Dois assuntos relacionados a rock/metal estavam na boca do povo mineiro no último dia 26 de abril, uma sexta-feira. Um deles dizia respeito ao anúncio do cancelamento dos shows do Dead Kannedys no Brasil – o que representaria parte da celebração dos 40 anos da banda norte-americana –, após a polêmica envolvendo o pôster promocional da turnê em solo tupiniquim. O fato provocou a ira de milhares de fãs do grupo, a ponto de muitos deles utilizarem o termo “arregões”, tão proliferado nas redes sociais, para rotular os integrantes da banda que, ironicamente, levanta a bandeira do punk. O outro assunto era o Grave Digger. Mesmo diante de um público muito aquém do esperado – mas bastante entusiasmado e participativo –, os alemães levaram para o palco do Mister Rock o valor de uma gloriosa trajetória de quase quatro décadas dedicadas ao heavy metal.
Antes de mais nada, fica aqui uma crítica construtiva. Toda vez que um gigante do metal desembarca no país, deveria haver uma banda nacional como abertura. Esse tipo de coisa fortalece nossa cena – em menor ou maior escala. Não foi o caso da apresentação dos germânicos em BH, o que é uma pena. Há ótimos grupos novatos e/ou em ascensão, sedentos em mostrar seus trabalhos e angariar mais e mais aficionados. Exemplo disso é o Immortal Opus, que fará a abertura para o Cradle of Filth no dia 26 de maio na cidade. E que seja assim sempre, pois quem ganha é o cenário daqui. Fica a dica.
Agora falando do Grave Digger em si: que show! Com um pequeno atraso de cerca de dez minutos, o quarteto composto por Chris Boltendahl (voz), Jens Becker (bateria), Axel “Ironfinger” Ritt (guitarra) e Marcus Kniep (baixo) subiu ao palco destilando fúria e belas melodias, mesclando com maestria músicas mais recentes, como Fear of the Living Dead, do 19° disco de estúdio da banda, o caçula The Living Dead (2018), e canções de vários períodos da rica história dessa instituição, vide a ótima The Clans Will Rise Again, do autointitulado álbum de 2010, e clássicos do calibre de Excalibur – da bolacha de mesmo nome, de 1999 – e Rebellion (The Clans Are Marching) – de Tunes of War (1996).
Uma tônica ao longo de todo o concerto era a consistência e o entrosamento do quarteto, sem que houvesse algum destaque específico. Enquanto Boltendahl esbanjava potência vocal, Becker e Kniep formavam uma bela cozinha, segurando a onda para Ritt despejar seus riffs e solos com grande categoria. O público respondia à altura, entoando a plenos pulmões versos, refrãos, melodias e gritos de “olê, olê, olê, olê, Digger, Digger!”.
O bis não veio naquele formato “vamos lá tocar mais uma e cair fora”. O Grave Digger resolveu emplacar quatro músicas em seu grand finale. Enquanto Healed by Metal, do disco homônimo de 2017, trazia seu refrão marcante e poderoso, Zombie Dance, do mais recente álbum, chamou atenção por sua veia “polca”, se mostrando uma grata surpresa – sejamos sinceros, essa música é bem legal.
Uma dobradinha matadora encerrou a noite. The Last Supper, faixa-título do play de 2005, preparou terreno para a imortal Heavy Metal Breakdown, do primeiro e autointitulado clássico álbum de 1984, cantada em uníssono pelo público.
Quase duas horas de puro heavy metal. Exemplo de profissionalismo que deveria ser seguido por outros artistas de fora, que, infelizmente, decepcionaram seus fãs em BH. Diferentemente de Phil Anselmo, Eluveitie e Dead Kennedys, que cancelaram suas apresentações em Belo Horizonte – cada um com seu “motivo” –, o Grave Digger demonstrou respeito, dedicação e muito bom gosto em seu repertório!