Com a cobertura dada a inúmeras bandas, afinal, são elas que fazem o espetáculo, não é sempre que surge a oportunidade de colocar nas páginas da ROADIE CREW um personagem como Achim Ostertag, organizador de um festival de renome internacional. O “Summer Breeze Open Air” começou despretensiosamente em 1997 e ganhou força com o passar dos anos. Hoje, a pequena cidade de Dinkelsbühl (ALE) é anualmente invadida por 40 mil fãs ávidos por metal num evento que prima pela mistura de bandas, revelação de talentos e clima familiar.
Conta-se que você resolveu fazer o seu próprio festival porque naquela época não havia um evento do tipo para a sua banda, o Voodoo Kiss. Foi isso mesmo?
Achim Ostertag: É verdade. Eu tinha uma banda, mas não havia festivais para tocar. Achei que seria legal a ideia de um evento com os meus amigos, então coloquei a minha banda como headliner no primeiro ano. Foi assim que tudo começou (risos).
Esse é um ótimo exemplo de empreendedorismo de oportunidade, pois você enxergou a necessidade de um mercado ainda inexplorado.
Achim: Acho que aquela era a hora certa de começar. Fizemos a primeira edição em 1997 para cerca de 300 pessoas, e a segunda, em 1999, já contou com 500. Em 2000 fizemos o primeiro no modelo “Open Air”, sendo que não havia muitos assim naquela época.
A ROADIE CREW tem uma excursão a caminho do festival, com direito a uma área de camping exclusiva para brasileiros. Ter bandas estrangeiras é o que atrai pessoas de fora ou há outras razões para essa quebra de fronteiras?
Achim: Acho que isso acontece porque buscamos bandas interessantes em todas as partes do planeta. O propósito do festival é descobrir e apoiar bandas novas. Você vai lá para explorar e descobrir isso. Nós sempre buscamos nomes que sejam interessantes, mesmo que ainda sejam pequenos. Lembro-me de como essa coisa começou. Trouxemos uma banda pequena da Austrália que hoje está na Napalm Records (N.R.: Be’lakor), mas naquela época ninguém os conhecia direito. O fato de termos uma banda australiana interessante tocando fez com que uns 60 australianos viessem para o festival. Todos os países têm seus festivais, e eu viajo o mundo os visitando. Cada um tem a sua identidade. Acho que invocamos mais aquela coisa de família, mesmo levando 40 mil pessoas.
Quanto tempo você leva para ter o festival completamente organizado e quantas pessoas são envolvidas no processo?
Achim: Para você ter uma ideia, já tem banda contratada para a edição de 2019. Conto com 15 pessoas no escritório, trabalhando em tempo integral, e mais 20 em meio período. Em época de festival chego a contar com 600 trabalhando diretamente, isso sem contar segurança, comida, bebida, et cetera.
Você ainda corre algum risco financeiro ou chegou num ponto onde o gerenciamento desta questão está estabilizado?
Achim: É um cálculo difícil, mas nos últimos anos as coisas têm se mostrado estáveis. Tivemos apenas um ano ruim nos últimos cinco. Então, tudo bem.
Fale um pouco da pacata cidade de Dinkelsbühl e dos seus 12 mil habitantes.
Achim: Nós nos mudamos para lá, de última hora, em 2006. Era abril, já estávamos muito atrasados com o anúncio do festival e início das vendas, mas foi perfeito. Acho que foi a melhor decisão. Dinkelsbühl parece uma velha cidade medieval, e várias pessoas vão visitá-la durante o evento. Para você ter uma ideia, pessoas da indústria fonográfica trazem suas famílias para o festival e para visitar a cidade. O prefeito e sua equipe nos apoiaram desde o primeiro dia, sendo muito amigáveis e cuidando de tudo que precisávamos para que o evento fosse possível. Levamos 11 mil pessoas naquela ano, e hoje são 40 mil. Isso é bom para o local. Os hotéis lotam, e muita gente compra seus mantimentos na cidade.
O verão europeu conta com uma grande variedade de festivais, e entre eles está o “Wacken Open Air” (W.O.A), que acontece duas semanas antes do Summer Breeze. Existe algum tipo de competição entre os eventos?
Achim: Não acho que haja competição com nenhum festival. Se fizermos bem o nosso trabalho, não precisaremos nos preocupar com outros eventos. É estúpido lutar com outros festivais. O que buscamos fazer é conversar com eles. Temos bons amigos trabalhando para o W.O.A, assim como no “Party.San Metal Open Air”, que acontece uma semana antes do nosso. Além disso, temos contato com oito produtores e conversamos sobre bandas e o fato de sabermos que fãs vão a um festival em vez do outro, e não tem problema. Acredito que é mais importante conseguir boas bandas do que brigar. Desta forma, por exemplo, é mais fácil ter uma banda americana vindo tocar na Europa do que se houvesse apenas uma oferta de show. Por isso a cooperação é muito importante. E também tem os fãs estrangeiros, que vêm para o W.O.A e ficam para o Party.San e o Summer Breeze.
Quando exatamente o festival se tornou um evento internacional, trazendo pessoas de fora da Alemanha?
Achim: Foi por volta de 2002, quando tivemos a primeira banda grande, o Nightwish, e no ano seguinte foi a vez do In Flames. Naquela época, ambas estavam se tornando realmente grandes, e foi aí que o nosso festival começou a atrair pessoas de países longínquos. Mesmo assim, o nome do festival só começou a sair da Europa nos últimos anos.
Antes de ir, diga-nos o que uma banda brasileira deve ter ou fazer para que o Summer Breeze a leve para o festival.
Achim: Acho que ela precisa ter um nome que esteja sendo bem construído em seu país. Se esse for o caso, pode nos enviar um e-mail. Por exemplo, há alguns anos, quando elas ainda nem faziam parte da Napalm Records, nós trouxemos a Nervosa, uma banda quase completamente desconhecida na época. Para ser honesto, é muito difícil para nós conhecer o mercado brasileiro ou o sul-americano. Descobrir novas bandas é um dos nossos pontos altos. Em 2006, o Volbeat abriu o festival e hoje é tão grande que não cabe no orçamento. O Powerwolf também. Seu primeiro show oficial foi na edição de 2005 e atualmente é a banda principal.
A Roadie Crew tem pacotes para o Summer Breeze. Mais informações em travel@roadiecrew.com