De uns tempos para cá, o Brasil abraçou a ideia de abrir suas portas para receber projetos tidos como “bandas cover de luxo”, já que são constituídos de músicos de renome internacional. O problema é que é extremamente difícil crer que tudo sairá conforme divulgado, principalmente porque é bem complicado fazê-los conciliar as agendas para ensaios preparatórios, o que consequentemente gera dúvidas nos fãs em relação a uma performance digna. Um exemplo disso foi o Big Noize, que em 2013 passou por aqui sem deixar saudades, já que o se viu foi uma banda totalmente desentrosada e que contava com Sebastian Bach (vocal), George Lynch (guitarra), Phil Soussan (ex-Ozzy Osbourne) e Vinny Appice (ex-Dio, Kill Devil Hill e Black Sabbath). Além disso, coincidentemente muitos já haviam pagado o pato com o horário do evento e agora a coisa não foi diferente.
O receio era ainda maior com o Metal All Stars, já que desde que o projeto nasceu, noticias circulavam dando conta da desistência de alguns músicos, geralmente por problemas relacionados a contrato com a Gabe Reed Productions (idealizadora do projeto), aumentando mais, quando a turnê confirmada para novembro de 2013 no Brasil, simplesmente não rolou – e olha que o ‘cast’ seria bem diferente do que o que se apresentou no último dia 22 de novembro, em São Paulo, no Espaço Das Américas. A coisa começou a degringolar de vez, às vésperas do evento, quando alguns dos principais nomes anunciados simplesmente foram cancelados, no caso, Cronos, que na página oficial do Venom, tratou a sua participação no evento como sendo “boato”; Chuck Billy (Testament, Death Dublin Patrol), que passou o sábado assistindo aos Raiders; Carmine Appice, que segundo o seu irmão Vinny está com problemas de saúde; e também Joey Belladonna (Anthrax) e o guitarrista Gus G. (Ozzy Osbourne, Firewind), que foram atender a outros compromissos. O que causou estranhesa foi o fato desses cancelamentos terem sido divulgado faltando apenas 1 dia para o evento, sendo que muita gente gastou dinheiro viajando de outros estados para São Paulo.
A partir daí, o público que já havia adquirido seus ingressos teve duas opções sugeridas pelas contratantes Top Entretenimento e GW: aceitar assistir a quem desembarcasse ou ter o dinheiro devolvido. Outra “solução” por parte da produção foi incluir a participação de alguns conhecidos músicos brazucas, que tentariam não deixar a coisa “broxar” ainda mais. Só que o público só soube disso conforme os mesmos eram chamados no palco durante a apresentação do Metal All Stars. Acima disso, a questão que mais causou furor em boa parte do público, foram os horários divulgados dos shows, já que haveria mais três bandas fazendo o ‘opening act’ para a atração principal que subiria ao palco somente a 1 hora da manhã. A sorte é que a casa escolhida fica próxima a estação do metrô Barra Funda, numa região que fica movimentada em noite de eventos e, além disso, havia viaturas da Polícia Militar em frente ao portão principal. Inclusive, alguns elementos suspeitos foram abordados antes do início dos shows.
Ao menos os cronogramas foram cumpridos rigorosamente e ás 21h30, o Capadocia entrou em cena para um público ainda razoável e seu cartão de visitas foi a porrada “Survival Instinct”, que garantiu o respeito do público para os seus 45 minutos de ‘set’. O grupo do ABC é liderado pelo experiente vocalista e guitarrista Baffo Neto, que nos anos 90 esteve à frente do extinto Retturn.
A sequência com “Everybody Hates Everybody” e “Lord Of Chaos” também agradou. Na primeira pausa, Baffo mostrou simpatia e perguntou se tudo estava bem em relação ao volume e equalização. A banda está lançando o ‘debut’ “Leader’s Speech”, mas por ainda ser desconhecida da maioria, empolgou mesmo quando mandou os covers de “Blackened” do Metallica e “Spirit In Black” e “Ghost Of War”, em um medley do Slayer. O grupo se retirou ovacionado por todos, agradecendo a receptividade e pedindo para que o público dê continuidade a esse apoio às bandas nacionais.
