Se você é fã de metal extremo, certamente já ouviu falar, e se não esteve presente em nenhuma das edições do tradicional festival Setembro Negro, certamente já sonhou em participar. Ao longo dos anos o festival passou de uma ótima promessa para uma grande realidade, trazendo alguns dos melhores nomes do cenário mundial para os nossos palcos. Ausente do calendário de shows por alguns anos, o festival retornou em grande estilo no ano passado – quando São Paulo foi tomada por hordas de todo o Brasil e América do Sul para prestigiar bandas como Taake, At The Gates, Enthroned e até o lendário Coven – e agora em 2019 chegou a sua 13ª edição. Com o período estendido para três dias de evento, e novamente com um cast esmagador, o Setembro Negro 2019 prometia trazer aos fãs os melhores shows de metal extremo do ano. Vejamos se isso se confirmou.
A ORGANIZAÇÃO
Quando você pensa em todo o trabalho que é necessário para fazer uma única apresentação de uma banda estrangeira acontecer em um país como o Brasil, pensar em um festival de três dias é quase uma insanidade e uma provocação ao caos generalizado. Com bandas que vêm predominantemente da Europa e da América do Norte, o Brasil é um destino longínquo, caro, complicado. E aqui já precisamos tecer o nosso primeiro elogio: não houve sequer um único cancelamento, todas as bandas anunciadas no cast realmente se apresentaram no palco. Mais que isso, já que você deve lembrar que o Exodus, um dos carros chefes desta edição, foi posteriormente acrescentado à planilha, sem que os ingressos inflacionassem por conta disso.
Mais do que manter o ‘cast’, a organização se manteve fiel à planilha. Existia um horário programado para cada banda se apresentar, e isso foi mantido, fazendo com que pudéssemos de fato contar com o show que as bandas haviam preparado para o evento. Além disso, manter o evento em uma casa confortável como o Carioca Club, de fácil acesso e muito próxima do metrô, também é pensar em quem precisa se deslocar muito para chegar no local, o que também mostra inteligência.
E, por fim, o sistema de pulseiras é sempre interessante para o público, certo? Com indicações precisas do dia e do setor equivalente, elas permitiam que o público entrasse e saísse do evento quando bem entendesse, não nos tornando prisioneiros do evento durante todo o seu decorrer, o que faz toda a diferença quando você pensa em comodidade e tranquilidade. Vamos lá, são muitas horas de shows, são vários dias de evento, às vezes você precisa respirar, e sim, isso fez toda a diferença. Além de tudo isso, vale ressaltar o acesso a merchandise, comida e bebida. Convenhamos, tudo aqui foi pensado, e tudo funcionou.
SEXTA-FEIRA, 6 DE SETEMBRO
A primeira noite do festival começou mais tarde, já que falamos de um dia útil, onde todos ainda precisavam sair do trabalho e correr para o evento. A exemplo do que aconteceu no ano passado (quando chegamos na Estação Pinheiros do Metrô nos deparamos com uma enorme manifestação nas cercanias do local do evento), este primeiro dia também trouxe certa complicação, já que o nosso bendito trânsito de cada dia estava ainda um pouco mais caótico do que o habitual por conta da greve dos motoristas e cobradores de ônibus.
Com um pouco mais de dedicação (e suor) do que o necessário, chegamos em tempo de apreciar a apresentação do SHAYTAN, banda que teve a honra de abrir os trabalhos nesta edição. E os primeiros representantes do black metal fizeram uma ótima apresentação, onde a intensidade de músicas como Night Of Sacrifice e Dark Mistress Of Death realmente conseguiram a atenção do público. Nascida em 2015 e com seu primeiro EP, Ancient Shadows, lançado em 2017, a banda promete ser uma das grandes do cenário nacional. Nome já tradicional do nosso cenário – inclusive com um belíssimo nome construído no exterior – o GRAVE DESECRATOR foi a próxima atração, e impôs às almas presentes toda a força e fúria do metal old school. A ótima acolhida não foi surpresa, e pedradas como Sign Of Doom, Revelations – of the Beast (ambas do álbum homônimo, de 2008), Funeral Mist e A Witching Whore (de Dust to Dust, 2016) e Insult (Insult, 2010) não permitem contextação.
