ATREYU: 25 ANOS DE ESPERA

Pouco antes de sua primeira apresentação no Brasil, banda reflete sobre suas quase 3 décadas na ativa

Por Daniel Agapito

Formados em 1998 como uma banda de punk sob o nome de Retribution, os californianos do Atreyu são um dos grandes responsáveis por moldar o som do metalcore como conhecemos hoje em dia. Mesclando riffs pesados com refrães chicletes, eles têm criado uma base de fãs significativa ao redor do mundo desde o lançamento de Suicide Notes and Butterfly Kisses em 2002, mas, como várias bandas do estilo, acabaram nunca passando por terras tupiniquins. Depois de 25 anos, a espera acabou e com a turnê “25 Years in the Making” o quarteto virá à América Latina pela primeira vez neste mês de março. A ROADIE CREW conversou com o ex-baterista e atual vocalista Brandon Saller, que refletiu extensivamente sobre sua trajetória no metal, o que veio e o que está por vir. Confira isso e tudo mais a seguir.

Para começo de conversa, o nome da turnê latino-americana já diz tudo, ‘25 Years in the Making’ (25 anos de espera). Houve alguma razão específica por essa ausência prolongada do nosso continente?
Brandon Saller: De alguma maneira, foi falta de oportunidade. Viemos pela primeira vez para fazer alguns shows com o Iron Maiden (em fevereiro de 2009) e voltamos para fazer o ‘Knotfest’, também no México (2015). Sei que sempre tivemos fãs na América Latina, via que eles ouviam muito pelo Spotify e tal, mas ninguém nunca nos chamou para fazer shows aí, então quando a primeira oportunidade veio, não tínhamos como negar. Queremos fazer esse show há anos e anos.

Seus shows em 2024 foram majoritariamente em festivais ou setlists especiais tocando The Curse (2004) na íntegra. E nessa turnê que vem aí, como será o setlist?
Brandon: Faremos vários shows de The Curse no resto do ano, então até consideramos fazer um especial dele, mas queríamos representar nosso catálogo inteiro, justo por nunca termos pisado aí. Vai ser uma mistura boa de músicas de toda a discografia, vamos tentar tocar alguma coisa de cada álbum. Queremos ter certeza de que independente do tempo que cada fã nos acompanha, vão conseguir se animar. Vai ter algo para todo mundo!

Vocês também acabaram de lançar a compilação The Pronoia Sessions, com versões reimaginadas de músicas antigas e alguns covers. Podemos esperá-las no repertório do show?
Brandon: Sim! Pode ser que apareça alguma deles por lá, nunca se sabe (rindo).

De maneira geral, o que os fãs podem esperar do show aqui no Brasil?
Brandon: Estamos tão animados para tocar no Brasil que vocês verão o Atreyu dando 150% de si, com toda a energia. Sempre ouvimos as histórias dos fãs malucos que têm por aí, o tanto de paixão que as pessoas têm pela música, então vai ser interessante ver isso em primeira mão. Vamos fazer valer a pena essa espera de 25 anos.

Ia perguntar exatamente isso, o que vocês têm ouvido falar sobre o Brasil?
Brandon: Sabemos que os shows são selvagens! Vimos vários vídeos, conversamos com vários amigos que tocaram aí, e tudo mostra que não tem nada igual ao Brasil, as pessoas são loucas por shows! Não espero um show manso!

Aqui no Brasil, os fãs tendem a gostar mais dos ‘dinossauros’ do rock: Deep Purple, Saxon, qualquer pessoa minimamente relacionada ao Iron Maiden enche casa para 300 pessoas. Sendo um dos pioneiros do metalcore, acha que há alguma explicação para o estilo não ter a repercussão mundial que merece?
Brandon: Mesmo com o momento do metalcore já tendo teoricamente passado, não acho que chegamos no mainstream ainda, como gênero. Eu sinto que isso ainda está por vir. Com o renascimento do emo nos Estados Unidos, com festivais gigantescos e a volta do movimento no geral, acho que o metalcore será o próximo. Historicamente, as coisas nunca são tão chocantes pela segunda vez quanto da primeira. A música pesada é mais aceita hoje em dia do que era antes. Acho que o metalcore está para ter um momento bem grande em um futuro próximo, assim como aconteceu com o metal clássico ou com o emo. No tempo em que o metalcore estava no auge, com várias bandas maiores, essas mesmas bandas estavam se distanciando da cena, se distanciando do som, e isso certamente contribuiu.

O Atreyu começou as atividades no final dos anos 90, com você entrando na banda no começo do milênio, e é claro que muita coisa mudou para o metalcore desde então. Como você enxerga a evolução do gênero como um todo?
Brandon: É engraçado ver essa evolução. Hoje em dia escuto bastante do que seria a ‘nova versão’ do metalcore nas rádios americanas. Sabe, riffs pesados, aquela guitarra de metal mesmo, mas com refrães chicletes. É basicamente o que sempre fizemos. O som com certeza tem se tornado algo mais conhecido do que era na época.

