Por Luiz Tosi
Fotos: Roberto Sant’Anna
Desde os anos 1990, o Iron Maiden descobriu uma fórmula de sucesso ao alternar turnês tradicionais de promoção de álbuns com turnês comemorativas ou temáticas. Exemplos notáveis incluem “The Ed Hunter Tour” (1999), “Give Me Ed… ‘Til I’m Dead Tour” (2003), “Eddie Rips Up the Tour (The Early Days)” (2004) e as grandiosas “Somewhere Back in Time” (2008) e “Maiden England” (2012), além da recente “The Legacy of the Beast Tour” (2018).
Desta vez, a banda inovou ao combinar os dois formatos na “The Future Past World Tour”, que promove seu mais recente álbum, Senjutsu (2021), enquanto revisita o clássico Somewhere in Time (1986). A passagem da turnê pelo Brasil se resumiu a apenas duas apresentações em São Paulo, ambas no Allianz Parque, em São Paulo, nos dias 6 e 7 de dezembro.
A abertura ficou por conta dos dinamarqueses do Volbeat. Com mais de 20 anos de estrada, a banda liderada pelo vocalista e guitarrista Michael Poulsen já atingiu um patamar respeitável na Europa, sendo headliner em diversos festivais, mas ainda segue bem nichada no Brasil. Com apenas uma passagem pelo país, no Lollapalooza 2018, essa foi uma ótima oportunidade de conferir de perto um dos nomes mais originais de sua geração, fazendo um hard/heavy com influências de rockabilly e melodias bastante criativas e grudentas. Foi uma excelente escolha, aquecendo o público e preparando o terreno para o Iron Maiden.
Chega a hora da atração principal: Iron Maiden. A atmosfera é eletrizante, com um cenário cibernético que transporta o público para uma cidade distópica do futuro, repleta de rampas de luzes em forma de pirâmide e telas adicionais que ampliam a experiência visual. Após a tradicional execução de Doctor Doctor (UFO) no PA, vem End Titles, música de Vangelis e tema do filme “Blade Runner” (1982). A banda inicia com a raridade Caught Somewhere in Time, enlouquecendo o público.
Em seguida, Stranger in a Strange Land, também inédita para os brasileiros, mantém o ritmo alucinante. A precisão da banda é impressionante, fruto de décadas de experiência e dedicação. A interação entre os membros é um espetáculo à parte, com Steve Harris liderando a seção rítmica com seu baixo inconfundível. É impossível não se emocionar quando Bruce recria a icônica cena do clipe desta faixa, jogando o pedestal para o alto e sincronizando suas palmas com a caixa da bateria.
Saltando 35 anos no tempo, a introdução de The Writing on the Wall traz um toque moderno ao set, mostrando que o Iron Maiden continua a evoluir sem perder sua essência. Days of Future Past e The Time Machine trazem momentos de pura magia, levando o público a uma jornada que mistura nostalgia e inovação.
Se, na minha opinião, a banda se equivocou ao abrir a “Legacy of the Beast World Tour” com três faixas de Senjutsu, fazendo o show demorar para decolar, desta vez o set se mostrou muito mais coeso, favorecendo até mesmo as faixas deste álbum, que se destacaram ao vivo e superaram suas versões de estúdio.
Quando The Prisoner começa, a plateia é tomada por uma onda de empolgação. É impossível não se emocionar com essa faixa, ausente dos sets há uma década. A banda continua a entregar uma performance impecável, e a inclusão da épica Death of the Celts é uma surpresa bem-vinda, adicionando complexidade ao show. É uma delícia ver Can I Play with Madness e Heaven Can Wait, dois clássicos esquecidos que nunca falham em levantar o público, com todo mundo cantando junto. O ponto alto da noite é, sem dúvida, Alexander the Great. Tocada ao vivo pela primeira vez nesta turnê, a faixa é recebida literalmente com lágrimas. É um momento histórico para os fãs, e a execução impecável da banda faz jus à expectativa. Um sonho realizado.
