Por Daniel Agapito
Fotos: Iris Alves (Live Nation Brasil)
Se você chegar em qualquer pessoa na rua e perguntar do Linkin Park, a chance de conhecer a banda é muito grande. O impacto que os 6 meninos de Agoura Hills, Califórnia tiveram em uma geração inteira é incomensurável. É até difícil tentar começar a introduzir o Linkin Park, já que é uma banda que introduziu milhares e milhares de pessoas ao mundo do rock, e, goste ou não, foi um dos maiores fenômenos musicais do nosso tempo. Todo mundo conhece pelo menos alguém, seja um amigo, colega de trabalho, sobrinho, filho, primo, que começou a escutar música “pesada” por conta de Hybrid Theory ou Meteora. Não tem como “passar pano” para a importância dos caras. Venderam mais de 100 milhões de álbuns e 30 milhões de singles mundialmente, tudo isso sem contar o novo álbum, From Zero, que seria lançado no dia do show em São Paulo.
Chester Bennington é outro que não precisa de apresentação. Ele era a alma da banda. E foi exatamente por isso que 20 de julho de 2017, data de sua morte, ficou marcado como um dia incompreensívelmente triste. Um dos fatores que faziam com que os fãs se identificassem tanto com as letras de músicas como Somewhere I Belong e A Place for My Head era a própria vida de Chester, que sempre foi extremamente conturbada. Dos 7 aos 13 anos, o vocalista foi abusado sexualmente por um colega mais velho, escolhendo não pedir ajuda para não ser acusado de gay ou mentiroso. Aos 11 anos, seus pais se divorciaram, com seu pai, um detetive policial que investigava casos de abuso sexual em crianças, ficando com a custódia de Chester. No colégio, ele sofria bullying por conta de sua aparência diferente. Tudo isso levou-o a se tornar usuário de drogas pesadas como LSD, cocaína e metanfetamina. A música, a arte e a poesia eram seus poucos escapes de uma realidade dura, então tudo que ele produzia tinha uma visceralidade e uma carga emocional imensa.
Pouco mais de dois meses após a morte de Chris Cornell, um de seus grandes amigos, o corpo de Bennington foi encontrado em sua casa, localizada na cidade costeira de Palos Verdes, na Califórnia. As autoridades determinaram que ele havia se suicidado por enforcamento, mas não deixou nenhum bilhete, nenhuma mensagem. A banda acabou cancelando a turnê de seu 7º álbum, One More Light, que havia passado pelo Brasil em maio daquele ano, no Maximus Festival. Não precisa nem dizer que o mundo da música ficou abalado, pois haviam acabado de perder a voz de uma geração inteira, um dos músicos mais emblemáticos do século. No dia 27 de outubro do mesmo ano, os membros remanescentes fizeram um show especial no Hollywood Bowl, chamado de “Linkin Park and Friends: Celebrate Life in Honor of Chester Bennington”, com membros de bandas como Korn, System of a Down, Avenged Sevenfold e muitos outros se juntando ao então quinteto.
E agora?
Aos olhos dos fãs, aquele seria o fim da banda. Até o dia 24 de agosto deste ano, quando foi lançada uma contagem regressiva de 100 horas em suas redes sociais, sem informações adicionais. Isto veio depois de Jay Gordon, vocalista do Orgy, apontar em entrevista que a banda voltaria com uma vocalista mulher, rumor reforçado após uma apuração da Billboard. Quatro dias se passaram e outra contagem foi iniciada. No dia 5 de setembro, a volta às atividades foi anunciada, com Emily Armstrong (ex-Dead Sara) nos vocais e Colin Brittain na bateria, substituindo Rob Bourdon, que decidiu não participar da reunião por opção própria. Brad Delson, guitarrista que havia participado de tudo da banda, declarou que não participaria dos shows desta nova turnê, com Alex Felder o substituindo. Também foi anunciada uma primeira leva de shows, passando por Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido, Coreia do Sul e Colômbia.
