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THERE’S A LIGHT: UM FAROL BRILHANTE EM UM OCEANO MUITO VASTO

Por Valtemir Amler

Ainda não se passou tanto tempo assim, afinal, foi há pouco mais de dez anos que o guitarrista David Christmann se uniu ao tecladista Jonas Obermüller para aquilo que, inicialmente, deveria ser apenas um novo projeto de estúdio. Porém, desde o momento da concepção da ideia original os resultados foram tão positivos que os fundadores começaram a pensar de maneira mais ampla, e os passos começaram a se tornar mais sérios na medida em que o tempo passava. Sem nunca acelerar o passo e tomando o tempo necessário para refletir em cada decisão, o projeto começou a ganhar ares de banda, e pouco mais tarde o baixista e vocalista Andreas Richau se uniu a Christman e Obermüller, firmando assim a formação responsável por Khartoum (2012), EP que marcou a estreia de mais essa ótima banda germânica de post rock. A questão é que eles ainda não estavam satisfeitos. Um EP era pouco diante das aventuras musicais que fervilhavam na mente dos músicos, e eles sabiam que um trio era pouco diante do desafio que visavam encarar. Novamente sem apressar as coisas eles recrutaram dois novos integrantes. Com Markus Dold (guitarra) e Jan Lüftner (bateria) se unindo ao time, eles tinham o gás necessário para dar o próximo passo, o lançamento do primeiro álbum completo de estúdio. Como de costume, eles tomaram o tempo necessário, e foi precisa a passagem de quatro anos para vermos o lançamento de A Long Lost Silence, em julho de 2018. Criativo e chamativo, o álbum colocou os alemães no radar da Napalm Records, que tratou de assinar com o quinteto para o lançamento de f̶o̶r̶ ̶w̶h̶a̶t̶ ̶m̶a̶y̶ ̶I ̶h̶o̶pe̶? for what must we hope (2021), primeiro álbum da parceria dos alemães com a gravadora austríaca.

Você ainda não era parte da There’s A Light quando ela surgiu em 2011, mas imagino que tenha acompanhado de perto aqueles primeiros passos da banda.

Markus Dold: Ah sim, pode apostar nisso (risos). A verdade é que eu imaginava que eles iam acabar me convidando, então fiquei atento (risos). Bem, no início eram apenas Jonas Obermüller (piano, sintetizadores e percussão) e David Christmann (guitarra), e é até uma história meio triste. Bem, ambos eram muito amigos, e existia um terceiro amigo que era como um irmão para eles. Quando ele morreu, Jonas e David decidiram começar a fazer música juntos, pois era um elo em comum que os unia, a paixão pela música. Como compartilhavam as mesmas visões e aspirações, eles começaram a se reunir para fazer um som, nada organizado ou profissional, eram apenas dois amigos tentando se distrair de uma forma saudável e artística, mas logo as coisas começaram a caminhar para outro patamar. De início, eles pensaram em algo mais simples, então a There’s A Light nasceu originalmente como um projeto de estúdio. A primeira música em que trabalharam foi We Choose To Go To The Moon, e naquele momento acho que eles sentiam que as coisas estavam se conectando bem e que precisavam dar o próximo passo.

Imagino que tenha sido nesse momento que eles começaram a trazer mais pessoas para o grupo.

Markus: Sim, e o primeiro que eles convidaram foi Andy (N.R: Andreas Richau), que assumiu o baixo e os vocais no projeto, e então foram para o estúdio em Trossingen, cidade em que Jonas estudava na época, e produziram o seu primeiro EP, Khartoum.

Que foi o cartão de visitas para tudo que viriam a fazer em seguida.

Markus: Exatamente, a intenção era apenas mostrar para as pessoas que aquele então projeto existia, e meio que dar as bases de que tipo de música eles tocavam. Para garantir que o EP chegasse ao maior número possível de pessoas, eles resolveram agir conforme as regras atuais, e colocaram tudo na internet. Acontece que Khartoum acabou sendo muito mais bem-sucedido do que eles esperavam, não foi algo que tocou em todas as rádios da Alemanha, mas em 2013 a música We Choose To Go To The Moon já tinha alcançado algo como 30 ou 35 mil execuções.

Bem, estou deduzindo que esse bom resultado tenha motivado os fundadores a deixar o ‘projeto’ para trás e transformar a There’s A Light em uma banda de verdade.

Markus: Isso. Para que isso acontecesse, eu e Jan Lüftner (bateria) fomos chamados, e o primeiro passo foi deixar claro que éramos uma banda de verdade e que tínhamos a intenção de tocar ao vivo. No início, por conta de restrições de agenda, funcionávamos como um quarteto nos shows, éramos eu Andy, Jan e David. Lembro que conseguimos agendar uma turnê pela China, o que foi totalmente inesperado, pois éramos uma banda iniciante, e foi incrível, uma experiência ótima em todos os sentidos, e então Jonas se juntou a nós nos palcos e a banda estava completa também na estrada.

