SOLID ROCK – Judas Priest e Black Star Riders – 14 de novembro de 2018, Belo Horizonte/MG

O intuito do festival Solid Rock era levar três aulas de rock e metal, lecionadas por Judas Priest, Alice in Chains e Black Star Riders, a três cidades brasileiras, Curitiba, São Paulo e Rio de Janeiro. E assim o fez. A quarta e última parada desse ambulante simpósio da música pesada no Brasil foi Belo Horizonte, porém, sem a presença do grupo oriundo do movimento grunge de Seattle. Coube à dupla Priest e Riders deleitar os fãs mineiros, brindando-os com duas apresentações marcantes e passando por cima de graves problemas no local onde ministraram suas classes.

Quando ficou decidido que o KM de Vantagens Hall – que já se chamou Marista, Chevrolet e BH Hall em algum momento do passado – seria a sede dos dois concertos, logo de cara me deu aquela desanimada. Quem já esteve presente na casa sabe do que estou falando. A acústica de lá deixa muito a desejar. E isso não tem nada a ver com o estilo musical de quem esteja no palco. Não importa se é metal, rap ou MPB, o som nunca é à altura das atrações. Dito e feito mais uma vez! Mesmo com tal defeito crônico, Black Star Riders e Judas Priest esbanjaram extremo profissionalismo e competência, superando tais adversidades.

Os ponteiros do relógio se aproximavam das 20h da última quarta-feira (14), quando o Black Star Riders adentrou o palco com riffs certeiros – originados de três guitarras, já que o vocalista Ricky Warwick também mandava ver nas seis cordas – e muita energia. O público ainda não era dos melhores, mas aqueles que já se encontravam dentro do KM de Vantagens vibrou com músicas como Bloodshot e The Killer Instinct.

Mas apesar da banda ter um arsenal de boas canções, os destaques ficaram para Jailbreak e The Boys Are Back in Town, ambas do Thin Lizzy. Aliás, ver de perto o talento e a mestria do guitarrista Scott Gorham, ex-integrante do Lizzy, foi um dos melhores momentos da noite, daqueles que fazem valer o ingresso. Menção honrosa para o baixista Robbie Crane – conhecido e reconhecido por passagens por Ratt, Adler’s Appetite e tantos outros –, que não parava de agitar um minuto sequer.

Após 45 minutos, fim da aula de hard rock, e o Black Star Riders, bastante aplaudido, abria caminho para o Judas Priest iniciar uma antológica lição de metal, daquelas para não se esquecer jamais.

Por volta das 21h15, as luzes se apagaram, e o início de War Pigs, do Black Sabbath, soava, para o delírio dos espectadores. Sim, a primeira lição seria de história. O Judas queria prestar uma homenagem aquela que foi uma de suas principais inspirações nos idos de sua carreira e referência para todas as gerações de metal desde o nascimento do álbum “Black Sabbath” (1970). Os fãs – agora em um número razoável, mas longe de fazer a casa ficar lotada – cantarolavam alto a primeira parte do hino, antes de cair o pano que trazia o tridente do Priest e emergir o primeiro riff de Firepower, faixa-título do mais recente álbum da banda do baixista Ian Hill e companhia.

Algo que relevante a mencionar é o poder de fogo ao vivo das músicas do disco lançado neste ano. Isso porque Lightning Strike, Rising from Ruins (e sua “vinheta” introdutória Guardians) e No Surrender caíram no gosto dos aficionados: todas foram cantadas em uníssono e com os braços erguidos. E se as mais novas eram tão bem recepcionadas, imagine os clássicos.

Mas antes, uma coisa que também é preciso exaltar é o quanto o Judas Priest é justo em revisitar sua prolífica trajetória. Duvido que algum fã não tenha se arrepiado com a matadora sequência Running Wild, Grinder, Sinner e The Ripper.

Com algumas canções passadas a limpo já era possível constatar alguns pontos. O primeiro é que Rob Halford, no alto de seus 67 anos, canta muito. Confesso que aquele agudo característico em The Ripper me fez recordar de ótimos momentos da infância e adolescência, quando o Priest tinha cadeira cativa nas fitas k7 da minha coleção. Creio que qualquer indivíduo ali presente tinha uma boa história para contar a respeito da primeira vez que ouviu Rob Halford. A nostalgia vinha acompanhada da qualidade do vocalista, um soberano sobre o palco.

O segundo diz respeito à dupla de guitarristas. Ficou notório que Richie Faulkner, substituto de K. K. Downing desde 2011, assumiu de vez o protagonismo das seis cordas, após o afastamento de Glenn Tipton – que vem travando uma luta contra a Doença (ou Mal) de Parkinson. Aliás, seria exagero dizer que Faulkner assumiu também o protagonismo da banda nos shows, nos quesitos técnica e energia? Fica aí um questionamento, uma vez que é surreal o carisma, a habilidade e sua conexão com o público. Ou seja, aprendeu direitinho com seus professores.

Terceiro e não menos importante é Andy Sneap. Referência como produtor, Sneap também é um exímio guitarrista. Diga-se de passagem, faz jus estar na posição em que está, como “suplente” de Tipton. Com essa dupla de “pupilos”, os mentores podem ter certeza que o legado do Judas se manterá intacto.

A apresentação seguia com um nível lá no alto com Turbo Lover – essa música é boa demais, admitam! – e Freewheel Burning, com direito a imagens da lenda Ayrton Senna nos telões, em um momento bastante emocionante – e muitas câmeras de celulares registrando esse tributo.

You’ve Got Another Thing Comin’ e Hell Bent for Leather – com Halford em cima da Harley Davidson – antecederam aquele início apoteótico de Painkiller, comandado pela bateria de Scott Travis – esse cara é um monstro das baquetas, só para não passar batido. E Faulkner seguia beirando o impecável, em riffs e solos.

Quem ainda não estava rouco até então, provavelmente ficou sem voz depois da trinca final. The Hellion/Eletric Eye iniciou esse processo, continuado por Breaking the Law e finalizado com Living After Midnight. O público ainda estava anestesiado – e extasiado –, quando o Judas Priest deixava o palco, depois de uma hora e meia de show, ao som de We Are the Champions, do Queen, em mais uma homenagem na noite. Que aula, hein?!

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