A ideia de uma banda de metal estourar carrega consigo algumas conotações históricas. Artistas do gênero alcançaram os maiores patamares possíveis na história da indústria musical, mas muitas vezes ao custo de sacrificar certos elementos sonoros para apelar a um público mais abrangente. Essa prática é referida pejorativamente como se vender — e JOHANNA SADONIS, vocalista do LUCIFER, não vê um problema com isso.
A cantora deu uma entrevista a Daniel Dutra para a edição 280 da revista Roadie Crew (clique aqui para comprar) e um dos assuntos principais foi o quinto álbum do grupo, Lucifer V. O trabalho tem uma abordagem mais radiofônica, que SADONIS afirmou ter sido intencional. A artista rechaçou possíveis acusações de a banda ter se vendido.
Ela disse:
“Quando se vem do metal underground, como eu, é comum ouvir de outras pessoas a frase ‘ela se vendeu’. Honestamente, não estou nem aí, porque se a qualidade da música é boa e ela faz sucesso por ser boa, então não há nada de errado nisso.”
Além disso, JOHANNA fez questão de apontar como o LUCIFER está longe de estourar. O grupo recebeu certo grau de reconhecimento na Suécia, sendo indicado duas vezes ao Grammis (versão local do Grammy) de Melhor Álbum Hard Rock/Metal. Entretanto, a banda ainda é, aos olhos da cantora, underground.
Ela explicou:
“Ainda que você ache que ela pode tocar nas rádios, nós ainda não chegamos lá, ainda somos uma banda underground (risos). A situação do LUCIFER é muito estranha, porque no underground nós somos ‘muito mainstream’, e no mainstream nós somos ‘muito underground’ (risos), então estamos nessa ‘zona morta’, que é como lugar nenhum. Mas eu estou acostumada a ser estranha, porque fui assim a vida toda. Antes, eu era estranha por ser metaleira; agora, sou estranha no metal (risos).”
LUCIFER fora do mainstream
JOHANNA SADONIS foi mais a fundo sobre a razão pela qual não vê o LUCIFER com um potencial radiofônico tão grande. Quando o jornalista perguntou sobre uma possível influência do HEART em algumas faixas de Lucifer V, ela usou essa sonoridade de exemplo para ilustrar como o grupo soa retrô demais para o mainstream e precisaria fazer certos sacrifícios caso quisessem estourar.
“Ah, totalmente, porque eu amo o HEART dos anos 1970! Era uma banda muito legal! Ainda assim, não soamos modernos o suficiente para tocar nas rádios, por exemplo. Não damos às pessoas o que o mainstream manda dar. Se quiséssemos ser modernos, teríamos que contratar algum produtor chique para que ele polisse o nosso som, mas não queremos isso e não gostamos disso. Mantemo-nos fiéis a nós mesmos, fazendo o que fazemos, e assim veremos no que vai dar.”
A cantora também argumentou que o próprio nome da banda afeta as chances do crossover. Muita gente reagiria mal ao grupo não só por isso, como também pelo visual mais sombrio. E JOHANNA não quer abdicar de tais elementos, pois são parte fundamental de sua visão criativa.
Ela afirmou:
“Ainda assim, acredito que parte disso se dá ao nome da banda e ao visual, que é muito sombrio, mas eu me recuso a abandonar isso, porque é o que realmente amo. Não sei se isso quer dizer que a banda nunca ‘chegará lá’ ou se significa que levará muito tempo para que o rock mainstream perceba que o LUCIFER tem essa capacidade. É claro que eu quero que o grupo seja bem-sucedido, mas não quero sacrificar o que eu gosto, do ponto de vista da produção e do visual.”
Isso significa que a cantora está feliz se o grupo for underground para sempre, pois quer ser sincera com o público. Integridade é importante, de acordo com JOHANNA SADONIS.
Ela atestou:
“Se isso significa ser condenada a ser underground, então que seja, porque as pessoas percebem quando algo é sincero. Eu sou fã de metal, percebo quando uma banda está de sacanagem e quando uma banda faz a coisa pra valer, e acredito que a integridade acaba vencendo a corrida. Mas é um processo muito lento.”
Shows no Brasil e repercussão no exterior
Entretanto, essa abordagem parece que está dando frutos. A vocalista apontou a resposta dos fãs durante a turnê de Lucifer V – que terá em outubro shows no Rio de Janeiro (05/10, ingressos aqui), São Paulo (06/10, ingressos aqui) e Belo Horizonte (08/10, ingressos aqui) – como um sinal encorajador.
JOHANNA falou:
“Nunca fomos uma banda popular, mas pelos nossos fãs, e eu vi isso agora, já que tocamos recentemente nos Estados Unidos, percebi que crescemos porque, mesmo com uma pandemia entre nossos discos, havia muita gente nova e muitas pessoas cantando as músicas junto conosco.”
Essa recepção chocou SADONIS, que não esperava tanto fervor do público por uma banda vinda da Suécia. A cantora afirmou até que se sentiu validada artisticamente.
“Isso me chocou um pouco, porque eu estou sozinha no interior da Suécia quando faço um disco, não penso que haverá outra pessoa ‘do outro lado da linha’ (risos). É somente na turnê, quando subo no palco e vejo todos aqueles rostos que sorriem como se me conhecessem, que cantam aquelas bobagens que eu escrevi enquanto estava sozinha no meu quarto.”
Emocionada, JOHANNA continuou a falar sobre a recepção do público a Lucifer V. Segundo a cantora, a resposta do público após três anos sem lançar álbuns inéditos provou a estratégia deles de construir seu sucesso aos poucos.
Ela explicou:
“Às vezes, isso me faz chorar, porque me comove perceber que toquei outras pessoas e que elas cantam junto comigo. Então, quando me dei conta disso, percebi que temos fãs fieis e leais, que têm aparecido num crescimento lento, porém contínuo. Creio que isso é melhor do que ser uma banda que se torna popular de repente e não se sustenta.”
A entrevista completa de JOHANNA SADONIS (LUCIFER) pode ser lida na edição #280 da ROADIE CREW. Para adquirir a revista e recebê-la em casa, acesse nossa loja oficial ou entre em contato pelo fone (11) 96380-2917 (WhatsApp).
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