Por Daniel Agapito
Fotos: Rafael Andrade
Quando pensamos no chamado Big 4 do thrash, geralmente o primeiro que vem à cabeça é o americano, com Metallica, Megadeth, Slayer e Anthrax. Porém, grande parte dessas bandas tiveram diversos altos e baixos ao longo da carreira, com muitos discos de qualidade duvidosa. Como vários fãs devem saber, existe outro Big 4 do thrash, só que em outro continente, o Teutonic Big 4, da Alemanha. Ao invés de Metallica, Megadeth, Slayer e Anthrax, na Alemanha temos Kreator, Sodom, Destruction e Tankard. Ano passado, em 2023, Kreator e Sodom passaram por terras tupiniquins e agora era a vez de o açougueiro maluco fazer a festa.
Marcado para o dia 6 de outubro, domingo de eleição, a cidade já estava um caos desde a manhã. Os horários do show já haviam sofrido algumas alterações, inicialmente por conta da gravação do clipe que ocorreria durante a performance, e depois no próprio domingo com o cancelamento da aparição do Sexthrash, lendária banda mineira de thrash, substituída pela Válvera de última hora. O Destruction não era o único grupo internacional de nome que passaria pela capital paulista naquele dia, pois o Lucifer, grupo sueco de heavy/doom/rock, acompanhado de diversas atrações nacionais, estaria no Fabrique Club, casa de shows a mais ou menos 20 minutos do Carioca Club.
Os trabalhos foram iniciados às 19h30, com uma apresentação enérgica da Válvera. Iniciaram sua performance com uma dobradinha de The Skies Are Falling e Bringer of Evil, de Back to Hell (2017) e Cycle of Disaster (2020), respectivamente. Interagiram brevemente com o público, contatando que era “muito foda estar aqui comemorando 40 anos de Destruction”. Já após The Damn Colony, perguntaram onde estavam os moshs, pois seriam o aquecimento para o Destruction.
Reckoning Has Begun, faixa que integrará seu próximo álbum, foi recebida com uma roda sendo formada na pista. Fecharam com Nothing Left to Burn e Demons of War, recebida com alguns “ei, ei, ei” do público engajado. No geral, foi um show curto, de mais ou menos 30 minutos, porém, para uma banda que foi chamada no mesmo dia, mostravam estar incrivelmente preparados e esbanjaram profissionalismo e experiência. Podem não ser tão icônicos quanto o Sexthrash, mas se continuarem assim estão no caminho certo.
Os headliners do Destruction atrasaram um pouco, subindo no palco por volta das 20h35. Na hora que assumiram o palco do Carioca, dava para ver que a energia era outra, a animação era absurda. Começaram com os dois pés, os braços, o joelho, a cabeça, tudo na porta, simplesmente tocando Curse the Gods de primeira. Para dar um ataque do coração em todas as tiazinhas em um raio de 10 quilômetros, o refrão icônico, “curse the gods / too many people have died / curse the gods / that fools have died for a lie” (amaldiçoem os deuses / muitas pessoas morreram / amaldiçoem os deuses / trouxas morreram por mentiras) foi ecoado a plenos pulmões. Seguiram o embalo com Invincible Force, cujo título descrevia bem como a banda estava na hora, e Nailed to the Cross, que foi replicada pelo público no mesmo volume da banda.
Depois de Nailed, Schmier, o vocalista, falou que estavam celebrando 40 anos de Destruction, mas que a próxima música tinha ainda mais história, já foi o primeiro riff que a banda compôs – ele se referia a Mad Butcher. Foi um ponto alto do show! A galera enlouqueceu e cantou tudo junto, até o solo. A roda que estava no meio da pista cresceu muito e ficou mais vertiginosa, com o público indo à loucura. Depois, o vocal falou um pouco do público, disse que eram incríveis e que o Brasil sempre tem um dos melhores públicos. Mencionou também que estavam gravando um clipe e que parte do show na capital paulista estaria incluído nele. Tocaram Life Without Sense, recebida pelos famosos “ei, ei, ei” desde o começo.
