LIVING COLOUR

Na agradável noite da última terça-feira (17), os norte-americanos do Living Colour trouxeram a São Paulo a turnê de comemoração de seus vinte e cinco anos de carreira. Com atraso de meia hora para a abertura da casa, o público, até então pequeno, começou a entrar no Bourbon Street Music, localizado no bairro de Moema. O show estava previsto para ter início às 22h, mas foi depois de meia hora, e com as pessoas já tomando praticamente todos os espaços da casa, Vernon Reid & Cia. entraram em cena.

Doug Wimbish entrou fazendo suas acrobacias no baixo logo de cara, jogando o instrumento pra cima e provando seu valor. Mais reservado, o guitarrista Vernon Reid se limitou a ficar somente em sua estação, enquanto Corey Glover, que carrega o fardo de ser frontman da banda, veio usando um macacão verde em cima de seu traje social. Já o grande gênio das baquetas, Will Calhoun, chegou fazendo a contagem para “Preachin’ Blues”, do falecido mestre do Blues, Robert Johnson. Como de costume, foi fácil perceber o bom-humor dos músicos estampado em suas caras.

Ao final, Doug foi ao microfone para interagir com o público: “São Paulo, boa noite, é uma honra estar aqui com vocês comemorando nossos 25 anos de carreira. Então, sem mais demoras, vamos começar.” Assim, teve início a música mais famosa do grupo, “Cult Of Personality”, lançada em 1988 e que tinha seu videoclipe exibido quase diariamente na televisão no fim dos anos 1980 e início dos 90. Claro, o hit levou todos as cantar a letra inteira com Glover. Impressionada com o barulho daquelas quase 500 pessoas presentes, foram seguindo com outros clássicos, tocados com empolgação e técnica. Assim, vieram “I Want to Know”, “Middle Man” e “Desperate People”, seguida do hino da igreja protestante americana “Amazing Grace”. Por sinal, durante a execução desta última, Glover aproveitou para fazer o seu solo vocal, no qual provou ser dos grandes vocalistas do estilo.

Ao longo dos anos, a voz de Glover ficou mais encorpada e seu alcance das notas graves maior. Porém, o seu agudo ainda continua o mesmo, tornando-o um vocalista com um alcance absurdo tanto para graves como para agudos. Afora isso, há um show de interpretação, pois Glover conseguiu emocionar muitos dos presentes durante seu solo. Realmente, lembrava um pastor das igrejas norte-americanas, o que levou o Doug Wimbish a jogar água em suas costas como se estivesse benzendo-o. Todos gargalharam instantaneamente, inclusive os outros membros da banda. Em seguida, o baixista colocou uma toalha na cabeça de Glover como se ele fosse uma freira, levando mais uma vez todos a caírem no riso.

Com descontração e carisma, o show seguiu com a comemoração de 25 anos tendo “Open Letter (To a Landlord)” e “Funny Vibe”, esta última contando até com uma “dancinha” de Corey. Então vieram “Memories Can’t Wait”, “Broken Hearts” e “Glamour Boys”, música que recentemente foi novamente popularizada pela Kiss FM. Nem é preciso dizer que gerou grande empolgação no público, que seguiu virando com a ‘funky’ “What’s Your Favorite Color?” – ao perguntar qual era a cor favorita dos fãs, Glover obviamente recebeu a esperada resposta: “Living Colour”.

Ao final de “Which Way to America?” chegou o momento do solo do mestre Will Calhoun mas, após algumas poucas viradas, a pele do bumbo de sua bateria rasgou e o show foi paralisado. Corey, sempre bem-humorado, pegou o microfone e disse: “Will, se explique para o público.” Passou então o microfone para o baterista, que logo pediu desculpas e disse que o problema seria resolvido de forma improvisada com ‘silver-tape’. Assim, as luzes do Bourbon Street se apagaram e o resto da banda deixou o palco, enquanto Will novamente sacou suas baquetas – aquelas que brilham na ponta – e realizou um solo de bateria dos mais geniais, cheios de quebradas, com levadas de Funky e Blues. A maioria dos presentes – muitos bateristas, inclusive – gritou ao final de cada virada.