Passando por fortes críticas até de Jaime Bennington, filho de Chester, e polêmicas envolvendo Armstrong, que já foi associada ao controverso Danny Masterson e à “igreja” da Cientologia, Mike Shinoda, que foi sempre o braço-direito de Bennington, postou uma imagem do Cristo Redentor em seus stories, o que para os fãs indicava uma vinda ao Brasil. Dois dias depois, um vídeo enigmático com a frase “nós vamos” (em português mesmo) foi postado na página do Instagram da banda. Uma apresentação no Allianz Parque seria confirmada para 15 de novembro (coincidentemente, data de lançamento de From Zero) nos dias seguintes. Os ingressos esgotaram em apenas 20 minutos, o que fez com que fosse confirmada uma data extra no mesmo local para o dia seguinte, que aconteceu só aqui no Brasil.
Desde então, alguns singles vindos do álbum foram lançados, ocasionando reações mistas. Pouco mais de uma semana antes da data do show, a banda anunciou uma ‘pop up store’ na Galeria do Rock e audições prévias do disco, que aconteceriam dos dias 11 a 14. No dia 14, Brittain e o DJ Joe Hahn surpreenderam os fãs ao aparecer na loja da banda na galeria, anunciando no mesmo dia uma turnê extensa, com 49 datas, para o ano que vem, inclusive passando novamente por terras tupiniquins em novembro, desta vez visitando Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília e Porto Alegre.
This is what you asked for!
Voltando para o show daquele feriado – que também seria transmitido ao vivo pelo Multishow –, a ansiedade dos fãs estava lá no alto. A fila já começou a ser formada na noite anterior, tamanha a espera. Lá fora, o show deles era um épico dividido em 4 atos, mas como From Zero seria lançado no mesmo dia do show, era de se esperar que fizessem algo especial para os fãs da nação verde-amarela. Chegando no estádio, as ruas, altamente policiadas por conta dos shows, estavam cheias. Para onde você olhasse, ia ver gente andando em diração ao “Linkin Parque”. O primeiro show, da Ego Kill Talent, estava previsto para começar às 19h20, mas bem antes disso o estádio estava empanturrado de gente, como era de se esperar, pois os ingressos estavam esgotados.
Ego Kill Talent: mostrando a força da música alternativa nacional
Para quem ainda não conhece, a Ego Kill Talent é uma banda paulista de metal alternativo formada em 2014 e atualmente liderada pela carismaticíssima Emmily Barreto, nativa de Natal. Eles vêm ganhando o coração dos fãs paulistas há um tempo já, sendo escolhidos como banda de abertura para shows de bandas gigantes, como Evanescence, e fazendo parte do cast do Knotfest deste ano, ao lado de nomes como o próprio Slipknot, Mudvayne, Till Lindemann e Babymetal.
Como sempre, fizeram um show enérgico, cativante e de certa forma impressionante. Emmily é uma força em cima do palco. Ela não só tem uma voz inegavelmente poderosa, como também tem um carisma que dá até gosto de ver, soltando umas pérolas durante o show, como logo depois da segunda música, quando perguntou aos fãs: “Todo mundo feliz?” Antes mesmo de qualquer um ter a chance de responder, deu um grito e disse: “Todo mundo feliz pra caralho!” No final do show disse: “Gostaríamos de agradecer ao Linkin Park que escolheu a gente, a gente quase morre do coração… Agora vamos porque amanhã tem mais, vamos estar todos aí curtindo com vocês, lançados de emoção.”
Seu repertório passou por praticamente todas as fases da banda, contemplando ambos os álbuns – o autointitulado de 2017 e The Dance Between Extremes (2021) – e também dando destaque especial para o EP Call Us By Her Name, lançado em novembro do ano passado. Dentre as músicas do EP, foram tocadas a dançante Need no One to Dance, a própria Call Us By Her Name e When it Comes, descrita pela vocalista como “o momento mais bonito do show”, quando ela pediu para o público ligar as luzes do celular “para mostrar pra eles (Linkin Park) que o Brasil é o melhor lugar do mundo.” Ainda incluíram no show uma música inédita, Just for the Likes.
