.
Setlist: Now Your Ships Are Burned, Comin’ Home, If U Would Only Be My Friend, The Call of the Wild, Time After Time, Caught in the Middle, Broken Wings, Blissful Garden, Brothers in Arms, Comes Down Like Rain, Just Between Us, I Am a Viking/I’ll See the Light Tonight, Big Boys Don’t Cry/Watch the Fire/Learn to Live Again/One Love e Break Your Chains/Day By Day/Give Me a Sign/Colour My XTC/Dangerous/Just Between Us/Mysterious (This Time It’s Serious)/Frozen/Crazy/I’ll Be Waiting.
WITHIN TEMPTATION (Hot Stage)
Por Antonio Carlos Monteiro
Escalado como headliner no que começou a ser chamado de ‘dia das mulheres’ do Summer Breeze (Lacuna Coil e Epica se apresentaram na mesma data), o Within Temptation entrou em cena sabendo de sua responsabilidade e disposto a cumpri-la. Conseguiu com méritos. Ruud Jolie e Stefan Helleblad (guitarras), Jeroen van Veen (baixo), Mike Coolen (bateria) e Martijn Spierenburg (teclado) formam um time entrosadíssimo e altamente competente, que consegue entregar músicas do mais alto nível e, no caso dos guitarristas, estabelecer ótima comunicação com a plateia. Mas não tem jeito: a estrela da companhia tem nome e sobrenome: Sharon den Adel (vocal).
É até difícil definir por onde se começa a elogiar a moça. Vocal irrepreensível, sorriso sincero permanentemente instalado no rosto e movimentação incessante, Sharon encarna o pacote completo do que deve ser e fazer uma frontwoman quando em cena. Além disso, a banda trouxe uma produção de palco bastante interessante pela disposição dos músicos em cena – a bateria, por exemplo, ficava num dos lados do palco e não no centro, como é habitual –, pelo telão que acompanhava com imagens cada uma das músicas e por efeitos como canhões de fumaça e lança-chamas.
Com um som impecável e com Sharon improvisando uma bandeira do Brasil com o logotipo do festival a título de blusa, a banda começou com uma trinca vinda de álbuns diferentes: “The Reckoning” (de “Resist”, de 2019), “Faster” (“The Unforgiving”, 2011) e a faixa-título de seu último disco, “Bleed Out” (2023). Na sequência, “Paradise (What About Us?)”, que conta com a participação de Tarja Turunen, foi executada com a voz da ex-Nightwish no playback e sua imagem no telão – o mesmo recurso aconteceu com Keith Caputo em “What Have You Done”.
Lá pelas tantas, alguém arremessou uma bandeira do movimento LGBTQIA+ no palco e Sharon prontamente colocou-a no pedestal de seu microfone. Ela ainda entraria em cena agitando uma bandeira da Ucrânia – a banda já se posicionou claramente contra o ataque russo ao país e enfrentou muitas críticas por isso. Sharon mostrou outra faceta de sua personalidade quando percebeu alguém passando mal no meio do povo. Alertou os socorristas para o que acontecia e não retomou o show enquanto a pessoa não foi atendida, o que lhe valeu aplausos efusivos.
A apresentação encerrou com “Mother Earth” e a banda tirando aquela famosa foto com o público no fundo – e mostrando uma plateia cansada mas em êxtase pelo grande show que havia acabado de assistir.
Setlist: The Reckoning, Faster, Bleed Out, Paradise (What About Us?), Angels, Raise Your Banner, Wireless, Entertain You, Stand My Ground, Supernova, In the Middle of the Night, All I Need, Our Solemn Hour, Don’t Pray for Me, The Cross, Mad World, What Have You Done, Never-Ending Story e Mother Earth.
IN EXTREMO (Sun Stage)
Por Marcelo Gomes
Quem porventura escolheu assistir ao show do In Extremo, que ocorreu simultaneamente aos shows do Epica e Within Temption, teve uma experiência incrível. Os alemães que misturam heavy metal com folk e música medieval entregaram uma das apresentações mais animadas do festival. Liderados por Michael Rhein, vocalista e multi-instrumentista da banda, estrearam com o pé direito no Brasil fazendo todos dançarem num verdadeiro clima de festa.
No telão do palco, a bandeira do Brasil com o logo da banda demonstrava o total apreço pelo país. Com quase 40 anos de carreira, certamente conseguiu angariar muitos fãs por aqui, e aquele ditado popular, antes tarde do que nunca, deu sentido a toda essa espera.