THE AMITY AFFLICTION – SÃO PAULO (SP)

6 de abril de 2025 – Carioca Club

Por Daniel Agapito

Fotos: Andre Santos

Domingo à noite, tempo nublado, friozinho, clima horrível para fazer qualquer coisa. Após meses e meses de calor e sol, sair de casa sabendo que vai ter que estar de pé cedo para trabalhar no próximo dia realmente quebra qualquer clima; definitivamente, não é o melhor cenário para ir para um show, o que tornou o último dia 6 perfeito para a apresentação dos australianos do Amity Affliction. Formados no começo do milênio na cidade de Gympie, no estado de Queensland, eles têm se tornado um dos maiores nomes do post-hardcore e metalcore pelo mundo, conhecidos por seu som carregado de emoções, quase choroso, aquele tipo de música que seu tio que curte “rock pauleira” certamente chamaria de emo. Apesar de o gênero ter expressão muito menor aqui no Brasil do que no resto do mundo, aquela não seria a primeira passagem do grupo por terras tupiniquins, visto que já haviam carimbado o passaporte por aqui pouco menos de 8 anos antes para uma apresentação no Clash Club.

Não é fácil ser fã de metalcore no Brasil… As bandas aparecem pouco e, quando vêm, parece que quase sempre precisa dar alguma coisa, e com o Amity, não foi diferente. Ahren Stringer, vocalista, baixista e membro-fundador da banda já estava afastado das turnês desde meados do ano passado, mas os fãs ainda tinham aquele fundinho de esperança de que ele apareceria na América Latina, mas por volta de fevereiro, tanto Stringer quanto o resto da banda oficializaram a saída do vocalista, com o grupo dizendo que precisaria “se provar novamente para os fãs”. Alguns dias depois, os dois partidos entraram em uma disputa legal pelos direitos do nome The Amity Affliction. Ou seja, a situação está tensa. Aproveitando que estão no Brasil, poderiam passar no numerólogo que atendeu uma certa banda de power metal nacional e resumir as atividades como “The Amity Aafliction”, quem sabe?

Brincadeiras à parte, as expectativas dos fãs ainda estavam altas para o show. Mesmo se não fosse lá aquelas coisas, pelo menos já teriam a trilha sonora perfeita para sentar em um cantinho e chorar. Chegando no Carioca Club, a casa já contava com uma fila notável desde antes de abrir, e ao entrar, assistir da grade já era um sonho distante. Sem banda de abertura, o público teve um tempo para respirar e se preparar para o estrago do Amity Affliction. Quem respirou, respirou; quem não respirou, não respira mais, visto que começaram a todo vapor, tocando logo Pittsburgh, de longe seu maior hit, que como esperado, foi cantado a plenos pulmões. Bastaram 3 notas na guitarra e vocalista vir correndo para a frente do palco que os fãs começaram: “I’ve been searching for an exit / but I’m lost inside my head”. Jonathan Reeves, que assumiu o posto de Stringer, teve uma conexão imediata com o público, sendo acompanhado palavra por palavra a todo momento. No terceiro refrão, a banda parou, com apenas um VS de vocal feminino passando pelo sistema de PA, deixando quem estava presente soltar a voz. Foi um momento lindo, com todos cantando juntos, de braços levantados, como se estivessem louvando os australianos.

Joel Birch (vocal) se desculpou pela demora do retorno e já emendou um hino da tristeza com um pilar da depressão, Drag the Lake. Era interessante o clima dentro da casa, pois estavam todos claramente felizes ao ver uma banda tão querida voltar ao Brasil após tanto tempo, mas essa felicidade era trazida por músicas muito tristes, dando uma energia agridoce ao evento. Depois de mais uma interação breve com o público, soaram as primeiras notas de The Weigh Down, e Joel apareceu no palco segurando uma bandeira do Brasil personalizada com o logotipo da banda, levando os fãs à loucura. Fazendo a música com ela na mão até o primeiro refrão, encostou-a na plataforma da bateria, enquanto os fãs gritavam o refrão.

