Oriundo de Maceió, esta banda vem em sua trajetória se tornando um exemplo de determinação e foco, nunca deixando de lado seus princípios e sua forte ideologia. Durante anos a banda vem se destacando no necro-underground subterrâneo e que esse ano comemora mais uma conquista, o seu novo álbum Anonymous the Curse of Lammashta em uma iniciativa ousada e muito incomum aqui no Brasil. Para sabermos mais sobre a carreira destes guerreiros convidamos o vocalista/baixista Doom Borges e o fundador da banda Borghyers Infamael que travaram uma luta constante para sobrepujar todas as dificuldades encontradas.
Em nossas conversas, Doom, você me falou que sempre foi um admirador do Lammashta e que acompanha a banda desde o início. Você poderia nos relatar como surgiu a banda?
Doom – Em primeiro Eden, obrigado pelo espaço de divulgação e oportunidade da entrevista! Isso mesmo, lembro de meu primeiro contato com a banda em 2002 na cidade de Maceió quando dividimos palco em um evento. Quando escutei a demo “Excommunicate Soul” fiquei muito surpreso pela brutalidade e pelas texturas musicais, desde então passei a manter contato e acompanhar os lançamentos da banda. A banda Surgiu no ano de 2001 com a extinção da banda Kavy.
Logo no ano seguinte a sua formação a banda divulga sua primeira demo, Excommunicate Soul, como foi a reação do público referente a este primeiro registro da banda?
Infamael – O reconhecimento foi imediato e favorável, porém por não ter sido um processo de divulgação inclusivo por falta até de intimidade com o processo de divulgação no cenário da época e pela quantidade inferior de cassetes confeccionadas, um público seleto adquiriu esse material demonstrando e manifestando plena satisfatoriedade. Portando mediante ao reconhecimento instantâneo a proposta da banda estava se consolidando e intensificando. Trazendo respaldo e legitimidade no cenário.
Quando conheci de fato o Lammashta, foi quando estive em Maceió em meados de 2003 e conheci o Diego que na época trabalhava em uma loja especializada e nessa visita a loja, ele me passou a demo Spiritual Immolations. Fiquei muito impressionado com o som de vocês na época e a partir daí comecei a acompanhar de perto a carreira da banda. Essa demo foi o trabalho que deu mais visibilidade para banda na época? Como foi a divulgação desta demo?
Infamael – Para ser sincero o Spiritual Immolation trouxe de certa forma uma significativa visibilidade sim, em especial pelo contraste das composições evidenciadas na demo, contudo tal campanha da demo foi potencializada a partir das apresentações ao vivo de certa forma bem peculiares, atraindo atenção dos apreciadores de metal extremo, principalmente por conta do discurso e performances enérgicas nos palcos. Resultando numa massifica aceitação desta demo.
Depois de 4 anos vocês lançaram o primeiro álbum, Anonymous, como foi toda concepção deste trabalho?
Infamael – Diferentemente dos anteriores, apesar de todo cuidado e maturidade nas composições junto à contextualização, esse material não atingiu resultados esperados na época, no sentido de aceitação. Porém toda intenção e concepção foram atingidas, fazendo com que percebêssemos mudanças evolutivamente significativas no processo de composição deste álbum junto à ascensão intelectiva, musical e individual dos integrantes frente às características do álbum. Visto que tínhamos como intenção um redirecionamento da temática abordada e novos contextos.
Esse CD saiu de forma independente, vocês que decidiram lançar por conta sem o envolvimento de algum selo?
Infamael – Certamente. Tínhamos um pouco de pressa, pois aguardamos um período substancial levando em consideração a situação estrutural e organizacional da banda naquele estágio. Logo decidimos fazer um a um os exemplares do Anonymous, pois até então não tínhamos resposta nem interesse de ninguém naquela altura.
Mesmo tendo sido lançado de forma independente, a distribuição foi como esperada?
Infamael – Por julgar um disco mal compreendido por alguns naquele período, e com muitos aspectos supostamente desconstitutivos, de forma alguma a distribuição foi como esperávamos. Apesar de todo nosso legítimo entusiasmo, a distribuição foi até certo ponto muito rudimentar e seletiva, poucos exemplares foram difundidos. Apenas os apreciadores, simpatizantes do metal extremo e pessoas próximas e excêntricas adquiriram esse material. Mais nem por isso abandonamos a campanha proposta por nós durante determinado período. Prosperamos bastante por conta desta experiência.