Após o solo as luzes se acenderam e os roadies entraram em cena para aí trocar a pele do bumbo. A danificada foi rapidamente retirada e lançada para o público. Enquanto a troca no bumbo acontecia, Will novamente foi ao microfone e anunciou uma participação especial. Se no último dia 13 o grupo dividiu o palco Sunset do “Rock In Rio” com a cantora beninense Angélique Kidjo, desta vez chamou o sambista e compositor brasileiro Osvaldo Barro, mais conhecido como Osvaldinho da Cuíca. Segundo Will, ele é o seu “pai brasileiro”. Os outros integrantes do Living Colour retornaram ao palco e uma grande jam, repleta de misturas de ritmos, teve início. Interessante comprovar a versatilidade dos músicos, ainda sem Calhoun na bateria, que só entrou em cena com a jam ainda acontecendo. Ele retornou ao seu posto para dar mais ritmo ainda àquela mistura sonora. Então, do fundo do palco, surgiu Ivo Meirelles no pandeiro – sim, aquele mesmo, o ex-presidente de uma das maiores escolas de samba do país, a Estação Primeira de Mangueira. Corey Glover não ia ficar fora dessa e rapidamente improvisou um coro de “Olê, Olê, Olê”. Ao final da jam, Will agradeceu Ivo Meirelles por tê-lo levado para conhecer as favelas do Rio de Janeiro na primeira vez que esteve no Brasil – se Osvaldinho era o seu pai brasileiro, Ivo era seu irmão.

Depois da despedida dos músicos convidados, a introdução de “Love Rears Its Ugly Head” começou a soar nos PAs. Glover mostrou todo seu gingado durante a execução da música e ia dançando enquanto cantava. Logo em seguida veio a paulada com levadas de Funk, “Time’s Up”, do clássico álbum homônimo. Todos pularam e banguearam de forma sincronizada nas partes mais aceleradas. Doug, com uma presença de palco impecável, botou novamente seu pé na grade enquanto esbanjava técnica em seu baixo.

O clássico atemporal do padrinho do soul James Brown, “Get Up (I Feel Like Being a) Sex Machine”, teve calorosa recepção dos fãs, mas Corey Glover queria mais. Ele se dirigiu ao pilar localizado na lateral direita do palco, que dá a sustentação do camarote, e começou a escalá-lo. Na beirada do parapeito do camarote, o vocalista se segurou com uma mão e, com a outra, continuou empunhando o microfone e cantando. Alguns começaram a rir, outros se empolgaram ainda mais e começaram a cantar ainda mais alto ainda, enquanto outros simplesmente ficaram espantados, com olhar assustado. Corey ainda adentrou ao camarote e começou a interagir com as pessoas ali presentes. Andou por toda a extensão dos camarotes até chegar à escada que desce para a pista, localizada na lateral esquerda do palco.

Depois da movimentação toda, foi a vez de mais um cover, desta vez da banda Punk The Clash. Glover desceu para a pista normal e começou a bater cabeça com o público – ele simplesmente começou a agitar, empurrar, pular e cantar com os fãs que estavam ao seu redor. Enquanto isso ia acontecendo, lá atrás, Doug Wimbish decidiu dar um “stage dive” (ato de saltar do palco em direção a platéia, simulando um mergulho) com o baixo e tudo mais. Os seguranças aí foram lá e retiraram ambos do meio do público. Ao subir ao palco novamente, Glover tirou sua camisa social e ficou com a camiseta do lendário clube Punk nova-iorquino CBGB’s, conhecido como “o berço do Punk”.

Ao término de “Should I Stay Or Should I Go”, o Living Colour se postou na frente do palco e prestou reverência aos presentes. O que se podia ver claramente era a felicidade estampada na cara de todos. Não só dos músicos, mas dos que tiveram a oportunidade de assistir a esta apresentação energética que, sem dúvida, entrará na lista como um dos melhores do ano. Parecia que a banda havia trazido um show de arena para um lugar fechado, tamanha a presença de palco e qualidade técnica dos músicos. Eles, por sinal, prometeram voltar ao país o mais breve possível. Assim seja.

Set list:
1 – Preachin’ Blues (Robert Johnson cover) 2 – Cult of Personality 3 – I Want to Know 4 – Middle Man 5 – Desperate People 6 – Amazing Grace (John Newton cover) 7 – Open Letter (To a Landlord) 8 – Funny Vibe 9 – Memories Can’t Wait (Talking Heads cover) 10 – Broken Hearts 11 – Glamour Boys 12 – What’s Your Favorite Color? (Theme Song) 13 – Which Way to America? 14 – Drum Solo – com Osvaldinho da Cuíca & Ivo Meirelles BIS 15 – Love Rears Its Ugly Head 16 – Time’s Up 17 – Get Up (I Feel Like Being a) Sex Machine (James Brown Cover) 18 – Should I Stay Or Should I Go (The Clash cover)

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