Desde a primeira música, fica evidente que o grupo está impecável, tanto individual quanto coletivamente. Steve Harris exibe uma paixão no palco que faria inveja a muitos novatos. Já Bruce Dickinson é indiscutivelmente o maior vocalista de heavy metal da história. Consideravelmente mais jovem que a primeira geração de monstros do metal, Halford, Gillan e Dio, Bruce conseguiu incorporar o melhor dos três, criando seu proprio estilo e se tornando a maior referência para os vocalistas que vieram depois dele. Existe heavy metal antes e depois de Bruce Dickinson. Dave Murray e Adrian Smith, uma das maiores duplas de guitarras da história, demonstram entrosamento e elegância que nem mesmo o espalhafatoso Janick Gers consegue atrapalhar. Adrian Smith, em especial, estava em uma noite iluminada, talvez devido ao destaque dado ao “disco mais Adrian Smith” da banda, Somewhere in Time, ou pelo frescor e amplitude musical de seu projeto recente com Ritchie Kotzen. Adrian deu uma aula de classe, leveza, alma e musicalidade.
A performance de Nicko McBrain na bateria é especialmente notável, considerando sua recuperação de um derrame no início de 2023. Sua resiliência e paixão pela música são inspiradoras e ele não perdeu o ritmo em nenhum momento. Surpreendentemente, horas após o show, Nicko e banda anunciaram que a segunda apresentação em São Paulo, no sábado, dia 07, será seu último show com a banda.
A reta final foi marcada por sequência bem pouco óbvia e muito acertada, com as “mais do mesmo” Fear of the Dark, aquela que todo mundo adora odiar, mas que continua funcionando extremamente bem ao vivo, mantendo a energia lá em cima, e as manjadas Iron Maiden e The Trooper, interrompidas apenas por Hell on Earth, a melhor de Senjutsu. E, claro, Eddie, a icônica mascote da banda, faz sua aparição triunfante no palco, elevando ainda mais a experiência.
A noite se encerra com Wasted Years, um lembrete poderoso de que, apesar do passar do tempo, a música do Iron Maiden continua a ressoar profundamente com fãs de todas as idades. É um fechamento perfeito para uma noite repleta de nostalgia e energia, deixando todos com um sentimento de satisfação e conexão.
Equilibrando o clássico com o novo e o raro com o previsível, a “The Future Past World Tour” capturou com maestria a essência do Iron Maiden. A banda, em sua melhor forma, continua a desafiar expectativas e a entregar performances que são verdadeiras obras de arte. Para aqueles que ainda não tiveram a oportunidade de assistir a um show desta turnê, a espera vale cada segundo. É uma celebração do legado e da relevância do Iron Maiden no mundo do heavy metal.
Ainda na seara das turnês comemorativas, recentemente a banda anunciou sua próxima turnê mundial, “Run For Your Lives”, que terá início em 27 de maio do próximo ano em Budapeste (HUN). A nova série de shows, abrangendo os nove álbuns de estúdio de Iron Maiden a Fear of the Dark, tem como objetivo de celebrar 50 anos desde que Steve Harris formou a banda, no final de 1975. E Bruce já deu o recado aos brasileiros: “Nos vemos em dois anos, talvez antes!” Que voltem logo! Up The Irons!
Volbeat setlist
The Devil’s Bleeding Crown
Lola Montez
Sad Man’s Tongue
A Warrior’s Call
Black Rose
Wait a Minute My Girl
Shotgun Blues
Fallen
Seal the Deal
The Devil Rages On
For Evigt
Still Counting
Iron Maiden setlist
Caught Somewhere in Time
Stranger in a Strange Land
The Writing on the Wall
Days of Future Past
The Time Machine
The Prisoner
Death of the Celts
Can I Play with Madness
Heaven Can Wait
Alexander the Great
Fear of the Dark
Iron Maiden
Hell on Earth
The Trooper
Wasted Years
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