E em 2009 vocês com muita força de vontade, lançaram o EP Rationality And Intolerance também de forma independente. Quais foram as maiores vantagens e desvantagens ao lançar seus trabalhos por conta própria?
Doom – Eu acredito que lançar de forma independente deixa a banda mais livre e no controle quanto ao processo criativo e repasse dos materiais, porém vejo a desvantagem na logística de distribuição. Os custos de envio dos materiais pelo correio são altos para uma banda underground então quando se tem alguém ou algum selo como parceiro há uma divisão de “tarefas” o que facilita a distribuição de materiais e melhor divulgação.
E ainda falando do EP que contem três músicas, vocês têm em mente pro futuro o plano de relança-lo para todos que ainda o procuram?
Doom– No momento isto não é pauta para banda digamos, pois estamos nos passos iniciais para compormos um novo disco inédito e focando nisto, mas evidente que se alguém se interessar por ele podemos providenciar sem problema.
Depois de todos esses anos de luta em prol do underground, vocês atacam em 2014 com segundo álbum The Pandemonium Begins Here ainda de forma completamente independente. Não houve nenhum interesse por parte dos selos para esse lançamento?
Infamael– Em todo decorrer de 2014 não houve nenhuma manifestação de interesse por parte de selos, grupos, aliança etc. E seguramos bastante antes de tomar qualquer tipo de decisão precipitada relacionada ao lançamento independente. Só então num período de descrença resolvemos aos poucos distribuir artesanalmente o material gravado, foi quando então finalmente chegou às mãos certas e a aliança foi firmada, fazendo com que atingíssemos nosso objetivo até então.
É um trabalho muito bom e que ao adquirir fiquei surpreso por ser independente. Em algum momento vocês não pensaram em montar um próprio selo?
Doom – De fato o álbum Pandemonium tem qualidade bem aceitável em termos de produção sonora mesmo sendo todo gravado em casa e com poucos recursos. Veja Eden, devido a questões financeiras e de prioridades não seria vantagem para os membros enveredar neste caminho de montar um selo. tiraria o foco da banda.
Depois de muito tempo fiquei sabendo que o Diego, um dos fundadores da banda, saiu do Lammashta. Qual foi o motivo que o fez sair?
Infamael – Tomarei a liberdade de reorganizar esta informação. Veja, eu quando resolvi terminar nosso antigo projeto antes do Lammashta, o fiz por inconsistência de critérios causados por antigos envolvidos. Logo com o engrandecimento e consolidação de princípios singulares necessários para constituir essa esfera, resolvi fundar o Lammashta sob uma nova égide. Então a coisa foi restabelecendo, amadurecendo, consolidando e tornando uma banda com princípios coerentes e determinados. Então quando conseguimos atingir tais propostas ao decorrer dos anos durante nossa trajetória, alguns dos membros já não mais se identificavam com a organização mantida por anos, foi quando por motivos de incompatibilidade e auto-reconhecimento, alguns membros, incluindo Diego, decidiram se ausentar do Lammashta. Foi quando ele, através de sua sinceridade e auto-reconhecimento, encontrou o momento mais adequado pra se desligar da banda.
E em 2016, Doom, você se integra a banda mesmo morando em outro estado. Como surgiu essa oportunidade de estar à frente do line-up?
Doom – Com a saída do Diego após o lançamento do EP “Rationality And Intolerance”, no ano de 2011 houve contatos a respeito de minha entrada na banda, cheguei a receber letras e as tablaturas de baixo para ir treinando as músicas, porém eu estava envolvido em muitas atividades pessoais e com outras bandas o que estava tomando muito meu tempo, então acabou não rolando. Porém no ano de 2016 o Lammashta foi convidado para um evento aqui onde moro, e continuava sem vocalista e baixista. Então topei o desafio de memorizar todas as letras do set list do show para fazer o Vocal, e o Sandro um colega de longa data da banda tocou baixo. Após o show o Infamael propôs que eu voltasse a tocar baixo e cantar para facilitar a logística de possíveis novos shows ao vivo, topei o desafio e acabei efetivando na banda.