A primeira participação internacional veio com uma das grandes lendas norte-americanas do brutal death metal, o GORGASM. Sem um novo álbum para divulgar (o mais recente, Destined To Violate, foi lançado em 2014), a banda pode dar uma revisão geral de suas mais de duas décadas de podreira, trazendo algumas pérolas do debut de 2001, Bleeding Profusely (Bleeding Profusely, Lesbian Stool Orgy, Disembodied), outras de Masticate To Dominate (2003, Anal Skewer, Deadfuck), e por fim chegando as mais recentes Mouthful Of Menstruation, Corpsified). Sim, a apresentação foi tão insana quanto o título das músicas, e já estávamos prontos para mais.
O LEGION OF THE DAMNED, que lançou este ano o bom Slaves Of The Shadow Realm chegou exigindo atenção com Warhounds Of Hades, justamente uma das melhores composições deste novo álbum. Com uma precisão instrumental absurda, a banda holandesa levou aos presentes aquilo que de melhor a sua mistura de thrash/death e black metal pode oferecer, com destaque para as clássicas Son Of The Jackal (Sons Of The Jackal, 2007), Legion Of The Damned e Bleed For Me (Malevolent Rapture, 2006) e Pray And Suffer (Cult Of The Dead, 2008).
Era então chegado o momento das lendas. Primeiro foi a lenda cult AT WAR. Nascido na efervescente cena americana dos anos 80, eles lançaram dois álbuns clássicos – Ordered To Kill (1986) e Retaliatory Strike (1988) antes de anunciar o fim em 1994. Com atividades retomadas em 2006, e um novo petardo na praça (Infidel, 2009), a banda voltou a aparecer pelos palcos, e enfim chegou a vez de São Paulo. Assistir ao incomparável Paul Arnold empunhando com fúria o seu Rickenbacker enquanto pedradas como Ordered To Kill e Ilsa (She-Wolf of the S.S.) foi um sonho se tornando realidade, e é impressionante o quão bem os riffs de músicas mais novas, como Semper Fi, se encaixam perfeitamente no contexto de clássicos, via as incríveis Gutless Sympathizer e Creed of the Sniper (ambas de Retaliatory Strike), com um show de Shawn Helsel (guitarra).
Para finalizar o primeiro dia, uma das atrações mais aguardadas do festival, o EXODUS. Atrativos para tornar essa apresentação em algo realmente lendário não faltavam: 1) eles estavam no festival mais adequado possível para mostrar a verdadeira potência da sua música; 2) Eles têm uma das duplas de guitarristas mais efetivas do thrash metal; 3) Um de seus vocalistas mais carismáticos está de volta e cantando como um demônio; e, por fim, 4) Quem tem um repertório como o Exodus no thrash metal?
Pois é, só para provar que eles podem esbanjar, a apresentação já começou com Bonded By Blood, faixa-título do clássico álbum de estreia do grupo, e o único álbum completo de estúdio a contar com os vocais do saudoso Paul Baloff, falecido em 2002. Não preciso me alongar descrevendo a reação do público, você é capaz de imaginar como a música foi recebida. Nem parecia que já tínhamos assistido tantos shows, e que já passava da meia-noite, ninguém estava cansado, ninguém lembrava que precisava voltar para casa depois, nada. Bonded By Blood, naquele momento, isso era tudo que nos interessava.
Uma das mais novas, a faixa-título do álbum mais recente, Blood In, Blood Out (2014) veio na sequência, e o clima não amenizou. Quem disse que as plateias só estão interessadas em antigos clássicos? Ainda assim, era visível uma empolgação extra quando eles retornaram ao ‘modo clássico’ com And Then There Were None. Mantendo o bom equilíbrio entre os diferentes momentos da discografia (ninguém sentiu falta de algo de Force Of Habit, certo?), Iconoclasm precedeu Fabulous Disaster, e ondas de convulsão pareciam mover a grande plateia ali presente.
Outro momento de pura selvageria, como nunca deixa de ser, foi a execução da já clássica Blacklist, carro-chefe do ótimo Tempo of the Damned (2004), e que contou com um show à parte de Gary Holt. Durante outra do mesmo álbum, War Is My Sheperd, o baterista puxou o coro de ‘happy birthday’ para o baixista Jack Gibson, que ganhou até bolo. Taí um momento que não esperávamos, e que foi também muito legal.
Para encerrar o primeiro dia, ainda tivemos The Toxic Waltz, e no bis, Metal Command e Piranha. Agora sim, era hora de voltar a pensar em como chegar em casa, pois no dia seguinte, ainda tinha muita coisa para acontecer.
