A disputa judicial entre o compositor Toninho Geraes e a cantora britânica Adele ganhou um novo elemento de peso. O guitarrista do Angra, Rafael Bittencourt, foi escolhido para elaborar um laudo técnico que sustenta a tese de que a música Million Years Ago, de Adele, é um plágio do samba Mulheres, de Toninho Geraes, conhecido na voz de Martinho da Vila.
Análise técnica e argumentação
O documento foi encomendado pela advogada de Geraes, Deborah Sztajnberg, e detalha as semelhanças melódicas, rítmicas e harmônicas entre as duas canções. Segundo Rafael Bittencourt explicou em entrevista ao jornal O Globo, as similaridades são evidentes:
“Existem muitas coincidências para que tudo não passe de pura coincidência”, afirmou o guitarrista. Ele explicou que ambas as obras podem ser tocadas simultaneamente sem que haja dissonância ou interferência na melodia. Para ilustrar sua análise, ele fez uma analogia visual: “Imagine que eu peça para várias pessoas desenharem um trem com uma locomotiva e sete vagões, representando a regra dos oito compassos musicais. Os vagões podem ter tamanhos diferentes. E cada um deles deve ter pelo menos quatro camadas com texturas e cores diferentes. Qual a chance de duas pessoas, no mundo todo, desenharem praticamente o mesmo trem?”
A escolha de Bittencourt para a elaboração do laudo se deu por critérios específicos, como explicou Deborah Sztajnberg: “Ela (Deborah) queria que o autor do laudo não fosse sambista, como seu cliente, para evitar acusações de coleguismo; que fosse uma pessoa reconhecida internacionalmente; que dialogasse com a música popular e, ao mesmo tempo, tivesse uma sólida formação clássica.”
Defesa de Adele e resposta de Bittencourt
A defesa de Adele alega que a música se baseia em um clichê harmônico chamado Progressão de Acordes pelo Círculo de Quintas, um padrão musical amplamente utilizado desde o período barroco. No entanto, Bittencourt rebateu essa argumentação: “É uma tentativa desesperada de defender uma coincidência quase exata”. Apesar disso, ele não acredita que tenha havido uma intenção deliberada de plágio: “Eu já tive ideia de música que depois descobri que era um sucesso da Turquia que tinha ganhado uma versão no Brasil e provavelmente ficou na minha cabeça.”
Impacto do laudo e próximos passos
A decisão liminar do juiz Victor Torres determinou a suspensão da execução de Million Years Ago em meios físicos e digitais, após a sobreposição das gravações ter revelado “quase integral consonância melódica”. O caso também envolve um pedido de indenização de pelo menos R$ 1 milhão, além da redistribuição dos direitos autorais da canção desde 2015.
A advogada Deborah Sztajnberg acredita que o laudo pode ser decisivo no julgamento: “O documento pode ter um impacto brutal no andamento do processo.”
O caso segue tramitando na justiça e chama a atenção internacional. Sztajnberg participará de um congresso sobre direitos autorais em Dubai, onde discutirá o processo contra Adele e o impacto da liminar que determinou a remoção da música das plataformas. O desfecho desse embate promete influenciar futuras questões sobre plágio e direitos autorais na indústria fonográfica.
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