ROT – SÃO PAULO (SP)

25 de abril de 2025 – SESC Belenzinho

Por Daniel Agapito

Fotos: Lucas Camargo

Já diz a clássica Terra do Carnaval, do Ratos de Porão: “Você sabe de onde eu venho? / Da terra do carnaval (…) / Futebol / Mar e sol / Uma dívida gigante / Pra pagar até morrer!” Musicalmente, somos conhecidos por uma vasta gama de estilos, sejam samba, bossa nova e, até certo ponto, o rock e o metal. Muito se engana aquele que pensa que metal nacional com sucesso internacional se limita a Angra, Sepultura e o próprio RDP. Com 35 anos de estrada nas costas, o Rot tem sido há tempos cultuado no cenário underground internacional do grindcore, considerado um dos grandes expoentes latino-americanos do gênero, dividindo tanto palcos quanto splits com outros grandes nomes do estilo desde 1990. Tendo sua festa de 30 anos abortada pela pandemia, decidiram celebrar os 35 com um show especial no SESC Belenzinho, “planejando resgatar todos os períodos da banda, tocar blocos de álbuns e EPs, além de tocar músicas que nunca tocamos e canções inéditas que serão lançadas ainda este ano”, conforme comentou o próprio Clodoaldo “Mendigo”, guitarrista e fundador da banda.

Pontualmente às 20h30, o Rot subiu no palco da Comedoria, já chamando uma convidada ao palco para a primeira música. Reprisando o papel que exerceu nas gravações em estúdio, Helô Knup performou Sobre esses Dias, faixa que abre o álbum mais recente, Organic, de 2021. Os primeiros dois blocos do show, com 6 músicas cada, foram focados nos lançamentos mais recentes do grupo, trazendo Smile Stupidly, Until it’s Worthless, The State Is the Denial of Humanity, Still Resist e Downfall do já citado álbum, além de faixas do EP Worshipping Their Own Chains, de 2017 (a faixa-título e Post Mortal Promises) uma atrás da outra.

Outro destaque do começo do setlist foi a inclusão de algumas músicas do até então não lançado split com o também lendário Facada, do Ceará, Em Sincronia com o Fim do Mundo. Este álbum que nos trouxe faixas como Pathetic White Man, petardo groovado que já integra o repertório da banda desde o ano passado, perfeito para dar alguns two-steps, Past, Present, No Future, que realmente destaca as habilidades “baterísticas” de Emiliano Borges com viradas estonteantes – aquele homem é uma máquina, não só bate na bateria com uma força inigualável, como demonstra uma rapidez realmente incompreensível, é daqueles músicos que você assiste e pensa: “Que porra é essa?”, – além de Plural  e Hosts of Hate.

Com pouco descanso entre um bloco e outro, vieram mais músicas de lançamentos recentes, agora um misto do álbum de 2021 e do split, incorporando também 3 músicas do EP Nowhere de 2015. Parando um pouco, Gradice conversou com os fãs: “Boa noite, obrigado a todos que apareceram aqui para celebrar os 35 anos de resistência do Rot. Espero mais 5, se a tendinite deixar.” Para o próximo bloco, que contemplaria A Long Cold Stare (2002), além de mais algumas antiguidades, chamaram uma figura que foi para lá de importante na história deles. Alguns conhecem como “Pulguento”, outros como “Piolho”… Era Jeferson Pizoni, que assumiu os vocais da banda até 2013, mais ou menos a mesma época em que Marcelo Batista retornou e Marcolino Jeremias entrou. Jeferson subiu no palco, agradeceu o convite e a presença de todos, seguindo direto para a porradaria, iniciando forte com Fanatical Monstrosity.

Tendo outros dois vocalistas no palco, Evandro Borella ficou um tanto sem espaço, então optou por descer e cantar no recuo entre o palco e a plateia. Entre Eternal Sunday e Beyond the Evidence, Mendigo, que estava tocando fraquinho, conseguiu quebrar uma corda e trocou sua guitarra com uma rapidez digna de pit stop de Fórmula 1. A Icônica What’s the Next Grindcore Bullshit? foi a responsável pela finalização daquele bloco e do primeiro ato do show.

Sobre o evento, Borella comentou: “Já estávamos há alguns meses na expectativa de esse evento rolar no SESC, que já havia aberto as portas para o Rot na comemoração dos 30 anos. Quando oficialmente foi comunicado, entrarmos em êxtase, pensando em como poderia ser este evento, na tamanha responsabilidade que seria apresentar de alguma forma o que foram estes 35 anos de Rot até aqui, o que poderíamos acrescentar ao concerto – imagens e pessoas que ainda em atividade tivessem interesse em somar.” Ele continua: “Nem tudo que realmente queríamos foi possível para esta noite especial, que marcaria o quanto este estilo musical se tornou importante para a cultura musical, ao combate direto aos problemas que o ser humano promove no planeta. Foram dois meses de ensaios constantes e bastante cansativos para alcançar o objetivo de um pouco mais de uma hora de música incessante, rápida e calorosa no palco. Agradecemos demais toda a galera que colou e esteve junto nesta celebração que não é apenas nossa, e sim de toda uma geração da qual muitos ainda estão de pé.”

