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CONJURER: CONJURANDO UMA NOVA INGLATERRA EXTREMA

Por Valtemir Amler

A conexão dos ingleses com o metal extremo não pode ser questionada. Afinal, foi de lá que surgiram nomes seminais como Napalm Death e Carcass, que nos anos 80 deram uma nova profundidade e sentido para o termo grindcore. No death metal, eles apresentaram para o mundo a beligerância mórbida do Bolt Thrower e as maldições antigas do Benediction, e atos como Winterfylleth, Wodensthrone e Forefather vêm fazendo o bom nome do país crescer também entre os fãs de black metal. Nascido em 2014 em Warwickshire, o Conjurer é o ‘herdeiro natural’ de toda essa história, e para muitos, a grande nova aposta de todo o cenário britânico do metal obscuro. Razões para tanta empolgação não faltam, e se iniciam na proposta pluralista do quarteto: é muito difícil apontar o dedo com clareza para o gênero musical tocado, uma mistura sólida e homogênea de sludge, doom, algo de death e até o velho deathrock britânico entram no caldeirão. Depois de lançar o debut Mire (2018) pelo finado selo britânico Holy Roar, a banda ganhou experiência nos palcos tocando nos principais festivais britânicos, e então partiu para a sua primeira turnê internacional, dividindo os palcos com outras novas forças do cenário, Conan e Will Haven. Dan Nightingale (guitarra e voz), Jan Krause (bateria), Conor Marshall (baixo) e Brady Deeprose (guitarra e voz) fecharam um acordo com a poderosa gravadora alemã Nuclear Blast, e por lá lançaram a sua mais nova oferta de estúdio, Páthos (2022). Para adentrar mais profundamente nas florestas místicas do centro da Inglaterra, conversamos com Conor Marshall.

Falando sobre as origens, o Conjurer deu seus primeiros passos em 2014, certo?

Conor Marshall: Mais ou menos, se estiver recordando direito da história, a banda teve seus primeiros movimentos no final de 2013, passou todo o ano de 2014 ensaiando e só em 2015 aconteceu o primeiro show. Não foi um início tão estrondoso como vemos de algumas bandas, mas as coisas foram acontecendo.

E vocês estavam em uma cidade chamada Rugby.

Conor: Isso. Não é uma cidade muito famosa, é apenas uma cidadezinha horrível no centro da Inglaterra (risos gerais). É realmente uma cidade muito pequena, mas foi onde crescemos e passamos a juventude inteira, então, foi onde o Conjurer nasceu. Com o tempo e a vida, alguns de nós acabaram se mudando para outros lugares, mas sempre citaremos Rugby como a cidade onde o Conjurer nasceu.

E como era a cena metálica na sua ‘cidadezinha horrível no centro da Inglaterra’?

Conor: Ah, era a cena típica de uma cidadezinha horrível qualquer (risos gerais). Na verdade, acho que nesse sentido fomos muito afortunados. O que aconteceu foi que a época em que estávamos começando a ter essas ideias sobre criar uma banda, aprender a tocar um instrumento e tal, coincidiu com a época em que o metal contava com a cena realmente aquecida em Rugby, então havia outras bandas nascendo ao redor da cidade, existia uma casa de shows dedicada às bandas e aos fãs de metal, havia muitos fãs desse tipo de música, espaços adequados para ensaios, e, como havia isso tudo, então havia também uma ótima oferta de shows para ir. Infelizmente, isso só durou por cerca de cinco anos, se tanto. As coisas simplesmente começaram a desmoronar repentinamente, o clube onde as bandas tocavam fechou, então, já não havia mais estrutura para suportar uma cena metálica local. Então, infelizmente preciso dizer que hoje não existe mais uma cena local em Rugby. É a nossa cidade natal, é onde essa banda nasceu, mas acredite se quiser, nunca fizemos um show lá desde que a banda se tornou algo real. E isso dá uma noção real do que significa dizer que não há uma cena metálica local, mesmo uma banda com turnês internacionais e um contrato internacional não pode tocar em Rugby.

Bom, imagino que tenham feito lá seus primeiros shows, e desde a profissionalização da banda, nada mais, correto?

Conor: Sim, é isso que quero dizer. Quando ainda estávamos aprendendo a tocar e nossos shows eram mais como um ensaio, conseguimos tocar algumas vezes em Rugby, mas quando nos profissionalizamos, já não havia mais onde tocar. Por um lado, foi algo bom, pois isso nos forçou a ficar desconfortáveis, tivemos que tirar a bunda do sofá e correr para as outras cidades para encontrar algum palco que nos quisesse. No fim das contas, tocamos por toda Inglaterra, incluindo vários festivais de renome internacional, tocamos pela Europa, e construímos um nome forte como atração ao vivo, e dentre todos os lugares, o único em que nunca tivemos a chance de divulgar os nossos discos com um show ao vivo é a cidade onde crescemos. Isso é um pouco triste, mas tento sempre ver o lado bom das coisas.

