Não, você não está ficando maluco. E claro, ainda não faz tempo suficiente para você estar confundindo as coisas. Sim, o Accept esteve por estas paragens no ano passado, e em 2018, olha eles aqui de novo. Se você pensou em uma atração cansada, tocando para meia dúzia de gatos pingados, pensou muito, mas muito errado. A julgar pela quantidade de fãs eufóricos que lotaram o Carioca Club naquele domingo (lotaram mesmo!), só poderíamos ter as melhores expectativas. Convenhamos: não poderia ser diferente em um show do Accept, mesmo que eles voltassem mensalmente.
Para abrir a festa, apenas com um pouco de atraso, os brasileiros do República tomaram o palco. Com uma qualidade sonora bem interessante, ficou fácil perceber a qualidade dos músicos que integram a banda paulistana, muito bem acolhida pelo público, por sinal. Leo Belling é um vocalista muito competente, e, comunicativo, conseguiu atrair a atenção do público, ora saudando os presentes, ora explanando sobre as músicas. Destaques óbvios para The Maze, El Diablo, Head Like a Hole (Nine Inch Nails), Life Goes On e Stand Your Ground.
Na sequência, uma das maiores lendas do metal teutônico, o Accept. O início da apresentação não poderia vir em melhor tom: Die By The Sword, faixa de abertura do mais recente e ótimo disco dos alemães – The Rise of Chaos, 2017 – foi recebida com a mesma euforia dos antigos clássicos, com um público entusiasmado, que quase perdeu a voz já no refrão da primeira música. Mas, se alguém ainda queria uma prova da força dessa formação atual do Accept – especialmente do vocalista Mark Tornillo – ela veio com a épica Stalingrad, faixa do álbum de mesmo nome (2012), e que foi o segundo de Tornillo ao lado da banda alemã.
A ponte para os tempos áureos do grupo ao lado do ex-vocalista Udo Dirkschneider veio com a sequência Restless And Wild (Restless and Wild, 1982) e Breaker (Breaker, 1981). É necessário mencionar a empolgação com que esses clássicos foram recebidos por um público formado por fãs absolutamente fanáticos pelo Accept? Então, vamos ao que interessa: é incrível ver o guitarrista Wolf Hoffmann no palco, executando músicas concebidas há mais de trinta anos, com a garra de um iniciante, e o sangue nos olhos de uma banda que está mostrando a música pela primeira vez para uma plateia. Que bom que ainda existem músicos capazes de façanhas como esta.
A ótima fase com Tornillo voltou a ser o foco em seguida, com Pandemic, uma das melhores composições de Blood of the Nations, álbum que em 2010 apresentou definitivamente Tornillo aos fãs do Accept. As boas vibrações foram mantidas com Koolaid e No Regrets (ambas de The Rise of Chaos), que contaram com performances inspiradíssimas de Wolf Hoffmann e do baixista Peter Baltes, que souberam utilizar a passarela instalada diante do palco para que os fãs pudessem melhor apreciar suas habilidades como instrumentistas.
Final Journey foi a primeira de Blind Rage (2014) a ser tocada na noite, e naquele momento esse que vos escreve teve um momento de tristeza contida. Explico: até aquele momento, ninguém sabia da surpresa que rolaria nessa apresentação, então, depois retomarei o assunto. Shadow Soldiers – a última de Stalingrad nessa noite – antecedeu o solo de Hoffmann, que claro, veio com tons clássicos, como haveria de ser. Não é sempre que vemos uma plateia realmente empolgada com um solo, mas o Accept é uma banda diferenciada, e Wolf Hoffmann um guitarrista único. Assim, trazendo à memória muitos aspectos de seus álbuns Classical (1997) e Headbangers Symphony (2016), Hoffmann deu uma aula de bom gosto e precisão, e sim, este foi um solo realmente bom de se ver (e ouvir).
Digamos que nesse momento entrávamos na segunda metade da apresentação, e agora, todos sabiam como ia ser: uma sequência absurda de clássicos. Neon Nights e Princess of the Dawn formaram a sequência matadora de Restless And Wild, e nosso amigo Fernando Pires – o responsável pelas belas fotos que ilustram essa matéria – estampava nos olhos a euforia de ver mais uma vez a forja alemã despejando seu mais puro aço sobre os incautos fãs. Monsterman, de Russian Roulette (1986) foi bem recebida, mas a loucura voltou a reinar com a sequência Up to the Limit e Metal Heart (Metal Heart, 1985), onde mais uma vez Hoffmann e Baltes roubaram a cena.
Teutonic Terror – que poderia ser a forma como os shows da banda são anunciados – não deixou o clima cair, e manteve todos prontos para o massacre que viria em sequência: Fast as a Shark, faixa de abertura do lendário Restless and Wild, e uma das músicas mais importantes da carreira do grupo alemão. Aliás, quantos de nós não estavam ali, naquele domingo, exatamente por ter ouvido essa música alguns anos (ou décadas, o tempo voa) atrás? Sim, para muitos o show poderia acabar nesse momento. Mas foi apenas aquele fim ‘pegadinha do Mallandro’, já que todos sabiam que a banda voltaria em seguida, com aquela música que jamais poderá deixar de ser tocada.
Pois bem, era chegada a sequência final. Para começar, Stampede, faixa de abertura de Blind Rage, álbum que para este que vos escreve, é o melhor do Accept desde Restless And Wild. E então, bem, você lembra que eu disse que retomaria um assunto mais adiante? Pois é, era chegado o momento da surpresa: especialmente para São Paulo, a banda incluiu no set a música Dying Breed, também de Blind Rage, a música favorita deste repórter. Sim, eu quase desmaiei, eu fiquei sem voz, meu coração disparou, e nem lembro direito de como foi a execução de Balls To The Wall, estava ocupado demais tendo um ataque dos nervos (é sério!). Sim, o Accept veio, e só faltou fazer chover na Capital Paulista. Que voltem ano que vem, aliás, que voltem mês que vem. Mas que nunca, nunca deixem de voltar para o Brasil!