O primeiro bloco do segundo ato viu o retorno de Knup para dar uma força à banda em Painful Existence, além da execução de algumas velharias, como Uncertain Future e Elegance of Life, ambas presentes no compilado Old Dirty Grindcores – e que são exatamente isso, faixas diretas e retas de grindcore –, além de Restricted, faixa de seu icônico debut, Cruel Face of Life, que os consagrou como um dos primeiros grandes nomes do grindcore sul-americano. Marcada por uma linha de baixo que impõe autoridade, ela mandou abalos sísmicos pela Comedoria do SESC, que contava com uma roda feroz em frente ao palco. A instrumental Subversive, Not Alternative (que capta muito bem a mensagem da banda, ecoada pelo grind como um todo) fechou aquela seção, passando sem pausa alguma para mais uma sequência brutal de pedradas auditivas, desta vez puxadas não só das profundidades do acervo, como também de Sociopathic Behavior (1998), como Learn Some Respect, que começa mais solta, quase desleixada, mas a enxurrada percussiva que vem logo depois não deixa dúvida da rapidez do grupo. Vindo do mesmo álbum, também figurou a odisseica Social Gear, que realmente compete com os hits do Dream Theater em termos de duração: 14 segundos.

Esta sequência incessante de porradas caracterizou boa parte do show, era como ser jogado em um liquidificador, e quando você acha que tinha um segundo para se recompor, vinha outra virada estonteante, rapidamente complementada por um riff tão sujo quanto caixa de gordura de boteco. Fazendo uma última breve pausa, novamente agradecendo a presença de todos, Borella soltou algumas últimas palavras para injetar mais ânimo nos fãs, que já estavam se acabando com as até então quase 40 faixas de pura sujeira que haviam tocado: “Vamo curtir aí, sexta-feira é caótico! É foda depois do trampo chegar aqui, o Rot agradece. A gente espera chegar aos 40 anos proporcionando isso.” Trazendo um lado mais puramente puxado para o punk e para o hardcore, Russian Roulette é daquelas que serve como trilha sonora perfeita tanto para sair na mão quanto para dar two-step, atos que geralmente acontecem juntos, dependendo do show. Fecharam sua apresentação mesclando eras da banda, performando faixas tanto de seu primeiro álbum quanto do último, que nem lançado ainda havia sido, concluindo os serviços com as pesadíssimas Cooperation, Not Competition, de Cruel Face, que deveria ser um dos lemas do underground, mas que nos últimos tempos anda sendo mais e mais esquecido como conceito, e Bastard Politicians, que marca o final de seu split com o Facada.

Para os que não acompanham o gênero, é realmente difícil explicar o tamanho da loucura que é uma banda de grindcore fazer um show de uma hora. O estilo pode não necessitar da técnica e da finesse do power metal ou do metal progressivo, mas demanda uma energia – e, verdadeiramente, de um espírito de rebelião e ódio no coração – que poucos têm. Por meio de 47 músicas, o Rot fez um resumo compreensivo de boa parte de sua carreira, deixando pouquíssimas lacunas, considerando o tempo que tinham disponível, apresentando uma verdadeira ode à antimúsica global. Não só tocaram faixas de seu lançamento mais recente, como desenterraram raridades e contaram com convidados de peso, que tornaram a noite ainda mais especial para os fãs. Agora, só podemos esperar o que farão para seu aniversário de 40 anos. Vida longa ao Rot, vida longa à música extrema (e à antimúsica) nacional!

Fecho a matéria com as palavras de Mendigo, o homem por trás da banda, que comentou sobre os 35 anos do Rot: “Difícil dizer como uma banda de grindcore possa ter sobrevivido no underground brasileiro sem se render aos caprichos e vaidades que existem dentro da música, seja ela comercial ou não. É difícil manter um compromisso com sua sonoridade e permanecer fiel aos ouvintes que admiram suas ideias filosóficas. É difícil manter o compromisso ao barulho cru e brutal. A banda foi se moldando durante 3 décadas, passando por dezenas de formações e fatalidades. Sobrevivemos ao descaso ou à irresponsabilidade que houve com um estilo que se metalizou cada vez mais com um quase apagamento de sua origem: os guetos punks de toda cidade industrial do mundo. Esperamos pelo menos chegar aos 40 anos sendo os mesmos velhos e sujos grindcores! Nos vemos por aí no submundo da anti(música).”

Setlist

Ato 1

Sobre Esses Dias (com Helô Knup)

Smile Stupidly

Pathetic White Man

Until it’s Worthless

The State is the Denial of Humanity

Still Resist

Past, Present, No Future

Plural

Downfall

Worshipping Their Own Chains

Postmortal Promises

Hosts of Hate

Sadistic Creature

This Silent World

Dethroned Certainty

Espólios da Revolução

Fanatical Monstrosity

A Part of Me

Life Will Serve a Life

Eternal Sunday

Beyond the Evidence

Slowly it is Coming

Torpor

Like a Promise

What’s the Next Grindcore Bullshit?

 

Ato 2

Painful Existence

Uncertain Future

Elegance of Life

Restricted

Subversive, Not Alternative

Pull the Trigger

Strange Feelings

Decreased Possibilities

Learn Some Respect

Indifferent

Social Gear

Downtrodden

Russian Roulette

Destroy Everything

Fatality?

My Enemy

Hidden From Yourself

Technologic Error

War Business

Cooperation not Competition

Bastard Politicians

Clique aqui para receber notícias da ROADIE CREW no WhatsApp.

 

 

Compartilhe:
Follow by Email
Facebook
Twitter
Youtube
Youtube
Instagram
Whatsapp
LinkedIn
Telegram

MATÉRIAS RELACIONADAS

DESTAQUES

ROADIE CREW #285
Março/Abril

SIGA-NOS

51,1k

57k

17,1k

981

23,7k

Escute todos os PodCats no

PODCAST

Cadastre-se em nossa NewsLetter

Receba nossas novidades e promoções no seu e-mail

Copyright 2025 © All rights Reserved. Design by Diego Lopes

plugins premium WordPress