SÁBADO, 7 de setembro
Ainda meio sonolentos, tentando fazer o cérebro voltar a trabalhar, fomos recebidos e devidamente esmagados pelos shows das bandas BAIXO CALÃO e EXPOSE YOUR HATE. Com sonoridade voltada ao grindcore/death metal, as bandas fizeram shows curtos e extremamente violentos, uma espécie de previa para a ‘espécie’ de atrações que encararíamos em seguida.
Para começar, não existe maneira de apreciar um show do FULL OF HELL e manter a sanidade mental. Não são poucas as razões para a banda da Pensilvânia ser considerada uma das melhores da atual geração do grindcore, e a execução cirúrgica das violentas Branches Of Yew, Ashen Mesh (ambas de Trumpeting Ecstasy, 2017) e Thundering Hammers e Silmaril não deixou dúvidas disso. O mesmo pode ser dito sobre a posição que o UADA ocupa diante das novas formações do black metal. Com apenas dois álbuns completos lançados, eles também chegaram ali para comprovar seu potencial e ampliar a sua base de fãs, algo que conseguiram, com base em uma apresentação firme, fria e equilibrada, onde as ‘antigas’ Devoid Of Light e Black Autumn, White Spring conviveram muito bem com as novas Snakes & Vultures, The Purging Fire e Cult Of A Dying Sun.
Já veterano, o finlandês ROTTEN SOUND trouxe de volta a pungência do grindcore e o som característico dos pedais de guitarra HM-2, tão característicos da cena sueca de death metal dos anos 90. O show foi arrasador, e mesmo aqueles que estavam travando o primeiro contato com o grupo tiveram que se render ao peso descomunal de Slay (Exit, 2005), Blind (Cycles, 2008) e Koiranyrjö, que veio diretamente do EP de estreia do grupo, Sick Bastard (1994), apenas para o nosso deleite. Se os finlandeses mergulharam o Setembro Negro no caos e no desespero, os suecos do MONOLORD vieram em seguida não para diminuir o peso, mas para tirar o pé do acelerador por alguns poucos instantes. Novidade para a maioria dos presentes, a banda pratica um stoner/doom maldito e repleto de referências do death metal, e sem dúvida atraiu novos fãs. Do novo álbum, No Comfort, que será lançado agora em 20 de setembro, apenas a música The Bastard Son foi tocada. Mas, se você considerar que são praticamente dez minutos de música…
Em seguida, o death metal do NECROPHOBIC. Tornada uma lenda por seus álbuns iniciais (em especial o debut, The Nocturnal Silence, de 1993), que contaram com a presença do saudoso David Parland (também conhecido como ‘Blackmoon’, e também ex-Infernal e War), o Necrophobic nunca deixou de lançar boa música, e atualmente está divulgando sua mais nova oferta de estúdio, o full-length Mark Of The Necrogram, lançado no ano passado. Do novo álbum, Tsar Bomba, mas era de se imaginar que as coisas realmente beirariam a loucura com a execução de clássicos como Darkside e The Call (Darkside, 1997) e as inevitáveis The Nocturnal Silence e Awakening… (The Noctural Silence).
Continuando na Suécia e no death metal, o VOMITORY era a próxima atração, e uma muito aguardada, já que muitos estavam ali justamente para acompanhar este retorno à ativa de uma das lendas cult do death sueco. Após uma breve introdução, o quarteto tomou o palco com um clássico, The Voyage, do excelente segundo álbum da banda, Redemption, de 1999. Outros álbuns também tiveram presença significativa: Terrorize Brutalize Sodomize (2007) apareceu com a sua faixa-título, assim como o debut Raped In Their Own Blood (1996) e Revelation Nausea (2001). Enfim, um show realmente épico, com destaque para cada etapa da carreira, e que se tornou um dos melhores de todo o festival.
Para fechar a noite, a lenda DEMOLITION HAMMER. Com apenas três álbuns lançados – Tortured Existence (1990), Epidemic Of Violence (1992) e Time Bomb (1994) – estes estadunidenses do Bronx, NY, se tornaram uma das forças mais proeminentes do thrash metal, e mesmo após encerrar as atividades (em 1995), eles mantiveram um culto tão forte em torno do seu nome que o retorno em 2016 pareceu óbvio e inevitável. Cerca de três anos depois do retorno, finalmente eles desembarcaram em São Paulo, e justamente para fazer o melhor show de todo o festival, e para este que vos escreve, o melhor do ano.