Tocaram apenas 40 minutos, mas foram 40 minutos com o clima lá no alto e com a banda toda visivelmente feliz, sorrindo o tempo todo.
Ato 1 – “São Paulo, it’s good to be back!”
Com um pouco de atraso, às 20h35, as luzes do estádio se apagaram e um laser azul desceu no meio do palco. Conforme os integrantes da banda iam surgindo em cena, algumas imagens abstratas iam passando na tela, com uma introdução com elementos de Castle of Glass soando pelo PA. Cada nova silhueta que aparecia no palco arrancava gritos do público.
Somewhere I Belong foi a faixa que iniciou os serviços, e meu Deus, a energia que tomou conta do Allianz foi indescritível. Uma das maiores incógnitas desta nova turnê era a voz da Emily ao vivo, mas, na real, nem deu para ouvir a voz dela: o público cantou a música inteira a plenos pulmões – chegava a ser ensurdecedor, mas foi lindo. O Linkin Park merece. O sentimento era de felicidade, não só do público, mas também da banda; Shinoda subiu no palco com um sorriso de orelha a orelha estampado no rosto. Ouvir um clássico daqueles na voz de um estádio esgotado é arrepiante, não tem como falar outra coisa.
Para dar sequência ao show, Shinoda pediu ajuda ao público: “Brasil, se vocês não se importarem, nos ajudem nessa próxima, queremos ouvir sua voz.” Não anunciaram o nome da música nem nada, mas só pelos icônicos primeiros segundos, o primeiro verso já vinha à cabeça de todos: “crawling in my skin, these wounds they will not heal”. Armstrong mal tinha chance de mostrar suas habilidades ao vivo, porque, convenhamos, não tinha nem porquê. Havia dezenas de milhares de pessoas soltando a voz em uníssono, com toda sua força. Lying From You, clássico de Meteora (2003), seguiu nesta mesma linha. Shinoda disse que queria ver o público sair do chão e foi recebido por abalos sísmicos.
Mandando a real com os fãs sobre o novo disco, ele mesmo disse: “Hoje é um dia muito especial para a banda, que está sendo trabalhado há anos. Gostaríamos de agradecer a cada um de vocês por estarem aqui, dividindo esse momento conosco e por nos receberem de volta aqui.” Quando ele perguntou se queriam ouvir uma música do disco novo que ainda não haviam tocado ao vivo, a resposta foi positiva e unânime, levando a vocalista a dizer: “Acho que agora é a hora.” Lançada dois dias antes sem anúncio prévio, Two Faced é um retorno à essência dos discos antigos, uma homenagem aos dias de Meteora. Não tentam exatamente imitar a magia que rolava na época, mas pegam a essência dos discos e trazem para 2024, modernizam. Apesar de a música ser bem nova, o público fiel cantou o refrão todo. A essa altura, já dava para perceber que mal iria dar para ouvir a Emily, ponto.
Ao som de gritos do nome da banda, tocaram New Divide, que quem já assistiu “Transformers” certamente conhece. Ela também foi a primeira que Emily praticamente assumiu os vocais sozinha, com Shinoda ajudando apenas em alguns versos. Com essa performance emocionante, os fãs gritavam seu nome: “É-mi-ly! É-mi-ly! É-mi-ly!” Mesclando o passado com o presente, deram sequência com uma música que apesar de ter sido lançada apenas esse ano, já é a vigésima-primeira mais escutada do grupo no Spotify e icônica o bastante a ponto de ser ecoada pelo bairro inteiro da Água Branca. Foi a faixa que reintroduziu a banda às massas, The Emptiness Machine. Foi exatamente aí que Armstrong realmente se consagrou e mostrou a que veio.
Ato 2 – Uma avalanche de nostalgia
Tudo se apagou novamente e mais uma introdução soou, trazendo consigo mais samples de Castle of Glass e o começo do segundo ato, que destacaria um pouco mais os trabalhos da banda entre o final dos anos 2000 e começo dos 2010.