O clipe voltou a ser tópico de conversa depois de Release from Agony, quando anunciaram novamente que iriam filmar parte da performance, dizendo que o produto final sai no mês que vem. Conquistando ainda mais quem estava lá, disseram que São Paulo está no coração da banda desde a primeira vez que vieram. Para a música do clipe escolheram Armageddonizer, uma faixa enérgica, destaque de Day of Reckoning, de 2011. Não precisa nem falar que os fãs foram à loucura na hora que começou, a roda duplicou de tamanho e muitos chifres foram ao ar.
Continuaram com Total Desaster, que teve uma energia melhor ainda. Tivemos direito a um solo de guitarra, que começou com só Damir Eskić, guitarrista solo, e o argentino Martín Fúria entrando depois. O solo foi recebido surpreendentemente bem, mas não tanto quanto Eternal Ban, que veio em seguida.
Tocaram também uma nova, do próximo disco, No Kings, No Masters, incrivelmente pertinente em tempos de eleição. O vocalista, com dois dedos do meio levantados, falou que era uma mensagem para os políticos do mundo. O público (que devia estar revoltado com a eleição, que já tinha segundo turno confirmado àquela altura) curtiu muito, cantando alto o refrão, apesar de ter sido lançada há menos de 6 meses.
Falaram que iam voltar no tempo, para Infernal Overkill, primeiro álbum deles, lá de 1985, recheado de músicas clássicas. Executaram dois temas seguidos, Antichrist e Death Trap, que seria a “última”, de acordo com a banda. Por isso, pediram para que a roda fosse expandida e, dito e feito, o que já estava grande aumentou mais ainda, tomando boa parte da pista.
Para surpresa de todos, voltaram ao palco – acredita? Brevemente, quebraram a sequência de Infernal Overkill com Diabolical, faixa-título do disco mais novo, de 2022. Voltaram a Infernal com a instrumental Thrash Attack. Conhecendo bem seu público, Schmier tocou um riff no baixo no mesmo ritmo que os fãs gritavam o nome da banda: “Des-truc-tion, Des-truc-tion!!”
Ele mesmo falou que estava faltando uma música, uma bem conhecida, quando seu discurso foi inesperadamente interrompido por um fã que subiu no palco. Na sequência, fez uma breve digressão e lembrou do chamado “Big Hands”, fã paulistano que aparentemente tinha as maiores mãos da cidade e que infelizmente morreu há uns anos. Com isso, decidiu dedicar Bestial Invasion ao fatídico homem das mãos grandes. Você não precisava ter mãos acima da média para ter curtido o momento, foi uma energia ímpar. Essa não seria a única faixa essencial deles que faltava, pois fecharam o show com uma que disseram ser o mantra não só deles mesmo, como também dos fãs, Thrash Till Death. Infelizmente, não puderam se jogar até a morte, só até pouco depois das 22h –show de domingo geralmente acaba mais cedo mesmo.
No geral, deram aula. Foi um show direto, sem frescura, sem massagem, com pouca interação, mas um apreço palpável pelos fãs, e muita, mas muita música boa. Em relação à celebração de 40 anos, fizeram com êxito. Faltaram alguns discos? Alguns foram ignorados, sim. Tocaram todas as mais famosas? Até certo ponto, sim. Das clássicas, foram todas, mas algumas modernas foram esquecidas.
O bom do Destruction é que isso não é problema de jeito nenhum. Se tem uma coisa que ficou clara durante esta passagem por terras tupiniquins é que adoram o Brasil – já fizeram 58 shows por aqui, de acordo com o setlist.fm. Se não tocaram alguma “maior”, devem tocar da próxima vez que vierem. Já já podem ter CPF e cartão do SUS. Se vierem novamente em época de eleição, não duvido que algum deles se candidate para vereador, seguindo os passos de outros músicos. Já podem marcar a próxima vinda.
Confira alguns vídeos de como foi:
Válvera – setlist:
The Skies Are Falling
Bringer of Evil
The Damn Colony
Reckoning Has Begun
Nothing Left to Burn
Demons of War
Destruction – setlist:
Curse the Gods
Invincible Force
Nailed to the Cross
Mad Butcher
Life Without Sense
Release From Agony
Armageddonizer
Total Desaster
Solo de guitarra
Eternal Ban
No Kings, No Masters
Antichrist
Death Trap
Bis
Diabolical
Thrash Attack
Bestial Invasion
Thrash ‘Til Death