E como mencionado acima, você mora em Aracajú no estado de Sergipe que é vizinho do estado de Alagoas, mas mesmo assim outro estado. Como tem sido para você estar nos ensaios e cumprido a agenda da banda devido à distância?
Doom– Não é algo fácil realmente, pois eu tenho família, um trabalho fixo que toma muito o meu tempo, fora as outras bandas que toco. Porém a tecnologia facilita em termos de decisões internas da banda e troca de informações o que é diferente da época das cartas, há o fato da banda ter os materiais lançados então posso treinar em casa mesmo sozinho acompanhando o CD, porém em algumas ocasiões preciso ir até Maceió para ensaiarmos em conjunto e melhorar o entrosamento, principalmente quanto tem algum evento em pauta. Até o momento tem funcionado bem desta forma, mesmo com todas as dificuldades o amor ao Death Metal fala mais alto. Salve o metal da morte!!!
Após a sua entrada é notório que houve uma evolução na sonoridade da banda. A proposta de implementar novos elementos à música do Lammashta partiu de você ou foi uma evolução natural?
Doom – Acredito que de forma natural, o Edyskull e o Infamael são excelentes músicos, dedicados e que sempre estão aprimorando suas técnicas, eles são os principais responsáveis pela estrutura musical da banda, mas evidente que tenho minha forma de compor as letras e encaixa-las nas músicas, sou meio paranoico com a métrica dos vocais na música bem como o cuidado com as palavras e refrãos, e isso acaba alterando um pouco como a banda está soando atualmente, mas creio que as pessoas que acompanham a banda facilmente identificam características bem marcantes que permanecem fiéis como: a variação de andamentos em mid tempo, blast beats, climas densos e mórbidos.
E este ano já com você assumindo a dois anos o baixo e o vocal, é lançado o mais novo trabalho, Anonymous, The Curse Of Lammashta sob as assinaturas dos selos Sociedade dos Mortos e Pictures From Hell Distro. Como surgiu a parceria destes grandes selos para este lançamento?
Doom– Quando eu entrei na banda a parceria já havia sido firmada entre os envolvidos, e encaro o relacionamento com os selos como se fizessem parte interna da banda, eles foram peças fundamentais para que esses 2 discos. O Pandemonium e o Anonymous, tornassem realidade.
Este novo trabalho é realmente um lançamento ousado e até inédito, pelo menos pra mim, já que se trata de uma completa releitura do primeiro álbum lançado em 2007, com suas músicas reescritas até mesmo nas letras. De quem partiu essa ideia? Como a banda reagiu a essa proposta?
Doom – Realmente as letras tiveram que passar por uma reestruturação completa para que atingisse um patamar acima do tinha sido feito anteriormente, algumas foram feitas do zero e outras aproveitei os conceitos abordados e os temas. A essência de repugnância e ódio a hipocrisia dogmática as instituições religiosas, assim como o conceito de pós apocalipse e destruição de tudo que existe permanecem evidentes nesta “reconstrução” digamos.
Você ficou satisfeito com o resultado? Afinal você deu seu toque e reconstruiu as músicas mais antigas. Inclusive você tinha me falado que adicionaram uma música antiga e que ainda era inédita. Nos fale também sobre essa música…
Doom – Sim, ficamos muito satisfeitos com o resultado no geral do “Anonymous The Curse of Lammashta”, há muita nitidez e clareza nos riffs, na bateria e nos vocais, o Infamael fez um trabalho excelente de produção mixagem e masterização. A música “Destroy de Dogmas of Centuries” é uma antiga música chamada “Black Side” da banda Kavy, essa música foi reestruturada e ficou bem diferente da composta originalmente. Compus uma nova letra e deixei a voz dela propositalmente mais densa, carregada e mórbida. É uma música muito representativa pois se trata de uma das primeiras composições dos membros banda.
E voltando a falar dos selos envolvidos neste lançamento, como tem sido a divulgação e distribuição deste material? Está tudo dentro do esperado?
Doom– Sim, com certeza o Gleison do Sociedade dos Mortos e o Santiago do Pictures from Hell tem feito trabalho muito importante em divulgar a banda fora do país entres os seus contatos, sem o apoio deles os 2 discos Pandemonium e o Anonymous não teriam sido lançados de forma tão rápida, fora a questão financeira que pesa muito para banda fazer de forma independente e arcar com todos os custos sozinha.
