É com grande pesar que o mundo da música se despede de Marianne Faithfull, uma das vozes mais emblemáticas da Invasão Britânica. A cantora, compositora e atriz faleceu aos 78 anos, conforme anunciado em um comunicado (via BBC): “É com profunda tristeza que anunciamos a morte da cantora, compositora e atriz Marianne Faithfull. Marianne faleceu pacificamente em Londres hoje, na companhia de sua amada família. Ela fará muita falta.”
Nascida em 1946 em Hampstead, Londres, Faithfull teve uma infância marcada pelo divórcio dos pais, vivendo a maior parte do tempo com a mãe. Sua carreira musical teve início em 1964, quando se apresentou em cafés locais e mergulhou no efervescente cenário musical da época. Naquele mesmo ano, ela compareceu a uma festa de lançamento dos Rolling Stones, onde conheceu o então empresário da banda, Andrew Loog Oldham. Esse encontro resultou na gravação de sua primeira música, As Tears Go By, composta por Mick Jagger e Keith Richards. O single alcançou a 9ª posição nas paradas do Reino Unido, consolidando-a como um novo talento da música.
Faithfull lançou três álbuns em 1965: Marianne Faithfull, de pegada pop, Come My Way, voltado ao folk, e Go Away From My World, exclusivo para o mercado norte-americano. Ainda na década de 1960, lançou mais dois discos: North Country Maid (1966) e Love in a Mist (1967).
A vida pessoal da cantora esteve frequentemente nos holofotes. Em 1965, casou-se com o artista britânico John Dunbar, com quem teve um filho. Pouco tempo depois, iniciou um relacionamento com Mick Jagger, fase marcada por polêmicas e pelo aumento de seu consumo de drogas. Um dos episódios mais notórios ocorreu quando foi encontrada vestindo apenas um tapete de pele durante uma batida policial na casa de Keith Richards. Em sua autobiografia, Faithfull refletiu sobre a diferença de tratamento entre homens e mulheres no mundo das drogas: “Para um homem viciado, esse comportamento é visto como glamouroso. Para uma mulher, torna-se um escândalo.”
A influência de Faithfull também pode ser sentida na música dos Rolling Stones. O livro que deu de presente a Jagger, The Master and the Margarita, inspirou a canção Sympathy for the Devil, do álbum Beggar’s Banquet (1968). Outras canções como Wild Horses, I Got the Blues e You Can’t Always Get What You Want teriam sido inspiradas nela. Faithfull ainda coescreveu Sister Morphine, lançada pelos Stones no álbum Sticky Fingers (1971), contribuindo também com vocais para a faixa.
A partir da década de 1970, a cantora enfrentou anos de luta contra o vício, distúrbios alimentares e períodos de sem-teto. Sua voz ficou debilitada devido ao abuso de substâncias e uma grave laringite. No entanto, sua carreira ressurgiu em 1979 com o álbum Broken English, que atingiu a 57ª posição no Reino Unido e a 82ª na Billboard 200 nos EUA. O disco lhe rendeu uma indicação ao Grammy na categoria Melhor Performance Vocal Feminina de Rock e é considerado um marco em sua discografia.
Faithfull continuou a gravar regularmente e colaborou com diversos artistas. Em 1997, surpreendeu ao participar do single The Memory Remains, do Metallica. Seu último álbum, She Walks in Beauty, foi lançado em 2021 e traz recitações de poemas acompanhadas por instrumentais de Warren Ellis, da banda The Bad Seeds.
Refletindo sobre sua trajetória em entrevista ao The Guardian, Marianne Faithfull afirmou: “Tomei a decisão de entregar meu coração completamente a isso, e foi o que aconteceu. Eu sabia que tinha muito a aprender. Não fui para Oxford, mas fui para o Olympic Studios e vi os Rolling Stones gravarem, vi os Beatles gravarem. Observei os melhores trabalhando e, graças a Mick, também vi como se escrevia. Aprendi muito e sempre serei grata.”
Nas redes sociais, Lars Ulrich, baterista do Metallica, recordou os momentos passados com Marianne e a agradeceu:
“Obrigado, Marianne…
Pelos bons momentos
Por sua gentileza
Pelas grandes histórias
Pela sua coragem…
E o maior obrigado e Fuck Yeah pela sua incrível e contribuição única para a nossa música, e por estar sempre tão disposta a se juntar a nós para executá-la…e participar das travessuras que se seguem!
Descanse em paz”
Já os Stones publicaram um vídeo dedicado à cantora:
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