MAESTRICK: NOS TRILHOS DA VIDA

Banda do interior de São Paulo lança disco que é continuação de trabalho lançado há sete anos

Por Antonio Carlos Monteiro

Foi tudo planejado: o novo disco do quarteto de São José do Rio Preto/SP, Espresso Della Vita: Lunare, tem lançamento nesta sexta-feira, 2 de maio, coincidindo com a participação do Maestrick no Banger Open Air, marcada para domingo próximo. O disco é a continuação do trabalho lançado em 2018, Espresso Della Vita: Solare. O vocalista, pianista e tecladista Fábio Caldeira explica essa coincidência de datas e tudo por trás do novo álbum.

Obviamente, o disco novo, Espresso Della Vita: Lunare, tem relação com o de 2018, que se chama Espresso Della Vita: Solare. Qual seria essa relação? E por que demorou tanto para sair essa segunda parte?
Fábio Caldeira: Voltando no tempo… Meus dois avôs trabalharam na Fepasa (N.R.: empresa estatal paulista de transporte ferroviário que existiu até 1998), os dois faziam ronda. Então, às vezes saíam de madrugada para averiguar a linha. Tive um tio que foi maquinista, meu bisavô foi carvoeiro. Meu avô contava histórias de fantasmas que ele via à noite, coisas de folclore. Um dia, conversando com minha mãe, uns dois anos após meu avô ter falecido, ela disse a vida parece um trem: às vezes a pessoa que você gosta desce na próxima estação, às vezes alguém com quem você não se dá fica até o fim pra te ensinar alguma coisa. E na época eu estava ouvindo muito Milton Nascimento e ele tem uma música chamada Ponta de Areia que fala da construção da estrada de ferro Bahia-Minas. Aí veio a ideia de fazer uma história contando uma viagem de trem de um dia, em duas partes. Solare tem doze músicas e fala das primeiras doze horas do dia, representando do nascimento à metade da vida. Lunare se refere à segunda metade, de onde parou a primeira parte até ele descer do trem já velhinho. São mais doze músicas. Aí forma esse relógio de 24 horas, que seria o ciclo da vida. A ideia inicial seria fazer um disco duplo, mas ficaria muito longo. Então, resolvemos fazer em duas partes. E demorou porque teve a pandemia e a gente aproveitou para fazer o máximo possível de shows, fizemos também uma tour europeia, então quisemos extrair o máximo do Solare.

Tem uma infinidade de referências nas músicas de vocês e eu percebi alguns detalhes que remetem aos anos 70 nesse disco, a exemplo de faixas como Boo! e Ghost Casino. Confere?
Fábio: Confere, com certeza! Eu sou muito fã da música dos anos 60 e 70. Beatles, Uriah Heep, Queen, que é minha banda do coração. O Queen flertou muito com o vaudeville, que misturava um monte de coisas no final do século XIX. Isso me apetece muito! Então, trazer essa referência é algo muito natural pra gente. Aqui no Brasil também: Mutantes são incríveis, tem Raul com Sociedade da Grã-Ordem Kavernista Apresenta Sessão das 10 (1971), que é um disco que deu um ‘boom’ na minha cabeça, ,uma espontaneidade muito consciente. Os primeiros do Sabbath com aquele groove, aquele lance mais lento, mais doom. Na faixa Boo! eu quis trazer essa essência de volta. Por mais que a gente faça um som moderno, a gente tem que trazer aquele groove, aquela essência que esses mestres faziam como ninguém.

Fábio Caldeira

Quando vi no material de divulgação que havia uma música, Agbara, com participação de um grupo feminino de maracatu, logo imaginei que o disco todo teria essas referências brasileiras. Mas na verdade só esse tema tem essa característica. Onde a música brasileira se encaixa no som de vocês?
Fábio: Tem bandas que fizeram isso muito bem, desde Mutantes e Novos Baianos. Sepultura e Angra também foram geniais nisso, Holy Land (1996) foi um disco que mudou minha vida. Mas a gente está mais preocupado em ser espontâneo e fazer aquilo ter um sentido. Essa música foi influenciada por Hermeto Paschoal, eu fui num workshop dele saí de lá inspiradíssimo. Agbara não é uma música de metal com influência brasileira, é uma música de metal com fluência afro-brasileira (risos).