E ainda falando da divulgação, como estão sendo os shows para promoção deste novo trabalho?
Doom– Fizemos poucos shows, não é o ideal, mas temos buscado com esse novo lançamento divulgar mais a banda para que desperte maior interesse de produtores de outras cidades. Temos consciência dos custos e logística para se organizar eventos, bem como a distância entre as cidades encarece a participação da banda em eventos em outras regiões. Mas aproveitamos para informar que estamos aberto a propostas de shows.
Falando sobre a mensagem lírica da banda, quais são os temas abordados nas suas composições? Quais as principais influências dos membros?
Doom – Abordamos temas de morte, pós apocalipse, guerra, blasfêmia e heresia. Há uma preocupação da banda com esta questão lirica, estamos a bastante tempo nesta luta e vigilantes sobre as mentiras e a hipocrisia de uma sociedade de maioria cristã que impõe preceitos e conceitos que não são condizentes com a verdadeira vontade do indivíduo pensante. A maioria da sociedade não passa de rebanho que segue falsos profetas e promessas, massa de manobra para a mídia e para quem está no poder. Nossas letras são um reflexo atual de tudo isso, ou mesmo uma profecia de caos generalizado, guerra, destruição e morte onde toda a estrutura de mundo como conhecemos vire cinzas e nada mais como conhecemos exista. A letras são atos de heresia, de negação e rebelião contra todo um sistema de hipocrisia e falácia.
A capa do álbum é muito interessante e sua contracapa também, nos fale, por que a escolha dessas imagens para representar este lançamento no visual gráfico?
Doom – Elas representam o conteúdo lírico do disco, além de todo o nosso ódio aos dogmas do cristianismo, do “sistema social” são uma representação do medo que a “massa” tem do pecado, da morte, de não se adequar aos padrões.
Hoje temos o Lammashta como um trio, você diria que hoje essa é a formação definitiva da banda? Quais suas impressões sobre a formação atual da banda?
Doom – Não diria que seja o definitivo, para o momento tem suprido as atividades da banda mas há músicas que necessitam de 2 guitarras principalmente ao vivo por conta das melodias e de solos e temos discutido sobre isto, no caso sobre a inclusão de um segundo guitarrista.
A cena underground de Maceió não é muito divulgada, ao contrário da cena de Aracajú a qual conhecemos grandes bandas como Mystical Fire e Scarlet Peace. Vocês têm alguma ou algumas bandas da cena de Maceió para nos apresentar?
Doom – Talvez eu esteja preso no passado a esse respeito, pois lembro de bandas como Solv et Coagula (Black Metal) e o Goreslave (Death Metal) que cheguei a vê-los tocando ao vivo, como as minhas idas a Maceió são muito corridas e não tenho contato com outros brutais guerreiros e não tive ainda a oportunidade de ir a algum evento recente na cidade, infelizmente vou ficar devendo algo a este respeito.
Já que estamos falando deste assunto, qual a sua visão a respeito da atual cena brasileira?
Doom – Após meados da década de 2000 houve um avanço nas questões de recursos tecnológicos disponíveis, e uma maior acessibilidade destes pelo underground. Temos várias bandas lançando materiais dignos e bem elaborados nos vários estilos dentro do metal que não deve nada as bandas gringas. Porém eu sinto falta de uma melhor estrutura de eventos para que as bandas possam demonstrar seus trabalhos, mas é evidente que as questões financeiras no geral tanto para produtores quanto para o público são desfavoráveis, o que inviabiliza um “circuito” de shows no Brasil como acontece na Europa e Estados Unidos por exemplo.
Nobres Doom Borges e Infamael, muito obrigado por ceder o tempo de vocês para essa entrevista, espero vê-los em breve por aqui. Um fortíssimo abraço e as últimas palavras são suas…
Doom – Ficamos muito agradecidos pelo interesse e pela oportunidade de divulgarmos nosso trabalho. Agradecemos a todos que adquirem nosso material e que vão aos nossos shows. Abraço a todos e que a escuridão esteja conosco!
Infamael – Foi uma honra poder esclarecer os pontos abordados, obrigado pela entrevista!!
Segue a abaixo com exclusividade a Lyric Video da música Transmutation, lançado hoje, faixa pertencente ao novo álbum Anonymous the Curse of Lammashta. Confira!