RON KEEL – SÃO PAULO (SP)

Redacao RC
23/05/2024

17 de maio de 2024 – House Of Legends

Por Marcelo Gomes

Fotos: Roberto Sant’Anna

O vocalista americano Ron Keel desembarcou pela primeira vez no Brasil para dois shows exclusivos em São Paulo. O primeiro aconteceu no dia 16 de maio de forma solo e acústica no Malta Rock Bar. No dia seguinte, o show foi elétrico e com banda, no House of Legends, que fica localizado no bairro da Vila Madalena, conhecido reduto boêmio da cidade de São Paulo. Nesse, ocorrido no dia 17, Ron Keel contou com abertura do Nite Stinger e com o retorno do Cavalo Vapor aos palcos.

A primeira atração da noite foi o Nite Stinger. A banda paulistana, atualmente formada por Jack Fahrer (vocal), Bruno Marx (guitarra), Bento Mello (baixo), Rafael Rosa (bateria) e Ivan Landgraf (guitarra), subiu ao palco pontualmente às 21h30, desfilando um hard rock inspirado nos anos 80 e letras inspiradas na vida noturna. Com um set baseado em seu primeiro disco, o homônimo Nite Stinger (2021), a banda conseguiu desempenhar uma performance consistente e que agradou os presentes.

No repertório, músicas como You Want It, You Got It, Heading Out, Saturday Night, That Feeling, entre outras, estiveram presentes, além de uma nova, chamada Let it Shake, que será lançada no próximo trabalho do grupo, conseguiram aquecer o público que àquela altura já enchia a casa. A saideira foi com um poderoso cover de Danger Danger (Kenny Loggins), que é uma das músicas mais conhecidas do filme “Top Gun” – e todo mundo adorou!

A apresentação do Cavalo Vapor gerou muita expectativa no público. Afinal de contas, tratava-se do retorno da banda aos palcos. Para essa ocasião especial, o guitarrista Luiz Sacoman, um dos fundadores da banda, recrutou um time de primeira: Rane Oliveira (vocal), JB Neto (baixo), Delfin Rolán (teclado) e Biel Astolfi (bateria). O show começa com Fera Sem Faro, seguida por Ainda Pode Ser e Sem Escalas, todas faixas do aclamado e único álbum, Greatest Little Hits (1997).

O que deu para notar é que a banda soa muito bem e Rane se encaixou de forma tal que conseguiu imprimir sua personalidade. Apesar de poucos dias de ensaio e com o vocalista recém-chegado como foi mencionado por Sacoman no show, os caras mandaram muito bem. Tocaram ainda O Rato e o Elefante Branco, Epicentro e Não Tente Fazer Isso em Casa. Como sobrou tempo, repetiram, à pedidos, a faixa Epicentro.

Esta volta à ativa mostrou que o Cavalo Vapor ainda tem muita lenha para queimar. Como dito, Rane se encaixou bem na sua função, o que não das mais fáceis tarefas visto que o posto um dia pertenceu ao grande Nando Fernandes, que atualmente está no Sinistra. Agora, resta torcermos para que essa seja uma volta definitiva do Cavalo Vapor.

Finalmente, era chegada a hora da atração principal da noite. Luzes apagadas para a introdução, rola um country americano para iniciar a apresentação do “Metal Cowboy”, como o próprio Ron Keel tem tatuado nos braços. O show começa de maneira completamente inusitada, com Ron trajando um visual de cowboy do inferno cantando sozinho a balada, Calm Before the Storm. O público acompanha atentamente a faixa que parecia desconhecida para a maioria. No entanto, com a introdução de Road Ready e a chegada da banda formada por Dave Cothern (guitarrista da Ron Keel Band), Bruno Luiz (guitarra), Bento Mello (baixo) e Gabriel Haddad (bateria), o clima mudou da água para o vinho e a dramaticidade da primeira música perdeu lugar para o hard rock na qual todos queriam ouvir.

A partir daí, foi só festa. Ron desfilou clássicos de sua carreira, acertando em cheio na escolha do setlist. Sua voz continua em excelente forma e isso pode ser comprovado em Hard On the Other Side (Heart On the Inside) e principalmente em United Nations, de sua ex-banda, Keel, que teve uma excelente recepção. Ron Keel aproveitou a ocasião para agradecer a presença de todos e elogiar a banda que o acompanhava. De fato e sem exagero, a banda estava fazendo um trabalho excepcional. Com o violão em mãos, Ron fez uma versão espetacular de Because the Night, famoso cover que o Keel fez da cantora Patti Smith. Já na emenda com Somebody’s Waiting, os fãs mostraram que estavam com a letra na ponta da língua.

Na sequência, um momento engraçado aconteceu enquanto Gabriel fazia uma levada de bateria e o pessoal começou a cantar Do You Love Me do KISS, no entanto era a introdução de Here Today Gone Tomorrow da Ron Keel Band. Apesar das semelhanças iniciais, as músicas são bem distintas. Desfeito o equívoco do público, rolou uma boa participação, especialmente no refrão. A seguir, o cantor convida a todos para uma viagem aos anos 80. É, ele não estava mentindo, fez um medley matador de Steeler e Keel com as faixas Backseat Driver, Rock n’ Roll Animal e Don’t Say You Love Me que deixou muito marmanjo emocionado.

Um show old school precisa de um solo de guitarra e foi isso que Dave Cothern fez quando seus companheiros deixaram o palco. Ele iniciou com o riff de Believer (Ozzy Osbourne), apontando o dedo para cima em respeito ao saudoso guitarrista Randy Rhoads. Logo, Bruno Luiz se juntou a ele para um dueto e ao final mandaram a introdução de Victim of Changes do Judas Priest. Nessa hora a galera foi ao delírio. Com o resto da banda de volta, o quinteto tocou Rock n’ Roll Outlaw do Rose Tattoo, e emendou com outro clássico, I Said the Wrong Thing to the Right Girl.

Novamente com seu violão em mãos, Ron proporciona um dos grandes momentos da noite ao tocar Tears of Fire, transformando o House of Legends em um grande karaokê. Os fãs pareciam não acreditar que seria possível ouvir essas músicas que marcaram suas vidas. O cantor não economizou: era uma atrás da outra, e agora era a vez de No Way Out, do Steeler, banda que revelou o famoso guitarrista sueco Yngwie Malmsteen, que, por sinal, foi muito bem representado por Cothern.

O show ia se aproximando do fim, mas antes a banda executou a clássica The Right to Rock. Essa música trouxe toda a nostalgia dos anos 80 combinada com uma performance eletrizante, foi memorável. Os cinco se despedem, porém o barulhento público paulistano cantava “Olê, olê, olê, olê… Ron Keel, Ron Keel”, querendo mais. Então a sinistra introdução E5150 do Black Sabbath começou a ecoar pelos PAs, dando sinais do que estava por vir. Sim, era The Mob Rules, que não deixou pedra sobre pedra. O momento a seguir foi para acalmar os ânimos. A emocionante Serenade ganhou espaço no set e foi muito celebrada por todos. Para fechar com chave de ouro, Cold Day in Hell veio para coroar essa grande noite de hard rock. Ron estava tão feliz com a calorosa recepção que desceu do palco para celebrar e cantar em meio aos fãs. Até ele, um músico experiente com mais de 40 anos de carreira, se surpreendeu com o carinho dos fãs brasileiros. Ron Keel mostrou todo seu carisma e talento no House of Legends. Sua estreia em terras tupiniquins não poderia ter sido melhor. Ron Keel esbanjou talento e carisma e fez valer a pena tantos esses anos de espera. Definitivamente, foi uma noite mágica de hard rock.