Por Fernando Queiroz
Fotos: Belmilson dos Santos (exceto onde indicado)
Tem bandas que são escola. Algumas se tornam lendárias, daquelas que enchem estádios. Outras caem no esquecimento, por quaisquer motivos. Já outras se mantêm vivas, firmes e fortes, em um patamar intermediário de popularidade. Contra todas as probabilidades, dada a conturbada trajetória da banda, o Stone Temple Pilots entra no rol dessas últimas citadas. E não, isso não é uma desfeita, é um grande feito! Você sabe quantas bandas apareceram durante a era grunge? Não? Bom, muitas. E de quantas você se lembra? Provavelmente, poucas, e a banda dos irmãos Dean e Robert DeLeo é uma delas, tenho certeza.
Uma das coisas mais legais de se ver nesse show numa fresca noite de outono, era a variedade etária dos presentes: “tiozões” e “tiazonas”, rapazes e moças na casa de seus trinta e muitos, e jovens recém-chegados aos trinta (vale dizer, boa parte desse grupo conheceu a banda através do jogo de PlayStation 2, Grand Theft Auto: San Andreas, o que é um grande mérito do jogo e da banda). É uma banda de rock que se tornou atemporal. Nunca conseguiram a notoriedade do Pearl Jam ou, principalmente, do Nirvana, dentro do mesmo gênero, mas estão nesse panteão. Agora, em sua segunda vinda ao Brasil (a primeira foi no Summer Breeze Brasil 2023) após a morte trágica de seus dois ex-vocalistas Scott Weiland e Chester Bennington, provaram sem sombra de dúvidas que estão mantendo o legado do grunge vivo, firme, forte e com qualidade, mesmo sem o patamar gigante das bandas irmãs dos anos 90.
Shows pontuais têm que ser elogiados por isso, como foi o caso deste, mas a falta de divulgação quanto ao fato de haver uma banda de abertura também deve ser criticado. Em muitos lugares se via o flyer de divulgação do show, mas em pouquíssimos havia o nome dos excelentes americanos de Las Vegas do Velvet Chains como abertura. Pois bem, a banda capitaneada pelo baixista Nils Goldschmidt foi ao palco para um público ainda bem abaixo do esperado, e muitos dos que ainda não tinham chegado poderiam – e deveriam – ter visto o show bem interessante da banda da Cidade do Pecado.

Apresentaram ao público, que pouco ou nada os conhecia, um som bem rock’n’roll das antigas, sem tentar modernizar muito, condizente com o evento. Foram doze músicas tocadas, todas relativamente curtas, e do começo ao fim mostrando aquele espírito rockeiro de outrora. Canções como Enemy, Stuck Against the Wall e a mais recente, Ghost in the Shell, foram pontos altos. Ainda fizeram um ótimo cover de Suspicious Minds, do ícone de Vegas, Elvis Presley, que valeu a inclusão no setlist. Show bem feito, que parece ter agradado o diminuto público que os assistiu.
É preciso destacar a ótima presença de palco do vocalista Chaz Terra, que entrou este ano na banda, leva muito bem as músicas antigas e não deixa a desejar para o antigo frontman Ro Viper – aliás, em muitos pontos, ele é até mais a cara do estilo da banda, tanto cantando, quanto perante ao público.

Era a hora dos donos da noite, uma das bandas mais icônicas dos anos 90: Stone Temple Pilots. Também pontualmente, estavam no palco Jeff Gutt, Eric Kretz, Dean DeLeo e Robert DeLeo (esse último, aliás, a cara do ator de filmes de ação, Steven Seagal – com a diferença de que Robert está bem menos acabado, nem envolvido em casos de fraude de criptomoedas, como o decadente ator). Basicamente, temos a formação clássica da banda, à exceção de Jeff Gutt, vocalista desde 2017, após a morte de Chester Bennington.
Abriram bem, com Unglued, do álbum Purple, de 1994, e seguiram com o clássico Wicked Garden, do seu lendário álbum de estreia, Core, de 1992. Uma das músicas mais pedidas pelo público, Vasoline, foi a terceira, coroando a entrada triunfal. A base do setlist, aliás, foram esses primeiros álbuns, o que mostra que a banda realmente sabe o que os fãs querem ouvir, apesar de sua recente fase, que também é muito rica.
Importante dizer, Jeff sabe seu lugar. Tem consciência de que não pode simplesmente tomar o posto do clássico vocalista Scott Weiland, falecido em 2015, e respeita o legado da banda e do finado cantor. Ao mesmo tempo, sua voz é extremamente parecida com a de Scott. Ele pouco fala entre as músicas, e quando se comunica, é de maneira tímida, mas simpática. O público entendeu isso e não achou ruim, com coros incessáveis de “ess ti pi” (STP, sigla pela qual a banda é conhecida). Chegava a ser emocionante!
Um ponto a se criticar é a iluminação: invariavelmente, quando o cantor ia para as laterais do palco, era impossível vê-lo se você não estivesse bem perto – inclusive, nas filmagens que fizemos, há momentos que está tão escuro nos cantos que parece que ele nem está lá. Fora isso, um ótimo som, e cada um da banda tem seu brilho musical. Todos têm presença, ninguém fica parado, mesmo com o palco um pouco pequeno. O que, realmente, não podemos elogiar, é o local do show, infelizmente, já que há três pilastras na pista que prejudicam, e muito, a visão de quem não estava na pista premium. Já a acústica, se mostrou impecável para o gênero tocado.
Destaques, realmente maiúsculos, ficaram por conta da ótima Crackerman, da emocionante Still Remains, que Jeff falou, antes de começar, “essa é para Scott Weiland” – nada mais pertinente, pois sua voz realmente permanece! – de seu maior sucesso, Plush, cantada em coro, tanto que em muitos momentos Jeff simplesmente jogava para a galera, e todos sabiam a letra. A “tríade final”, foi com outros clássicos, Kitchenware & Candybars, Piece of Pie e, como de costume, finalizam o show com Sex Type Thing, outra canção atemporal e icônica.
No geral, uma noite ótima, com casa cheia, duas apresentações excelentes e com a banda principal nos presenteando com um setlist impecável, com todas as músicas mais pedidas e conhecidas dos americanos de Seattle. É ótimo ver uma banda que, mesmo após duas tragédias, com seus dois antigos vocalistas falecendo precocemente, se mantém ativa, em alto nível e, mesmo não tocando para multidões, ainda enche casas de show com boa capacidade de público. Mais que isso, uma banda que respeita seu passado, seu legado e sabe perfeitamente o que sua audiência quer ouvir. Esperamos outra apresentação, que não demore tanto para ocorrer, e de preferência em uma casa mais adequada para um alto volume de pessoas e com visão melhor do palco em todos os pontos.
Setlist Velvet Chains
Wasted
Back on the Train
Fade Away
Eyes Closed
Enemy
Run Away
Stuck Against the Wall
Last Drop
Suspicious Minds
I Am the Ocean
Ghost in the Shell
Dead Inside
Tattooed
Setlist Stone Temple Pilots
Unglued
Wicked Garden
Vasoline
Big Bang Baby
Down
Silvergun Superman
Meatplow
Still Remains
Big Empty
Plush
Interstate Love Song
Crackerman
Dead & Bloated
Trippin’ on a Hole in a Paper Heart
Kitchenware & Candybars
Piece of Pie
Sex Type Thing
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