UP FRONT FEST – SÃO PAULO (SP)

11 de maio de 2025 – Carioca Club

Texto: Rogério SM

Fotos: Leandro Kehl

Punks not dead, mas nem sempre estão bem de saúde. Essa frase foi dita pelo baixista do The Exploited, Irish Rob, durante o show em São Paulo. Ou seria mais uma jam? De toda forma, é uma afirmação que resume bem o que foi a epopeia da aclamada última turnê do lendário e seminal grupo escocês no Brasil.

A perna sul americana da turnê contou com shows no Chile, Uruguai e Argentina, finalizando com apresentações em Curitiba, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo, nesta ordem. Tudo começou bem, com um show visceral na capital do Paraná. Porém, depois disso, as dúvidas e expectativas dominaram os fãs. Isso porque o vocalista Wattie Buchan, fundador do grupo e único remanescente da formação original, passou mal antes do show de BH e precisou ir para o hospital. Minutos antes de o Exploited subir ao palco, o público foi informado que o quase septuagenário frontman não poderia se apresentar por recomendação médica. Sendo assim, o baterista G-Man Sullivan, o baixista Irish Rob e o guitarrista Steve Campbell subiram ao palco para tocar algumas músicas com ajuda dos vocalistas João Gordo (Ratos de Porão) e Callum Graham (The Chisel), que faziam parte do cast do Up Front Fest.

O próximo show seria no Rio de Janeiro. Fãs inundaram as redes sociais com dúvidas e perguntas sobre a apresentação e o restante da turnê. Para alegria do público carioca, Wattie subiu ao palco para o show. Entretanto, logo de cara algo se mostrava errado. Na terceira música do set, o vocalista passou mal e cuspiu sangue, interrompendo a apresentação por alguns minutos. Mas Wattie é conhecido por não se entregar. O show continuou com energia suficiente para encantar o público.

Só que a epopeia não havia acabado. Logo após o show, Wattie subiu um vídeo em suas redes sociais dizendo que o show havia sido incrível, mas que ele estava muito doente e se sentido mal, afirmando que não sabia o quanto mais aguentaria. Foi o bastante para deixar os fãs paulistas repletos de dúvidas e expectativas, além de muita preocupação com a saúde e o bem estar do vocalista. De toda forma, o fest estava confirmado e logo cedo o público já se encontrava no Carioca Club.

Os punks e fãs que chegaram cedo puderam conferir os shows agressivos e eficientes das bandas Punhos de Mahin, Urutu e Escalpo, que entregaram tudo no palco e deixaram o clima um pouco menos tenso. Porém, era comum encontrar diversas pessoas conversando dentro da casa se Wattie subiria ou não ao palco, enquanto outros acessavam sem parar as redes sociais em busca de informações.

A coisa começou a ficar mais festiva quando os ingleses do The Chisel subiram ao palco. Liderados pelo vocalista Callum Graham, o  grupo que já foi chamado de “nova sensação do oi!” despejou pedrada atrás de pedrada, mesclando músicas mais agressivas, como Evil By Evil, com outras de sonoridade mais clássica do oi!, caso de Cry Your Eyes Out. A simpatia do quinteto conquistou de cara o público presente, com Graham sem esconder a satisfação de poder tocar em terras brasileiras. Era engraçado também como o vocalista tentava se comunicar com os fãs a todo momento, mas seu forte sotaque ‘cockney’ impedia um entendimento muito apurado por parte dos presentes. Porém, isso só deixou o show ainda mais descontraído. Graham andava por todo o palco a cada música, fazendo questão de envolver o tempo todo quem estava nas primeiras fileiras. O final com Retaliation e Chisel Boys foi o ápice dessa entrega, com o público gritando o nome do grupo.

