LEATHER LEONE – SÃO PAULO (SP)

31 de janeiro de 2024 - Red Star

Por Leandro Nogueira Coppi

Fotos: Andre Santos

A cantora americana Leather Leone definitivamente se consolidou no seleto grupo de músicos que frequentemente batem cartão no Brasil. Ao lado de nomes como Jeff Scott Soto, Tim “Ripper” Owens e Richie Kotzen, por exemplo, ela conquistou uma base fiel de fãs no país, o que a leva sempre retornar. E isso é ótimo, sobretudo porque sua simpatia, simplicidade, bom humor e energia a tornaram uma figura muito querida por aqui. Menos de um ano após sua última passagem, a ex-vocalista do Chastain voltou ao Brasil para um show único em São Paulo, no evento apropriadamente intitulado One Night Only For Metal. Para essa apresentação, convidou Mayara Puertas, vocalista do Torture Squad, com quem estreitou laços em 2024. A amizade se fortaleceu quando Leone participou do show da banda no Summer Breeze Brasil Open Air (agora chamado Bangers Open Air) e também do videoclipe de Warrior, gravado para uma versão especial da faixa originalmente composta para Devilish (2023), o mais recente álbum do veterano grupo paulistano de death/thrash metal. Horas antes do show, Leather e May receberam os fãs em uma sessão de autógrafos na loja London Calling Discos, na Galeria do Rock.

Abrindo a noite no intimista Red Star, localizado na região de Pinheiros, na icônica rua Teodoro Sampaio – conhecida por sua variedade de lojas de instrumentos e estúdios musicais -, subiu ao palco o Midgard, banda de Bauru (SP) formada em 1999. Após um período de inatividade, o grupo ressurgiu em 2021 e atualmente divulga Verdugos, seu segundo álbum de estúdio, lançado em 2023.

Considerando que o Red Star é um espaço pequeno para shows (embora bem estruturado e equipado), quando Paula Jabur (vocal), Omar Rezende Jr. (guitarra), F.L.Y. (baixo e vocal), Miño Manzan (teclado) e Julio Della Togna Neto (bateria) assumiram o palco, já havia um bom número de espectadores no recinto. Aliás, aproveito para parabenizar aqueles que têm o hábito de prestigiar os shows das bandas de abertura.

Assim como no novo álbum, o Midgard iniciou sua segunda apresentação em São Paulo com Another Day. O grupo aposta em um doom metal nada sorumbático e arrastado (características comuns no gênero), mas sim mais puxado para o heavy tradicional, com certo viés folk – algo que Last Sanctuary, a faixa seguinte, reforçou ainda mais. Como contou Paula, essa foi a primeira composição da banda, escrita no longínquo ano de 1999.

A propósito, o novo álbum do Midgard traz, de fato, algumas faixas bem antigas, entre elas Crying at the Party Midnight Rainbow, ambas também presentes no repertório do show.

Falando em repertório, exceto por Psy-Code-HellikaNocturnal Storm, o Midgard executou todas as demais músicas de Verdugos, seguindo a mesma sequência do disco. Do debut From Ashes…, de 2005, nenhuma faixa foi tocada. Em compensação, o Midgard apresentou uma nova roupagem para Black Sunrise, clássico do Kreator da fase mais gótica da banda alemã de thrash metal, lançado no álbum Outcast, de 1997. Para essa performance, o Midgard convidou Dimitri Brandi, frontman do Psychotic Eyes, completando assim um trio vocal junto a Paula e F.L.Y.

Após Black Sunrise, o Midgard evidenciou influências também de rock and roll e hard rock com a já mencionada Crying at the Party. Apesar do clima mais festivo, o título (Chorando na festa) já sugere um tom mais sério na letra – e, de fato, a canção retrata uma sociedade alienada, que vive em ritmo de festa enquanto negligencia as mazelas causadas pelos mais poderosos. 

Depois de Silent Song Wild Walkers, o Midgard se despediu do público paulistano, que se mostrou mais observador do que caloroso – isso apesar do calor ser o que mais se fazia sentir no abafado Red Star.