O repertório foi soberbo desde o início, com Skull Fracturing Nightmare, um pesadelo atemporal vindo direto de 1992, ano em que vi a banda pela primeira e até então única vez ao vivo. A pegada incrivelmente continua a mesma, e foi com lágrimas nos olhos que vi Steve Reynolds (baixo, vocal) e James Reilly (guitarra) literalmente demolindo o palco, enquanto uma onda de convulsão percorria a plateia durante um dos ‘breakdowns’ mais perigosos da história do metal pesado era tocado com fúria e poder pelos veteranos de New York.
Neanderthal foi a próxima, e vinda do debut, obviamente era aguardada com grande expectativa. Afinal, você não ouve um riff como esse sendo executado ao vivo pelos seus criadores todos os dias, certo? Epidemic of Violence será um daqueles momentos eternos na minha memória, e Human Dissection e Infectious Hospital Waste mantiveram de pé a boa ideia de ir alternando entre os dois álbuns mais louvados do catálogo da banda, ao passo que Carnivorous Obsession, Omnivore e Aborticide formaram uma ameaçadora trinca do fundamental Epidemic Of Violence.
Como era esperado, o final chegou com aquela que é provavelmente a música mais conhecida do Demolition Hammer: .44 Caliber Brain Surgery. Chega a ser curioso, já que lembro do clipe de Infectious Hospital Waste ter sido veiculado muitas vezes no antigo programa Headbanger’s Ball, da MTV americana, mas ‘Brain Surgery’ se tornou uma real favorita dos fãs. Tocada com energia e ódio, ela encerrou a apresentação sob aplausos efusivos, com uma banda prometendo retornar e um público ansioso por isso. E ainda havia mais um dia de ótimas atrações antes do fim desta edição.
Domingo, 8 de setembro
O último dia da 13ª edição do Setembro Negro também começou com duas bandas nacionais. Primeiro tomou o palco o PATHOLOGIC NOISE, com seu brutal death metal repleto de vísceras. Com quase trinta anos de jornada e três álbuns completos (o mais recente deles, autointitulado, foi lançado no início deste ano), os mineiros fizeram uma apresentação curta e violenta, cedendo seu posto no palco para os também mineiros do IMPURITY. Um dos mais tradicionais e importantes do black metal nacional causaram forte impacto já ao adentrar o palco, com sua imagem forte e macabra, mas ganharam ainda mais o público ao tocar clássicos como The Lamb’s Fury e Sekhmet (do debut The Lamb’s Fury, 1993), ou ainda as mais novas All In The Name Of Satan (All In The Name Of Satan, 2017) e Sabat (Bonfim Moritvri Mortivis, 2012).
Mantendo o black metal no palco, o norueguês SVARTTJERN, liderado pelo ex-vocalista do Ragnarock, Hans Fyrste, fez um show conciso, rápido e furioso. Com uma imagem ameaçadora e o corpo coberto de sangue, Fyrste parecia encarnar uma entidade maníaca e ímpia enquanto desfilava um compilado das quase duas décadas da banda, com brilho especial para Upon Human Ending e Code Human (ambas do debut Misanthropic Path of Madness, de 2009), e a dupla All Hail Satan e Admiring Death, do mais recente álbum do Svarttjern, Dødsskrik, que vale lembrar, esteve na lista dos meus álbuns preferidos de 2016. Em seguida, os californianos do NIGHT DEMON foram uma espécie de ‘surpresa’ para este que vos escreve. Embora já estejam quase dez anos na ativa e seus dois álbuns completos tenham recebido muita atenção da mídia e do público, confesso que nunca realmente busquei conhecer a música deles, e tive a chance de fazer isso com essa apresentação ao vivo. O que posso dizer é que, embora destoasse bastante das bandas que tocaram antes, e ainda mais das que tocariam depois, o show foi bom, e o seu heavy metal devotado aos antigos moldes pareceu agradar bastante aos presentes.