Ele praticamente se dividiu em várias sonoridades diferentes, não? Tem o octanecore (metalcore moderno, comercial) que você mencionou, o deathcore tem ressurgido nos últimos anos… Acha que é possível imaginar onde o gênero estará nos próximos anos?
Brandon: É difícil dizer. Tudo é cíclico, vai e volta. Mais ou menos a cada dez anos, o que antes era legal volta a estar na moda, vai haver alguma banda que é a nova mais extrema. Lá atrás, eram grupos como Lamb of God, nós, As I Lay Dying, Unearth e Slipknot que eram chocantes: ‘Uau, são loucos e tocam músicas malucas!’ Hoje em dia você acha bandas que nem o Lorna Shore e o Slaughter to Prevail que vêm nessa nova onda de música extrema, porém mais aceita. Diria que a música pesada no geral terá outro momento.

Voltando para o começo da entrevista, quando você mencionou que vieram para cá para abrir pro Iron Maiden: como foi isso? Pelo menos aqui no Brasil, eles têm uma base de fãs impenetrável, que vai aos shows para assistir o Maiden e só o Maiden, sem querer saber de mais nada nem ninguém. Lembro até do Porter (baixista) comentar que foi o show mais difícil de suas vidas…
Brandon: A experiência foi demais, mas não foi nem um pouco fácil. Foram dois shows em estádios no México, então estamos falando de públicos de 50 mil pessoas e 45 mil delas só se importando com o Maiden. O esquisito foi que houve alguns pontos positivos, que a própria galera do Maiden nos falou: conseguimos terminar o show, o que boa parte das aberturas não consegue, nem nos vaiaram. Mas, ao mesmo tempo, achamos que foi um desastre. Mesmo assim, vendemos todas as peças de merchandise que havíamos levado. Algumas pessoas nos disseram para não levar aquilo como uma resposta do público mexicano, ‘é só o que acontece nos shows do Iron’. Posso dizer que tinha muita coisa contra nós naquele momento, éramos o suporte direto do Maiden, então tocamos logo antes deles, e antes de nós tinha o Carcass, absolutamente lendários, tinham acabado de voltar a fazer shows, o Morbid Angel, lenda do death metal, e Lauren Harris, filha do Steve Harris. Eram três bandas que eram para estar lá, e a gente subindo no palco depois delas.

Seguindo nessa linha dos momentos em que havia muita coisa contra vocês, a saída do vocalista e membro fundador Alex Varkatzas parece ter realmente alterado a dinâmica da banda, com você tendo deixado a bateria para assumir o vocal limpo e Porter tendo assumido oficialmente o vocal gritado. No começo desta nova fase, como foi o processo de adaptação?
Brandon: Foi basicamente só resolver quem ia fazer o quê. Aqueles que nos acompanham faz tempo sabem que Porter tem gritado em todos os discos desde que ele entrou, sempre foi mais uma camada. Esse foi o componente que queríamos manter intacto, não era nossa intenção introduzir uma voz nova, desconhecida, que soasse estranha para os fãs. Não era algum cantor aleatório desconhecido. No começo foi basicamente só nos nortear. Agora, quatro anos após a saída de Alex, a máquina está mais engraxada, sabemos em que partes que eu grito, em que partes que ele grita. Isso abriu as portas para que a banda realizasse nosso entendimento do que éramos para ser desde o começo. Melhorou bastante a dinâmica dos shows e a maneira em que compomos as músicas.

Não houve dificuldade para convencer o público dessa nova era, certo?
Brandon: Não! Estávamos com um pedaço faltando, mas todo o resto que a galera conhecia permaneceu lá. Se você tem um sanduíche que tem alface, tomate, maionese e um hambúrguer, se tirar só o alface, continua sendo um sanduíche muito bom. É uma analogia um pouco idiota, mas foi praticamente isso. Não mudamos a ponto de ter que reconquistar os fãs, é algo que dá para ouvir e dizer: ‘Ah, conheço esse som.’ Foi por isso que a transição foi tão tranquila, porque qualquer preocupação que os fãs podiam ter sumiu assim que assistiram ao show ou ouviram as músicas novas.

O Atreyu completou 25 anos na ativa há algum tempo. Como tem sido a evolução da banda? Como que o tempo tem te tratado?
Brandon: Tem nos tratado bem! Temos sorte de ainda estarmos onde estamos. São poucas bandas que duram 25 anos, então o fato de ainda conseguirmos tocar em casas boas, fazer turnês pelo mundo e ter fãs que se animam com a banda é uma grande benção. Estamos felizes por estar aqui. Ainda estamos evoluindo, ainda temos muito chão para cobrir. É como se os primeiros 25 anos fossem o treino e os próximos 25 serão o jogo mesmo.