Começaram com The Catalyst, que é diferente, não necessariamente mais devagar, mas certamente menos enérgica. Mesmo vindo de um álbum controverso do grupo, A Thousand Sons, marcado por uma troca de som, que dividiu o público na época, ela é linda, especialmente ao vivo e com a galera cantando. O momento foi tão belo que até Joe Hahn (DJ) puxou o celular e começou a filmar, com Shinoda falando “isso foi lindo, cara, uau.” Dezenas de milhares de pessoas levantavam suas mãos e passavam de um lado para o outro, com as lágrimas já começando a escorrer. Burn it Down, resumo da época de colégio de muitos, seguiu na mesma linha, tendo até sua melodia da introdução cantada. Como alguém que começou a curtir a banda um pouco depois, ver o Allianz tomado por tons quentes e ter a oportunidade de ouvir um hino desses ao vivo foi emocionante demais.
A melancolia “comeu solta” com Waiting for the End, que aborda a dor que vem com as grandes mudanças na vida, aquele frio na barriga que surge na hora de não olhar para trás e seguir em frente. A arquibancada estava iluminada com várias luzinhas rosas e brancas. Até brincaria com a “limpeza de janela coletiva”, mas foi tão lindo que nem dá para brincar. Impressionado com a reação do público até então, Mike soltou um “muito obrigado”. Castle of Glass foi uma das poucas que a galera não cantou com força, mas foi uma oportunidade de realmente absorver o que é essa formação ao vivo. Emily pode não ter todo o drive de Chester nem todo o punch da voz dele, mas para as músicas mais melódicas, tipo a própria Castle, a voz dela cabe perfeitamente.
Depois de um solo breve do Joe Hahn (com uns lasers que faziam parecer um show do Alok) e levou o público a gritar “DJ Hahn, DJ Hahn”, foi a hora de Shinoda brilhar. Com todo mundo fora do palco menos ele e o baterista (Colin Brittain) na guitarra e posteriormente na bateria, ele assumiu tanto os teclados quanto o microfone pra fazer um medley de When They Come for Me e Remember the Name, ambas mais ancoradas no rap. Depois, teve uma mistura de gritos do nome de Mike e um “oooo” seguindo a melodia. “Tenho uma confissão a fazer. Eu e o Dave sempre quisemos compor algo bom o bastante para virar canto de torcida de futebol e isso agora foi incrível”, disse Mike, claramente realizado.
Apresentou a próxima música da seguinte maneira: “Ao mesmo tempo que quero dizer algo sobre essa música que vem aí, também quero só passar direto para a Emily”. Lembra quando falei que ela não tinha o punch de Chester? Errei feio. Casualty em estúdio já é uma pedrada. Ao vivo, é um caminhão desenfreado. É algo visceral, uma energia crua, pura. O riff do começo parece que foi roubado dos acervos do Fear Factory e o meio podia entrar em qualquer disco de punk que ninguém nem estranha. É curta e direta, um corte rápido.
Depois, foi a hora que o filho chora e a mãe chora junto: One Step Closer. Foi só o riff icônico começar que o estádio entrou em erupção. Emily nem tentou cantar o primeiro verso, o público já estava cantando até o riff (que infelizmente não saiu direito na transmissão oficial, que fez o show parecer bem mais morno do que realmente estava). Na hora do breakdown (“shut up when I’m talking to you”) tinha tanta gente pulando ao mesmo tempo que o chão tremia – deve ter dado para sentir tremor até no Chile.
Ato 3: Quem nem lacrimejou já morreu por dentro
Desta vez, trocaram a introdução, tudo ficou vermelho e estalos de vinil tocando surgiram nos alto-falantes. Diferente das outras transições, que mal passaram de um minutos, essa durou quase cinco.
Voltaram com Lost, que já é incrivelmente triste, aí pra realmente triplicar as vendas de antidepressivo, foi um dueto com apenas Mike no piano e a Emily na voz. Para quem não sabe, Lost foi a primeira “música nova” do Linkin Park desde a morte de Chester. De acordo com Mike, os membros estavam fuçando nos HDs das sessões de gravação dos discos antigos, procurando material para lançar, e foi aí que encontraram Lost, uma faixa completa, mixada e masterizada, “perdida” nas sessões de Meteora. Ele mesmo disse que, pela intensidade, tiveram que escolher entre ela e Numb, que acabou virando um dos maiores hits.