Recolocando as coisas em seus devidos lugares, o death metal do DEAD CONGREGATION apareceu com fúria e vigor. Ritualístico, maldito, por vezes arrastado, o som dos gregos chegou esmagando o público, e mesmo com menos de uma hora de apresentação, eles deram seu recado em grande estilo. Destaque para Only Ashes Remain, faixa de abertura do recente Promulgation Of The Fall (2014), que pareceu ganhar uma nova dimensão ao vivo. Não é exagero dizer que o black/speed metal do MIDNIGHT era um dos shows mais esperados do Setembro Negro. Isso ficou evidente logo de cara, pois bastou os primeiros acordes de Penetratal Ecstasy (Sweet Death And Ecstasy, 2017) serem tocados para que toda a energia dos presentes parecesse revigorada e elevada ao seu nível máximo. E, sendo bastante sincero, enquanto músicas como Woman Of Flame (No Mercy For Mayhem, 2014) e Lust Filth And Sleaze (Satanic Royalty, 2011) eram tocadas, não havia sequer um único motivo para criticar a postura e a dedicação do líder encapuzado, Athenar, que desponta como um dos líderes para toda uma geração de ‘extreme bangers’.
Voltando para os caminhos mórbidos do death metal, o lendário MONSTROSITY tomou o palco. Sempre liderado pelo baterista Lee Harrison (também do Terrorizer), o grupo estadunidense lançou no ano passado o seu primeiro álbum em onze anos, The Passage Of Existence. Confesso que quando a introdução começou a rolar nas PA’s, fiquei um pouco frustrado, já que pareceu que a banda não estava com muita pressa para começar o show. Após a introdução interminável (sucedida por outra introdução), finalmente o mundo começou a desabar com a sequência Cosmic Pandemia / Kingdom of Fire, do citado novo álbum. Mas os fãs das antigas também tiveram muito o que celebrar, já que Definitive Inquisition e The Final Cremation colocaram o debut Imperial Doom (1992) no jogo, enquanto In Dark Purity (1999) foi representado por Destroying Divinity e Angels Venom. Ótimo show.
Mantendo a pegada clássica, o INCANTATION de John McEntee veio em sequida, trazendo em seu bojo um punhado de canções de seu mais recente álbum de estúdio, o ótimo Profane Nexus (2017). Rites Of The Locust, Lus Sepulcri e Ancients Arise representaram o novo álbum, mas confesso que fiquei muito feliz em ouvir Deliverance Of Horrific Prophecies, Entrantment of Evil (ambas do debut Onward To Golgotha, 1992) e The Ibex Moon (Mortal Throne Of Nazarene, 1994), minhas músicas favoritas da banda, sendo tocadas com tamanha energia e vontade. Após o fim do show do Incantation, já era certo dizer que nenhum fã de metal extremo saiu do Setembro Negro insatisfeito, já que o festival honrou o seu bom nome, e trouxe aquilo que de melhor os gêneros mais extremos de música podem oferecer.
Para fechar o evento, uma banda lendária, o CIRITH UNGOL. A banda, que nasceu nos anos 70, alcançou o seu auge criativo nos anos 80, e amargou um período de ostracismo que se estendeu desde o início dos anos 90, retornou para o mundo dos vivos em 2015, e embora não tenha lançado nenhum material inédito de estúdio desde então, foi muito beneficiada pelo relançamento de alguns de seus antigos clássicos, o que fez aumentar a sua legião de fãs.
No Setembro Negro, foi fácil perceber que muitos de seus fãs mais dedicados estavam presentes. Enquanto alguns torciam o nariz (sempre foi assim, especialmente por conta dos vocais de Tim Baker), outros louvavam cada segundo da apresentação, que claro, não economizou nos clássicos: a intro Atom Smasher, Black Machine, Master Of The Pit e King Of The Dead fizeram a alegria dos fãs de King Of The Dead (1984), enquanto aqueles que preferem Frost And Fire tiveram a faixa-título, I’m Alive e Cirith Ungol para se esbaldar. Claro que o set ainda trouxe mais clássicos, claro que lágrimas eram visíveis nos olhos daqueles que nunca imaginaram que teriam uma chance de ver o Cirith Ungol ao vivo. Afinal, esta também parece ser uma missão do Setembro Negro: fazer com que possamos realizar os nossos antigos sonhos.
SALDO FINAL:
Em um ano complicado economicamente, onde muitos festivais ou reduziram drasticamente ou simplesmente não foram realizados, o Setembro Negro chegou a sua décima-terceira edição, tomou o primeiro posto, e mostrou que tem fôlego, gás e organização suficiente para se manter no topo. Com muitos shows ótimos, (vários deles inéditos em nosso país) respeito ao público e vontade de fazer a coisa certa, o festival já pode ser considerado o melhor do país, e todos já estamos ansiosos para conferir a edição do ano que vem. Precisa dizer mais?