Pulando para a época de The Curse, achei uma entrevista que fizeram com Porter durante o Ozzfest de 2004, logo assim que ele tinha entrado na banda, e ele disse que gostava do disco porque era ‘fácil de curtir’.  Em retrospecto, como diria que The Curse envelheceu nos 20 anos desde que foi lançado?
Brandon: Muito bem! Ele ainda consegue se destacar por si só. Ao meu ver, ainda é um som bem diferente dentro da música pesada, tem muita coisa única ali. É um tanto desafiador ficar trocando de cargo, vendo quem vai fazer o quê. Nosso antigo vocalista tinha uma facilidade incrível com as palavras, era um poeta, então é muita coisa para lembrar, muita coisa para gritar. O CD nos ensinou a respeitar nosso catálogo. Quando perguntam a algum músico qual é o seu disco favorito, sempre vai falar do mais recente, mas é bom voltar e respeitar os outros pelo que são, sabe?

 

Com isso em mente, esse novo line-up tem sido bastante produtivo tanto em estúdio quanto na estrada, tendo já lançado 2 álbuns, 3 EPs e uma compilação. Chegaram a comentar em outras entrevistas que já estão preparando material novo. Pode nos dar algum spoilerzinho sobre o que vem por aí?
Brandon: Vai ser um disco de metal (risos). Vocês irão ouvir as músicas mais metal que compusemos em um bom tempo. Isso pode ter sido ocasionado pela turnê celebrando The Curse: olhar para trás, ver as influências, olhar para o catálogo e lembrar das coisas fodas que fizemos quando éramos mais jovens – estamos pegando bastante destas influências e colocando no material novo, mas não propositalmente, é de maneira natural. O que está por vir será um retorno ao lado mais metal do Atreyu, com algumas de nossas composições mais pesadas da história.

Isso me lembra bastante o ressurgimento de bandas mais nostálgicas que tem rolado aí nos EUA, com festivais como o When We Were Young e o Sick New World, bandas como Nickelback e Creed enchendo estádios novamente. Por que acha que esse saudosismo está voltando agora?
Brandon: Para boa parte das pessoas, a adolescência e os anos formativos em geral são um tempo tão positivo, ou talvez um tempo doloroso, mas quando você vai a um show que te lembra das coisas que você escutava nessa época, você escapa da realidade e volta para um tempo mais divertido. Achei que nos shows do The Curse seria um bando de gente mais velha parada tomando cerveja, mas não foi isso, eram caras de 40 e poucos anos na roda, enlouquecendo, como se tivessem 16 anos de novo. Quando você consegue escapar da realidade dessa maneira, surgem sensações muito boas, você volta para uma época melhor da sua vida.

Então, voltando ao que você falou no começo da entrevista, o próximo grande fenômeno seria só a volta do que já vimos?
Brandon: Talvez sim! Vários outros estilos passaram por isso, um monte de bandas tentou emular o som do heavy metal clássico, do rock antigo, teve o ressurgimento do indie, a volta do nu metal, do emo, até os altos e baixos do hip-hop e do pop, e agora a volta do rock. Estamos voltando a ver bandas de rock venderem montes e montes de ingressos! Tudo que vai e volta, mas tomara que volte melhor!

Agora não mais, mas uma das maiores maneiras de crescer como banda há uns anos ]era com clipes, e não tem como falar da história de vocês sem falar dos clipes – Lip Gloss and Black foi um dos queridinhos da MTV americana –, nem como deixar de mencionar a genialidade das fantasias do clipe de Come Down
Brandon: Obrigado! Fizemos à mão, amigo! O diretor fez na sua garagem na noite antes da filmagem, ficamos colando penas uns nos outros pelo resto do dia. Acho que os clipes no geral continuam sendo uma extensão da banda, e você consegue ver que no nosso último álbum, Beautiful Dark of Life, que realmente tentamos mostrar nossas personalidades verdadeiras nos clipes e fazer coisas ridículas que normalmente não passariam pela gravadora, mas que de alguma maneira foram aprovadas. É tudo uma extensão de sua marca, é o que você quer passar para as pessoas.

Dei uma procurada pela internet e achei uma entrevista que você concedeu em 2006 ao site holandês metalfan.nl e quando perguntaram o que queria conquistar com o Atreyu: disse que era simples, que queria fazer música até não conseguir mais, que se pudesse estar tocando com o Atreyu aos 70, estaria. Com quase 20 anos desde esta pergunta, vou mudá-la um pouco: você se arrepende de alguma coisa na sua carreira? Tem algo que você faria de forma diferente?
Brandon: Acho que não. Tudo tem uma razão para acontecer do jeito que acontece. Tem algumas pequenas decisões que talvez poderiam ter sido tomadas com mais cuidado, mas tudo acontece naturalmente, como deve ser.

Vocês tocaram em estádios, festivais gigantescos, lançaram vários discos aclamados… Tem algo que você ainda não fez com o Atreyu que gostaria de fazer?
Brandon: Queria elevar o nível mais ainda. Quero estar tocando em estádio como artista principal, ser headliner dos festivais. É uma construção que não acaba, tudo faz parte da jornada.

Para fechar, tem alguma mensagem final para os leitores da ROADIE CREW?
Brandon: Obrigado por ter esperado tanto pelo show, nos vemos lá!

 

Saiba mais sobre o show aqui.

 

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