Quando as cortinas se fecharam, a tensão voltou a dominar os presentes. A pontualidade do evento, entretanto, não deixava a coisa escalar e, no horário certo, o Ratos de Porão subiu ao palco já com a casa completamente cheia. Nem tem muito o que dizer sobre João Gordo (vocal), Jão (guitarra), Juninho (baixo) e Boka (bateria). Entregando clássicos atrás de clássicos, o veterano grupo paulista fez todo o público levantar um mar de braços e gritar refrãos e até letras inteiras a plenos pulmões. Também não é de se esperar menos de um set que trazia verdadeiros petardos como Amazônia Nunca Mais, SOS País Falido, Morrer, Sofrer, Juventude Perdida e Exército de Zumbis (música que Gordo agora faz questão de explicar que a letra é sobre os dependentes químicos da cracolândia). A questão política também está cada vez mais presente nos shows do grupo, com discursos fortes e resposta ainda mais forte dos fãs, que dessa vez entoaram gritos de “sem anistia”.

A coisa ficou um pouco mais tensa quando Gordo comentou que Wattie ainda estava muito doente e poderia até sofrer algo pior se subisse no palco. Foi a deixa para a tensão dominar ainda mais os presentes. Porém, a empolgação continuou com músicas como Beber Até Morrer, Alerta Antifascista, Sentir Ódio e Nada Mais e Crucificados pelo Sistema, em uma versão extremamente pesada e bruta. O final veio com os clássicos Aids, Pop, Repressão e Crianças sem Futuro, com o quarteto deixando o palco extremamente ovacionado.

A partir daí a atmosfera ficou tão densa que dava pra cortar o ar com uma faca. As cortinas não foram fechadas, dando já indício de que algo estava fora do habitual. Víamos os músicos do Exploited passando pelo palco, ajustando seus instrumentos com a equipe técnica, mas nem sinal de Wattie. O silêncio dos presentes deve ter sido sem precedentes para um festival desse tipo. A cada minuto, a tensão escalava, mas ainda havia esperanças. Porém, pontualmente às 20h, uma pessoa da produção sobe ao palco com um microfone e informa que Wattie está doente e não poderá se apresentar. Um vídeo do vocalista se desculpando e explicando a situação é colocado no telão. Vemos Wattie visivelmente triste e decepcionado, informando que está com pneumonia e que subir ao palco naquele momento poderia ser fatal para ele. Assim, o trio restante do The Exploited começou o show como uma homenagem a Wattie e para fazer da noite uma “festa punk”, como comentou a pessoa da produção.

Obviamente que, nessas circunstâncias, o show foi bem menor do que o normal, com o baixista Irish Rob segurando no vocais em músicas como Fight Back e Dogs of War. Ele e o guitarrista Steve Campbell pediam a todo momento que o público curtisse o show por Wattie. Assim como ocorreu em BH, Graham subiu ao palco para dar sua contribuição, mas eram nítidas a decepção e também a preocupação com a saúde de Wattie por grande parte do público. Isso não impediu que muitos presentes cantassem junto com a banda, como em Beat the Bastards, uma das que foram mantidas no set. Fãs também subiam ao palco para os famosos stage dives e, verdade seja dita, o trio segurou com garra o show. Irish Bob mostrou uma simpatia ímpar, conversando com o público a todo instante e fazendo com competência a dupla função improvisada. Ele inclusive chegou a comentar que Why Do You Do this to Me era sobre saúde também, em uma alusão clara ao vocalista.

João Gordo subiu ao palco para dar sua contribuição, cantando clássicos como Dogs of War (tocada pela segunda vez), Rival Leaders e Fuck the USA. Os stage dives não cessavam, mostrando que boa parte do público preferiu aproveitar a “festa punk”, mas também havia os que estavam visivelmente tristes e decepcionados. Mesmo assim, o palco foi inundado de fãs para o final com Sex and Violence, tendo também Jão na guitarra. Diante das circunstâncias, o grupo entregou o que pode. Porém, o misto de decepção por não ver o lendário vocalista no palco, assim como a preocupação com sua saúde, deixou um gosto um tanto amargo em boa parte dos presentes, ainda mais por saber que esta foi a última turnê da banda no Brasil. De toda forma, uma coisa ficou clara: os punks definitivamente não estão mortos, mesmo que possam ficar doentes.

 

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