URIAH HEEP – SÃO PAULO (SP)

11 de abril de 2025 – Tokio Marine Hall

Por Antonio Carlos Monteiro

Fotos: Roberto Sant’Anna

É mais ou menos como um cantor ficar afônico no dia do show ou o guitarrista quebrar o braço: quando a gente, que vive das palavras, fica sem saber o que dizer significa que estamos diante de um problema. Mas, analisando friamente, como encontrar a forma correta para definir com perfeição o que foi o show do Uriah Heep na sexta-feira, 11 de abril, no Tokio Marine Hall, em São Paulo? Claro, as expectativas eram altíssimas; afinal, estamos falando de uma banda que, apesar de não ter conseguido um sucesso à altura do que merecia, sempre foi muito bem cotada ao longo de seus mais de cinquenta anos de carreira. Mas, mesmo assim, Bernie Shaw (vocal), Mick Box (guitarra e backing vocals), Dave Rimmer (baixo e backing vocals), Phil Lanzon (teclados e backing vocals) e Russel Gilbrook (bateria) fizeram uma apresentação memorável, daquelas que poucas vezes temos a oportunidade de assistir.

A abertura ficou a cargo do Allen Key, uma das bandas mais promissoras da atualidade. Com nova formação, o quinteto liderado pela excelente vocalista (e também violonista e tecladista) Karina Menascé talvez não estivesse tocando para um público (e que ainda estava em número reduzido) que tivesse maior identificação com a banda, que faz um hard/heavy com muitos toques modernos, mas mesmo assim deu seu recado. O time que compõe o grupo é fantástico, mas o destaque, não tem jeito, é Karina. O vocal dessa moça é simplesmente impressionante: potência e afinação irrepreensível se misturam a muita simpatia em cena e a uma movimentação incessante. Acredito que ainda vamos ouvir falar muito dessa banda.

Foi um ótimo aquecimento para o que estava por vir. Mas, como já disse, ainda assim fomos surpreendidos, como diria o Velho Lobo. Sem grandes enrolações e com a casa bem mais cheia (mas não lotada), o Uriah Heep entrou em cena com Grazed by Heaven, faixa de seu penúltimo disco, Living the Dream (2018), que começa com um daqueles riffs que unem guitarra e Hammond em uníssono e geram um efeito sublime. Em seguida, Save me Tonight, do mais recente álbum, Chaos & Color, de 2023 – detalhe interessante, essas duas primeiras são de autoria de uma curiosa parceria entre o baixista Dave Rimmer com Jeff Scott Soto.

A essa altura, era possível perceber o que seria a noite. Com um som claro e cristalino brotando dos PAs, dava pra sacar que a cozinha da banda é de uma qualidade ímpar. Gilbrook não faz os belos backing vocals de seu antecessor, o saudoso Lee Kerslake, mas consegue como poucos unir técnica, criatividade e muito peso – chega a ser impressionante como a força de sua batida, digna de uma banda de thrash metal, não descaracteriza o som do Uriah. Já Rimmer, o caçula da turma (entrou na banda em 2013), tem uma postura mais discreta, mas sabe o que faz com o baixo nas mãos e a cara no microfone. Phil Lanzon está no grupo desde 86 e é um dos principais compositores, ao lado de Box. Além disso, quase a totalidade de seu som sai de uma máquina maravilhosa chamada Hammond, órgão de timbre inimitável e que se tonou uma das marcas registradas do Heep. Muita gente foi lá pra ver Mick Box, um dos guitarristas mais subestimados da história. Quem fez isso não perdeu a viagem. O timbre único, as melodias lindíssimas nos solos e aquela “prestidigitação” que ele faz enquanto sola permanecem lá, intactos – e o cara mostra imensa felicidade enquanto toca,, o sorriso raramente sai da cara. Repito, eis um músico que merecia muito mais reconhecimento do que tem.

Agora, vamos chegar no ponto: não importa quem você foi ver lá, você viu – e ouviu!! – Bernie Shaw. O cara é sensacional. Presença de palco perfeita e simpatia em alta, sempre com um sorrisão rasgando a cara, falou o tempo todo com a galera. O cara gosta de uma resenha! Contou histórias, chamou Mick Box de “meu melhor amigo”, explicou que a turnê não era uma despedida, mas uma diminuída de ritmo (“queremos passar mais tempo com a família”) e reclamou que hoje em dia a música está muito categorizada: “É heavy metal, hard rock… antigamente era só rock!” Essa foi a deixa para Box chamar a instigante Free’n’Easy, de Innocent Victim (1977). E agora o principal: como canta esse sujeito! O Google diz que ele nasceu no dia 15 de junho de 1956, ou seja são 68, quase 69 anos de idade, e soltando a voz num microfone na maior parte do tempo. Alguém me explique, por favor, como ele consegue manter tamanhos alcance, precisão e afinação. Não tem VS que faça o que Shaw faz! O que esse cara toma? Também quero…

Apesar de a banda continuar lançando discos regularmente, grande parte do repertório veio da era de ouro do quinteto: dez das catorze músicas da apresentação foram lançadas nos anos 70, como as insuperáveis Stealin’, The Wizard, Gypsy, The Magician’s Birthday e July Morning (as duas últimas verdadeiros épicos de mais de dez minutos cada uma que passam como se fossem dois…), todas elas cantadas aos berros por uma plateia em êxtase. Após aquela saidinha marota que não engana ninguém, os cinco voltam para mais duas das antigas: Sunrise e a inevitável Easy Livin’, que, com suas belíssimas vocalizações, encerrou a noite.

Saiu todo mundo de lá ansiando para que esse “final mentiroso” da banda permita que o Uriah Heep volte mais algumas vezes ao Brasil. No dia seguinte, em Curitiba, um pilantra roubou a corrente de ouro com um crucifixo cravejado de brilhantes que Mick Box usava no show e à qual ele se referiu como “de estimação”. Depois dessa, sei não se tem volta…

Setlist Allen Key

Granted

Apathy

Straw House

Illusionism

Sleepless

Death from Above

Easy Prey

Get in Line

Setlist Uriah Heep

Grazed by Heaven

Save Me Tonight

Overload

Shadows of Grief

Stealin’

Hurricane

The Wizard

Sweet Lorraine

Free’n’Easy

The Magician’s Birthday

Gypsy

July Morning

 

Bis

Sunrise

Easy Livin’

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