Quando chegou a hora de Catherine Leone reencontrar seus fãs, o ambiente ficou ainda mais quente com a chegada das várias pessoas que estavam do lado de fora. A cantora de 65 anos iniciou a carreira em 1982 com a banda Rude Girl. Dois anos depois passou a integrar a banda Chastain, com quem gravou cinco álbuns clássicos. Em 1989, Leather Leone deu início à sua carreira solo com o lançamento de Shock Waves. Passados alguns anos de ostracismo ela ressurgiu com o Chastain. Em 2018, novamente apostando em sua carreira solo, ela lançou Leather II. Quatro anos depois, soltou seu terceiro álbum, We Are the Chosen, em uma parceria com o guitarrista brasileiro Vinnie Tex

Pontualmente às 22h, os brasileiros Kiko Shred (guitarra – Viper), Fabio Carito (baixo – Metalium) e Marcus Dotta (bateria – Metallium) surgiram no palco, e a até então pacata plateia intensificou ainda mais o clima. Assim que Dotta e Shred deram início a Ruler of the Wasteland – faixa-título do segundo álbum de estúdio do Chastain, de 1986 – e logo foram acompanhados por Carito, Leather Leone entrou em cena, agitando o público e soltando seu vozeirão rouco. Música de pegada à la Judas Priest, Ruler… ganhou ainda mais impacto com um solo de Shred digno de aplausos do próprio David T. Chastain. Ao final dessa, foi hilário quando Carito virou seu baixo exibindo um adesivo do Pica-Pau pedindo aplausos. Que sacada genial e divertida! Instantaneamente, os fãs não apenas aplaudiram, como também gritaram “Leather” em “couro” (sim, o trocadilho foi intencional hehe!).

Na primeira pausa, Leone agradeceu a todos pela presença, especialmente a Bill Hudson, guitarrista do NorthTale e também de bandas como I Am Morbid, Doro, Dirkschneider, Circle II Circle e outras, que estava na plateia para prestigiar a amiga. Dando sequência, foi a vez de Leather e seus comparsas revisitarem o álbum de estreia do Chastain, Mystery of Illusion (1985), com uma trinca explosiva formada por The Black Knight, a cadenciada faixa-título e I’ve Seen Tomorrow – essa dedicada ao saudoso e querido baixinho Ronnie James Dio, a quem Leone disse que gostaria que estivesse ali. Em entrevista à ROADIE CREW, concedida em março de 2024 (leia aqui), Leather falou da importância de Ronnie Dio para ela: “Eu só canto metal por causa dele. Quando me mudei para a Califórnia em 1977 e ainda cantava música pop – Heart, Zeppelin e Boston – então, por meio da minha banda Rude Girl, eles me apresentaram à música dele. E então eu o conheci. Havia algo nele sobre a sua fraseologia e sua melodia… Aquilo entrava na alma! E ele era obviamente uma pessoa muito legal. É verdade que ele se lembrava de tudo sobre você. Eu o vi talvez uma vez por ano, cinco ou seis vezes, sabe? Ele era muito natural, e sempre foi muito gentil comigo. Ele me dava conselhos sobre o que fazer e o que não fazer, e eu o observava em certas noites, quando ele estava realmente cansado, aprendi a brincar com oitavas através dele, o que eu não sou treinada e não sei realmente o que faço. Odeio parecer tão ignorante, mas eu apenas faço. Mas o Ronnie me ensinou, sabe?”. 

Entre uma e outra música nessa mencionada trinca, a sempre comunicativa Leone se desculpou por alguns problemas técnicos (nada que tivesse prejudicado a performance, muito pelo contrário, já que a qualidade do som estava muito boa), agradeceu novamente o público pela presença, perguntou a todos se estavam se sentindo bem e fez uma brincadeira com a plateia sobre a nossa pizza, além de comentar: “Seu país é quente pra caralho!”. De fato, nesse início de ano o Brasil está passando por ondas de calor insuportáveis. 