As 22h30 foi a vez do Project46 mostrar o seu Metalcore influenciado por Slipknot, Hatebreed e afins, a partir de “Violência Gratuita”, após a introdução mecânica. Já conhecido na cena, o grupo tinha o público mais jovem nas mãos. O ‘backdrop’ e os painéis laterais eram bem legais e os músicos chamavam a atenção, principalmente o vocalista Caio MacBeserra, que se movimentava e interagia o tempo todo, esbravejando quando anunciava as músicas, que no geral tratam de questões políticas e sociais, e o baterista Henrique Pucci, dono de ótimas levadas de bumbo.
O som do baixo de Rafael Yamada, por vezes estourava e devido às afinações graves da banda, quando isso acontecia “explodia” como um soco no ouvido. Entre outras, o grupo apresentou músicas de seu novo álbum “Que Seja A Nossa Vontade”, que foi bem recebido, principalmente quando a banda tocou “Foda-se (Se Depender De Nós)”, após Caio ser correspondido ao solicitar que todos gritassem o nome da música. Foi um bom aquecimento para quem ansiava pela próxima atração.
Dando início a divulgação de “Legion”, o Korzus começou as 23h35 com “Lifeline”, que também abre o novo álbum. Mesmo ainda não sendo tão conhecida do público, a reação positiva foi instantânea. Após o segmento com “Raise Your Soul”, Pompeu salientou que todos deviam estar percebendo algo estranho no palco.
O músico referia-se a presença do ex-guitarrista da banda, Marcelo “Soldado” Nejem, que estava tocando baixo em substituição de Dick Siebert, que dois dias antes se acidentou, rompendo os ligamentos de seu braço esquerdo. Dick foi intimado por Pompeu aparecer no palco e dar algumas palavras, e então o baixista lembrou o fato de o Korzus estar completando 31 anos na estrada e que tinha orgulho dos headbangers brasileiros, arrancando aplausos de todos. A essa altura, o local já contava com um bom público, que compareceu apesar das mancadas pré-show.
A excelente “Bleeding Pride” é o carro-chefe de “Legion” e funcionou muito bem ao vivo. Ao final dessa, Pompeu discursou pedindo para que todos ali lutassem por seus ideais e jamais desistissem, assim como o Korzus fez durante toda a carreira e então foi atendido por todos ao gritar “Kor” e ouvir “zus” como resposta. Em “Correria”, a banda chamou ao palco o guitarrista brasileiro Bill Hudson que toca no Jon Oliva’s Pain e mais tarde participaria com o Metal All Stars, enquanto isso, o guitarrista Antônio Araújo apenas dividiu os vocais de apoio com Dick, que agitou no palco por várias vezes.
Antes da clássica “Agony”, Pompeu pediu que todos gritassem longamente e bem alto. Logicamente foi correspondido e esse foi um dos momentos mais legais da apresentação da banda. Antes de “Internally”, o ‘frontman’ desceu a lenha na situação atual da política do Brasil, pedindo que as pessoas realmente lutem contra tudo o que acharem errado, e não apenas marcar presença em passeatas. Ainda sobrou pólvora para disparar contra o Funk e suas letras de ostentação e pornografia.
A banda se retirou do palco por um tempo, retornando com “Truth”, após uma introdução mecânica falha. O encerramento foi com a música que dá nome ao novo álbum. Certamente, o Korzus fez a melhor apresentação da noite, engolindo o que estava por vir.
Já se passava da 1 da manhã quando as cortinas se abriram e o público pôde perceber duas baterias dispostas no palco. Dessa forma, surgiu o Metal All Starscom a bela e simpática vocalista Kobra Paige (Kobra And The Lotus), o baixista do Megadeth David Ellefson e o guitarrista Ross The Boss, que comandou a música que dá nome a sua ex-banda, o Manowar, tendo Rodrigo Oliveira (Korzus) na bateria.