Parece complicado, mas é fácil entender o processo quando lembramos que a ideia inicial era ser um projeto de estúdio.

Markus: Sim, isso mesmo, a ideia era ser um projeto de estúdio justamente porque Jonas não poderia deixar os estudos para sair por aí tocando shows, então ele precisou estar de fora durante algum tempo. Mas, quando fomos para a China ele pode estar conosco, e seus teclados e sintetizadores deram um novo nível para o nosso show, toda banda sempre funcionará melhor quando está completa. Qualquer trabalho funciona melhor quando o time não está desfalcado, e com a arte também é assim. Resumindo, antes era um projeto de estúdio, eles se reuniam, escreviam e tocavam algumas músicas para se divertir, mas então eu e Jan chegamos e acabou a diversão, viramos uma banda de trabalhadores (risos gerais).

Essa foi a sua primeira banda?

Markus: Não, antes eu já tocava, mas em uma banda cover, em que eu tocava saxofone.

Como?

Markus: É, você ouviu certo, eu disse saxofone (risos gerais). Sei que não é a resposta que você esperava de um guitarrista, mas está correto (risos).

Ah, certo, então imagino que seja você tocando na faixa Refugium, do novo álbum.

Markus: Sim, aquele sou eu matando a saudade do saxofone (risos). Mas, bem, eu tocava nessa banda cover no tempo da escola, mas a There’s A Light foi a minha primeira banda profissional. A coisa toda com o saxofone é que não é algo muito comum, então eu achava que conseguiria um posto numa banda mais facilmente como saxofonista do que como guitarrista, já que praticamente todo garoto que curte rock toca ao menos um pouco de guitarra. Estranho o suficiente, minha primeira banda de verdade surgiu para o guitarrista, e apenas encaixo uma parte de saxofone para soar descolado (risos gerais).

Mas, preciso ser sincero, Refugium soa muito legal, e é por conta do saxofone. Não é a coisa mais comum no mundo do rock, e nem tão batido quando enfiar toda uma orquestra de apoio em um álbum.

Markus: Sei o que quer dizer, e concordo com isso. A ideia era justamente ser algo bem único, que mudasse a vibração do álbum. Se simplesmente colocarmos saxofone em todas as partes, a coisa simplesmente perde o brilho e cai no lugar comum.

Certo, f̶o̶r̶ ̶w̶h̶a̶t̶ ̶m̶a̶y̶ ̶I ̶h̶o̶pe̶? for what must we hope é o primeiro trabalho de vocês com a Napalm, e veio após aquele 2020 caótico que todos vivemos. Quando e como gravaram o álbum?

Markus: Pois é, 2020 foi estranho, e como muitas bandas, tivemos que atrasar os nossos planos por conta de tudo que aconteceu. O nosso plano original era de lançar esse disco em janeiro de 2021, tínhamos as canções escritas e prontas, mas simplesmente não tínhamos como gravar, e se gravássemos, o lançamento teria que ser adiado de qualquer jeito, então, as coisas são como são, e temos que nos adaptar a elas. Bem, queríamos lançar em janeiro de 2021, e na verdade, naquele mês ainda nem estávamos gravando. Acho que começamos em fevereiro, o disco foi gravado em 2021. Gravamos tudo muito rápido, em três ou quatro dias, o disco todo, todos os instrumentos. Por causa da pandemia e do ‘lockdown’, não podíamos nos trancar em um estúdio e gravar como gostaríamos, então nos dividimos em três ‘home studios’ diferentes e gravamos simultaneamente. Todas as sessões foram no Google Cloud. Confesso que foi meio estressante trabalhar desse jeito, mas também foi interessante, pois era uma experiência nova para todos nós. É todo um novo método de gerenciar o tempo, é muito diferente do usual. Mas, a parte mais bizarra é que você é profissional o suficiente para encontrar a maneira ideal de lidar com as dificuldades do momento, você encontra maneiras de fazer aquilo funcionar e acho que musicalmente conseguimos um resultado realmente muito bom, mas, de um ponto de vista muito pessoal, não vou lembrar desse como um dos melhores processos criativos que passei ao longo da minha vida. Isso porque somos todos amigos, e foi muito legal quando gravamos o primeiro disco juntos, pois podíamos sair e beber, conversávamos e nos divertíamos juntos, e dessa vez nada disso foi possível, então, ficou um sabor agridoce. Mas, prefiro guardar as boas lembranças, e elas se resumem na qualidade das canções que escrevemos, eu acho.

Bom, apenas para finalizar, o nome da banda tem algo a ver com a música There Is A Light That Never Goes Out, do The Smiths?

Markus: Ah, essa música é linda! Mas, infelizmente eu não saberia dizer ao certo, acho que apenas Jonas ou David poderiam confirmar ou descartar essa possibilidade. A forma como vejo, é que o nome da banda se conecta com o que temos na capa deste novo álbum. Como um farol, que brilha distante e oferece uma luz segura em meio a escuridão.

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