Espresso Della Vita: Lunare conta com vários convidados especiais. Poderia falar sobre eles?
Fábio: A gente começou a trabalhar como nosso manager Milton Mendonça no final de 2023. E ele sugeriu em algumas participações que tivessem a ver e trouxessem uma visibilidade para nós. A gente escolheu Roy Kahn, que participa de Lunar Vortex. Esse foi o primeiro clipe do novo disco e também o primeiro que ele topou participar fora das bandas dele. Tom Englund, do Evergrey, participa de Boo! E Jim Grey, da banda australiana do Caligula’s Horse, foi convidado porque ele tem muita dinâmica na voz. E foi incrível, ele quis entender a letra e depois quis cantar as harmonias em português. Isso partiu dele, ele estudou a pronúncia e mandou com muita fluência. Em Mad Witches tem a participação de uma cantora da Disney, Giulia Nadruz. E em Dance of Hadassa participa um coral de senhoras sobreviventes do Holocausto ou parentes diretos deles, é o coral Sharsheret, regido pela maestrina Sima Halpern. Elas cantam em iídiche, que é o idioma dos judeus europeus. E a força que eles trouxeram foi incrível.

O disco no geral é muito surpreendente, porque cada faixa vai numa direção diferente, tanto que é impossível rotulá-lo. Isso foi pensado ou saiu naturalmente, seria algo da essência de vocês?
Fábio: Um pouco das duas coisas. A gente é consciente de que é inquieto e hiperativo. É uma coisa muito nossa. Eu gosto de explorar o máximo possível de histórias e nisso às vezes você usa um elemento musical de forma não musical e o contrário também. A gente está atento a contar as histórias de forma natural, espontânea e verdadeira. Por exemplo, em Solare tem uma música que fala de saudosismo e se chama Far West. Essa palavra evoca saudosismo. E a gente estudou o western spaghetti, o Ennio Morricone, eu entrei naquilo pra passar minha verdade. E como a gente tem muita influência no cinema e na literatura também, a banda acaba sendo um ponto de convergência entre esses elementos. Isso de você não conseguir nos rotular é um grande elogio, mas a gente não está querendo confundir ninguém, só tentamos ser um ponto de convergência entre vários estilos e linguagens. A gente sempre teve essa coisa de fazer um diálogo com outras formas de arte,

Você tem intenção de unir esses dois discos e apresentá-los em um show com personagens, como se fosse um musical?Fábio: Desde o início as banda! (risos) Fazer algo com o Cirque de Soleil… Eu escrevi o livro do primeiro disco da trilogia que o Edu Falaschi está gravando, o Vera Cruz, e estou fazendo os outros dois. E quero escrever o livro da história desses discos, ampliar o Maestrick ao máximo possível, fazer algo pra ouvir, ler, transformar em uma coisa multimídia.

Espresso Della Vita: Lunare está saindo através da Frontiers. Como se deu essa entrada de vocês no selo?
Fábio: A gente lançou o primeiro single, Etherial, que foi dirigido pelo Leo Liberti. O Milton divulgou quando saiu o clipe e a Frontiers veio falar com ele porque gostaram muito da música e fizeram uma proposta. Ou seja, nem chegamos  a mandar o disco completo pra ele, soltamos o clipe e eles mandaram a proposta.

Quando acontece algo assim deve dar um orgulho enorme…
Fábio: Dá, claro. Nessas horas passa um filme na cabeça. A gente fica feliz por estar conseguindo crescer sem pular etapas, fazendo das coisas do jeito que a gente acredita e honrando aqueles que vieram antes da gente, como nossos familiares.

O disco vai sair dia 2 de maio, que é o primeiro dia do Bangers Open Air, e no domingo vocês tocam. Há alguma relação entre as duas datas ou foi coincidência?
Fábio: Foi de propósito! Foi uma ideia do Milton. A gente esperou a melhor época, explicamos para a Frontiers e eles concordaram.

Falando nisso, o que os fãs podem esperar desse show?
Fábio: A gente vai com força total! Vamos tocar os singles, que a galera já conhece, e as músicas dos outros discos que a gente sabe que o público gosta. A gente quer fazer um show para mostrar esses cenários diferentes em que a gente transita. Queremos transmitir várias emoções no show pra mostrar nossa essência.

E dali em diante, com disco lançado e show no Bangers realizado, quais os planos de vocês?
Fábio: Em setembro a gente estreia nos EUA no ProgPower e estamos marcando os shows para a turnê do novo disco, devemos fazer as capitais e estamos negociando América do Sul e voltar para a Europa. A gente está tentando chegar ao máximo de lugares possíveis. Tocar ao vivo é uma das melhores coisas que tem no mundo.

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Foto: Gisele Turteltaub
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