Passando do atemporal Let the Ocean Take Me (2014), que compôs a maioria do repertório da noite, para o EP Somewhere Beyond the Blue, lançado no final de 2021, veio Like Love que, apesar de mais recente, deixou claro que toda e qualquer pessoa que estava lá naquela noite era muito fã da banda, cantando cada verso com uma força igualável à da banda. Voltaram ao disco de 2014 com Don’t Lean on Me, um verdadeiro grito por ajuda, retratando uma luta interna complicada, com o narrador preocupado em arrastar outras pessoas em seu abismo emocional. Se a produção do evento tivesse feito um combo “compre um ingresso e ganhe uma sessão de terapia” teriam lucrado imensamente. Open Letter, por sua vez, já tem um fundo mais motivacional, trazendo também um peso acima da média para o catálogo deles, mas sem perder os refrãos grandiosos, com vocais limpos impressionantes.

“Gostaria de me desculpar de verdade, demoramos muito para voltar, mas agora estamos aqui, então se preparem para abrir uma roda!” Mantiveram a energia lá no alto com All My Friends Are Dead, música direta e reta, como um soco no estômago, mas com um refrão tranquilinho, cheio de “uuu” – um soco em que você e quem te socou choram juntos. Quem viu vídeos das rodas do Bring Me the Horizon em novembro, por exemplo, pode achar que os fãs de metalcore não sabem fazer roda, mas um grande liquidificador humano tomou conta da pista – não foi aquela coisa rápida e organizada, como o Sodom havia feito na mesma casa algumas semanas antes, mas era claro que todos que estavam ali no meio estavam se divertindo demais.

Passada Chasing Ghosts, Joel fez uma pergunta simples, em português: “Tenho uma pergunta, perdoem meu português de pé quebrado: querem ouvir uma música nova?” Apresentaram, em primeira mão, All that I Remember, que consegue balancear bem o peso com a emoção, contando com uma linha de guitarra memorável. Ela provou que esta nova era do Amity, com Jonathan Reeves assumindo os vocais limpos, está bastante promissora, deixando pouco a dever para Ahren. Para fechar este bloco do show, alternaram entre faixas de Let the Ocean Take Me e seu álbum mais recente (sem contar a versão regravada do já citado): Death’s Hand e seu refrão em que mandam a própria morte se foder, levando diversos dedos do meio ao ar, I See Dead People, que realmente destaca o baterista, Joe Longobardi, My Father’s Son, que Joel Birch escreveu antes de conhecer seu pai, It’s Hell Down Here e para acabar, Give it All. “Vocês foram do caralho, muito obrigado, é ótimo estar de volta.”

Não surpreenderam muito quando as luzes azuis que banhavam o palco pelo show inteiro se acenderam novamente, as notas de piano sinistras de Soak Me in Bleach soaram pelos alto-falantes e Birch e companhia voltaram para tocar mais uma. Com os fãs novamente cantando em uníssono, o vocalista pegou de novo a bandeira do Brasil do começo do show e colocou-a em seu microfone, segurando-a com ternura e fazendo boa parte da música com ela em mãos. Ele só foi soltar quando desceu à parte inferior do palco, antes do último refrão, para fazer uma dinâmica especial: “Quero todo mundo sentado, todo mundo no chão.” Durante o último breakdown, o Carioca praticamente tremia com os pulos dos fãs e o bate-cabeça comia solto. Antes de descer do palco, Joel fez uma promessa simples, mas arriscada: “Obrigado, São Paulo, nos vemos ano que vem!”

Um momento bonito que poucos viram aconteceu minutos após o show, quando já não tinha ninguém no palco, as luzes estavam acesas e a maioria do público já estava saindo da casa: um fã se ajoelhou no meio da pista e pediu sua parceira em casamento, num momento muito especial para o casal. Como disse um amigo que estava comigo: “Quem disse que emo não tem coração?” Esse último momento deixou algo mais do que claro: para a maioria dos que estavam lá, o Amity Affliction é muito mais do que uma banda, é a trilha sonora de diversos altos e baixos da vida, uma presença que os acompanhou quando ninguém mais esteve com eles. Foi por essas e outras que o show se destacou. O som pode não ser a praia de todos, mas a conexão da banda com seus fãs era algo realmente especial e emocionante.

Setlist The Amity Affliction

Pittsburgh

Drag the Lake

The Weigh Down

Like Love

Don’t Lean on Me

Open Letter

All My Friends Are Dead

Chasing Ghosts

All that I Remember

Death’s Hand

I See Dead People

My Father’s Son

It’s Hell Down Here

Give it All

 

Bis

Soak Me in Bleach

 

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