O microfone de David Ellefson foi nulo durante todo tempo, impossibilitando ouvir seus backing vocals, e por incrível que pareça, em “Manowar” quem mais deu “bola fora” foi justamente Ross The Boss, que assim como na sequência com “Fear Of The Dark” (Iron Maiden), deu várias “engasgadas” na guitarra. A partir de “Fear…” Baffo Neto (Capadocia) assumiu a segunda guitarra na maioria das músicas. “Hail And Kill”, também do Manowar, foi apresentada até que Ross desse seu lugar a Bill Hudson que participou de “Symphony Of Destruction” (Megadeth), que foi apresentada pelo carismático David Ellefson, que foi obrigado a usar o microfone de Kobra Paige para brincar dizendo: “Eu não tinha intenção de tocar nada do Megadeth, mas vocês querem?”.
As primeiras trocas foram feitas e Ellefson teve o retorno de Ross e a companhia de Geoff Tate (vocal, ex-Queensrÿche), Vinny Appice (bateria) e o guitarrista do Angra, Kiko Loureiro. Juntos mandaram “Neon Knights” (Black Sabbath) e tropeçaram na belíssima “Jet City Woman” (Queensrÿche), o que irritou um pouco Geoff, que se virou para a banda que teve que acertar a sua entrada no próximo compasso.
Um detalhe curioso é que dessa vez Vinny Appice tocou demais, fazendo viradas e arranjos primorosos, ao contrário de quando veio com o Big Noize. O microfone foi passado para James LaBrie (Dream Theater), que ao lado de Baffo, Appice e Felipe Andreolli (baixo, Angra) mandou uma música chamada “I Got You”, de sua carreira solo, e a clássica “Pull Me Under”, com Rodrigo Oliveira e Bill Hudson de volta. A voz de LaBrie estava exageradamente aguda. Irreconhecível.
Um dos grandes momentos aconteceu após alguns minutos de demora, devido a um problema técnico na guitarra de Max Cavalera, que inflamou a plateia quando chamado. É impressionante a energia que Max desperta nos fãs com seu carisma. Até o baixista David Ellefson retornou ao palco com um sorriso no rosto, por voltar a tocar com seu ex-companheiro de Soulfly. Com gritos tímidos dos headbangers de “Sepultura, Sepultura”, a casa veio abaixo com “Roots Bloody Roots” e foi no mínimo hilário ver o veterano Ross The Boss tentando acompanhar os riffs e agitando de forma desengonçada. Arrancou boas risadas, mas poderia ter sido ainda mais engraçado se o elenco não tivesse tido o bom senso de deixar essa com Rodrigo Oliveira, pois com o Big Noize, Vinny Appice foi obrigado a tocar, por exemplo, “Youth Gone Wild” do Skid Row! Emocionante foi quando Max apresentou a “sua” banda e ao falar de David Ellefson, que recentemente completou meio século de vida, o beijou na testa e falou: “Esse cara aqui é o meu irmão lá de Phoenix”. Como se não bastasse, Max puxou o refrão de “Peace Sells”, acompanhado de Ellefson que tocou a famosa introdução de baixo. Pena que foi só esse trechinho. Antes de “Eye For An Eye”, Max organizou o coro de: “Olê, olê, olê, olá… Soulfly, Soulfly” e finalizou sua participação com uma versão bem porrada de “Ace Of Spades” (Motörhead), despedindo-se enrolado em uma bandeira do Brasil.
Após longa demora de cerca de 20 minutos, a segunda parte do Metal All Stars foi concluída com o aguardado Zakk Wylde e também o baixista Blasko (Ozzy Osbourne) e Vinny Appice, que juntos tocaram algumas músicas do Black Sabbath. A abertura foi com “Into The Void”, que durou cerca de dez minutos, sendo a primeira vítima de Zakk que pouco se comunicou com o público, preferindo fazer solos intermináveis durante cada uma das músicas.
