São Paulo. A capital paulista tem se tornado uma das cidades brasileiras que mais sofre com medidas arbitrárias e autoritárias por parte do poder público. E no dia de seu aniversário de 458 anos o Inferno Club, localizado na rua Augusta, recebeu um dos ícones do extremismo libertário pela segunda vez. O Extreme Noise Terror sofreu a grave perda de um dos seus vocalistas, o mítico Phil Vane, e essa apresentação despertou a curiosidade daqueles que seguem a banda, que detém o nome mais forte do gênero em toda sua história.
As atividades musicais se iniciaram na rua, mais precisamente na calçada oposta ao clube. O Test, dupla Grindcore que tem se notabilizado por abrir shows das maiores e mais barulhentas bandas que se apresentam em São Paulo, mais uma vez chamou a atenção daqueles que aguardavam a abertura da casa. João “Kombi”, guitarrista e vocalista, quando questionado sobre a razão da escolha daquela calçada a resposta foi natural. “Foi onde apareceu vaga para estacionar a Kombi”. O show foi intenso como de costume, e o fato sui generis da apresentação foi o momento em que um morador das imediações incomodado com o barulho, foi avisar a banda de que se o barulho não terminasse ele iria chamar a Polícia. Thiago Barata, o baterista, disse que só tocariam mais cinco minutos e é claro que foram um pouco além, mas a tempo de terminar antes que algum problema com as autoridades tivesse início. O set, improvisado como sempre, percorreu trabalhos como o compacto Carne Humana e o álbum M’Boi Mirim.
Já dentro do recinto, a primeira banda a se apresentar no Inferno foi o Oitão e confesso que fui surpreendido pela energia e brutalidade do HC do quarteto. O vocalista Henrique Fogaça entrou mascarado e com uma manta que remete às usadas por mendigos, e logo depois a pancadaria teve início, com destaque para a brutalidade e pegada do batera Marcelo B.A. e pela precisão e técnica do guitarrista Tadeu Dias. Tocaram sons do Cólera e Olho Seco (Quanto Vale a Liberdade e Isto é Olho Seco, respectivamente), além de composições próprias como Chacina, Hipócrita e Faixa de Gaza, fechando sua participação com Imagem da Besta, com a participação de Duzão Guandelini no vocal.
Logo após tivemos os Bandanos num show que contou com a estreia de Helder, seu novo baterista, sendo a primeira impressão sobre esse novo integrante a melhor possível. Muito brutal e veloz, sua presença mudou até a maneira como ouvimos o Bandanos, que se tornou uma banda muito mais agressiva ao vivo. ExecutaramIndiferença, Azul, Vermelho e Branco, Te amo Porra, Only For Good Thrashers, No Rio Eu Me Fodi e encerraram seu set com a participação de Fabio, vocalista do Paúra, na execução de Subliminal do Suicidal Tendencies.
O Extreme Noise Terror subiu ao palco depois de certo tempo de espera, mas a banda toda parecia muito à vontade em sua segunda vinda ao Brasil e segundo show no Inferno. Desfalcados do falecido vocalista Phil Vane, a banda apresentou seu substituto, Roman Matuszewskie, que se não pôde substituir Phil à altura, executou sua tarefa com dignidade e brutalidade. O set da banda abordou temas de todos os álbuns, como destaque para Work For Never, Raping The Earth, Bullshit Propaganda, Fucked Up System e Borstal Breakout, cover do Sham 69. Show curto, mas muito insano, com circle pit, mosh e uma infinidade de stage diving e cerveja voando.
O calor estava insuportável e diversas vezes Dean Jones pediu mais cerveja à produção e aos próprios maníacos que se matavam no espaço caótico chamado de pista. Em frente ao palco aquilo mais parecia uma praça em convulsão durante a Primavera Árabe, com a simples diferença de que ali não havia inimigos de lado a lado. O máximo de danos foram hematomas que, pouco ou nada, arrefeceram os ânimos de quem pôde conferir mais uma vez uma lenda do Grindcore que, mesmo desfalcada, ainda provou ser relevante, poderosa e brutal. Como poucas nesse mundo.
Set list:
Deceived
Work For Never/ We The Helpless
Show Us You Care
Religion Is Fear
Lame Brain
Raping The Earth
Human Error
Think About It
Bullshit Propaganda
Third World Genocide
Fucked Up System
System Shit
Screaming Fucking Mayhem
Pray To Be Saved
Borstal Breakout (Sham 69)
“Agradecimento a Renato Martins da produtora Ataque Frontal pelas informações acerca da apresentação”.