Realmente, isso é meio aborrecido. Mas, a cidade fazia parte do circuito britânico, as bandas em turnê costumavam passar por aí?

Conor: Dificilmente passavam, era mais uma coisa local mesmo. E essa é uma das razões que acredito serem responsáveis pelo fechamento da nossa única casa de shows, eles realmente nunca se esforçaram para conseguir boas atrações internacionais, as bandas tocavam nas cidades ao redor e nunca passavam por aqui. Pelo que me lembro, os maiores shows que tivemos aqui foram Aborted, Skindred e algumas outras, mas a verdade é que não foi muito além disso. Os produtores tiveram que se esforçar para pagar essas bandas, então preferiram desistir. A verdade é que, se eles tivessem insistido e continuado atraindo bandas que estão despontando, o cenário teria crescido, e todo mundo teria saído ganhando, mas é claro que isso nunca aconteceu, preferiram deixar tudo ruir.

Bom, como vocês se viraram para assistir suas bandas favoritas? Como conseguiram agendar seus shows?

Conor: A única forma era recorrer às cidades vizinhas. A única vantagem de Rugby é estar no centro, então você tem um monte de opções nas redondezas. Claro que preferiríamos a comodidade de estar na nossa cidade, mas como isso foi tirado de nós, íamos até Birmingham, que é uma cidade próxima, e por lá todas as bandas costumam passar. Foi essa também a estratégia para conseguir tocar ao vivo, frequentando os shows nas cidades da redondeza, fizemos contatos, e esses contatos foram fundamentais. É sempre difícil começar com uma nova banda de metal, mas tendo alguns contatos você acaba conseguindo encaixar seu nome em alguns eventos, e aos poucos vai mostrando quem é e conquistando algum espaço. Não é fácil, quem entra nesse universo achando que vai ter moleza, está fadado ao fracasso, pois você tem que trabalhar muito até conseguir algum respaldo.

Bem, acho que podemos dizer que vocês conseguiram um belo respaldo quando lançaram seu primeiro álbum, Mire (2018). Pelo que me lembro, estavam tão ocupados que não tinham tempo sequer para trabalhar no que viria a ser seu segundo álbum.

Conor: É verdade. Aquela foi uma sensação (N.R: ele fica em silêncio por alguns segundos, pensativo). É engraçado, pois cresci lendo entrevistas das bandas que eu amava, e lembro que várias vezes, quando indagados pelo sucesso do primeiro álbum, eles respondiam que nem nos seus melhores sonhos haviam imaginado aquilo. Bem, agora entendo exatamente o que eles queriam dizer. Veja pelo nosso lado, éramos um grupo de caras fodidos de uma cidadezinha esquecida, tocando uma música muito estranha e de quem ninguém nunca havia ouvido falar. Não éramos a nova sensação indie de Londres, éramos uma porra de uma banda sludge que vinha de uma cidade que nem tinha uma cena local! Quer dizer, se eu dissesse que esperávamos Mire seria bem recebido, estaria mentindo, e exagerando na mentira (risos gerais). A verdade é que, quando lançamos Mire, já estávamos pensando no próximo passo. Trabalhamos muito nas composições daquele primeiro álbum, pois queríamos que ele fosse forte o suficiente para as pessoas quererem seguir nos acompanhando, então a ideia era lançar o disco, trabalhar como loucos para promover nosso nome ao vivo, e dois anos depois, lançar um segundo álbum. Mas, do jeito que as coisas aconteceram, foi maluquice (risos). Lançamos o disco, e as ofertas de shows não paravam de chegar, de todos os lugares. Estávamos o tempo todo na estrada, e nunca fomos capazes de compor em turnê, são processos muito diversos, não funciona para nós, então, dois anos se passaram e ainda não tínhamos sequer começado a pensar no próximo álbum. Se não tivesse acontecido a pandemia, provavelmente nunca teríamos parado para compor Páthos (2022).

Acho que a experiência ao vivo e o sossego para compor foram bem proveitosos para vocês. Afinal, soam como uma banda muito evoluída em Páthos.

Conor: Muito obrigado, de verdade. É, acho que tentamos encontrar o lado positivo de cada coisa, ou melhor, aproveitar o que havia de bom em cada momento que estávamos vivendo. Quando você está o tempo todo na estrada, bem, primeiramente acho que você precisa ser um completo imbecil para não se tornar um músico melhor (risos gerais). Quer dizer, você está tocando o tempo todo, está fazendo aquilo repetidamente, então você vai melhorando sem nem perceber, e quando melhor fica, mais pode explorar como compositor, pois sabe que vai conseguir tocar o que está imaginando. Além disso, tocando em eventos com bandas diferentes vai expandindo os seus sentidos, coisas novas vão sendo agregadas a sua música. Mas não se engane, sempre seremos aquela banda sludge da nossa cidadezinha horrível do centro da Inglaterra (risos). 

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