Como se o público já não tivesse se desidratado de tanto chorar, emendaram diretamente Breaking the Habit, que veio do mesmo disco e foi cantada com força pelos fãs, que já estavam alucinados, vidrados na performance. Logo depois, veio aquela introdução no piano que arranca lágrimas até dos mais fortes: What I’ve Done. No segundo em que a primeira nota tocou, alguns fãs mais perto do palco levantaram bonecos do Optimus Prime, líder dos Transformers, fazendo Shinoda cair na risada. Foi um daqueles momentos que era para chorar, mas chorar com um sorriso no rosto.
Com essas últimas três, conseguiram até competir com o Katatonia, que estava fazendo um show no Carioca Club no quesito “rock triste”.
Ato 4: Uma sequência (ainda maior) de hits
Saíram do palco mais uma vez, voltando com uma sequência de faixas que passou por tdas as fases da banda, começando melancólica e terminando com o astral lá no alto.
As primeiras foram um “tá chorando? Chora mais um pouco, vai.” Leave Out All the Rest e My December, em versão acústica. Depois de Leave Out, Mike agradeceu na língua dos fãs e a galera começou com “Mike, eu te amo!” – quem é Bruno Mars perto desta lenda? My December tem uma história interessante: foi composta inicialmente para um show especial de natal, não sendo vendida nas primeiras edições do Hybrid Theory. É facilmente uma das mais tranquilas da banda. Originalmente, era sobre sentir falta de estar em casa enquanto em turnê, mas, após a morte de Chester, acabou sendo vista com outros olhos. Os fãs já estavam secos de tanto chorar. Depois dela, começaram a gritar o nome da vocalista e eu ouvi uns comentários incríveis: “Que mulher, puta que pariu!”, vindo de um homem do lado de sua esposa. “Ela é uma semideusa” e “Vai acabar com o meu casamento”, vindos de outro homem.
Deixando o clima continuar no choro, mas aquele choro sorrindo, tocaram Over Each Other, do novo disco, com Emily na guitarra. Ela, querendo ou não, tem uma baita capacidade como frontwoman (é só pegar qualquer vídeo dela com a Dead Sara), canta para caramba, tem uma presença de palco animal, é carismática e tem conquistado o coração de alguns fãs desde o segundo que foi anunciada.
Com uma introdução alternativa, um rap de Shinoda, mas ainda instantaneamente reconhecível, veio Numb. Verdadeiramente, não consigo nem tentar começar a descrever o que foi aquele momento. Pense na energia de mais de 40 mil pessoas cantando um dos maiores hinos da música moderna. No começo, Armstrong nem tentou cantar, jogou direto para o público. Não dá nem para criticar essa escolha dela, tenho certeza de que ela não fez isso por falta de capacidade ou “falta de voz”; foi porque, realmente, só dava para ouvir as vozes dos fãs. No final, Mike acabou inserindo umas notas a mais e disse que estava se divertindo muito: “Não tenho culpa se minhas mãos querem fazer algo a mais.” Ele riu e cumprimentou aqueles que estavam assistindo pela TV, reconhecendo que esse seu “erro” havia sido gravado.
Na próxima, falou que queria ouvir todas as vozes do estádio, incentivou aqueles que estavam assistindo a transmissão a cantar e gravar no celular, marcando a banda nas redes.. Aí começaram aquelas notas icônicas da In the End. Normalmente, eu zoaria, falaria que é a música do “velha x galinha ao som de Linkin Park” e inúmeros outros memes, mas nesse caso nem dá, foi um momento de emoção pura, catarse mesmo. Mike pediu pra todo mundo cantar e, dito e feito, todo mundo cantou, todo mundo pulou, o chão realmente tremeu, foi lindo. Não havia nem um verso sequer que não fosse ecoado na íntegra pelo público. No refrão, Shinoda pegou seu microfone pelo pedestal e estendeu-o ao público. Todo fã de Linkin Park tem pelo menos uma memória vívida ao som daquela música. Emily até soltou um “vocês são incríveis”, e com razão.
