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PARADISE LOST – Rio de Janeiro/RJ, 31 de agosto de 2018

Não que tenha se tornado arroz de festa, até porque é louvável o Paradise Lost passar a bater ponto com frequência no Brasil. A turnê para promover o ótimo “Medusa” (2017), com um show no Rio de Janeiro e dois em São Paulo (na capital e em Limeira), é a quinta passagem da banda inglesa por aqui apenas nos anos 2010 – a quinta das oito desde a primeira vez, naquele Monsters of Rock de 1995. Mais louvável ainda é perceber que os três últimos giros (2015, 2016 e agora) incluíram o Rio de Janeiro, mas se levarmos em consideração que o quinteto passou do Circo Voador para o Imperator e, desta vez, para Teatro Rival, fica a pulga atrás da orelha: uma hora não vai mais valer a pena o esforço hercúleo das produtoras para trazer shows de pequeno e médio porte para cidade.

Se você está se perguntando se o local estava lotado, a resposta é não. Com capacidade para 450 pessoas, a casa recebeu um público até razoável para prestigiar o belo show proporcionado por Nick Holmes (vocal), Greg Mackintosh e Aaron Aedy (guitarras), Stephen Edmondson (baixo) e Waltteri Väyrynen (bateria). E apesar de não ter visto as duas apresentações anteriores em solo carioca – sim, não sabia o que era um show do Paradise Lost desde o dia 6 de setembro de 1995 –, posso imaginar que a graça seria igual mesmo que não houvesse a surpresa gerada pelo hiato pessoal de 23 anos.

E teve graça desde o início, com “From the Gallows”. Graça porque a música, uma das quatro do álbum mais recente, é pesada e hipnótica. Graça porque foi a primeira deixa para a ‘stand-up comedy’ de Holmes, que ironizou o calor gerado por uma iluminação multicolorida que não combina com a banda – “Parece que estamos tocando numa cozinha” – e o insistente ruído que saía do sistema de som – “Esse ‘feedback’ é legal, mas já pode dar um jeito nele”, disse o vocalista, dirigindo-se a quem estava no comando da mesa de som.

E a graça vinha do típico jeito blasé inglês de Holmes, que se veste tão casualmente quanto alguém que estivesse passando por perto e fosse chamado para subir ao palco e dar uma palhinha. E foi com essa postura descompromissada, mas extremamente competente – e o cara ainda canta demais! – que ele anunciou “uma canção muito, mas muito antiga”. Era de se esperar, aliás, alguma comoção em “Gothic”, faixa-título do segundo disco do Paradise Lost, lançado em 1991. No entanto, não foi o que aconteceu.

O negócio esquentou mesmo com as belezuras chamadas “One Second”, depois de uma piadinha de Holmes sobre seu cabelo (ou a falta de), e “Erased”, precedida da tentativa do frontman de se lembrar do último show na cidade – “Minhas memórias não são muito claras, pois estava muito bêbado”. Havia os fãs que sabiam tudo de cor e salteado, mas é impressionante como o lado mais melódico e, por que não?, pop do quinteto incendeia o público – registre-se: respectivamente, as músicas são de “One Second” (1997), é claro, e “Symbol of Life” (2002). Uma recepção do nível da que teve “Forever Failure”, do clássico “Draconian Times” (1995).

 “Requiem”, de “In Requiem” (2007), baixou um pouco a bola na pista, e a igualmente pesada “Medusa” não ajudou a mudar o cenário. Depois de reclamar novamente do ‘feedback’ – de fato, o som não estava em seus melhores dias: alto demais e embolado a ponto de a bateria ser apenas bumbos, caixa e pratos – e agradecer pelo ótimo dia que a banda passou no Rio de Janeiro, Holmes viu que era preciso mudar: “Vamos tocar algo mais alegre e up-tempo”. “An Eternity of Lies”, de “The Plague Within” (2015), fez até o vocalista pedir palmas, no que foi razoavelmente bem atendido, mas serviu para mostrar como Mackintosh é uma usina de força nas seis cordas. Nem tanto pelo riff à la Tony Iommi, mas sim por mais uma amostra das melodias e temas que costuma encaixar com precisão nas bases de Aedy. E que refrão!

Uma zoada ao apresentar do tecladista – “Ele está aqui, mas escondido. Vocês não conseguem vê-lo”, disse Holmes, brincando com o fato de as partes serem pré-gravadas – antecipou a excelente “Faith Divides Us – Death Unites Us”, que dá nome ao álbum de 2009 e é um dos títulos mais maneiros que você pode encontrar no mundo da música. Jogo ganho para a entrada da nova, rápida e pesada “Blood and Chaos”. A dobradinha funcionou tão bem que arrancou o nome do grupo da boca dos presentes, num coro que arrancou sorriso de toda a linha de frente do palco.

“Vamos tocar uma música que parece que não tocamos há mil anos, e ela fala sobre a morte”. E foi o refrão de “As I Die”, de “Shades of God” (1992), que ecoou forte entre as quatro paredes do Teatro Rival. “Agora, um pouco de doom metal”. E “Beneath Broken Fire” (a bênção, Black Sabbath!) fez a ponte para o desfecho com “Embers Fire”, do clássico “Icon” (1993). Fim antes do protocolar bis, afinal, não foi apenas porque o público cantou o refrão com a mesma vontade de antes que os cinco voltaram ao palco. Mas ainda bem que voltaram, porque o encore foi um luxo só.

“No Hope in Sight” provou mais uma vez ser uma das favoritas dos fãs, que fizeram bonito com palmas no refrão. “Quem estava em nosso show em 1995, com Ozzy Osbourne?”, perguntou Holmes. Opa! Eu pude levantar a mão, mas a pergunta serviu de passagem de tempo. “Eu queria que o tempo lá fora mudasse, mas não vai”, completou o vocalista antes de mais uma nova, “The Longest Winter”, que foi curiosamente mais bem recebida. Nada, porém, que se a “Say Just Words” – ah, aquele lado mais melódico e pop do Paradise Lost… E que refrão de rara felicidade! Encerramento alto nível de um show de uma banda singular mesmo nos momentos considerados deslizes por alguns fãs. E foram 16 canções de dez álbuns de uma discografia de 15 títulos (pode contar ao longo da resenha) para mostrar que ainda há lenha para queimar. Sorte dos fãs.

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