Depois de apresentar os músicos que a acompanha (e não é de hoje!), Leather anunciou a pesada Live Hard, primeira a representar o quarto álbum do Chastain, The Voice of the Cult (1988). Depois dessa, Leather abriu o coração dizendo: “Eu não quero ir embora (do Brasil). Um dia eu vou ficar, mas agora eu não posso”. De volta ao álbum Ruler of the Wasteland, Leone foi acompanhada pelo público na impactante Angel of Mercy, música de refrão simples e marcante, e, que, indubitavelmente, conta com uma das melhores performances de sua carreira. Na sequência, foi a vez da faixa-título de The 7th of Never, única do terceiro álbum do Chastain, que foi lançado no Brasil pelo lendário selo Rock Brigade Records.

Era chegado o momento do show em que, como foi amplamente divulgado, Leather Leone convidaria ao palco a vocalista Mayara “Undead” Puertas para se juntar a ela. Ao anunciá-la, Leone brincou sobre a potência da voz da brasileira e ainda arriscou imitar seu gutural, puxando o coro “Torture Squad, Torture Squad…”. Impagavél momento! Aliás, nesse instante, um nobre desconhecido virou para mim e decretou: “(Essa técnica) não combina com ela!” – devo concordar. Juntas, Leather e May brilharam em For Those Who Dare, do álbum de mesmo nome do Chastain, lançado em 1990. 

Em seguida, Leather Leone convidou a guitarrista Vicky, do tributo feminino ao Iron Maiden X Maiden Evolution, para se juntar a ela e May Puertas na próxima música. E as duas convidadas não deixaram por menos, detonando em The Voice of the Cult, a faixa do Chastain mais reproduzida no Spotify, com quase 466 mil acessos até o momento.

Na mencionada entrevista à ROADIE CREW, Leone comentou sobre o impressionante alcance da música: “Parece que as músicas que se tornaram populares na época do Chastain eram sempre as que eu menos gostava, mas minha opinião não importa. Nunca fomos uma banda grande, mas sou abençoada por ainda quererem ouvir músicas de 1984. Estou nos palcos, e há garotas de 20, 21 anos me pedindo Angel of Mercy. Não sei o que era sobre o Chastain, mas sou muito abençoada. E, vocês são todos jovens demais, mas quando eu comecei, meu Deus, “banda liderada por uma mulher”, era algo grande. Não havia muitas de nós, e acho que isso é o que ajuda as pessoas a se manterem comigo.” 

Com essa declaração, a cantora reforçou sua representatividade para as mulheres no metal, sendo uma referência e influência para muitas que se inspiram nela para seguir uma carreira na música.

Pena que enquanto Mayara esteve no palco, não tenha rolado a ótima Fighting to Stay Alive (de Ruler of the Wasteland). Um duo nessa certamente teria sido incrível. Assim que Vicky e May deixaram o palco, Leather Leone se despediu do Brasil com a primeira e única de sua carreira solo, a faixa-título de seu mais recente trabalho, We Are the Chosen, disco esse que foi escrito com o supracitado Vinnie Tex logo quando a pandemia começou.

Encerrando a noite com a mesma energia com que começou – e que culminou em um temporal que causou estragos em São Paulo -, Leather Leone reafirmou por que continua sendo uma figura tão querida pelo público brasileiro. Entre clássicos do Chastain, momentos de interação descontraída e a participação especial de talentos nacionais, o show no Red Star foi uma celebração do heavy metal, da resistência e da paixão pela música. Leone e sua banda entregaram uma performance poderosa e memorável. A vocalista se despediu sob aplausos, deixando mais uma marca em sua já sólida relação com os fãs brasileiros.

Midgard – setlist:

  1. Another Day
  2. Last Sanctuary
  3. Pearls to the Pigs
  4. Midnight Rainbow
  5. Black Sunrise (cover do Kreator)
  6. Crying at the Party
  7. Silent Song
  8. Wild Walkers

Leather Leone – setlist: 

  1. Ruler of the Wasteland
  2. The Black Knight
  3. Mystery of Illusion
  4. I’ve Seen Tomorrow
  5. Live Hard
  6. Angel of Mercy
  7. The 7th of Never
  8. For Those Who Dare
  9. The Voice of the Cult
  10. We Are the Chosen

 

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