Não deu nem tempo de processar o que tinha acabado de acontecer, que já começou aquele sintetizadorzinho de Faint, aí tudo foi “pro caralho” mesmo, parecia que o Allianz ia desabar. Pegando o embalo, o membro-fundador começou a pular, e nem ele esperava que o estádio inteiro seguiria, pulando também. Emily novamente brilhou, se ajoelhando na ponta da passarela que haviam montado e dando a vida nos versos antes do penúltimo refrão (“no, hear me out now/You’re gonna listen to me, like it or not”), que, querendo ou não, servem como uma direta aos fãs que se opuseram a ela. Com um solo impressionante de Alex Felder, deixaram o palco, com um ruído soando e todas as telas brancas.
Bis: Fechando com chave de ouro
Depois de uns dois ou três minutos, começou mais uma introdução pelo PA, de novo trazendo partes da Castle of Glass, agora com uma percussão tribal, cinemática e pela última vez.
Mantiveram a energia lá em cima com Papercut, emendada direto. O público até tentou acompanhar o flow de Shinoda no começo, mas como o cara é rápido, meu Deus! Em compensação, o refrão clássico (“it’s like I’m paranoid, lookin’ over my back, it’s like a whirlwind inside of my head”) foi mais um a ser ecoado pelo estádio inteiro. Na hora, um mar de celulares subiu para registrar o momento. O mesmo aconteceu com Lost in the Echo, que é bem menos conhecida, vinda do divisivo Living Things. Independente disso, o público do Linkin Park é muito fiel e cantou tudo, sem exceção. No meio da música, Armstrong foi à passarela e pegou uma bandeira do Brasil que havia sido personalizada com o logotipo da banda e diversas letras, posteriormente envolvendo-a em Mike. Detalhe: já havia sido colocada outra bandeira do Brasil no pedestal do microfone dela.
Shinoda fez um pequeno discurso direcionado aos fãs: “Que tal mais uma música do disco novo? O From Zero foi lançado hoje, nesta manhã. É inacreditável, galera! Tem sido uma jornada louca até aqui, e estamos muito gratos pore poder estar aqui com vocês. Vocês têm sido parte desta jornada, e merecem estar aqui conosco. Essa se chama Heavy is the Crown.” Com a introdução já rolando, a vocalista comentou: “Eu sei que vocês sabem a letra dessa.” Realmente, todos já sabiam a letra. Para quem quiser ficar procurando pelo em ovo para criticar Emily, ela não conseguiu fazer o grito de 17 segundos ao vivo, foram só 11, mas nossa, que falha dela, hein?
Depois de agradecer a presença da galera, Mike falou que ia tocar a última. Ele também pediu para quem nunca tinha ido a um show do LP levantar a mão, e um mar de mãos foi ao alto. Eles foram um fenômeno nos anos 2000, mas muitos dos fãs não tiveram a chance de ver suas performances por aqui. A última da noite foi dedicada exatamente àqueles que estavam lá pela primeira vez. Para fechar, foi escolhida Bleed it Out, com os fãs batendo palmas o tempo inteiro. O clima era realmente de festa. Dave e Mike brincavam na passarela, todos tocavam com um sorriso no rosto; Mike até colocou uma pulseira que os fãs jogaram nele. Joe Hahn desceu com uma câmera e começou a filmar seus colegas – era um final de festa, mas sem aquele clima de fim de festa. A própria Emily terminou o show segurando uma pelúcia de capivara.
O final foi típico de show de grande escala, uma última pirulitagem, fogos vindos do topo do estádio, um abraço coletivo e aquela foto com o público que não podia faltar. O investimento em fogos deve ter sido substancial, pois uma vez que começaram a soltar, não pararam – até o próprio Shinoda ficou maravilhado olhando para cima.