Curiosamente, Zakk foi favorecido com a melhor qualidade de som de todo o evento. Apesar da legião de fãs que possui no Brasil e de tocar clássicos absolutos como “Fairie Wear Boots”, “N.I.B.” e “Snowblind”, a atuação de Zakk foi extremamente cansativa, por culpa de suas “fritações guitarrísticas”. E como o intuito do Metal All Stars é tocar clássicos do Rock and Roll e do Heavy Metal, nada melhor do que encerrar o evento com o hino “War Pigs”.
Não houve despedida com todos juntos no palco, mas ninguém se importou com isso, já que a preocupação de quem iria depender do transporte público seria aguardar pelo mesmo até depois das 4h00 da manhã, sendo que ainda eram 3h20. Esse fator é algo que causa irritação, pois ninguém nunca esclarece para o público o motivo da escolha dos horários. Fora o fato de isso ser um tremendo tiro no pé, pois acaba fazendo com que muitos desistam de comparecer, resultando em uma baixa na venda de ingressos. Tomara que o puxão de orelha sirva de lição para os próximos eventos e que a coisa melhore em 2015, já que esse final de ano está sendo tenebroso em termos de shows, com tanta banda desistindo de tocar por aqui, sempre por motivos mal contados.
Manowar (Kobra Paige/Ross The Boss/David Ellefson/Rodrigo Oliveira)
Fear Of The Dark (Kobra Paige/Ross The Boss/Baffo Neto/David Ellefson/Rodrigo Oliveira)
Hail And Kill (Kobra Paige/Ross The Boss/Baffo Neto/David Ellefson/Rodrigo Oliveira)
Symphony Of Destruction (Kobra Paige/Bill Hudson/Baffo Neto/David Ellefson/Rodrigo Oliveira)
Neon Knights (Geoff Tate/Ross The Boss/Kiko Loureiro/David Ellefson/Vinny Appice)
Jet City Woman (Geoff Tate/Ross The Boss/Kiko Loureiro/David Ellefson/Kobra Paige/Vinny Appice)
I Got You (James LaBrie/Baffo Neto/Kiko Loureiro/Felipe Andreolli/Vinny Appice)
Pull Me Under (James LaBrie/Baffo Neto/Bill Hudson/Felipe Andreolli/Rodrigo Simão/Rodrigo Oliveira)
Roots Bloody Roots (Max Cavalera/Ross The Boss/Baffo Neto/David Ellefson/Rodrigo Oliveira)
Eye For An Eye (Max Cavalera/Ross The Boss/Baffo Neto/David Ellefson/Rodrigo Oliveira)
Ace Of Spades (Max Cavalera/Ross The Boss/Baffo Neto/David Ellefson/Rodrigo Oliveira)
Into The Void (Zakk Wylde / Blasko / Vinny Appice)
Fairies Wear Boots (Zakk Wylde / Blasko / Vinny Appice)
N.I.B. (Zakk Wylde / Blasko / Vinny Appice)
Snowblind (Zakk Wylde / Blasko / Vinny Appice)
War Pigs (Zakk Wylde / Blasko / Vinny Appice)KORZUS – Setlist:
Lifeline
Raise Your Soul
What Are You Looking For?
Bleeding Pride
Never Die
Correria (com Bill Hudson)
Agony
Internally
Guilty Silence
Truth
Legion
PROJECT 46 – Setlist:
Violência Gratuita
Desordem E Progresso
Vergonha Na Cara
No Rastro Do Medo
Na Vala
Empedrado
Impunidade
Capa De Jornal
Foda-se (Se Depender de Nós)
Acorda Pra Vida
CAPADOCIA – Setlist:
Survival Instinct
Everybody Hates Everybody
Lord Of Chaos
Blackened (Cover do Metallica)
Stay Awake
Leaders In The Fog
Standing Still
Spirit In Black / Ghost Of War (Covers do Slayer)
Snake Skin