Conclusões finais: que show histórico!
Fale o que quiser, mas agora, com esse retorno, uma outra geração poderá ser exposta ao Linkin Park, repetindo o fenômeno que foi nos anos 2000. Uma das coisas que mais vi foram pais levantando seus filhos pequenos nos ombros. Tenho certeza que a vida daqueles pequenos mudou para sempre. Estavam criando memórias. Uma história que pessoalmente me encantou foi a de Thiago, pai que trouxe seus dois filhos, um de 15 anos e o pequeno Lucas, que não parecia ter mais de 6 anos. Na hora do bis, ele colocou o filho menor nos ombros, e a felicidade dele era palpável: batia palmas, levantava os chifres e até pulava. Até fui falar com o Thiago depois do show, e ele disse que queria levar o filho maior para o último show deles por aqui, em 2017, mas não conseguiu, então assim que o LP anunciou mais uma vinda ao país, sabia o que tinha que fazer.
“Ah, o Linkin Park virou cover agora”. Desculpe o meu palavreado vulgar, mas, foda-se! Esta versão do Linkin Park tem a mesma quantidade de membros originais que Manowar e Metallica, um membro-fundador a mais que Iron Maiden e Judas Priest, e ninguém chama essas bandas de cover. “Ah, mas Chester era vocalista, é diferente.” As pessoas ainda se matavam para ver Van Halen com o Sammy Hagar, Black Sabbath com o Dio. Tá, entendo que Chester era a alma da banda, eu mesmo falei isso no começo do texto, mas se tem uma coisa que esta nova formação não está tentando fazer é ficar remoendo isso, nem imitando ele. Imagina se fizessem que nem o Static-X fazendo e vestissem a Emily de Chester robô? Esta nova formação está na ativa com o intuito justamente de honrar o legado do finado vocalista e seguir em frente, continuando a apresentar o trabalho dele para o mundo.
A sensação de ver (pelo menos parte) do Linkin Park ao vivo segue incrível, apesar dos pesares. Comparado aos primeiros shows nos EUA, a voz de Emily está muito melhor. Tá, a banda teve que alterar algumas das músicas para adaptar ao alcance da nova integrante, mas tudo não teremos. Ela conseguiu passar o show inteiro sem desafinar, sem errar. Ter que estar no posto que já foi dele parece ser uma tarefa hercúlea, quem dirá superá-lo, mas este não é o intuito. Não gosta da nova formação? Não quer ir pro show? Não vá. Simples. O que fizeram no Allianz foi inegavelmente histórico, e entregaram uma performance que saciou um pouco a sede dos fãs por uma banda tão querida, com público tão fiel. Qualquer um que estava lá pode confirmar, foi uma noite que lavou a alma.
O show durou duas horas, mas as memórias de quem presenciou aquilo ao vivo irão durar uma vida. Quem não viu, tem mais 4 chances de vê-los por aqui no ano que vem.
Ego Kill Talent setlist
Reflecting Love
We Move as One
Call Us By Her Name
Need No One to Dance
Never Fading Light
Just fot the Likes
When it Comes
Finding Freedom
Last Ride
Linkin Park setlist
Inception Intro A (com elementos de Castle of Glass) *
Somewhere I Belong
Crawling
Lying from You
Two Faced
New Divide (Moscow como introdução)
The Emptiness Machine
Creation Intro A (com elementos de Castle of Glass) *
The Catalyst
Burn it Down
Waiting for the End
Castle of Glass
Solo (Joe Hahn)
When They Come for Me/Remember the Name
Casualty
One Step Closer
Break/Collapse (transição) *
Lost (encurtada, dueto Emily e Mike)
Breaking the Habit
What I’ve Done
Kintsugi (transição 2) *
Leave Out All the Rest
My December (acústica)
Over Each Other
Numb
In the End
Faint
Bis
Resolution Intro C (com elementos de Castle of Glass)*
Papercut
Lost in the Echo
Heavy is the Crown
Bleed it Out
* pelo sistema de PA
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